Um verdadeiro tour de force. Hubert Harrison: The Struggle for Equality, 1918–1927 (Nova Iorque: Columbia University Press, 2021, 998 páginas), segunda parte da ambiciosa biografia escrita por Jeffrey B. Perry, retrata os últimos anos daquele que foi considerado “o pai do radicalismo do Harlem”, completando a trajetória de um dos mais importantes ativistas políticos afro- -americanos do início do século passado.
A tarefa do autor, sem dúvida, não foi fácil. Afinal, Perry (que se autodefine como um “independent, working class scholar”) demorou mais de uma década até publicar o volume dois de seu trabalho. Antes disso, foram 25 anos de pesquisas até ele lançar o primeiro tomo Hubert Harrison: The Voice of Harlem Radicalism, 1883-1918, que veio à luz em 2008 pela mesma editora.
Perry realizou seus estudos acadêmicos em diferentes instituições, como Princeton, Harvard, Rutgers e Columbia (onde completou sua tese de doutorado em 1986). O autor teve o primeiro contato com os escritos de Harrison no começo dos anos 1980, quando leu, em microfilmes, cópias de seus livros, que imediatamente chamaram sua atenção. Houve, de fato, uma forte identificação de Perry com Harrison, que seria, como ele, também um intelectual da classe trabalhadora que lutava contra a supremacia branca.
Ao longo do tempo, Perry manteve contato com os filhos de Harrison, Aida e William (e depois com o neto, Charles), que lhe deram acesso a um vasto material do pai (e avô), guardado em seus acervos particulares, documentos que foram posteriormente inventariados pelo biógrafo e atualmente se encontram na Biblioteca de manuscritos e livros raros da Columbia University (neste caso, a leitura do diário de Harrison foi de especial importância para conhecer a fundo o personagem). Ou seja, para narrar a trajetória deste imigrante caribenho, que chegou a Nova Iorque em 1900, com apenas 17 anos de idade, proveniente da ilha de St. Croix (sua terra natal), foi preciso realizar um levantamento criterioso e uma consulta acurada de material original amplo, que incluía artigos, cadernos de anotações, entrevistas e correspondências. Mas ele foi além. Nas notas, ao final da obra, é possível encontrar referências a uma enorme bibliografia geral e documentos pesquisados: livros e artigos sobre história (especialmente, mas não exclusivamente, dos Estados Unidos) e a questão “racial”, research files (como os de Theodore Draper), arquivos em universidades (como da Emory University) ou públicos (como os New York State Archives, National Archives em Washington, o Departament of Justice e o New York Supreme Court Hall of Records), periódicos variados (de publicações como The Crusader e Black Scholar até a Crisis Magazine e o Chicago Defender, além de jornais como o New York Times, Pittsburgh Courier, Washington Post, Philadelphia Tribune, Boston Herald e New York Age, entre outros) e websites.
Para Perry, Harrison, além de jornalista, educador, crítico literário e conferencista do Conselho de Educação da Cidade de Nova Iorque (lecturer da New York City Board of Education) foi o principal organizador, agitador e teórico afro-americano do Partido Socialista (agremiação a qual ele abandonaria posteriormente) e, por consequência, durante algum tempo,“the leading Black Socialist in America”. Ou seja, este que foi um dos fundadores do “New Negro Movement”, nas palavras de seu biógrafo, deve ser visto como “umas das personalidades verdadeiramente importantes dos Estados Unidos do início do século XX”, alguém que, por sua visão apurada simultaneamente sobre a questão de classe e a questão racial, seria o elo precursor entre as duas principais linhagens (ou tendências) do movimento negro dos EUA nos anos posteriores, simbolizadas de um lado por Martin Luther King e de outro, por Malcolm X. Como afirmou o historiador Winston James, Hubert era “um intelectual imerso na obra de Marx, que reconhecia de braços abertos sua força analítica para a compreensão do mundo desconcertante em que vivia. Ele compartilhava a visão do socialismo clássico” (p. 175). Por sua vez, Franklin Rosemont, autor de Joe Hill: The IWW and the Making of a Revolutionary Workingclass Counterculture,1 diria que o mesmo ativista negro estava entre os melhores teóricos “socialistas marxianos” nos Estados Unidos, junto com Austin Lewis, Louis B. Boudin e Louis Fraina, além de ser “um dos mais insignes oradores públicos de todos os tempos” e, em relação aos Trabalhadores Industriais do Mundo (Industrial Workers of the World), um dos “heróis não celebrados” daquela organização de sindicalismo revolucionário que ele tanto apoiava.2 Já A. Philip Randolph e Owen Chandler se consideravam seus “seguidores” e grandes admiradores, tendo confessado que foram muito influenciados por suas ideias (ainda que o já mencionado James tenha afirmado que Hubert chegou a chamar a ambos de “lackeys” e de culpa-los por desorientar seus leitores negros ao não criticar o racismo dentro do Partido Socialista).
É verdade que a biografia de Harrison pode parecer um tanto quanto excessiva para a maioria dos leitores. Afinal, estamos falando de dois volumes, o inicial com mais de 600 páginas e o seguinte, com quase mil. Para um indivíduo pouco conhecido nos dias de hoje (especialmente fora dos EUA), este é um enorme empreendimento. Por outro lado, Hubert foi, sem dúvida, um personagem muito importante, que nunca recebeu a centralidade que merecia. Perry iria suprir essa lacuna e colocar finalmente este personagem icônico em posição de protagonista. Sendo assim, nas palavras do autor, em sua introdução, esta seria “a primeira biografia completa, em mais de um volume, de um afro-caribenho, e apenas a quarta de um afro-americano, depois daquelas de Booker T. Washington, W.E. B. Du Bois e Langston Hughes (p. 1).
Apesar disso, em momentos é possível encontrar repetições e discussões demasiadamente detalhadas de textos ou episódios que poderiam ser narrados de maneira mais ampla, tirando um pouco da objetividade do trabalho (o leitor, em certas instâncias, tem a sensação de estar acompanhando a vida de Harrison em tempo real, a cada momento, em seu cotidiano, com uma sobrecarga de informações). Em outras palavras, por vezes o autor parece excessivo (e mesmo cansativo) ao retratar a rotina de seu personagem ou ao apresentar (e transcrever trechos inteiros de) resenhas e artigos escritos por ele (Harrison, que segundo Perry, foi “o primeiro resenhista negro de atuação constante na história”, escreveu sobre obras de muitos autores, nomes tão variados como Scott Nearing, Robert Kerlin, Thorstein Veblen, George W. Ellis, E. D. Morel, Stephen Graham, Herbert Spencer, Kelly Miller, WillisJ. King e Upton Sinclair, só para citar uma dezena deles). O esforço de Perry, não obstante, valeu a pena.
O livro é dividido em quatro partes: a primeira, na qual o autor discute as contribuições de Harrison a publicações como The Voice e New Negro, entre os anos de 1918 e 1919; a segunda, de 1920 a 1922, quando o biografado trabalhou como colunista e editor do Negro World; a terceira (1922-1924), focando em seu lado de escritor e de palestrante; e finalmente, a quarta e última parte, com sua atuação como organizador da International Colored Unity League (ICUL) e de seu periódico The Voice of the Negro, até dezembro de 1927, quando perdeu a vida, dois dias após uma cirurgia para tratar de uma apendicite crônica, por complicações resultantes da operação (o autor acredita que possivelmente houve a ruptura do apêndice, causando infecção generalizada). É verdade que diversos dirigentes, artistas e intelectuais emblemáticos que interagiram com Harrison estão presentes na obra, como Cyrill Briggs, Eugene O’Neill, Otto Huiswoud, Claude McKay, Max Eastman e até mesmo Charlie Chaplin, entre tantos outros (McKay chegou, inclusive, a comentar que “Chaplin had met Hubert Harrison at my office and admired his black Socratic head and its precise encyclopedic knowledge”; em outra instância, Claude diria que seu colega se tornara, por certo tempo, “a esperança negra dos socialistas”) (p. 467 e 338). Alguns nomes relevantes, contudo, não são discutidos nos dois tomos da biografia de Harrison. Um deles é Ben Fletcher, o sindicalista negro e membro da IWW, considerado por alguns como um dos maiores heróis da classe trabalhadora norte-americana. Fletcher atuou na mesma época que Harrison e foi um militante de esquerda de destaque (nesse sentido, vale apontar para a nova edição, revista e ampliada, do livro Ben Fletcher: The Life and Times of a Black Wobbly, de Peter Cole, lançado recentemente pela PM Press). Uma aproximação da experiência e visões de mundo de ambos em relação ao racismo, à militância e ao socialismo poderia ter sido interessante, neste caso (o nome de Fletcher aparece, ao que tudo indica, uma única vez, bastante despercebido, quase escondido, na página 817, em meio a uma das centenas de endnotes, sem qualquer destaque).
Perry comenta que Harrison propunha, a partir de 1924, “separar uma seção do Estados Unidos para ser ocupada exclusivamente por negros que terão então um canal de expressão para seu orgulho racial” e que o propósito da organização que ele havia fundado, a ICUL, seria “o aproveitamento das energias do negro nos Estados Unidos para a promoção de sua autoajuda e progresso econômico, politico e espiritual”, tendo como objetivo final “fundar um estado negro, não na África, como Marcus Garvey o teria feito, mas nos Estados Unidos, em um ou mais dos estados parcamente povoados da União americana, onde, sob instituições o negro americano pudesse exercitar seu destino politico independente, e de uma maneira americana” (p. 601). Interessante, nesse sentido, é a aproximação das ideias do dirigente negro estadunidense com aspectos da concepção do Comintern sobre o mesmo tema (algo que poderia ter sido mais explorado pelo autor), mesmo que as propostas tivessem, por certo, características distintas.
Dentro dessa premissa, uma discussão sobre Harry Haywood (o militante comunista, autor de Black Bolshevik), sem dúvida, teria sido muito interessante para alargar o debate sobre esse tema. Outros nomes poderiam ter sido pelo menos mencionados, personagens, em alguns casos, considerados apparatchiks, mas que, não obstante, estiveram, a seu modo, envolvidos com a questão negra nos Estados Unidos, entre eles József Pogány (John Pepper), o dirigente húngaro e autor de American Negro Problems, que se tornou, mais tarde, o diretor do Bureau de Informações do Comintern, membro da Comissão sobre os Negros (CN) e que ajudaria a constituir o American Negro Labor Congress (ANLC), organização idealizada, proposta e estruturada nacionalmente por Lovett Fort-Whiteman, com a qual Hubert trabalhou (FortWhiteman chegou a dizer, em uma carta, que Harrison, no comitê da ANLC de Nova Iorque, seria “one of its officers”) ou George Ivanovich Safarov, que encabeçou a CN e elaborou o primeiro documento da IC que formulou uma posição sobre a questão negra, além de outros nomes, como Charles Nasanov, representante da Internacional Comunista da Juventude; o finlandês Otto Kuusinen, mais tarde chairman da “Negro Commission” do VI Congresso do Comintern; Otto Hall (o irmão mais velho de Harry Haywood); o exilado magiar em Moscou Endre Sik (um dos primeiros e mais proeminentes experts em história da África na União Soviética, que teve razoável influência sobre alguns militantes comunistas negros dos EUA); e James W. Ford, que se tornaria, segundo Harvey Klehr, “a principal liderança negra do PCEUA”3 (isso no período imediatamente posterior ao falecimento de Harrison). Mesmo Fort-Whiteman, William Pickens e Richard B. Moore (que são mencionados em diferentes momentos no trabalho) poderiam ter recebido mais destaque.
Vale recordar que já antes, o IV Congresso da IC, em 1922, seria importante, ao indicar que um movimento negro forte nos Estados Unidos poderia influenciar o movimento revolucionário em todos os lugares onde os “homens de cor” eram oprimidos pelo imperialismo, sugerindo, além disso, aumentar o envolvimento dos comunistas no trabalho sindical entre os afro-americanos (alguns anos depois, essa deliberação foi reforçada pelo secretário-geral do Profintern Solomon Abramovitch Lozovsky, algo que teria aproximado Harrison ainda mais da ANLC e do Workers Party, o nome utilizado pelo PC na época). As discussões culminaram, em 1928, no VI Congresso, com a proposta de direito à autodeterminação dos negros, especialmente no Black Belt (em parte dos estados do Sul que compunham o antigo território confederado onde, segundo a IC, eles seriam maioria), o que levaria, mais tarde, à resolução do Comitê Executivo do Comintern de 1930, que falava de uma “nação oprimida”, insistindo que os afro-americanos poderiam, se fosse o caso, estabelecer uma “República Socialista Soviética Negra” naquela região (naquele momento, Hubert já havia falecido; não obstante, em anos anteriores, segundo seu biógrafo, ele tratava a situação dos negros no Sul dos Estados Unidos como “oppressed subjects”, o que permite fazer paralelos e distinções com a concepção da IC sobre “povos ou nacionalidades oprimidas”). Ou seja, mesmo que Harrison não tenha conhecido pessoalmente ou se relacionado diretamente com algumas dessas personalidades supracitadas (que atuaram em sua época ou se destacaram logo depois de seu óbito), Perry poderia ter comentado sobre sua existência, ideias e atividades, assim como ter dado mais detalhes sobre as diferentes abordagens e deliberações feitas no período, quiçá para enriquecer o pano de fundo político e teórico do livro.
Perry comenta que os textos de Harrison foram lidos e discutidos na URSS pelos membros da Terceira Internacional, o que mostra a relevância de seus escritos na época. Uma pesquisa nos arquivos russos poderia ter sido interessante. Vale lembrar, contudo, que em um livro conhecido de Harvey Klehr, John Earl Haynes e Kyrill M. Anderson, The Soviet World of American Communism,4 que contém uma razoável diversidade de documentos originais da IC relativos ao PCEUA e que, segundo os autores, foram consultados em Moscou no Centro Russo para a Preservação e Estudo de Documentos da História Recente (RTsKhIDNI), o qual possuía mais de 4.300 files de material entre 1919 e 1944 sobre a agremiação (inclusive sobre militantes que participavam das discussões acerca da questão negra),5 o nome de Harrison não aparece em nenhum momento (de acordo com Klehr, Haynes e Anderson, a coleção sobre o CPUSA não estava completa, mas os registros entre 1922 e 1936 aparentemente encontravam-se intactos; de qualquer forma, mesmo que os autores não tenham colocado em sua obra todos os documentos, muitos deles, significativos, estão em suas páginas, mas não há indicações, pelo menos neste volume específico, de uma apreciação sobre Hubert naquele material).6
Não custa lembrar que Harrison possuía em sua biblioteca particular o livro The Color Question in the Two Americas, do autor cubano Bernardo Ruiz Suárez, que defendia a constituição de um partido negro independente nos Estados Unidos e falava sobre a criação de uma “nação de pretos” dentro do território dos EUA, mostrando que o pensamento de um intelectual da “mayor de las Antillas” pode ter sido uma influência importante no ideário do militante do Harlem, que era, então, constantemente monitorado pelo Bureau of Investigation (BOI ou, como assinalado no livro, BI). Além disso, Hubert chegou a propor uma “Colored International”, vislumbrando uma aproximação das “darker races” em um congresso anti-imperialista para lutar contra o “imperialismo capitalista”.
Harrison assistiu a uma palestra de Albert Rhis Williams e Louise Bryant, e deu aulas na Workers School, dirigida por Bertram D. Wolfe, instituição que tinha como objetivo, nas palavras de Rebecca Grecht, “intensificar seus esforços educativos para tornar suas organizações verdadeiros partidos de Lênin, e estender a influência comunista entre as massas”, além de “disseminar os ensinamentos de Marx e Lênin para desenvolver uma ideologia bolchevique”, assim como para “treinar camaradas para se tornarem lideranças ativas tanto nas variadas células do partido, como nas fábricas e nos sindicatos (o curso ministrado por Harrison discutiria “a questão negra em relação ao imperialismo, mudanças recentes nos movimentos raciais negros [e] o efeito do Sul em transformação sobre os negros”) (p. 646-647). Personalidades como Nicolai Bukharin (do qual alguns dirigentes comunistas norte-americanos da época eram próximos em termos político-ideológicos), León Trotsky (uma das mais importantes figuras da revolução de Outubro, muito conhecido entre os marxistas dos EUA, especialmente em Nova Iorque, onde havia vivido por alguns meses) e Joseph Stálin não são abordadas (e, menos ainda, analisadas) no livro de Perry (o nome de Bukharin, por exemplo, é apenas mencionado na página 645, ainda que não conste no índice onomástico ao final da obra). A importância de Moscou no background das discussões sobre a questão negra nos EUA naquele momento, quem sabe, poderia ter sido mais explorada pelo autor. Como lembra o dirigente trotskista James P. Cannon, “o movimento socialista, a partir do qual o Partido Comunista foi formado, nunca reconheceu a necessidade de um programa especial sobre a questão negra. Ela era considerada pura e simplesmente um problema econômico, parte da luta entre os trabalhadores e os capitalistas; nada poderia ser feito sobre os problemas específicos de discriminação e desigualdade pelo socialismo nestas bandas [os EUA] […]. Tudo de novo e progressista em relação à questão negra veio de Moscou, depois da revolução de 1917, e como resultado da revolução –não apenas para os comunistas norte-americanos, que reagiram diretamente–, mas para todos os outros preocupados com a questão. […] A intervenção russa mudou tudo aquilo, de forma drástica, e para melhor. Mesmo antes da Primeira Guerra Mundial e da Revolução Russa, Lênin e os bolcheviques se diferenciavam de todas as outras tendências no movimento socialista e operário internacional por sua preocupação pelos problemas das nações oprimidas e das minorias nacionais, e o apoio assertivo a suas lutas por liberdade, Independência e o direito à autodeterminação. Os bolcheviques deram, sincera e resolutamente, seu apoio a todos os ‘povos sem direitos iguais’, mas não havia nada de ‘filantrópico’ em relação a isso. Eles também reconheceram o grande potencial revolucionário na situação dos povos e nações oprimidos, e os viam como importantes aliados da classe trabalhadora internacional na luta revolucionária contra o capitalismo”. 7 Para o intelectual da IV Internacional, “depois de novembro de 1917, esta nova doutrina –com especial ênfase nos negros- começou a ser transmitida para o movimento comunista norte-americano com a autoridade da Revolução Russa”.8 Cannon acredita que a nova posição dos comunistas estadunidenses coincidiu com as profundas mudanças que ocorriam nos EUA depois da Primeira Guerra Mundial. Ou seja, após uma migração em larga escala dos afro-americanos das regiões agrícolas do Sul para os centros industriais, de sua participação no conflito europeu e da criação do novo movimento negro, mais radical e assertivo.9
De qualquer forma, como comentou Winston James, em seu artigo “Being Red and Black in Jim Crow America”,10 resumindo a trajetória e o papel de Hubert dentro deste contexto: “ele defendia uma política defensiva da ‘raça em primeiro lugar’, mas nunca abandonou ou renunciou a seu marxismo profundamente arraigado. Ele era enormemente admirado por todos os radicais negros do Harlem. Até aqueles que mais tarde discordaram dele reconheciam sua dívida com Harrison e seu esforço pioneiro. […] Harrison deve receber o crédito por ter realizado a primeira análise sistemática da posição de classe do povo negro nos Estados Unidos e sobre a coincidência dos interesses dos negros com projetos anticapitalistas. […] Harrison, portanto, foi o grande pioneiro, e outros seguiram seus passos”.11
Perry, sem dúvida, produziu um livro detalhado como poucos. Foi até às minúcias para compor seu personagem, destrinchou seus artigos, palestras e discursos e reconstruiu com maestria suas relações pessoais e sociais. Esta é, de fato, uma obra monumental que resgata um ativista e intelectual muito relevante para se compreender os desdobramentos do movimento negro nos Estados Unidos nos anos posteriores e que ainda precisava de uma biografia à altura de sua dimensão política.
Notas
1 Ver Franklin Rosemont, Joe Hill: The IWW and the Making of a Revolutionary Workingclass Counterculture, Oakland e Chicago: PM Press/C. H. Kerr Company, 2015.
2 Rosemont, Joe Hill, p. 467, 490 e 492.
3 Ver Harvey Klehr, The Communist Experience in America: A Political and Social History, New Brunswick e Londres: Transaction Publishers, 2010, p. 95.
4 Ver Harvey Klehr, John Earl Haynes e Kyrill M. Anderson, The Soviet World of American Communism, New Haven e Londres: Yale University Press, 1998.
5 Klehr, Haynes e Anderson, The Soviet World, p. xv.
6 Klehr, Haynes e Anderson, The Soviet World, p. xv.
7 Ver James P. Cannon, “The Russian Revolution and the American Negro Movement” in The First Ten Years of American Communism, Nova York: Pathfinder Press, 1973, p. 230, 233 e 234.
8 Cannon, “The Russian Revolution”.
9 Cannon, “The Russian Revolution”, p. 234-235.
10 Ver Winston James, “Being Red and Black in Jim Crow America”, Souls, outono de 1999, pp. 45-63.
11 James, “Being Red and Black”, p. 51 e 54.
Resenhista
Luiz Bernardo Pericás – Universidade de São Paulo. https://orcid.org/0000-0001-8201-1181
Referências desta Resenha
PERRY, Jeffrey B. Hubert Harrison: The Struggle for Equality, 1918–1927. Nova York: Columbia University Press, 2021. Resenha de: PERICÁS, Luiz Bernardo. Afro-Ásia, n. 65, p. 803-812, 2022. Acessar publicação original [DR/JF]
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