Universals: the contemporary debate – MACBRIDE (FU)
MACBRIDE, F. Universals: the contemporary debate. In: R. LE POIDEVIN; P. SIMONS; A. MCGONIGAL; R.P. CAMERON (eds.), The Routledge Companion to Metaphysics. Oxon: Routledge, p.276-285, 2009. Resenha de: CID, Rodrigo Reis Lastra. Filosofia Unisinos, São Leopoldo, v.13, n.3, p.439-441, set./dez., 2012
O problema no qual se inserem nominalismo e realismo, diz-nos MacBride, é o de como explicar as características repetidas das coisas. Enquanto o realista nos diz que as características repetidas se explicam por serem universais, ou seja, por serem as naturezas comuns que várias coisas compartilham, o nominalista nos diz que é possível explicar essas características repetidas com apenas particulares concretos (sem universais).
O nominalista nos diz que ter uma natureza em comum é como ter um amigo em comum: o amigo em comum não é algo universal que existe em cada um dos amigos que o tem; ele é algo particular que se relaciona particularmente com os amigos particulares. A ideia do nominalista é a de que há coisas vermelhas, mas não há o vermelho, e a de que a semelhança entre as coisas vermelhas é irredutível. Tomar a semelhança entre coisas vermelhas como irredutível seria melhor que postular universais, diria ele, pois como os universais não existiriam, eles não poderiam explicar nada e, consequentemente, não poderiam avançar a explicação para além de tomar a semelhança como primitiva. Por sua vez, o realista também alude razões para postular os universais, a saber, (i) os universais explicam a semelhança, (ii) as leis naturais versam sobre propriedades universais, (iii) nós contamos coisas sob um certo tipo universal e (iv) nós falamos sobre as coisas com termos universais.
O que o nominalista inquire ao realista é: como pode um universal existir em duas coisas distintas? A pergunta é interessante, pois se o universal está dividido nas duas coisas, então tem de haver um universal que explica a semelhança entre as duas partes do universal, que explica por que elas são partes do mesmo universal. Se o universal não está dividido nas coisas que o instanciam, então ele estaria completamente em cada uma das coisas que o instanciam. Mas aqui novamente há um problema: como poderia algo estar completamente em duas coisas distintas que ocupam lugares diferentes ao mesmo tempo? Como pode algo estar em dois lugares distintos (desconectados) ao mesmo tempo?
Uma solução possível ao realista é aceitar um realismo transcendente, de universais que estão fora do tempo e do espaço, e não nas próprias coisas. O problema que essa solução deve resolver é justamente explicar como universais fora do espaço e do tempo podem conferir a natureza de particulares espaçotemporalmente localizados.
É também viável logicamente defender uma forma de nominalismo moderada, na qual os particulares têm propriedades particulares (que são os tropos ou particulares abstratos) e essas propriedades não podem ser compartilhadas, embora possam se assemelhar (primitivamente) perfeitamente umas às outras. Haveria, então, segundo ele, coisas vermelhas por haver coisas que se assemelham com a cabine londrina de telefone público.
E é possível a defesa de um realismo extremo, no qual se eliminam os particulares a favor dos feixes de universais. A ideia aqui é a de que não devemos usar uma ontologia de substância e atributo, pois ela implica a existência de particulares nus (bare particulars, que seria o que resta após todas as propriedades terem sido removidas por abstração de um particular), que seriam os portadores das propriedades. Embora Leibniz não veja nada de mal nos particulares nus, Hume nega a possibilidade de sua existência baseado na impossibilidade de os conhecermos (já que só poderíamos conhecer algo a partir de suas propriedades). Uma ontologia de feixes de propriedades universais, sem nenhum particular, escaparia desse problema. No entanto, o realismo extremo dos feixes é à primeira vista problemático, pois dois objetos concretos poderiam ter as mesmas propriedades universais; e, se isso fosse o caso, um não seria diferente do outro. Uma solução possível é dizer que dois objetos concretos não podem ter todos os mesmos universais, já que há propriedades como as rotas espaçotemporais dos objetos, que, embora sejam universais, se forem ocupadas por um objeto, não podem ser ocupadas por outro.
MacBride (p. 281) fala um pouco, além das propriedades, também das relações. Pois podemos aceitar a existência de propriedades sem aceitar a existência de relações. Por exemplo, podemos aceitar que há algo como a propriedade de ser uma mão, mas que não há algo como a relação de uma mão de estar em cima da outra. Enquanto as propriedades são expressas por predicados monádicos, as relações são expressas por predicados diádicos.
Quando nos perguntamos sobre o que é responsável pela relação entre as minhas mãos quando uma está em cima da outra, o nominalista extremo tende a dizer que nada além de mim e das minhas mãos é responsável por essa relação. No entanto, tanto realistas extremos e moderados, quanto nominalistas moderados podem aceitar ou não a existência de relações. A resposta que cada um desses der influenciará muito a sua teoria.
Dos que aceitam a existência de relações, os realistas diriam que a repetição de relações que há entre as minhas mãos e as suas mãos é explicada por meio de uma relação universal. Os nominalistas moderados diriam que as relações são particulares e se assemelham irredutivelmente umas às outras. Por sua vez, os realistas e nominalistas que rejeitam a existência de relações têm a tarefa de explicar como as coisas estão relacionadas de certas formas sem que haja relações, havendo apenas propriedades.
Uma objeção que se faz ao realista de relações é que, se pensamos a relação como universal, então se tivermos uma relação entre A e B, e tivermos a mesma relação entre B e C, teríamos que ter a mesma relação entre A e C, o que nem sempre ocorre. Veja um exemplo: A é amigo de B, B é amigo de C, mas A não é amigo de C. O problema aqui é que ser a mesma relação não estaria respeitando a transitividade da identidade.
Finalmente, MacBride se pergunta se há realmente uma distinção clara entre universais e particulares. Ele nos indica que a distinção comum é pensar que o universal é o um que une os muitos. Mas, se for nesses termos, a distinção não é clara, pois podemos pensar no particular como aquilo que une as muitas características que ele tem (p. ex.: Sócrates é aquilo que une as suas características). O autor finaliza o texto nos deixando o problema da distinção entre particulares e universais em aberto.
Rodrigo Reis Lastra Cid – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Departamento de Filosofia – PPGLM. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: rodrigorlcid@hotmail.com
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