Teerã/ Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva | Celso Amorim

Após a publicação de Conversas com jovens diplomatas (2011) e Breves narrativas diplomáticas (2013), a Benvirá lançou, neste ano, o novo livro de Celso Amorim, Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva. O livro se divide em três partes, que se propõem a analisar três aspectos da política externa brasileira considerados centrais por Amorim durante a sua chancelaria no governo Lula: as negociações acerca do programa nuclear iraniano, que redundaram na proposta turco-brasileira que ficou conhecida como Declaração de Teerã; a aproximação do Oriente Médio, em especial do mundo árabe; e a participação do Brasil nas tratativas das Rodada Doha.

Fortemente baseado em notas do próprio ex-ministro à época dos acontecimentos narrados, o livro apresenta os “bastidores” de diversas ações da diplomacia brasileira e de alguns outros países, inclusive expondo o modus operandi das grandes potências. Por meio da detalhada narrativa, torna-se possível vislumbrar as motivações brasileiras nas três grandes iniciativas apresentadas, além das percepções dos outros negociadores e líderes sobre as posições e a inserção internacional do Brasil durante o governo Lula.

Alguns elementos, frequentemente ausentes de análises de política externa (não só brasileira), como a interface entre os âmbitos doméstico e externo, a acomodação de interesses entre burocracias, e o próprio elemento humano da prática diplomática são apresentados como fundamentais. O livro ainda tem o mérito de demonstrar a partir de situações concretas a diferença entre as alianças estratégicas e táticas (estas bastante variáveis e de duração muitas vezes surpreendentemente curta) do Brasil e de alguns outros países ao longo de negociações, sobretudo da Rodada Doha.

Amorim busca também, além de sublinhar os objetivos do Brasil relativamente aos três temas tratados (ainda que as relações com o Oriente Médio possam ser subdivididas em muitos assuntos: aproximação comercial, posicionamento e esforço de mediação da questão palestina, ASPA, etc.), retomar as reações da mídia – brasileira e internacional. Esse esforço acaba demonstrando a forma como a imprensa do Brasil tratou, majoritariamente, a política externa sob uma luz negativa entre 2003 e 2010; enquanto, muitas vezes concomitantemente, a imprensa internacional congratulava as iniciativas de Brasília.

Em suma, Teerã, Ramalá e Doha complementa as obras anteriores e contribui para a compreensão não só de três iniciativas específicas, mas do próprio ethos da política externa “ativa e altiva” perseguida por Amorim e Lula. A crença no multilateralismo e na igualdade jurídica entre os países, a aposta na diversificação de parcerias e a defesa de arranjos Sul-Sul, além da reforma da ordem internacional, a começar por instituições como a ONU, se fazem presentes na apreciação de questões concretas enfrentadas pela diplomacia do Brasil. É uma leitura incontornável para estudiosos ou interessados na política externa brasileira.

Referências

AMORIM, Celso. ( 2013). Breves narrativas diplomáticas. São Paulo: Benvirá.

AMORIM, Celso. (2011). Conversas com jovens diplomatas. São Paulo: Benvirá.

AMORIM, Celso. (2015). Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva. São Paulo: Benvirá.


Resenhista

Isadora Loreto da Silveira – Mestranda do Programa de Pós Graduação em Estudos Estratégicos da UFRGS. Graduação em Relações Internacionais pela UFRGS Bolsista FAPERGS.


Referências desta Resenha

AMORIM, Celso. Teerã, Ramalá e Doha: memórias da política externa ativa e altiva. São Paulo: Benvirá, 2015. Resenha de: SILVEIRA, Isadora Loreto da. Monções: Revista de Relações Internacionais da UFGD. Dourados, v.4, n.7, p.187-188, jan./jun. 2015. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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