Tempo e História | Fênix – Revista de História e Estudos Culturais | 2011

Tempo. Continuidade, descontinuidade, instante, duração, acontecimento, estrutura, anacronismo. São tantos os temas e problemáticas suscitados pela ideia de tempo que não seria possível, entre historiadores, deixar de tratar de um tema tão vasto e, simultaneamente, tão instigante.

Embora os historiadores não sejam os únicos autorizados a problematizar o tempo, pode-se afirmar que, entre os vários instrumentos e noções utilizados em seu trabalho, o tempo é o responsável pelo tom próprio das inquietações de um historiador em suas incessantes investigações. Em outras palavras, a maneira pela qual o historiador entende o tempo está intimamente relacionada ao modo como ele realiza sua pesquisa e constrói sua própria textualidade.

Destarte, as abordagens deste dossiê acerca do tempo em relação com a história não são homogêneas. Entretanto, as inquietações dos autores vão, em diversos sentidos e concepções, colocar alguns problemas para se pensar a historiografia na atualidade: há a especificidade de um “tempo histórico”? O historiador estaria preso à sequência cronológica como fio condutor de sua argumentação? Como é possível ao historiador tratar de temas que não estabelecem uma continuidade com seu “contexto” ou com sua “época”? A ideia de fluxo do tempo é sinônima de continuidade temporal? É possível realizar uma síntese temporal?

De várias formas e seguindo vários caminhos, os autores deste dossiê parecem desvendar um elemento importante para se pensar o tempo na historiografia: deve-se desconfiar do tempo dos relógios, da ideia pretensamente ingênua de um tempo cronológico unificado que povoa nossos planos cotidianos e que sentencia nosso futuro de modo sistemático.

Talvez, ao discutir a ideia de tempo, o historiador possa criar asas para alçar voos mais amplos, sem passar, necessariamente, pelo crivo daqueles que colocam o tempo e a temporalidade como uma mera repetição da palavra revelada. Relembrando Michel Foucault, desde que o historiador foi designado, entre outros, para colocar em palavras os infortúnios dos mortais, ele terá que enfrentá-los infinitamente através da linguagem. Uma linguagem que resiste e questiona o próprio tempo.

Seria, então, o historiador um guerreiro contra o tempo, ao invés de ser seu guardião?

Boa leitura a todos.


Organizador

André Fabiano Voigt – Professor Adjunto do Instituto de História da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Doutor em História Cultural pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).  E-mail: voigtandre@hotmail.com


Referências desta apresentação

VOIGT, André Fabiano. Apresentação. Fênix – Revista de História e Estudos Culturais. Uberlândia, v.8, n.2 maio/ago. 2011. Acessar publicação original [DR]

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