Como um instrumento de grande utilidade, recebemos a edição brasileira de Tout empire périra, do destacado historiador e professor francês Jean-Baptiste Duroselle. Para muitos autores, trata-se do melhor texto sobre aspectos teóricos e metodológicos da história das relações internacionais, bem como de uma densa teoria das relações internacionais.
Para iniciar nosso comentário, parece importante ter presente que Duroselle é um dos autores mais influentes da escola francesa de história das relações internacionais, fundada pelo grande mestre Pierre Renouvin, durante o decênio de 1930. Efetivamente, Duroselle recebe de Renouvin duas categorias centrais do paradigma francês: forças profundas e homens de Estado. Porém, Duroselle, também introduz novas categorias com fim de renovar suas pesquisas e interpretações, propor novas, úteis e pertinentes ferramentas de trabalho, assim como novos problemas de estudo em uma temática complexa, ampla e diversa como é a evolução das relações internacionais.
A estrutura interna de Todo império perecerá consta de Introdução, 17 capítulos e 3 artigos em Anexos. Na introdução, o autor afirma que a história e outras disciplinas humanas não podem utilizar a mesma racionalidade das ciências naturais. Recomenda, particularmente aos historiadores, concentrar-se na compreensão e interpretação de acontecimentos únicos e datados. Desse modo, o autor, categoricamente, afirma que “o estudo científico das relações internacionais só pode ser baseado na matéria fornecida pela história…” (p. 23). Seguidamente, Duroselle afirma que sua intenção é “expor minha própria teoria, cuja característica é ser baseada na história, fundada sobre a coletânea de acontecimentos concretos logo uma teoria empírica sobre suas sucessões logo evolutiva e sobre as analogias e as regularidades logo metódica” (p. 40).
A obra sugere quatro grandes tópicos que encaminham a análise das relações internacionais:
Na quinta parte, Duroselle oferece sua proposta concreta, intitulada convenientemente “A Teoria (Vida e Morte dos Impérios)”. Aqui, o autor reitera que as ciências humanas devem concentrar-se na observação e compreensão de regularidades, regras temporárias e receitas. No esquema de Duroselle, “a regularidade é a existência de uma longa série de semelhanças que parecem transcender as épocas e, conseqüentemente, ser ligadas à própria natureza do homo sapiens” (p. 358). Em termos operativos, as regularidades expressam analogias e semelhanças entre acontecimentos ou conjuntos de acontecimentos através da história das civilizações.
As regras temporárias expressam traços característicos de períodos históricos específicos. As receitas podem ser entendidas como recomendações para estudar ou atuar eficientemente no sistema internacional, por exemplo: fazer uso adequado da informação disponível sobre o sistema internacional, ser criativo, manter a iniciativa, estimular a confiança e melhorar permanentemente a arte da negociação.
Nos capítulos 16 e 17, Duroselle analisa magistralmente o nascimento, vida e morte dos impérios. Na sua opinião, o dado básico das relações internacionais é o poder ou, exatamente, a potência, posto que, no seu esquema, o sistema internacional está composto da interação de Estados com diferentes graus de potencialidade. Alguns, com grande potencialidade, transformam-se em grandes impérios econômicos, políticos e ideológicos. Lógica e afortunadamente, como todo poder se desgasta, eventualmente, todo império perecerá…
Para concluir, parece-nos evidente que a publicação deste importantíssimo livro de Duroselle pela Edunb é uma contribuição sumamente significativa para a formação acadêmica de especialistas em uma temática desafiante como a evolução das relações internacionais contemporâneas. Com certeza, a presente proposta teórico-metodológica é útil, convincente, apropriada e pertinente, tanto desde a perspectiva epistemológica, como desde a lógica burocrática dos estrategistas responsáveis pela política exterior de qualquer Estado moderno. Os especialistas e estudantes brasileiros de relações internacionais têm nessa obra uma alternativa de análise à influência de autores de vertente anglo-saxônica.
Resenhista
Carlos Federico Domínguez Avila
Referências desta Resenha
DUROSELLE, Jean-Baptiste. Todo império perecerá. Teoria das relações internacionais. Trad. Ane Lize Spaltemberg de Seiqueira Magalhães. Brasília: Edunb, 2000. Resenha de: AVILA, Carlos Federico Domínguez. Revista Brasileira de Política Internacional, v.43, n.2, 2000. Acessar publicação original [DR]
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