Tacky’s revolt: the story of an Atlantic slave war | Vincent Brown

Na esteira de seus outros trabalhos sobre escravidão e diáspora africana Vicent Brown2, professor da Universidade de Harvard, publicou em janeiro de 2020, Tacky’s Revolt: The Story of an Atlantic Slave War para debater de uma maneira revisionista três revoltas de escravos da Jamaica, dando a elas, especialmente a segunda, liderada por Apongo (nome africano do escravo Wager), que estourou na freguesia de Westmoreland, localizada no ocidente da ilha, uma importância histórica bem mais definida e profunda. A “Rebelião de Tacky”, em St. Mary também na região leste e a “Marcha de Simon”, que se desenvolveu nas regiões centrais da colônia, completam os eventos analisados.

Apesar de estudar eventos específicos, a proposta é bem mais interessante e ampla, uma vez que ao revisitar as rebeliões, ele propõe aproximar a história da Jamaica e do Caribe à da África e Europa, promovendo o que chama de “nova geografia” para a análise de insurreições escravas nas Américas, que amplia as investigações para acontecimentos de todo o Atlântico. Para o historiador, a trajetória dos escravos, líderes ou não desses levantes, tem muita importância e mostram que a luta travada na ilha tinha raízes bem mais antigas e objetivos bem mais complexos que a mera reação à condição de escravizados.

Ainda no prefácio o autor chamou a atenção para uma frase de Olaudah Equiano (1745-1797)3, que definia a escravidão como um “Estado de guerra perpétuo”4. Em outras palavras, segundo o historiador, os africanos viam sua condição como uma continuidade dos conflitos nos quais estavam envolvidos ainda no continente africano, sua captura e transporte pelo oceano. Um caminho, inclusive, carregado de aprendizados para esses indivíduos, que assimilaram conhecimentos variados que, por sua vez, contribuíram com a definição de seus objetivos e manobras durante a revolta.

A estrutura da obra a torna bastante inteligível e agradável, sendo dividida em um prefácio, cinco capítulos e um epílogo. Todos, entretanto, também estão separados em sessões que, apesar de não nomeadas, têm assuntos bem definidos. Esta forma de escrita ajuda muito para a fluidez da leitura do livro, tornando-o palatável e interessante para historiadores e/ou para curiosos, já que no Brasil, não se dá muita atenção ao estudo da história da Jamaica e do Caribe. Mesmo assim a obra tem muito valor, pois trata da resistência africana em fazendas de plantation fixadas em colônias de exploração da América latina. Além disso, Brown inaugurou paralelamente e sobre os mesmos eventos, um mapa interativo5, que de maneira detalhada e datada mostra os deslocamentos dos revoltosos e das tropas que os derrotaram pela ilha, fato que relaciona seu trabalho ao universo das humanidades digitais.

Desde o início, o historiador defende que as características bélicas, como as táticas e técnicas dos escravos merecem uma inspeção mais profunda, uma vez que parte deles tinham treinamento militar em suas comunidades de origem e alguns até um histórico de liderança política. Elementos que favoreciam os rebeldes, uma vez que estavam se reagrupando nas Américas em torno de uma unidade já conhecida e faziam uso das mesmas manobras militares, o que reforça também o argumento central do autor, já que essas características tinham raízes na África. O próprio Apongo era um líder militar e chegou a lutar com os ingleses – quando estava a bordo do navio que atravessou o Atlântico – antes de ser encaminhado para o trabalho na lavoura.

O horizonte de Brown, assim, é classificar as revoltas de cativos na América como “Guerras Escravas no Atlântico”6 responsáveis pela conexão de conflitos imperiais. Tratava-se de um dos eventos mais complexos da Guerra dos Sete Anos (1756-1763) (BROWN, 2020, p. 11), no qual as partes envolvidas tinham unidades políticas próprias, exércitos treinados e pretensões territoriais e expansionistas. Mais ainda, tais confrontos deixaram consequências profundas, não só para a colônia da Jamaica, como outras de todo o continente, servindo de presságio e inspiração para a revolução do Haiti (1765) e outras que explodiram décadas mais tarde em todo o novo mundo.

Ainda no prefácio, The Path to Rebel’s Barricade, Brown alerta para as fontes que utilizou na pesquisa, pois apesar de seu objeto ser os movimentos dos escravizados e suas motivações, os principais documentos consultados foram escritos pelos inimigos dos mesmos, fato que o obrigou, evidentemente, a fazer uma leitura crítica e atenta para com os valores essencialmente racistas empregados nas descrições daqueles acontecimentos. Mais ainda, pontos não evidenciados nesses vestígios podem e devem ser levantados, uma vez que, como a maioria das revoltas do século XVIII, elas foram afogadas em sangue e seus algozes tentaram apagar suas conquistas da memória coletiva local.

No primeiro capítulo, War’s Empire, Brown (2020, p. 17-18) recua para o século XVII da Costa do Ouro (região que atualmente pertence à República do Gana), no qual estão as raízes dos eventos em questão. Ele lembra que foi naquele contexto que os africanos tiveram, pela primeira vez, contatos com os Impérios europeus e no caso deste em específico, com os britânicos e foca atenção especial à trajetória de três militares: Apongo (?-1760), que seria escravizado, John Cope (1700-1756), que o capturou (a forma e a data deste acontecimento carecem de fontes) e Arthur Forrest (1716-1770), que passou a ser seu proprietário na América. Escravizado foi renomeado Wager por conta do navio no qual foi transportado (HMS Wager).

No capítulo dois, The Jamaica Garrison, o autor analisa e descreve a colônia jamaicana, que já era a mais lucrativa e protegida pelos britânicos no início dos setecentos, uma vez que tinha posição estratégica economicamente e em relação à movimentação no Caribe. A sociedade erigida na região era fortemente militarizada e marcada, para o escritor, pela violência e por valores ligados à masculinidade (BROWN, 2020, p. 46). Observou-se durante o século XVII aumento expressivo de fortes e quartéis, que visavam proteção interna e externa, além disso, casas e outras construções eram feitas de maneira fortificada (BROWN, 2020, p. 52). Nota-se também que essa lucratividade aumentou significativamente a população escrava na ilha, que chegou a representar 90% do total.

O terceiro capítulo, The Coromantee Territory, é usado para retomar em parte a descrição das condições na costa do ouro africana, especialmente a sociedade que se formou no local diante das demandas do comércio colonial e das relações com os ingleses. Após décadas sob o domínio britânico, grupos africanos originalmente localizados nas regiões centrais do continente se reorganizam no litoral e formaram uma comunidade hibrida, seus membros ficaram conhecidos como Coromantees7. Vale a ressalva de que os brancos tinham ciência que essa civilização era composta por diferentes etnias e culturas, sabiam das habilidades bélicas e de pesca e já a considerava “muito rebelde”, mas as dimensões dessas competências, só seriam conhecidas décadas depois.

Antes das grandes revoltas de 1760-1761 muitas de menor intensidade aconteceram, formando inclusive grupos independentes conhecidos como Maroons8, que posteriormente se aliaram ao Império contra os levantes de Tacky, Wager e Simon. Mesmo assim, cabe notar que a conjuntura da ilha na década de 1750 era, apesar de complexa, explosiva. Quando a Guerra dos Sete Anos estourou entre os impérios em 1756 e as atenções da Coroa britânica se voltaram para proteger a ilha de inimigos externos e os escravos encontraram uma brecha, a situação se agravou porque problemas econômicos fizeram muitos cativos passar fome e saquear seus senhores.

A Tacky’s Revolt, capítulo quatro, estourou em 7 de abril de 1760, e surpreendeu os colonizadores porque era muito bem organizada, avançando rapidamente por várias fazendas da região de St. Mary, localizada no norte jamaicano. Era composta no início por aproximadamente 100 escravos, mas a adesão também foi vertiginosa e já no dia seguinte contava com 400 pessoas. Eles conheciam as estradas, as sedes menos protegidas e a geografia complexa das forestas e colinas da região, saquearam, mataram e destruíram muitas plantações antes de se esconder na mata. A resposta das autoridades da ilha foi imediata, e uma série de avanços na direção dos amotinados foi organizada, incluindo tropas terrestres, os Maroons, citados acima, e a marinha real.

Tacky foi morto em uma batalha contra os Maroons em 14 de abril, fato que desencorajou muitos dos demais rebeldes, que acreditavam em uma origem mística e na imortalidade de seu líder, vários optaram pelo suicídio, outros foram capturados, interrogados, julgados, executados e alguns esquartejados e expostos, a revolta aparentava ter acabado. O resultado, entretanto, foi um número maior de escravos de toda ilha amedrontados ou revoltados, que aderiram a outro movimento ainda maior, planejado pelos Coromantees, que na verdade, havia sido antecipado pelo ataque à St. Mary (BROWN, 2020, p. 158).

Era a revolta liderada por Apongo, que estourou em 25 de maio de 1760 na freguesia de Westmoreland (oeste da ilha) e era bem maior do que muitos britânicos imaginavam. Para o autor, os escravos já haviam formado seus próprios planos e eles envolviam mais que a liberdade de seus grilhões, queriam dominar um território próprio e lutar pela autonomia do mesmo. No quinto capítulo da obra, assim, Brown (2020, p. 164) discorre sobre os eventos da Coromantee War, a mais longeva e violenta entre as rebeliões jamaicanas. Para ele, porém, os dois episódios, junto com a marcha de Simon (também chamado de Damon) não devem ser entendidos de maneira separada e sim como partes de uma guerra.

Em uma noite de muita chuva, Wager e seus comandados atacaram violentamente fazendas próximas e em menos de 24 horas já haviam matado 11 brancos, alguns escravos e se escondido nas forestas, onde montaram barricadas para se defender. O modus operandi era muito semelhante ao da revolta de Tacky, com ataques massivos e furtivos, saqueamentos e em seguida dias de trégua. Ambas haviam iniciado em uma terça-feira, dia considerado sagrado pela cultura dos escravos, o uso do álcool era outra constante que também tinha origem religiosa, algumas fontes revelaram até um calendário e um sistema legislativo (BROWN, 2020, p. 168-173).

Diante do novo levante, os britânicos iniciaram novamente uma movimentação de tropas e foram derrotados nas primeiras tentativas. Jornais e outros periódicos publicados pelas cidades da colônia difundiam concepções que afirmavam que os rebeldes não tinham costume de fazer prisioneiros e que os soldados reais estavam mal preparados para enfrentar a insurreição, falava-se ainda que os revoltosos tinham armas de fogo e sabiam usá-las bem, princípios que somados ao fato de que os escravos eram consideravelmente mais numerosos que os brancos, causaram medo de imediato e o consequente aumento da pressão às autoridades da colônia, que se sentiam envergonhadas pela situação e pediram ajuda ao exército real (BROWN, 2020, p. 175).

A saída encontrada foi, como se espera, o aumento do poder de fogo nos ataques aos revoltosos, mas a situação continuava complexa, pois os escravos conheciam a região melhor que os exércitos reais e estavam posicionados estrategicamente na beirada de uma montanha, usando-a como defesa na retaguarda. Mais soldados e mais força bélica foram empregados, até que conseguiram empurrar centenas de rebeldes na direção do abismo, no qual muitos de fato caíram ou se jogaram. Um grupo conseguiu fugir e se reagrupar novamente nas forestas, chegando ainda a emboscar ingleses para adquirir suprimentos, mas a revolta já não tinha mais a mesma força (BROWN, 2020, p. 179-185).

Estes últimos, após captura e execução de Wager, se reorganizaram em torno da liderança de um escravo chamado Simon, com o qual marcharam novamente para o leste, na direção de Westmoreland, acabaram emboscados e encurralados quando atacaram uma fazenda da região. Apesar de efêmero e menos arrasador, este evento tem importância significativa no desenrolar da história, pois como conheciam muito bem a região, caminhavam mais rapidamente que os britânicos e apesar de muito enfraquecidos conseguiram persuadir novos adeptos nas fazendas em que investiram, fator que contribuiu, com o tempo, para a criação de uma memória coletiva que enaltecia e heroificava seu chefe. Para Brown, o processo pode ser comparado à história de Spartacus, na república romana, que também liderou grupos de escravizados contra as autoridades locais e acabou bastante respeitado diante do imaginário popular.

Os britânicos já haviam iniciado naquele ponto uma propaganda “anti-escrava” que denunciava a brutalidade dos revoltosos, de maneira a justificar e higienizar a sua própria. Para Brown (2020, p. 206-207), entretanto, existiam proprietários que estavam mais preocupados nas perdas materiais do que com uma vingança violenta, situação que gerou debates entre eles e com as autoridades locais. A guerra Coromantee havia acabado, mas suas consequências ecoaram por muito tempo e para muito longe, as quais são melhores trabalhadas pelo autor no capítulo seis de sua obra: Routes of Reverberation.

A revolta de Tacky, o Levante de Westmoreland e a Marcha de Simon, para o autor são o ápice de uma série de conflitos resultantes de uma conjuntura que conecta os abalos militares e coloniais da Costa do Ouro, as lutas vulcânicas da sociedade açucareira jamaicana e o processo de pacificação em 1761, mesmo que um legado mais longevo possa ser notado através dos ecos econômicos, políticos, sociais e culturais, que se espalharam para além do Atlântico e adentraram décadas e até o século subsequente. Os feitos Coromantees na Jamaica foram difundidos em parte pelos próprios britânicos, seja por meio de notícias, relatórios oficiais ou militares que participaram das campanhas que derrotaram a rebelião, mas também pelos escravos sobreviventes do acontecimento que realocados para outras fazendas da ilha e fora dela. Esses que além de transportar notícias e valores, que acabaram formando uma memória coletiva positiva entre os afrodescendentes, tiveram posteriormente, a oportunidade de retomar a luta (BROWN, 2020, p. 209-210).

A economia imperial inglesa sofreu fortes impactos, pois ainda durante o tempo das revoltas, navios mercantes evitavam regiões de conflito e muitas entregas acabaram atrasando, gerando desconforto e preocupação nos possíveis investidores interessados na ilha. Reuniões foram organizadas, com a presença dos economistas, na metrópole para debater um reforço militar para a colônia. Entendiam que a Jamaica era segura para ataques externos, mas ainda tinha falhas no sistema de proteção interno, considerando que o número de escravos Coromantees ainda era muito alto, por isso, pressionaram a coroa para que tropas reais patrulhassem a colônia, incluindo a marinha.

Na política, uma nova legislação passou a vigorar, o Jamaican slave act, de dezembro de 1760, restringia qualquer escravo de circular fora dos domínios de seu proprietário sem autorização. Para Brown (2020, p. 214-216) a norma significava uma “opressão draconiana” dos escravos, já que nenhuma menção aos maus tratos dos escravizados foi aplicada, evidenciando que era falho do ponto de vista da segurança pública. A regulação expunha também efeitos sociais da guerra, pois todos não-brancos passaram a ser considerados potencialmente suspeitos, evidenciando que a saída encontrada pelos britânicos diante do problema estava mais ligada à “solidariedade branca”, mesmo que mestiços e Maroons tivessem participado das campanhas como seus aliados.

Nota-se também que após os conflitos, os senhores e as demais autoridades da ilha se fortaleceram, pois a colônia se recuperou e prosperou mais rapidamente que a metrópole, que também estava enfraquecida pelos gastos exorbitantes desprendidos durante a Guerra dos Sete Anos, além disso, esses grupos se sentiram desamparados pelo Rei e ameaçados pelos escravos, cuja chegada inclusive, se intensificou. Todos esses elementos alimentaram uma insatisfação que acabaria integrando o conjunto de problemas que resultou na divisão do império britânico em 1776 (BROWN, 2020, p. 219).

Brown discorreu também sobre como as revoltas foram descritas em textos britânicos sobre a história do Império, que começaram a aparecer com mais força no século XIX. Edward Long (1734-1813) advogava em favor dos grandes agricultores das índias orientais e em apoio ao escravismo para a produção agrícola, era conhecido pelo livro História da Jamaica, pode ser considerado um dos precursores do “racismo científico”, mas em muitas passagens deixou claro que seus valores consideravam não brancos como inimigos passivos até serem exterminados.

Para Brown, apesar de não estar explícito no livro de Long, este sentimento “antinegro”, assentado no medo ou raiva dos africanos influenciou os primeiros passos para o processo de proibição do tráfico, que foi acompanhado por outras colônias britânicas, como a Pensilvânia e tinha como objetivo regular a entrada de escravos no país porque os consideravam uma ameaça. Outro autor que revelou este mecanismo citado em Tacky’s revolt é Bryan Edwards (1743-1800), com o livro Histórias das índias orientais (1798). Para ele, os dois historiadores, bem como vários romances publicados pelos ingleses, contribuíram decisivamente com o processo de formação de conceitos étnicos que acusavam os negros, em especial os Coromantees, de serem violentos (BROWN, 2020, p. 230).

Para concluir, Brown (2020, p. 237) escreveu no epílogo do livro, The Age of Slave War, que as guerras escravas englobam as “campanhas para escravizar, as revoltas contra a escravidão e as lutas pela sua manutenção”9 e são a raiz do discurso “antinegro” dos argumentos pró e contra a escravidão. Elas foram um dos principais legados dos extintos Coromantees e uma continuidade do que defendiam, como a maioria dos levantes nesse período em colônias imperiais. Os afro-jamaicanos de 1760-1761 foram afogados em sangue, mas não deixaram de marcar sua presença no mapa e na história e iluminar as rachaduras nas estruturas do “capitalismo racial”, eles ensinaram que um mundo diferente não era só possível, mas que é inevitável e necessário (BROWN, 2020, p. 14-15).

A guerra daqueles escravizados não era uma reação ao cativeiro, eles lutavam pela liberdade, pelo domínio de um território, no qual seus próprios mecanismos de pertencimento e legitimidade pudessem ser desenvolvidos. Para Brown (2020, p. 238), aquelas pessoas protagonizaram uma “revolução americana que não aconteceu”10, mas que estabeleceu diretrizes para as independências que explodiram por toda a América algumas décadas depois desses eventos, como a haitiana liderada também por escravos quinze anos depois do ataque de Tacky à freguesia de St, Mary, que formou o segundo país emancipado do continente e o primeiro que aboliu o trabalho cativo. O povo negro jamaicano é, portanto, encarado como uma inspiração, não apenas pelos seus descendentes, mas por todas as nações oprimidas da América latina que jamais desistiram de conquistar sua independência.

Para conclusão, podemos evocar uma fala do próprio Vincent Brown em uma apresentação em 4 de março de 2020:

Depois de tudo, a Coromantee war não acabou com a pacificação em 1761. A insurreição era econômica, política e suas reverberações culturais se espalharam para além do Atlântico e adentraram profundamente no futuro. Devidamente trabalhada, essa história continua a ressoar até os dias de hoje. Aquela guerra pode ter sido derrotada, mas os povos oprimidos do mundo transformaram perdas similares em lições que os fazem continuar lutando. Fortalecidos pelo conhecimento de que o poder pode ser feito para barganhar ou submeter-se e que suas vidas importam agora e para sempre (BROWN, 2021).11

Na frase final, podemos notar uma referência ao movimento Black Lives Mater, fundado em 2013, que direciona a conclusão para a valorização da luta incansável dos Coromantees no século XVIII e suas continuidades até os dias de hoje.


Notas

2 Vincent Brown é Professor de história americana e estudos africanos e afro-americanos do centro Charles Warren da Universidade de Harvard. Ele dirige o History Design Studio e ministra cursos sobre a história do Atlântico, diáspora africana e história da escravidão nas Américas. Brown é autor de The Reaper’s Garden: Death and Power in the World of Atlantic Slavery (Harvard University Press, 2008), produtor de Herskovits at the Heart of Blackness, um documentário transmitido pela PBS series Independent Lens. Tradução nossa, do original: Vincent Brown is Charles Warren Professor of American History and Professor of African and African American Studies. He directs the History Design Studio and teaches courses in Atlantic history, African diaspora studies, and the history of slavery in the Americas. Brown is the author of The Reaper’s Garden: Death and Power in the World of Atlantic Slavery (Harvard University Press, 2008), producer of Herskovits at the Heart of Blackness, an audiovisual documentary broadcast on the PBS series Independent Lens, and is most recently the author of Tacky’s Revolt: The Story of an Atlantic Slave War (Belknap Press, 2020). (RACE AND DEMOCRACY, 2021).

3 Também conhecido como Gustavus Vassa, foi escravo e comprou a própria liberdade antes de se tornar escritor.

4 Tradução nossa, do original Perpetual state of war. O historiador completa afirmando que para o escritor africano, não se tratava de uma guerra convencional, mas que ainda assim envolvia exércitos disciplinados com ordens estatais definidas.(EQUIANO, Olaudah. 1995 [1789], p. 111-112, 171-172 apud. BROWN, 2020, p. 4).

5 O Mapa está disponível gratuitamente em: http://revolt.axismaps.com/map/

6 Do original: Atlantic Slave War (tradução nossa).

7 Também grafados como Coromanti, Coromantins e Koromantine.

8 Os Maroons eram um grupo de escravizados que fugiram das fazendas e organizaram-se em assentamentos independentes nas florestas da ilha jamaicana desde de os tempos de domínio espanhol (1494-1655). Com o tempo essas comunidades foram capazes de negociar acordos com os grandes produtores britânicos da ilha. No termo, e guardando algumas proporções, eles podem ser comparados aos quilombolas no Brasil.

9 […] campaigns to enslave, revolts against slavery, and fights to maintain it […] (BROWN, 2020, p. 237, tradução nossa).

10 American revolution was not to be (BROWN, 2020, p. 238, tradução nossa).

11 Tradução nossa. Do original: After all, the story of the Coromantee war is not end with the pacification of 1761. The insurrection is economical, political and his cultural reverberations spread wide across the Atlantic and stretched long into the future. Properly told its story continues to resonate to this day. That the war may have been lost, but oppressed people have turned similar losses into lessons that would keep them fighting on. Fortified by the knowledge that the power might be made to bargain or submit and that their lives matter now, then and forevermore.


Referências

BROWN, Vincent. Tacky’s revolt: the story of an Atlantic slave war. Cambridge, Massashussets: The Belknap press of Harvard University, 2020

BROWN, Vincent. Geography at Berkeley. Vincent Brown – 4 March 2020. Youtube, 4 mar. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=qyHzzO14tPo. Acesso em: 03 mar. 2021.

RACE AND DEMOCRACY, Episode 72 – Tacky’s Revolt: The Story of an Atlantic Slave War with author Vincent Brown. Entrevistador: Peniel Joseph, 08 jun. 2021, Podcast, disponível em: https://podcasts.la.utexas.edu/raceanddemocracy/podcast/episode-72-tackys-revolt-the-story-of-an-atlantic-slave-war-with-author-vincent-brown/ . Acesso em: 01 mar. 2021.


Resenhista

Arthur Daltin Carrega – Doutorando em história pelo programa de pós-graduação da Universidade Estadual Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, processo nº 157109/2019-4. E-mail: arthur.carrega@unesp.br https://orcid.org/0000-0002-8366-9134


Referências desta Resenha

BROWN, Vincent. Tacky’s revolt: the story of an Atlantic slave war. Cambridge, Massashussets: The Belknap press of Harvard University, 2020. Resenha de: CARREGA, Arthur Daltin. Estado de guerra perpétuo: os conflitos de escravos que atravessaram o Atlântico. Revista de História. São Paulo, n. 182, r00422, 2023. Acessar publicação original [DR/JF]

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