Sintaxe para a educação básica. Com sugestões didáticas, exercícios e respostas | Celso Ferrarezi Júnior
Embora intitulado “Sintaxe para a educação básica”, o livro de Ferrarezi Jr. é destinado aos professores e aos demais interessados no conhecimento explícito da gramática da frase do português brasileiro.
O livro é dividido em seis momentos, quais sejam, Introdução, Para começar a jornada, A organização da língua, Os diferentes tipos de sintagmas, Os tipos de frases e Uma conversa final. Além disso, as respostas dos exercícios propostos são apresentadas ao final destas seções.
Considero a Introdução um momento importante do livro, pois o autor apresenta, dentre outros assuntos, as limitações da descrição da língua, dada a plasticidade deste objeto de análise frente às diversas situações comunicativas em que ela é acionada. É neste momento, também, que Ferrarezi Jr. apresenta as propriedades da língua falada e da língua escrita, sem inferiorizar uma em relação à outra, como comumente os menos esclarecidos costumam fazer.
Em Para começar a jornada, o autor apresenta o conceito de gramática da língua e suas subdivisões. Em sequência, esclarece a eleição do viés funcional para análise dos fenômenos linguísticos. Somado a isso, o professor apresenta o escopo da análise sintática e uma valiosa sugestão de habilidades a serem executadas pelo professor, com vistas a potencializar os estudantes para interações mais eficientes por meio da língua. Essa proposta é iniciada no 1º ano do ensino fundamental até a 3ª série do Ensino Médio, desenvolvendo as habilidades de ouvir, falar, ler e escrever. Para o autor, é a partir do 6º ano que a teoria gramatical ou análise linguística (opto pelo segundo termo [1]) deve entrar nos conteúdos programáticos da disciplina de língua portuguesa.
Já a seção A organização da língua apresenta um valioso detalhamento de como a gramática da palavra auxilia na organização sintática da língua. Contrastando com a Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB), Ferrarezi Jr. propõe um comportamento similar dos vocábulos em cinco grandes classes, tendo duas destas subclasses. Após a apresentação das características das palavras e dos vocábulos [2] que compõem a sua proposta de divisão de classes, o autor parte para os estratos gramaticais superiores, quais sejam, os sintagmas e as frases. Assim, o professor demonstra que, no nível sintagmático, há palavras que funcionam como núcleos, abrindo espaços virtuais para outras palavras ou vocábulos na estrutura da frase.
A seção Os diferentes tipos de sintagmas apresenta o que a NGB considera, na sentença, como termos integrantes, acessórios e o vocativo. O leitor observará bastantes distinções, majoritariamente nesta parte do livro, entre as prescrições da gramática tradicional, e até mesmo de gramáticos sob influência da linguística, da forma como Ferrarezi Jr. propõe descrever essa parte da análise sintática. Destaco a proposta do professor para a distinção entre adjunto [3] e complemento nominal, o que pode auxiliar os professores e estudiosos da língua a dirimirem essa conflitante distinção apresentada pela gramática tradicional.
Por fim, Os tipos de frases destina-se a esclarecer a relação inter-oracional, apresentando algumas críticas à forma como a gramática tradicional ainda insiste em tratar dessa parte da gramática da frase.
À exceção do exercício 1, em que Ferrarezi Jr. lança mão de um texto (sem vinculação a um gênero específico) para conduzir a realização da atividade, os demais exercícios do livro recorrem a frases descontextualizadas [4] para que o leitor possa exercitar o tópico gramatical em questão. Além de contrastar com sua proposta de análise de base funcionalista, conforme o próprio autor ressaltou, esse tipo de exercício reforça uma tradição gramatical em averiguar as ocorrências linguísticas por meio de frases forjadas. Em face disso, desconsidera-se a concepção de língua como um meio interativo, presente em textos reais, ou seja, produzida por falantes reais da língua. Atualmente, no ensino de língua portuguesa, a gramática deve sempre ser apresentada como um recurso de produção de sentido nos variados textos em que é constitutiva.
Isso visto, a obra Sintaxe para a educação básica mostra-se sensível às necessidades de um ensino da gramática da frase menos prescritivo e mais reflexivo, com limitações em seu potencial descritivo em virtude da dinamicidade da língua. Certamente, esse livro é importante para professores que pretendem fazer de suas aulas de análise linguística um momento produtivo de aprendizagem do funcionamento sintático de nosso vernáculo.
Notas
1. “Análise linguística” remete ao estudo da gramática da língua atribuindo sentido ao texto, ou seja, seu estudo é sempre contextualizado. Já o termo “teoria gramatical” pode ser confundido com memorização de nomes e sua identificação em frases forjadas, criadas a título de exemplificação.
2. Valido a distinção entre palavras e vocábulos, o que não é mencionado pelo autor.
3. Para o autor, utilizar a nomenclatura “Adjunto adnominal” é cair na redundância, uma vez que só pode haver adjuntos de nomes, bastando utilizar somente o termo “Adjunto”.
4. A professora emérita Bárbara Weedwood (2002, pág. 34) explica que a teoria da frase autossuficiente adveio de uma concepção errônea do termo grego autotelOs (que corresponde a “frase, oração ou sentença”, em português) por parte dos estudiosos latinos. Assim comenta a pesquisadora: “Enquanto […] autores gregos tinham em mente, com autotelOs logos, a ideia de ‘expressão autossustentada’, graças a seus elementos semânticos e à sua função dentro de uma situação comunicativa, isto é, dentro de uma totalidade de um texto, a tradição latina associou autotelOs a ‘completo, acabado, perfeito’, o que levou a tratar a frase como independente do texto em que ela aparece e como objeto suficiente para o conhecimento das relações sintáticas”.
Resenhista
Hélcio Carlos de Oliveira Silva – Mestre em Linguística (UERJ). E-mail: helcio.lp@gmail.com
Referências desta resenha
FERRAREZI JÚNIOR, Celso. Sintaxe para a educação básica. Com sugestões didáticas, exercícios e respostas. São Paulo: Contexto, 2012. Resenha de: SILVA, Hélcio Carlos de Oliveira. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.3, n. 2, p.395-397, jul./dez. 2013. Acessar publicação original [DR]