O Livro Ensino de História e Internet: Aprendizagens conectadas, organizado pelos professores Dr. Osvaldo Rodrigues Junior2 e Dr. Marcelo Fronza,3 onde professores da área de ensino de História compartilham suas pesquisas desenvolvidas no contexto da educação básica e superior no Brasil, Colômbia, Portugal e Costa Rica. O livro trabalha e possui a pretensão de discorrer sobre o universo da internet e sua conexão com o ensino de História, conexão não apenas como conceito de ligação mas também como jargão usado por usuários das mídias digitais para tratar do login nas redes; a entrada na internet, com a democratização do uso da internet e das redes sociais e o uso pelos estudantes em idade escolar, infere diretamente dentro das salas de aula e os autores apresentam o uso da internet dentro do ambiente escolar, pensando nos aspectos negativos e positivos da mesma.
No primeiro artigo os autores abordam o mundo digital e virtual e como o mesmo se relaciona com a educação e o cotidiano dentro da sala de aula e escola. Segundo os mesmos, “essas relações de interações entre mundo digital e mundo escolar acontecem, entre outros fatores, devido ao uso de aparelhos celulares pelos estudantes”(JUNIOR; RAMOS, 2021, p.13). colocando que as relações entre a internet e os educandos raramente se desenvolvem em um ambiente controlado pela escola, em aulas de informática por exemplo, mas sim na vida social dos estudantes de modo individual, apontando que: “Encontramos na escola o sujeito-usuário acessando individualmente a internet, mas provavelmente proibido de fazer isso visto que, em algumas escolas, os celulares devem permanecer desligados.” (JUNIOR; RAMOS, 2021, p.13). Os autores então apresentam as dificuldades que ainda existem em propor atividades pedagógicas que usam os telefones celulares e os recursos digitais como ferramentas dentro da sala de aula, facilitando o aprendizado, demonstrando noções do uso das ferramentas digitais: vistas de um lado como maléficas para a educação e por outro como a única forma de se produzir conhecimento é se apropriando delas, porém os autores apontam a necessidade de uma dupla posição sobre o tema “distanciar-se das perspectivas extremistas e ao mesmo tempo não as deixar totalmente de escanteio.” (JUNIOR; RAMOS, 2021, p.15), portanto o texto pretende assim fazer um exercício de reflexão sobre o uso das ferramentas digitais se apropriando do conceito de aula oficina.
No segundo artigo o autor trata do uso das tecnologias digitais e a necessidade de uma espécie de letramento para uma melhor compreensão das linguagens digitais e sua inserção dentro do campo historiográfico, formando assim um letramento histórico e digital, colocando a expansão das tecnologias digitais como tema de estudo da História, já que a evolução das tecnologias humanas, como a de ferramentas por exemplo, assim como das tecnologias digitais se relacionaram com a educação, economia e sociedade em que as tecnologias eram e são usadas. O autor também coloca a necessidade dos professores em refletirem sobre o uso dessas ferramentas: “precisam refletir sobre as lógicas e as concepções que incluem essas ferramentas” (SILVA, 2021, p.37), já que o uso delas é permeado por conceitos e sentidos próprios, como a lógica capitalista que está inserida. Para o autor é preciso então pensar em três questões norteadoras quando se trata desse exercício de reflexão sobre essas tecnologias, são elas a formação dos estudantes dentro da educação básica, a natureza capitalista das tecnologias e as habilidades históricas e digitais a serem desenvolvidas nessa produção de conhecimento histórico.
No terceiro artigo os autores discutem sobre os processos didáticos das aulas de História relacionadas com as mídias que circulam na internet, salientando a pandemia provocada pelo SARS-CoV-, que teve seu ápice nos anos de 2020 e 2021, e as relações que o isolamento social tiveram com o desenvolvimento didático e pedagógico nos meios digitais e a necessidade do desenvolvimento de atividades de forma remota. Além da realização de atividades remotas foram também pesquisados os elementos que cercam essas mesmas atividades durante a pandemia, refletindo sobre os diversos aspectos que permearam o campo educacional e pedagógico durante o período de isolamento. Segundo os autores, o texto tem como propósito “apresentar e analisar academicamente o trabalho didático desenvolvido em uma turma de ensino médio integrado de uma escola pública no Paraná, durante o isolamento determinado pela pandemia” (CHAVES; GARCIA, 2021, p. 57).
No quarto artigo Entre forma e conteúdo: os estudantes do Ensino médio diante das temáticas históricas no YouTube observa-se que os autores demonstram uma perspectiva sobre o uso da plataforma de postagens de vídeos pelos estudantes onde o foco é a relação dessas postagens quando se tratam de conteúdos conectados com a disciplina de História. Os autores ainda indicam uma relação de crescimento das postagens de vídeos e o consumo dos mesmos pelos brasileiros como alta, incluindo como visualizadores os estudantes do ensino médio de escolas brasileiras. Dentro desses consumidores da plataforma a pesquisa ainda indica que a maioria acessa a mesma em busca de entretenimento, porém uma parcela de usuários procura a plataforma em busca de aprendizagem, então o Youtube “acaba ocupando a posição de plataforma mais acessada na busca por conhecimentos” (BRITO; JUNIOR, 2021, p.75). Dentro desse desejo de busca por aprendizado os alunos encontram canais que discorrem sobre conteúdos da disciplina de História, possuindo esses dados os autores então propõem uma pesquisa com os estudantes do ensino médio por meio da plataforma de formulários do Google, questionando os estudantes sobre o que pesquisam no Youtube e sobre a relação dos mesmos com o canal Nostalgia que publica e produz conteúdos com temas tratados pela História. Os autores possuem dessa forma o objetivo de analisar o perfil dos estudantes que consomem esses conteúdos na internet e no Youtube.
O quinto artigo trata das possibilidades que os vídeos do Youtube possuem se tratando do ensino de História, dentre elas o autor indica a importância do audiovisual para a construção do conhecimento histórico: “As evidências audiovisuais permitem investigar como os jovens se percebem, interpretam, orientam e motivam historicamente” (FRONZA, 2021, p.96). Para o autor, os vídeos relacionados ao ensino de História “possibilitam aos jovens revelar critérios vinculados à cognição histórica” (FRONZA, 2021, p. 100). Os estudantes então carregam e depositam sentido histórico nessas experiências de construções dentro da História vinculada ao audiovisual, ajudando os mesmos a formar narrativas na construção do conhecimento histórico.
O sexto artigo Educação histórica e Ensino de História no meio digital: debate conceitual e partilha de uma experiência no campo da educação histórica coloca o professor de História como organizador do processo de ensino aprendizagem e o educando como sujeito do seu próprio processo de aprendizagem, depositando no professor importante tarefa dentro do ensino, é ele que deve tomar decisões sobre quais conteúdos ensinar em História e como fará essa tarefa: “Cabe a ele clarificar as suas concepções acerca do campo onde se inscreve” (GAGO, 2021, P. 116). Nessa linha a autora discorre sobre a importância da educação histórica como desenvolvedora de consciência histórica, aprofundando assim experiências dentro dos conteúdos das aulas de História, a educação histórica possui como tarefa conectar o passado com o presente assim como sujeitos históricos, além de dar sentido e significado aos fatos apresentados formando assim a consciência histórica.
No sétimo artigo Ensinar e aprender história através do uso de memes: possibilidades e desafios formativos os autores situam a disciplina de História como pertencente ao cotidiano das pessoas, relação essa não gerada apenas dentro dos espaços escolares e acadêmicos mas também em outras áreas de expressões da chamada Cultura Histórica, os autores indicam um distanciamento dessas culturas históricas com as escolas e universidades, distanciamentos esses intensificados, segundo os mesmos, pela própria lógica escolar e seu conjunto de valores e diretrizes. Os sujeitos que buscam essas relações com a disciplina de História preferem então as linguagens e lógicas da chamada cibercultura. Os autores buscam compreender essas lacunas entre ensino e aprendizagem relacionadas a cibercultura e os espaços escolares, dividindo o artigo em três eixos. O primeiro eixo é o dos memes como conceito e expressão sociocultural, definindo o conceito de meme identificando suas características gerais e suas configurações como forma de expressão; o segundo eixo explora as possibilidades pedagógicas possíveis com o uso dos memes; o terceiro eixo discute as possibilidades que essa experiência gera para uma transformação crítica dentro do ensino de História.
O livro trata de importantes questões dentro do ensino de História e suas relações com o mundo da internet, focando também na mudança de perspectiva das relações de ensino e aprendizagem com a pandemia da SARS-CoV-2 possuindo em suas considerações o uso em grande escala das redes sociais no momento de quarentena. A obra então busca de maneira didática propostas para uma relação entre a disciplina de História com o mundo que está se recuperando de uma pandemia e isolamento social além de propor diversos recursos para uma melhor conexão com os estudantes e a difusão do ensino de História.
Notas
2 Atualmente é Professor Adjunto II do Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT.
3 Professor adjunto III em Prática do Ensino de História do quadro permanente do Departamento de História da Universidade Federal do Mato Grosso.
Referência
Fronza, Marcelo; Junior; Osvaldo. Ensino de História e Internet. Aprendizagens conectadas. São Paulo: Paruna Editora, 2021.
Resenhista
Larissa Azevedo da Silva – Graduanda em Licenciatura em História, na Universidade Federal de Pelotas. E-mail: larissalupa11@gmail.com
Referências desta Resenha
FRONZA, Marcelo; RODRIGUES JUNIOR, Osvaldo. (Orgs). Ensino de História e Internet: Aprendizagens conectadas. São Paulo: Paruna Editora, 2021. Resenha de: SILVA, Larissa Azevedo da. Ofícios de Clio. Pelotas, v. 7, n.12, p. 356- 359, jan./jun. 2022. Acessar publicação original [DR/JF]
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