Salazar e Franco. La alianza del fascismo Ibérico contra la España republicana: diplomacia, prensa y progaganda | Alberto Pena Rdríguez
No sentido político, as coleções históricas contemporâneas produzidas em Espanha e Portugal mantiveram-se isoladas. As questões relacionadas a Portugal são muito subdesenvolvidas na historiografia española, assim como os estudos sobre as relações bilaterais entre os dois países. Felizmente, esta tendência está sendo revertida em decorrência da geração de estruturas comuns de pesquisa, de novas relações acadêmicas e do surgimento de múltiplas publicações históricas. O livro do Dr. Alberto Pena Rodríguez é, neste contexto, uma contribuição fundamental à abordagem dos desenvolvimentos político-econômicos e das interações socioculturais entre Espanha e Portugal nas décadas centrais do século XX. O livro Salazar e Franco. A aliança do fascismo ibérico contra a Espanha republicana: diplomacia, imprensa e propaganda é composto por dez capítulos, distribuídos em três blocos temáticos, e abriga uma extensa seção de fontes documentais.
O livro destaca a importância das ações políticas de Salazar no sentido de solapar o projeto político da Segunda República Espanhola (1931-1939), ações que podem explicar a similaridade de direitos nos países ibéricos durante os duros anos de isolamento espanhol, sob a ditadura de Franco. A investigação aponta para a existência de desenvolvimentos semelhantes e paralelos entre Espanha e Portugal e, ao mesmo tempo, chama a atenção para os elementos de rejeição e para as principais diferenças culturais e funcionais entre os dois países.
Entre as abordagens incluídas na introdução do trabalho, sem dúvida, as mais interessantes são aquelas que gravitam em torno da conceituação teórica de “história”, “guerra” e “propaganda”. Nas palavras do autor: “A guerra na Espanha não foi apenas um conflito espanhol, embora as consequências mais dramáticas da batalha tenham sido para a sociedade espanhola, que sofreu o genocídio fascista do autoproclamado Movimento Nacional. Este movimento aplicou uma política de terra queimada contra todas aquelas pessoas que desafiaram, criticaram ou não aderiram explicitamente à sua cruzada contra o governo democrático republicano” (p. 13).
A propaganda de colaboração entre as ditaduras de Franco e Salazar lança luz sobre os processos de interação e entendimento movidos por objetivos comuns e pela perspectiva de establecer caminhos de negociação e sedimentar a compreensão e o respeito mútuos. As ramificações da estrutura ideológica do Novo Estado de Salazar são muito mais complexas do que parece à primeira vista. O mesmo acontece com o sistema ideológico do franquismo. Por esta razão, o autor estabelece uma estratégia de pesquisa progressiva, que combina o estudo das funções da mídia e das agendas de política externa.
No primeiro bloco temático, “Salazar, a imprensa e a guerra civil espanhola”, estão condensados os elementos definidores do salazarismo e suas estratégias de sobrevivência. O surgimento da República da Espanha (1931) como um projeto político democrático, reformista e progressista foi interpretado pela liderança política portuguesa como a principal ameaça exógena ao Estado Novo, mas não havia uma visão unificada sobre a melhor maneira de proceder para neutralizá-la. A vitória eleitoral da Frente Popular na Espanha (1936) causou um verdadeiro pânico em Lisboa. Temia-se um processo de subversão política promovido pelos setores de esquerda. A agressividade da propaganda salazarista contra o projeto republicano espanhol se intensificou e o governo português buscou pontos de encontro com os movimentos de conspiração do fascismo e do tradicionalismo espanhóis. Tal atitude jamais foi justificada por eventos políticos, uma vez que as autoridades do governo espanhol não mantinham um perfil hostil nem programavam ações contra a ditadura de Antônio de Oliveira Salazar.
Quando ocorreu o golpe de estado de 1936 (protagonizado por um grupo de generais fascistas e aplaudido por setores conservadores da sociedade espanhola), Portugal contribuiu ostensivamente com a luta militar, dando apoio material, técnico e político ao chamado Movimento Nacional. Aos recursos técnicos e materiais, adicionou-se uma intensa campanha de propaganda em favor da liderança de Francisco Franco e de identificação das autoridades democráticas espanholas como promotoras do comunismo na Península Ibérica. Durante os três anos da guerra na Espanha, as autoridades portuguesas, italianas, alemãs e franquistas atuaram de forma coordenada em torno de projetos de política externa, propaganda e censura. As estações de rádio e as publicações jornalísticas, de Caminha a Vila Real de Santo António, encheram-se de alegações de que o “vírus vermelho” grassava em Portugal e no resto da Península. Por “vírus” foi tomado tudo o que foi deixado de fora do sistema de crenças e do sentido da tradição salazarista.
“As vozes e imagens da guerra em Portugal” é o título do segundo conjunto de temas do livro. Nestas páginas, mediante estudos de caso, o Dr. Pena Rodríguez documenta a gestão e instrumentalização do cinema e da radiodifusão como armas de doutrinação social e justificativa política. O autor destaca, ainda, o desempenho militar dos portugueses e a ajuda crucial emprestada ao país vizinho.
O terceiro bloco temático, intitulado “A campanha de Franco em território português”, é o mais aberto e diversificado. Pautado por diversas abordagens e pontos de vista, esta parte do livro aborda questões como: a colônia espanhola estabelecida em Portugal; a mediação de líderes políticos e empresários espanhóis; as campanhas de associação de imigrantes; a rede institucional espanhola; a cruzada católica contra o comunismo; as contribuições intelectuais de Franco; os círculos diplomáticos de Lisboa; a produção informativa na estrutura da imprensa do Novo Estado; o movimento dos Amigos Portugueses da Falange Espanhola; as relações entre a Legião Portuguesa e o Movimento Nacional; os fluxos de intercâmbio ideológico; o planejamento estratégico do turismo e preservação do legado histórico comum nas universidades peninsulares.
Em várias seções, o autor comenta a pouca atenção dada à influência política da direita portuguesa nos primeiros passos do franquismo. Destaca, também, a desconfiança mútua alimentada por questões de identidade nacional e soberania, especialmente no que diz respeito às dúvidas, disseminadas entre líderes próximos a Salazar, que suscitaram a tese do iberismo de Franco. Se a Segunda República foi percebida em Lisboa como um perigo e representada como um fantoche da União Soviética, a Espanha de Franco, com seu crescente poderio militar, era vista como uma aliada na consolidação da política do “bom vizinho”. Mas, ao mesmo tempo, o governo português temia que as simpatias dos espanhois se tornassem a base para uma espécie de “irredentismo” sobre os territórios portugueses.
Através do monitoramento ativo e em primeira pessoa, pode-se afirmar claramente que, devido a implicações humanas, ideológicas, materiais e institucionais, nenhum outro país experimentou a evolução da Guerra Civil Espanhola com tanta intensidade como Portugal. O medo coletivo, aninhado dentro do salazarismo, trouxe um impulso de ajuda aos militares rebeldes espanhóis, que almejavam a implantação de um modelo estatal baseado na experiência da Itália de Mussolini. A Espanha foi reconstruída nas ruínas da Segunda República, apresentada pela propaganda salazarista como símbolo da maior traição histórica da nação vizinha. Por estas razões, Pena Rodríguez usa diretamente o termo “fascismo” no título do livro, fechando, assim, um círculo de pensamento coerente sobre a evolução dos projetos ditatoriais ibéricos.
Resenhista
José Antonio Abreu Colombri – Doutorado pela Universidade de Alcalá (UAH), Madrid, Espanha. E-mail: abreucolombri@gmail.com
Referências desta Resenha
PENA RODRÍGUEZ, Alberto. Salazar e Franco. La alianza del fascismo Ibérico contra la España republicana: diplomacia, prensa y progaganda. Gilon: Ediciones Treas, 2017. Resenha de: COLOMBRI, José Antonio Abreu. Politeia: História e Sociedade. Vitória da Conquista, v. 19, n. 1, p. 161-163, jan./jun. 2020. Acessar publicação original [DR]