A história da Linha de Pesquisa Populações Indígenas e Missões Religiosas na América Latina se confunde com a história e com o Projeto da própria Universidade que a abriga, haja vista o interesse dos membros da Companhia neste tema e a larga trajetória de estudos acerca do mesmo, produzidos pelo Instituto Anchietano de Pesquisas. Fundado em 1956, para congregar jesuítas da província meridional da Ordem que desenvolviam pesquisas nos colégios e na missão de Diamantino (Mato Grosso), e para facilitar a publicação de seus trabalhos e garantir a continuidade de seus projetos e acervos, o IAP construiu uma sólida tradição de pesquisas na área, à qual se somaram aquelas que vieram a desenvolver-se no âmbito do PPGH.
A Linha se apresenta tendo como temas de interesse os relativos às populações indígenas, ao processo de conquista, evangelização e colonização da América Latina, bem como seus desdobramentos político-econômicos e socioculturais na construção da identidade latino-americana. Entre os focos de análise privilegiados, sem dúvida, sobressaem-se aqueles que tomam por objeto o processo de ação missionária da Companhia de Jesus que resultou, entre outras coisas, no estabelecimento dos chamados “30 Povos das Missões”.
Contudo, considerando que a “missão” foi uma experiência que transcendeu territórios, tendo sido desenvolvida historicamente em espaços tão distintos quanto o Prata, o Chile, a Amazônia e as áreas contíguas do Oriente boliviano, por exemplo; que, nas suas várias manifestações, uma nova noção de territorialidade decorreu desta estratégia de conversão e de civilização; que as populações indígenas que foram objeto desta política missionária responderam a ela de forma diferenciada; que nestas múltiplas fronteiras em que espaços foram ocupados e reocupados, produziram-se práticas culturais que podem ser objeto de estudos comparados em suas singularidades e em suas recorrências, os pesquisadores vinculados à Linha têm procurado integrar estes temas às suas reflexões.
O presente Dossiê espelha este avanço das perspectivas de análise sobre o tema que originalmente marcou o trabalho da Linha, assim como a interlocução corrente com especialistas de outras instituições, evidenciando o esforço dos pesquisadores em acompanhar as tendências historiográficas mais recentes, não só no que tange aos estudos culturais, como aos que vêm renovar a história social e compor uma nova história indígena.
Refletindo este estado da arte, os artigos de Arnt, Avellaneda, Neumann, Quarleri e Torres-Londoño escapam de análises simplistas sobre a época colonial, atendendo a este repto que é o de recuperar-se o papel dos grupos indígenas na formação das sociedades e culturas do continente. Para tanto, os autores ultrapassam a mera adoção de uma visão de crítica ao colonialismo e denúncia das suas tremendas conseqüências em relação aos nativos, para efetivamente refletirem sobre mecanismos de resistência, assimilação defensiva e recuperação, isto é, sobre as formas através das quais interagiram com a sociedade colonial e ajudaram a conformá-la.
Como instituição colonial, as reduções diferenciaram-se segundo as circunstâncias históricas e as particularidades étnicas e regionais de onde existiram, assim como segundo as intenções de seus fundadores e responsáveis. Daí podermos concordar com a afirmação de Bartomeu Meliá de que a missão por redução é um método e uma história, um modo de proceder e uma atuação do mundo colonial. Esta perspectiva justamente é aquela que é abordada nos artigos de Barcelos, Carvalho da Silva, Domingues, Franco e Santos. Finalmente, Chamorro-Argüello contempla, em seu texto, as possibilidades abertas pela atual recuperação do gênero biográfico, vinculando-o ao tema da missão por redução.
Eliane Cristina Deckmann Fleck – PPGH – UNISINOS
Maria Cristina Bohn Martins – PPGH – UNISINOS
FLECK, Eliane Cristina Deckmann; MARTINS, Maria Cristina Bohn. Apresentação. História Unisinos, São Leopoldo, v.11, n.2., maio / agosto, 2007. Acessar publicação original [DR]
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