Este livro, de autoria de Tania Regina de Luca, foi publicado pela Editora Contexto em 2020, fazendo parte da coleção História na Universidade, que traz uma visão geral e didática sobre pontos-chave da disciplina. A autora é mestre e doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) e professora de cursos de graduação e pós-graduação em História da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Diante do desafio que é elaborar pesquisas em História, a pesquisadora se propõe a traçar os caminhos da produção do conhecimento historiográfico, norteando estudantes de graduação e demais interessados na área.
Com uma abordagem elucidativa, o universo da investigação em História é conduzido através da interlocução com renomados pensadores. Em cada capítulo, há uma epígrafe que convida o leitor a refletir sobre o tema abordado. Assim, de Marc Bloch a Marte Mangset e Emmanuelle Picard, é possível conhecer ou reencontrar os notáveis intelectuais do campo.
O que teria em comum o trabalho de um historiador e de um detetive? Através da célebre comparação de Carlo Ginzburg, Luca (2020) destaca, na Introdução, as complexidades que o historiador tem em seu métier, construindo um texto rico em exemplificações. A autora introduz a estrutura tradicional de um projeto de pesquisa, apontando também que é preciso conhecer as formas de pensamento da disciplina.
No Primeiro Capítulo, a professora convida seus leitores a irem Em busca do passado. Através da explanação do percurso da História como ramo do conhecimento, notabiliza-se a importância do método e da responsabilidade do ofício. Luca (2020) salienta a necessidade de identificação da procedência, da datação e da autoria dos documentos utilizados pelos historiadores. Além disso, destaca-se a responsabilidade de afastar-se do anacronismo nos trabalhos historiográficos.
Outro ponto importante é o entendimento da História como um conhecimento provisório e mutável. Dessa forma, a partir de exemplos, a autora apresenta uma característica fundamental da disciplina: a historicidade do conhecimento histórico (LUCA, 2020). As percepções sobre o passado transformam-se de acordo com o olhar do historiador, que se encontra em um momento específico do tempo. Portanto, uma pesquisa historiográfica, além dos métodos utilizados, precisa considerar sua inserção no contexto em que é produzida, isto é, sua historicidade (LUCA, 2020).
Ao longo do Segundo Capítulo, Documentos: da certeza à construção, Luca (2020) aborda as concepções deste elemento no decorrer da modernidade. Primeiramente, diferenciam-se os termos documento e fonte. Em sequência, fazendo jus ao título da passagem, Luca (2020) delineia a trajetória desse material, que demanda um olhar renovado e a ação do pesquisador para a construção de significados. Nesse contexto, percebe-se a importância e a seletividade das instituições de guarda, além do mais, cabe ao historiador entender os limites dos testemunhos diante de suas escolhas. Em síntese, a professora sublinha que, seja pelos novos temas e abordagens de pesquisa, seja pelas inovações tecnológicas, os documentos históricos se tornaram mais complexos, ampliando o desafio e as possibilidades de investigação (LUCA, 2020).
No Terceiro Capítulo, Da área ao objeto de pesquisa, explora-se o caminho inicial de uma investigação historiográfica. A autora, após trabalhar diversas exemplificações concretas, afirma que “[…] todo o problema se resume a ter um problema!” (LUCA, 2020, p. 69). Ou seja, é imprescindível ter um recorte específico do tema em estudo, com o intuito de tornar a investigação realizável. Além disso, o texto evidencia precisamente o papel do orientador, que guia o aprendiz pelo universo da pesquisa historiográfica.
Após a definição do tema, é fundamental conhecer o que já foi produzido na área (LUCA, 2020). Desse modo, delimitar a bibliografia e realizar seu levantamento crítico permite o conhecimento dos historiadores, dos métodos e dos sujeitos históricos que se relacionam com o objeto de pesquisa. Da mesma maneira, ordenar e organizar os dados facilitará a mobilização das informações em prol do objetivo da pesquisa. Para isso, Luca (2020) enuncia dicas e indagações pertinentes para uma boa leitura e coleta de dados.
Circunscrever as fontes é o Quarto Capítulo da obra e expõe as relações entre os meios utilizados para a formação do conhecimento histórico. Luca (2020) apresenta a tríade de objeto, fontes e procedimentos como elementos basilares para a investigação, instigando o questionamento de suas interconexões. Isto posto, enfatiza-se que os rumos da pesquisa se estruturam ao longo do processo, pois “se o pesquisador já está convencido das respostas que encontrará, então não é necessário levar adiante a investigação!” (LUCA, 2020, p. 93). Por fim, através da indicação de outros livros, ressalta-se a dinamicidade e a variedade das fontes e de suas localizações.
No desenvolvimento do Quinto Capítulo, reflete-se sobre O texto historiográfico. De acordo com Luca (2020), a escrita permite o compartilhamento das realizações da pesquisa. Dessa forma, a partir da consciência de suas escolhas e perspectivas, o historiador deve aplicar mecanismos de controle e construir sua argumentação, mantendo o compromisso com os indícios existentes. Nesse sentido, a autora aponta a polifonia do texto histórico, designando as notas e as citações como demonstrações do conhecimento estrutural da narrativa histórica (LUCA, 2020).
Na produção do conhecimento histórico, a linguagem também exerce papel central. A escolha de palavras e conceitos demanda a reconstrução de seus sentidos e a compreensão de seu uso em certo contexto. Ademais, segundo a autora, os conceitos auxiliam a delinear a opção da abordagem (LUCA, 2020). Por conseguinte, o compromisso ético do pesquisador deve prevalecer em todo o processo de reconstrução de um momento do passado, respeitando os métodos de controle e especificidades da disciplina.
Após percorrer aspectos teóricos gerais da pesquisa em História, dirige-se ao Sexto Capítulo de modo a Unir os fios e construir o projeto. A partir do pressuposto de que há muitas variações dos modelos formais de uma pesquisa, Luca (2020) englobaos em uma discussão ampliada. Trabalham-se os dados iniciais, as justificativas, os objetivos, as fontes, a metodologia, o cronograma, as referências e as notas, particularizando suas características e sugerindo maneiras de melhor desenvolvê-las. Por fim, Luca (2020) salienta que há diversos modos de realizar as interlocuções textuais por meio das citações, por isso, indica a plataforma digital da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
A autora tem consciência de que os elementos apresentados são como uma caixa de ferramentas, visto que “não trazem soluções, mas meios para chegar a elas” (LUCA, 2020, p. 124). Destarte, as limitações do texto tornam-se claras, entretanto, isso não significa que sua importância seja reduzida, uma vez que a reflexão integra novos pesquisadores às regras do ofício da História.
Para finalizar é o Sétimo e último capítulo da obra. Nele, retoma-se a trajetória da História, que, em sua escrita, ressignifica o passado por meio da conexão de múltiplas temporalidades e gera um conhecimento vivo e inacabado. Além disso, a autora ressalta a importância da tarefa do historiador face às vivências enfrentadas na realidade contemporânea (LUCA, 2020).
Assim sendo, o estilo de Luca (2020) é esclarecedor, contudo, não tem a pretensão de fornecer soluções, e sim caminhos. O texto não deixa de abordar aspectos que parecem óbvios, mas que são fundamentos da pesquisa. A autora é acurada em suas indicações, reflexo de sua vasta experiência na área. Aliás, são essas recomendações e ensinamentos que trazem a prática da pesquisa ao texto, enriquecendo-o e cumprindo a proposta inicial de introduzir a forma de pensar do historiador.
Práticas de Pesquisa em História é, primordialmente, um convite à descoberta deste vasto domínio que compõe a disciplina. Nota-se, pois, uma obra de fácil cognição que, apesar disso, traz ideias complexas, como a própria construção do conhecimento histórico. Em conclusão, o livro apresenta seu desfecho como o início de uma nova aventura, a vivência da pesquisa em História, para a qual Luca (2020, p. 136) nos convoca: “Mãos à obra!”.
Resenhista
Tamires de Moura Nogueira Rosa – Graduanda em História – Instituto de Ciências Humanas – Universidade Federal de Juiz de Fora – ICH/ UFJF – Brasil. E-mail: tamnrosa@gmail.com
Referências desta Resenha
LUCA, Tania Regina de. Práticas de pesquisa em história. São Paulo: Contexto, 2020. Resenha de: ROSA, Tamires de Moura Nogueira. Revista Eletrônica História em Reflexão. Dourados, v.15, n. 30, p.187-190, jul./dez. 2021. Acessar publicação original.
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