Luís Inácio Lula da Silva | Imagem: DW
Ser pesquisador/a no Brasil nunca foi uma tarefa fácil. O país, que tradicionalmente sempre formou seus doutores no exterior, somente promoveu a alfabetização ampla e gratuita na segunda metade do século XX, sendo que as camadas de menor poder aquisitivo só tiveram real acesso às Universidades Federais há pouco mais de dez anos por meio, principalmente, da implementação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) como forma de ingresso a esses espaços até então reservados às elites. Segundo dados disponibilizados pela Casa Civil (2014, online), em 2004, “20% mais ricos representavam 55% dos universitários da rede pública e 68,9% da particular”. Esse dado impressionante só é sobreposto por outro ainda também exposto no texto: “acesso de estudantes pobres à universidade pública cresce 400% entre 2004 e 2013”.
As razões deste feito brasileiro estão intimamente associadas ao cenário político que, naquele momento, tinha como chefe da república um operário: Luís Inácio Lula da Silva. Ou somente, Lula. Integrante do Partido dos Trabalhadores, durante sua gestão (2003-2011) a maior parte da população brasileira teve acesso não só a bens de consumo, devido à valorização do real e tantas outras políticas econômicas, como também pode viver dignamente com acesso a saúde e educação de qualidade. Durante seu governo, conforme dados do Instituo Lula (2019, online), foram criadas 18 universidades federais e 173 campus universitários, sendo que de 2003 a 2014 o número de discentes passou de 505 mil para 932 mil.
Contudo, a instabilidade política que se instaurou no país a partir das eleições de 2014 e, mais intensamente, a partir do golpe de 2016, refletiu diretamente na produção científica. Isso porque, desde então, observa-se que a extrema direita, afeita a discursos moralistas e negacionistas, ganhou cada vez mais espaço midiático e político, culminando na eleição de Jair Messias Bolsonaro para presidente, em 2018. No atual governo, os investimentos na educação e ciência foram os mais baixos desde os anos 2000, ficando 78% abaixo do que foi investido em 2010 (CORREIO BRASILIENSE, 2022, Online).
Neste contexto, parabenizamos todas, todes e todos as/es/os discentes que estão resistindo neste momento tão difícil que estamos atravessando. Agradecemos imensamente nossos editores assistentes, que além de suas pesquisas, também se dedicam com carinho e atenção a nossa revista! Produzir textos acadêmicos requer empenho, dedicação e, sobretudo, condições socioeconômicas, como ofertas de bolsas de estudo e apoio financeiro para permanência da população mais vulnerável nos cursos nas universidades federais de todo país.
Esta edição, a Faces de Clio, traz estudos intimamente ligados com a atualidade, refletindo sobre o papel dos/as historiadores/as e como a História pode ser instrumentalizada para fins diversos. Num contexto de ataques as minorias políticas, as pesquisas nos ajudam a (re)pensar a História e seus usos. E, seguindo esta perspectiva, nosso próximo dossiê se dedicará a pensar sobre os grupos indígenas, suas lutas, cultura e história.
Boa leitura!
Referências
CASA CIVIL. Acesso de estudantes pobres à universidade pública cresce 400% entre 2004 e 2013, diz IBGE. 18 de dezembro de 2014. Online. Disponível em: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2014/dezembro/acesso-de-estudantespobres-a-universidade-publica-cresce-400-entre-2004-e-2013-diz-ibge. Acesso em: 26/05/2022.
INSTITUTO LULA. Investimentos em educação deram salto histórico com Lula. 17 de maio de 2019. Online. Disponível em: https://institutolula.org/investimentos-em-educacao-deramsalto-historico-com-lula. Acesso em: 26/05/2021.
Organizadores
Dalila Varela Singulane – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestra (2021) em História pela UFJF. Bacharela em História (2018) pela UFJF com habilitação em Patrimônio Cultural. Conselheira suplente Conselho Municipal de Cultura na Prefeitura de Juiz de Fora (MG). Integrante do Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de Ubá (MG). Vinculada ao Museu de Arqueologia e Etnologia Americana (MAEA-UFJF). Membra do LAPA (Laboratório de Patrimônios Culturais) da Universidade Federal de Juiz de Fora e integrante do grupo de pesquisa CNPq – Patrimônio e Relações Internacionais. Editora-chefe da revista acadêmica “Faces de Clio” e gerente editorial da “Locus: revista de História”, ambas vinculadas ao PPGH-UFJF. Pesquisas e trabalhos na área de Patrimônio Cultural, Racismo e Políticas Públicas de preservação. E-mail: dalilavarela.s@gmail.com
Carolina Saporetti – Doutoranda em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Mestra em História pela UFJF (2017). Graduada em Licenciatura e Bacharelado em História com ênfase em patrimônio histórico pela mesma instituição. Membra do LAPA (Laboratório de Patrimônios Culturais) da Universidade Federal de Juiz de Fora e integrante do grupo de pesquisa CNPq – Patrimônio e Relações Internacionais. Atualmente exerce a função de curadora no Centro de Conservação da Memória da Universidade Federal de Juiz de Fora (CECOM-UFJF). Áreas de interesse: patrimônio, memória, IPHAN, políticas de preservação do patrimônio, relações internacionais. E-mail: carolina.saporetti@estudante.ufjf.br
Referências desta apresentação
SINGULANE, Dalila Varela; SAPORETTI, Carolina. Editorial: Os desafios de ser pesquisador/a. Faces de Clio. Juiz de Fora, v.8, n.15, p.1-2, 2022. Acessar publicação original [DR]
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