Débora Alves, jornalista, mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela Uniderp – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal –, trabalha no SBT MS desde dezembro de 2001 exercendo a função de repórter desde outubro de 2013 e é editora e apresentadora do jornal SBT MS 1º Edição da mesma emissora. Dentre os seus principais destaques em premiações está o prêmio de Melhor Vídeo Étnico Social no II Festival Social Latino Americano de Cisne, Vídeo e TV com a produção do vídeo Conceição dos Bugres em 2001.
O livro intitulado Viagem a bordo das Comitivas Pantaneiras (2014) é resultado do desenvolvimento de sua pesquisa no Mestrado de Meio Ambiente da Uniderp (hoje pertencente ao grupo Anhanguera). Composto de 192 páginas intercaladas de textos e imagens que buscam retratar a realidade das comitivas pantaneiras e o meio ambiente em que estão inseridas.
O contexto da obra parte da experiência de Débora Alves ao viajar por doze dias com a Comitiva Nova Esperança conduzindo gado a pé por um trajeto de pouco mais de 150 km entre Aquidauana e Porto Esperança. A comitiva escolhida pela autora é tradicional no Pantanal, e é de propriedade de Edite Araújo Cardozo.
No livro, além de descrever os detalhes de sua participação na comitiva, a jornalista procura representar a cultura e a identidade dos trabalhadores de fazenda de gado pantaneiros através de diversas fotografias. Nas páginas de seu livro as imagens retratam trechos percorridos, apetrechos utilizados pelos peões e belíssimas paisagens do Pantanal.
Porém, a jornalista não se limita a descrever as belezas das paisagens pantaneiras e sua admiração pela profissão do peão de comitivas. Débora Alves faz menção as questões ambientais que envolve o exercício da pecuária e suas consequências para o Pantanal. Nesta obra a autora apresenta os problemas como as queimadas para a renovação das pastagens e o lixo deixado pelos próprios trabalhadores que acabaram por se tornarem habituais.
Outro ponto a ser destacado nesse livro está relacionado a situação da profissão do peão de comitivas. Além das fotos, a autora realizou algumas entrevistas com os trabalhadores durante a realização da jornada e através dos depoimentos e da experiência pessoal ao vivenciar durante os dias em que esteve na comitiva parte da realidade do trabalho dos peões boiadeiros, Débora Alves retrata o dia a dia do trabalho do peão como atividade penosa por ser feita sob condições muito difíceis devido aos obstáculos naturais como a transposição de enchentes, falta de estradas, trechos com muita lama e/ou poeira além da travessia de rodovias pavimentadas com o perigo do atropelamento por veículos automotores. Outro problema apontado a respeito da profissão de peão de comitivas é a inexistência de formalidade dos contratos de trabalho prevalecendo o contrato verbal de forma que esses não tenham registro em carteira e nem mesmo um contrato pelo trabalho realizado.
As consequências do trabalho desempenhado dessa forma são negativas para esses trabalhadores e não apresentam a mesma segurança que o trabalho formal com carteira assinada possibilita deixando os peões sujeitos a ficarem desempregados e desamparados em caso de doença.
Ao final do livro a autora faz uma breve contextualização do processo que descreve como “Ocupação Bovina em Mato Grosso do Sul” e apresenta os colonos espanhóis, em fins do século XVI, como os primeiros a introduzirem o gado na região e no século XVII uma segunda incursão feita pelos religiosos da Companhia de Jesus.
Contudo a obra Viagem a bordo das Comitivas Pantaneiras muito tem a contribuir para o estudo do Pantanal e da cultura do peão de gado pantaneiro. Além disso, a questão ambiental que envolve a prática da atividade pecuária, sobretudo com as comitivas no Pantanal sul-mato-grossense, se faz em um momento peculiar da história em que a discussão em voga envolve a busca por alternativas menos agressivas ao meio ambiente. A guisa de um momento em que a discussão sobre o desenvolvimento de forma sustentável é prioridade nas pautas dentro das questões produtivas Débora Alves faz um alerta com relação ao comportamento dos trabalhadores de comitivas e a forma como se faz a condução dos animais pela travessia de riachos, questões estas que estão ocultas pela imagem que a mídia reproduz nos meios de comunicação da comitiva como uma atividade benéfica para a natureza e os peões pantaneiros como preservacionistas do meio ambiente.
A obra tem uma relevante contribuição para o desenvolvimento de novos estudos sobre temas como a pecuária no Pantanal, levando em conta que sua análise a respeito da profissão de peão pantaneiro aponta para alguns hábitos que contradizem com a visão preservacionista desses habitantes que é muito reproduzida pela mídia se configurando como uma relevante fonte a ser problematizada. Assim, a obra traz uma contribuição para a parca bibliografia existente até então, sobre a figura do pantaneiro trabalhador de fazendas de gado, visto que esse teve importante papel como sujeito histórico no processo que envolveu as relações entre os primeiros grupos humanos que viveram na região e deixaram seu conhecimento e experiência para as novas gerações que se fazem na identidade de peões pantaneiros no contemporâneo.
Resenhista
Paulo Rodolfo Bork Zanata – Acadêmico do 4º ano do curso de História da Universidade Federal da Grande Dourados. Pesquisador da cultura e identidade de peões de gado do Pantanal sul-mato-grossense pelo Programa de Iniciação Cientifica da UFGD desde 2013. Produziu o artigo intitulado Memórias de Trabalhadores em Fazendas de Gado no Pantanal (PIVIC- UFGD/2013-2014).
Referências desta Resenha
CABRITA, Débora Alves Pereira. Viagem a bordo das Comitivas Pantaneiras. Campo Grande/ MS: FCMS; Life Editora, 2014. Resenha de: ZANATA, Paulo Rodolfo Bork. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v. 9, n. 17, jan./jun. 2015. Acessar publicação original [DR]
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