Uma História Global antes da Globalização? / Revista de História / 2020
Se o mundo não tivesse virado de ponta cabeça em 2020, celebraríamos com pompa e circunstância o aniversário de 70 anos da Revista de História. A pandemia impediu que realizássemos o evento que havíamos planejado para relembrar uma história que começou em março de 1950.
Em nosso número 1, o leitor encontrava a transcrição de uma conferência de Lucien Febvre, cinco artigos (de Gilda Maria Reale, Geoffrey Willey, Myriam Ellis Austregésilo, Alfredo Ellis Júnior e Odilon Nogueira de Matos), um documentário proposto por Carlos Drummond, a seção “Fatos e Notas” (com comentários de Pedro Moacyr Campos e J. Philipson), três resenhas (Plínio Ayrosa e novamente Alfredo Ellis Júnior e J. Philipson) e um Noticiário, que incluía textos, entre outros, de Eduardo d’Oliveira França e Antônio Cândido.
O editorial desse primeiro número era significativamente intitulado “O nosso programa” e vinha assinado por Eurípedes Simões de Paula – criador e, por 27 anos, editor da Revista. Nele, Eurípedes indicava o principal esforço do periódico: divulgar as pesquisas universitárias. O tom da apresentação e o emprego do pronome possessivo no título não deixavam dúvida: os trabalhos publicados seriam, sobretudo, aqueles produzidos pelos professores da área de história da então Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Passaram-se sete décadas e o número 179 corresponde a outra lógica de construção e dinâmica dos periódicos acadêmicos. Oferece 48 artigos, divididos em nove seções e um dossiê, e sete resenhas. Reúne pesquisadores de 36 instituições, espalhadas por três países e doze Estados brasileiros. Ao longo das mais de 1.500 páginas dessa edição – publicada em fluxo contínuo e de forma exclusivamente digital -, o leitor acompanha questões teóricas e historiográficas, visita temas clássicos e renovados, circula por territórios diversos da pesquisa acadêmica e explora um dossiê – “Uma história global antes da globalização?” – que problematiza visões convencionais acerca da história medieval e propõe uma percepção do passado marcada pela circulação e pela conexão.
Em 2020, não pudemos comemorar presencialmente nossos 70 anos. A Revista de História, porém, continua viva e atenta aos rumos do pensamento historiográfico, aos diálogos da história com outras áreas do conhecimento e à importância do debate amplo e do acesso aberto. Também por isso, nesse ano sombrio ampliamos bastante nossa presença nas redes sociais e criamos novos espaços de divulgação científica. Assim pretendemos ultrapassar os muros do belo e quase desértico, nos meses de isolamento social, campus Butantã da USP e, ainda mais importante, cumprir outro, e central, propósito anunciado por Eurípedes Simões de Paula no editorial que escreveu para o primeiro número: ser um traço de união entre a Universidade e a sociedade.
Boa leitura e que continuemos próximos em 2021.
Júlio Pimentel Pinto – Universidade de São Paulo São Paulo – São Paulo – Brasil
PINTO, Júlio Pimentel. Editorial. Revista de História, São Paulo, n. 179, 2020. Acessar publicação original [DR]