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Atlas de imagens– história da educação e da escola | Robert Alt

O Atlas de imagens – história da educação e da escola, de autoria de Robert Alt1, foi publicado por Pedro & João Editores em 2021. A tradução, a introdução e as notas são de Bernd Fichtner2 e de João Wanderley Geraldi3; já o prefácio foi escrito por Nilda Alves4.

Dentre os aspectos físicos ou estruturais, destacamos que a obra é composta por dois volumes em capa dura, com dimensões de 21 x 29 cm. O volume I (ISBN: 978-65- 5869-514-1) totaliza 522 páginas. O volume II (ISBN: 978-65-5869-515-8) é composto por 671 páginas. O objetivo principal do Atlas é, segundo o seu autor, apresentar:

[…] um conjunto complexo e rico, estruturado numa perspectiva histórica e temática, baseado na multiplicidade das diferentes fontes da história da pedagogia. Nesta perspectiva, preferem-se fontes que informam sobre o desenvolvimento do sistema de educação e da escola na Alemanha. Ao mesmo tempo, são apresentados os fenômenos importantes de outros países, os efeitos deles e também as relações complexas para a pedagogia alemã (Alt, 2021, p. xx).

Robert Alt (2021, p. xx) ressalta a potencialidade da obra para auxiliar e incentivar o “[…] aprofundamento da pesquisa e do ensino na área da história da pedagogia, no sentido de que a ocupação com o passado pode fecundar soluções e tarefas atuais, pois ela permite conhecer mais claramente a necessidade histórica de nossos objetivos educacionais atuais […]”. Nesse sentido, tanto pelo envolvimento com a edição brasileira, quanto pela representatividade acadêmica desses pesquisadores, vale apresentarmos, também, fragmentos dos pontos de vista dos tradutores e da prefaciadora acerca da relevância dessa obra.

Bernd Fichtner e João Wanderley Geraldi, na nota introdutória à edição brasileira, destacam que, do conjunto de imagens apresentado, “[…] extrai-se uma história da educação em diferentes povos e em diferentes épocas” (p. xiii). Eles apontam, ainda, que “[…] o material utilizado para detectar momentos fixados nos registros – desde as inscrições em pedra e cerâmica até a fotografia – permitirá aos leitores um acesso às representações do fazer pedagógico, do fazer educativo, que não se restringe ao ensino escolar […]” (p. xiii).

Nilda Alves, no prefácio (p. xi), indica que

A principal possibilidade que Alt nos abriu é essa: tentar, talvez, trabalhar com as fotografias que produziam e que escolheu colocar em seu livro, percorrendo o caminho que fez, conversando com ele e o material que nos deu, se outros caminhos, interpretações, coleções são possíveis hoje, para irmos além dos iconoclasmos, das violências e dos negacionismos, de nosso tempo, criando com as imagens, ideias que permitam aos docentes, em formação e em serviço, produzir novos caminhos nos currículos escolares.

Para que o público leitor tenha uma noção panorâmica da obra, já que essas informações não estão disponíveis ao público na página da Editora, apresentamos a seguir, de maneira literal e na ordem constante na publicação, os temas abordados em cada tópico. O volume I (Figura 1) apresenta dados desde as ‘primeiras relações sociais’, isto é, as sociedades primevas, até as vésperas da denominada Revolução Burguesa. Além do prefácio, da nota introdutória à edição brasileira, da introdução original, das fontes das imagens e do índice remissivo, nesse volume são apresentados os seguintes tópicos: sociedades primitivas; sociedade escravocrata (Velho Oriente; Grécia; Roma; germânicos); feudalismo (treinamento dos clérigos; educação dos cavalheiros; educação das massas populares; surgimento das universidades); a construção de instituições burguesas e de suas teorias; a contribuição de culturas antigas para o desenvolvimento dos sistemas de formação e educação; a construção de instituições burguesas e de suas teorias; e – último tópico – sistema de educação do século XVII ao século XVIII.

O volume II (Figura 2) apresenta elementos desde o momento da Revolução Francesa até o início da intitulada Revolução Socialista de outubro de 1917. Ademais da introdução original, das fontes das imagens e do índice remissivo, nesse volume constam os seguintes tópicos: pedagogia burguesa (teorias anteriores à Revolução Francesa, demandas da Revolução Francesa, destruição dos sucessos revolucionários, Iluminismo alemão, inícios da literatura juvenil, educação das massas no final do século XVIII, educação das massas no final do século XVIII e inícios do século XIX, Pestalozzi, movimentos pela educação nacional, clássicos alemães, sistema educacional na primeira metade do século XIX, Revolução de 1848, exploração das crianças e escolas-fábrica); o complexo processo de constituição da pedagogia marxista; política escolar e pedagogia na segunda metade do século XIX; educação no imperialismo (‘educação colonialista’; escolas nas colônias; trabalhos das instituições de caridade; pedagogia reformista; pedagogia da reforma; escola e juventude na Primeira Guerra Mundial); e, último tópico desse volume, Olhar de despedida – Grande revolução socialista de Outubro.

Consideramos que se trata de uma obra importante para a pesquisa e para o ensino da história da educação, especialmente diante da relevância, como destaca o Prof. Carlos Antonio Aguirre Rojas (2014), do recurso à diversificação das fontes e da necessidade do empenho docente para tornar o ensino de história mais instigante para os estudantes durante as aulas. Os níveis de desafios tendem a se elevar quando se trata de contextos ou momentos históricos em que os dados, especialmente em termos de detalhes, são mais escassos, por exemplo, as denominadas sociedades primitivas.

Reiteramos a importância dos recursos imagéticos no processo de ensino de história da educação5 e, como enunciado, a obra apresenta imagens de vários momentos históricos, diversas civilizações e sociedades e de numerosos temas relevantes da história da educação, o que pode contribuir para o processo de ensino dessa disciplina. Ainda, devido à especificidade da obra em referência, vale apresentarmos, a seguir, aspectos do ponto de vista de Robert Alt (p. xxii) sobre a potencialidade das imagens:

Por um lado, cada imagem informa-nos sobre fatos através de seu conteúdo, objetos e processos representados; por outro lado, cada representação imagética comunica algo através da forma de representar, sobre a técnica de produção, sobre estilo, sobre o mundo de afetos e emoções da época.

Muitas dessas imagens apresentam, nelas mesmas, dados escritos alfabéticos que contribuem para a aproximação, ou melhor compreensão, de determinados documentos ou fatos. Aliás, o Atlas não é composto apenas por imagens. Robert Alt apresenta várias explicações sobre as imagens, os seus significados e/ou contextos.

O Prof. Dermeval Saviani, ao recomendar o Atlas na página da internet da Editora, afirma: “Trata-se de uma obra cuja particularidade é apresentar-se como uma história da educação abundantemente ilustrada […]”, configurando-se, portanto, como “[…] importante instrumento para subsidiar suas aulas com um abalizado conhecimento da história da educação e da escola enriquecido com eloquentes imagens”6.

A intencionalidade didática dessa obra é apontada pelos professores Bernd Fichtner e João Wanderley Geraldi (p. xvi); segundo eles, Robert Alt “[…] tinha um objetivo didático ao elaborar este trabalho. Imaginava-o sendo usado junto com um livro didático de História da Educação […]”. O Prof. Geraldi reitera, na página da Editora, a relevância do Atlas: “O leitor especialista encontrará aqui um conjunto de portas pelas quais pode entrar para desvendar outros mistérios. O leitor não especialista terá a vantagem de olhar para o detalhe a cada imagem e sua legenda-comentário e ao final obterá uma visão panorâmica da história da educação”7.

A Profa. Rosa Fátima de Souza (2001, p. 77) ressalta a “[…] relevância da documentação iconográfica para a História da Educação […]”, inclusive porque as fotografias escolares, por exemplo, permitem identificar elementos das culturas institucionais, que são veiculadoras de “[…] conhecimentos, valores, normas e símbolos considerados legítimos. Elas representam singularidades e identidades compartilhadas” (2001, p. 81).

A partir desses apontamentos, destacamos a necessidade não somente da utilização, mas também do ensino da crítica – leitura e interpretação, visando despertar outras sensibilidades estéticas – de imagens em cursos de formação docente, o que remete à questão da linguagem visual. Isso, porque precisamos considerar a potencialidade formativa da prática pedagógica de docentes das licenciaturas, que pode impactar na configuração da prática dos atuais licenciandos e futuros professores, quando eles estivarem no exercício da profissão docente. Aliás, é necessário buscar formas de – recorrendo a uma expressão da Profa. Maria do Rosário Longo Mortatti (2020) – despertar a ‘fome de leitura’ da história da educação nos estudantes, tanto de Graduação, quanto de Pós-Graduação, para que eles entendam os sistemas de educação escolar como resultado de um processo histórico e, portanto, de decisões e ações humanas, por conseguinte, passíveis de serem transformados.

Consideramos que o Atlas de imagens configura-se como um complemento estratégico para aulas pautadas em clássicos da história da educação, como Franco Cambi, Lorenzo Luzuriaga e Mario Manacorda, autores recorrentemente utilizados em diferentes instituições e cursos para o ensino de temáticas desse campo de conhecimento em diferentes civilizações e sociedades – especialmente de momentos históricos mais remotos – e que, não raramente, apresentam somente textos alfabéticos em seus livros. Principalmente nesses casos, as imagens configuram-se como elementos-chave para o processo de ensino e aprendizagem, porque, como apontamos, muitas delas contêm, também, mensagens alfabéticas, além das explicações apresentadas por Robert Alt nas legendas.

Numa analogia possível, consideramos que, recorrendo a elementos mitológicos e etimológicos do termo atlas, essa obra apresenta a potencialidade de se configurar como um instrumento para auxiliar o professor a não ter que sustentar as desafiadoras aulas, especialmente aquelas que envolvem momentos históricos mais remotos, apenas por intermédio de exposição oral e/ou de textos alfabéticos, já que pode contar com o estratégico aporte de abundantes imagens elencadas no Atlas. São mais de mil de páginas ilustradas para navegar pela história da educação, escolar e não escolar, de variados momentos históricos e diferentes civilizações e sociedades, com o aporte de um potente conjunto de cartas imagéticas, o qual é apresentado na obra em tela.

Trata-se de uma obra para ser estudada, contemplada e revisitada, característica típica dos clássicos. Com base inclusive nos argumentos apresentados nesta resenha, consideramos o Atlas de imagens um instrumento de trabalho com atributos para compor a seção de clássicos da história da educação nas bibliotecas de instituições de ensino, em especial, daquelas que oferecem cursos de licenciatura, bem como de estudantes, docentes e pesquisadores desse campo de conhecimento.


Notas

1 Conforme informações constantes na nota introdutória à edição brasileira (p. xiii-xvii), doutor, pedagogo e cientista da Educação. Foi professor em diferentes instituições de ensino. Recebeu diversas condecorações. Nasceu em Breslau, em 1905, e faleceu em 1978.

2 Segundo dados disponíveis na página na internet da Editora, professor da Universidade de Siegen, Alemanha. Recuperado de: https://pedroejoaoeditores.com.br/site/loja/atlas-de-imagenshistoria-da-educacao-e-da-escola/.

3 De acordo com informações disponíveis na Plataforma Lattes, professor aposentado da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), colaborador visitante da Universidade do Porto (Portugal), entre outras instituições. Entre as temáticas de atuação destacam-se: análise do discurso, estudos bakhtinianos e ensino de língua portuguesa. Recuperado de: http://lattes.cnpq.br/0942600232344834.

4 Os dados presentes no prefácio à edição brasileira (p. vii-xi) informam que é pesquisadora visitante emérita pela Faperj, com exercício no Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ)/Maracanã e no Programa de Pós-Graduação em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais da UERJ/São Gonçalo, além de Pesquisadora 1A do CNPq. Conforme informações da Plataforma Lattes, é professora aposentada da UERJ e da Universidade Federal Fluminense (UFF). Recuperado de: http://lattes.cnpq.br/4233172979202700 .

5 Com base inclusive em literatura acadêmico-científica atinente, não compactuamos nem com a tendência de refutação a priori e incondicional das aulas expositivas, apresentadas por alguns setores, de maneira simplista, como tradicionais, nem com a apologia a priori e incondicional das aulas fundamentadas majoritária ou exclusivamente em recursos imagéticos, apresentadas por determinados setores como se fossem uma espécie de panaceia para todos os problemas da educação.

6 Recuperado de: https://pedroejoaoeditores.com.br/site/loja/atlas-de-imagens-historia-da-educacao-e-da-escola2-volumes/

7 Recuperado de: https://pedroejoaoeditores.com.br/site/loja/atlas-de-imagens-historia-da-educacaoe-da-escola/


Referências

Aguirre Rojas, C. A. (2014). Antimanual del mal historiador: o ¿cómo hacer hoy una buena historia crítica? México, ME: Los Libros de Contrahistorias.

Alt, R. (2021). Atlas de imagenshistória da educação e da escola (Vol. I e II). São Carlos, SP: Pedro & João Editores.

Mortatti, M. R. L. (2020). Ensaio para uma receita de brevidade (quase-partitura de um cânone como oferenda musical). In S. G. L. Mendonça, J. C. Miguel, S. Miller, & E. C. Köhle (Orgs.), (De)formação na escola: desvios e desafios (p. 19-32). Marília, SP: Oficina Universitária; São Paulo: Cultura Acadêmica.

Souza, R. F. (2001). Fotografias escolares: a leitura de imagens na história da escola primária. Educar, (18), 75-101. doi: 10.1590/0104-4060.235


Resenhista

Cláudio Rodrigues da Silva – Doutor em Educação. Vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, campus de Marília, da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Integrante do Grupo de Pesquisa Organizações e Democracia. Dedica-se principalmente ao estudo de temas relacionados à educação escolar para/dos povos do campo. E-mail: claudio.rodrigues-silva@unesp.br https://orcid.org/0000-0001-9036-3101


Referências desta Resenha

ALT, Robert. Atlas de imagens– história da educação e da escola. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2021. (Vol. I e II). Resenha de: SILVA, Cláudio Rodrigues da. Atlas de imagens: ilustrando a história da educação e da escola – uma abordagem internacional e de longa duração. Revista Brasileira de História da Educação, v. 23, n.1, e259, 2023. Acessar publicação original [DR/JF]

Itamar Freitas

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