Passado Abierto. Mar del Plata, n.14, 2021.

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História Ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas | Ilsyane Kmitta, Suzana Arakaki e Tânia Zimmermann

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Suzana Arakaki | Imagem: Dourados News

A obra História Ambiental: configurações do humano e tessituras teórico-metodológicas (2020) é uma coletânea de 7 textos, organizada pelas historiadoras Ilsyane Kmitta, Suzana Arakaki e Tânia Zimmermann, vinculadas à Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS-Amambai). O livro tem apresentação de Susana Cesco (UNIRIO) e reúne pesquisadores/as das regiões Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste em torno da História Ambiental com destaque, especialmente, aos desafios teóricos-metodológicos e políticos que envolvem este campo de pesquisa no Brasil. Além dos artigos, possui também uma entrevista com Paulo Henrique Martinez, colhida no ano de 2018 por ocasião da XVI Semana Acadêmica de História da UEMS (campus de Amambai).

Historia Ambiental Suzana ArakakiRessente-se, logo de início, de algumas considerações das próprias organizadoras sobre as circunstâncias de confecção da obra. É de praxe, em um livro de coletâneas, que pode, ou não, ter a apresentação de algum/a convidado/a, encontrarmos algumas palavras dos/as próprios/as organizadores/as de agradecimento e esclarecimento sobre as condições de estruturação do livro e seu conteúdo. Assim, ficamos sem saber, por exemplo, o porquê da inserção de uma entrevista realizada em 2018 em um livro publicado dois anos depois. O material começou a ser gestado nesse momento, no âmbito do evento mencionado no parágrafo acima? E quanto à motivação e importância da temática sob a qual foram reunidos os artigos e expresso no título da obra? Leia Mais

Negacionismo: A construção social do fascismo no tempo presente | Karl Schurster, Michel Gherman e Óscar Ferreiro-Vázquez

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Karl Schurster, Michel Gherman e Óscar Ferreiro-Vázquez | Imagens: Resenha Crítica/Fósforo Editora/Resenha Crítica

Negacionismo: A construção social do fascismo no tempo presente, exemplifica a mais recente posição de profissionais das humanidades sobre esse fenômeno de massas e das redes, emergente na grande imprensa nos últimos dez anos. Trata-se de uma coletânea organizada por Michel Gherman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Karl Schurster, das Universidades de Pernambuco (UPE) e de Vigo (Espanha) e Óscar Ferreiro-Vázquez, da Universidade de Vigo (Espanha), que assume a meta de combater o negacionismo, compreendido, inicialmente, como elemento do fascismo contemporâneo. Os pesquisadores que os acompanham são, majoritariamente, docentes do nível superior com atuação nas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), do Rio Grande do Sul (UFRGS), de Juiz de Fora (UFJF), Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR) e na Escola Israelita Brasileira Salomão Guelman.

Negacionismo livroNos dez capítulos da obra, quinze profissionais definem negacionismo e demonstram a as ações de rejeição, ocultamento ou desresponsabilização do Holocausto, do Nazismo, do escravismo brasileiro, da identidade dos judeus progressistas e do conhecimento científico em gêneros/suportes como o artigo de jornal, livro de História, o filme histórico e as letras de música. A maioria privilegia a expressão-título (negacionismo), explorando-o no tríptico: definição/causa/terapia.

No primeiro capítulo – “(Para)traduzir a negação, as teorias da conspiração e o antissemitismo” –, negacionismo é a “tentativa sistemática de falsificação do passado-recente” (p.21), mediante as habilidades de descartar provas, “regenerar e limpar o presente de um passado indesejado” (p.31). Por essa definição, o antissemitismo é “uma vertente negacionista” (p.25) e a “teoria da conspiração” é o elemento aglutinador de grupos extremistas, que estigmatiza “grupos minoritários” e incentiva a violência física. Para Karl Schurster, Michel Gherman e Óscar Ferreiro-Vázquez, o papel dos acadêmicos é explicar como a “desinformação” afeta a o modo de os indivíduos lerem o mundo (p.21).

No segundo capítulo o perfil taxonômico dos textos se mantém, associado às primeiras medidas terapêuticas. Tratando de “Esquecimento, revisionismo e negacionismo: o assassinato da História”, Francisco Carlos Teixeira da Silva e Karl Schurster definem negacionismo com ação/habilidade/prática do Fascismo. O Fascismo é um fenômeno (ideológico) e uma patologia social (neurose) caracterizada pela atitude sistemática de esquecer, recalcar ou reprimir o passado que causa “dor intensa e repetitiva” (p.34-35). Na sociedade alemã, emerge do autoritarismo, etnocentrismo, da “frieza nas relações interpessoais” e da “falha na educação.” (p.62). No brasil, a ocultação, a censura política do ensino de História e reescritura da história (revisionismo) são os seus sintomas. Para os autores, negacionismo é também é a atitude de historiadores e governos evitarem nomear a recusa sistemática do passado doloroso do Holocausto e da Ditadura Milita como fascismo. A principal terapia, para a Alemanha e para o Brasil, é fazer o caminho inverso da neurose: recordar, exibir e superar o passado que causa dor. De modo residual, os autores também apresentam uma terapia epistemológica (e ética): hierarquizar o valor dos testemunhos (o prisioneiro e o carcereiro) e considerar em conjunto o depoimento dos que sofreram a violência.

No terceiro capítulo, a tentativa de definição se especializa. Para Luís Edmundo de Souza Moraes, que escreve “A negação negacionista do Holocausto, suas metamorfoses e a ilusão de ótica”, negacionismo é categoria que dá conta de um fenômeno dos anos 1980: negar e falsear conscientemente o passado e fraudar critérios de autoridade. É uma prática institucionalizada, um movimento de direita e uma “reação” sobre o sentido atribuído a determinado objeto. Visto diacronicamente, o negacionismo emerge em “forma-testemunho” e “forma-ciência”. Ele “não é passível de refutação”, não pode ser silenciado academicamente e o seu avanço ou retrocesso independe do trabalho melhor ou pior dos historiadores (p.105). Para Moraes, o sucesso do revisionismo se deve à demanda do público leigo por história narrativa e aos vícios da obstrução epistêmica (escrita ininteligível). O melhor combate ao negacionismo histórico, inspirado no caso francês, inclui: reformas nos currículos de formação de professores e pesquisadores, reforma nos currículos da educação básica e produção de novos materiais didáticos.

O quarto capítulo – “Revisionismo, doença infantil do negacionismo?”, escrito por Marcos Napolitano, define negacionismo como a “‘mentira organizada’ voltada para o apagamento e encobrimento de responsabilidades históricas […] sobre a violência do passado que envolveram perpetradores e vítimas, bem como seus herdeiros no presente” (p.112). As razões do sucesso do “negacionismo” e do “revisionismo” são, por exemplo, a falta de eficácia na “divulgação científica” universitária e a “falta de um jornalismo científico mais afinado com a pesquisa” (p.130). Isso explicaria, por exemplo o sucesso de “revisionistas recentes” como o de Elio Gaspari, Jorge Caldeira e Leandro Narloch. A terapia, segundo o autor, é a é a “busca da verdade histórica”, entendida como “um ponto de fuga identificável nas fontes e evidências gerados pelo passado, um compromisso ético e ontológico do historiador” (p.138).

O sétimo e o décimo capítulos encerram as iniciativas dominantemente definidoras de negacionismo. No texto de Arthur Lima de Avila – “Formas/fórmulas de negação e irresponsabilidade representacional: o caso Brasil Paralelo e o Negacionismo Histórico contemporâneo”, a categoria “negacionismo histórico contemporâneo” é comparada à categoria “revisionismo clássico”. A primeira (na qual se encaixa R. Faurisson), versa sobre o holocausto e é marcada por uma afirmação contrafactual (não houve holocausto), a despeito das provas materiais e testemunhos (“negação strictu sensu”). A segunda é marcada por operações narrativas de omissão de argumentos contraditórios e suavização da violência de determinados atores, resultando em um processo de desresponsabilização (“irresponsabilidade representacional”). Os filmes da produtora Brasil Paralelo são exemplos dessa narrativa (p.188). Para Avila, a causa do negacionismo contemporâneo é estrutural: “a transformação interior à racionalidade neoliberal”, ou seja, a “passagem tormentosa de um neoliberalismo progressista a uma versão francamente autoritária dele. (p.202).

Esse não é, contudo, o diagnóstico de Natalia Pasternak, que escreve “negacionismo da ciência e do Holocausto: estratégias e consequências”. A autora define negacionismo como “uma mentira que nega a realidade para promover ideologia, política ou religião”, que “mata democracias e pessoas.” (p.275). Implicitamente, a autora sugere que identificar suas estratégias é realizar o seu combate. Assim, deve o combatente reconhecer que o negacionista: evita a negação total do fato, empregando um “mas, veja bem…” (após a negação do negacionismo); põe fatos/detalhes fora do contexto (via omissão deliberada ou ignorância supostamente ingênua) para rejeitar tese consensuada entre especialistas; muda, continuamente, o objeto da negação (recentemente refutada); desafia os especialistas para o (falso) debate em busca de legitimação; e usa o ceticismo para questionar teses, fatos e evidências exploradas a exaustão, acusando os cientistas de rejeitarem esse valor secular empregado na ciência.

O quinto, o sexto, o oitavo e o nono capítulos, dominantemente, tipificam práticas ditas negacionistas. Em “Nazismo de esquerda? Considerações sobre o revisionismo ideológico sobre o nazismo no Brasil contemporâneo” (quinto capítulo), Michel Ehrlich compreende a declaração sugerida acima como exemplo de “revisionismo ideológico”, ao contrário de “negacionismo” (negação dos “fatos, acontecimentos concretos consolidados” (p.146). Contudo, diz o autor, mais importante que tipificar a proposição é denunciar os interesses que a fundamentam: desresponsabilizar o nazismo das violações de direitos humanos e minimizá-lo como parâmetro nos julgamentos futuros de crimes semelhantes praticados por membros do governo Bolsonaro. No capítulo seguinte (o sexto) – “A dupla negação dos judeus em tempos de Bolsonaro”, Michel Gherman e Gabriel Melo Mizrahi apresentam desdobramentos do negacionismo praticado pelo então deputado Jair Bolsonaro no Clube Hebraica, em 2017, pelo presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ), pelo chargista Latuff e o jornalista Shajar Goldwaser. As referências desses sujeitos aos judeus que reprovaram a presença de Bolsonaro na Hebraica, apesar de ideologicamente antagônicas, provocaram, ao menos no plano do discurso, um duplo apagamento da sua identidade: negados como judeus (por Bolsonaro e pela FIERJ) e negados como judeus de esquerda (pela imprensa), afirma o autor.

O oitavo e nono capítulos focam na constatação e na denúncia, são: “Negamos o que nos constitui e escondemos o que não suportamos ver: negacionismo da escravidão como estratégia de naturalização da violência, da exclusão, da exploração e da desigualdade racial” e “Negacionismo, revisionismo e discursos de ódio no tempo presente: a apropriação da narrativa sobre memória do Holocausto pelo rock neofascista.” No primeiro, Janaina Chrstiam Peranyon Lopes e Antônio Carlos Jucá de Sampaio consideram “negacionista” a prática de “naturalizar” e “reiterar” mecanismos geradores de “violência, exclusão e desigualdade racial”, expressa, por exemplo, nas tentativas de suavização da lei que pune os que exploram trabalhadores em condições análogas à escravidão (p.215). De forma semelhante, para Pedro Carvalho Oliveira, “negacionista” e “revisionista” é mensagem veiculada nas letras de músicas de bandas de rock ideologicamente orientadas pelo fascismo, na Alemanha, nos EUA, no Chile, na Argentina e no Brasil. Elas reiteram a ideia de que o holocausto não existiu e que os judeus conspiram para a extinção da raça branca. A intenção das bandas é desresponsabilizar os nazistas que atuaram na Segunda Guerra Mundial e de cultivar o ódio aos judeus.

Como pudemos observar, os autores fazem o duro trabalho taxonômico de domar as palavras do senso comum e torná-las instrumento epistêmicos de qualidade superior, sob a majoritária ideia de que os discursos sobre o passado têm consequências e que, por isso, os representadores do passado devem explicitar seus compromissos éticos, principalmente, quando esses desdobramentos implicam em ameaças à convivência em uma democracia liberal. Esse investimento, evidentemente, os põe em risco de cometer diferentes tipos de imperfeições. Os ruídos não aparecem nas causas e nas terapias, pouco abordadas no conjunto da obra: mudanças estruturais de combate à neurose, mudanças na formação profissional da história e produção de material didático competente para os escolares. As terapias circulantes em outras áreas, como o cinturão sanitário, a censura e a prisão não estão neste livro. As insuficiências, por outro lado, são majoritariamente no exame da palavra (negacionismo) e na tentativa de adequar a palavra à coisa (mentira, falsidade, neurose etc.).

Esse tipo de ruído aparece no primeiro capítulo, que não deixa claro o limite entre notícia falsa, negacionismo e teoria da conspiração e entre o valor heurístico de negacionismo, negacionismo histórico e antissemitismo. Também está claro se as elites ressentidas com as políticas de justiça social e os profissionais da História que se recusam a designar a política de negação do passado doloroso da ditadura militar brasileira partilham da mesma patologia mental e, ainda, se haveria um negacionismo irracional de leigos e um negacionismo racional de experts acadêmicos.

A necessidade de precisar os termos está expressa, indiretamente, por exemplo, no último capítulo, que ensina muito pelo testemunho autobiográfico. Ali, o negacionismo é “condição humana” (eu diria uma habilidade mental neutra), uma ação epistêmica e moralmente reprovável (um desvalor). A depender da situação comunicativa, várias combinações são possíveis. No depoimento, os nazistas, o bisavô da autora e o leitor acadêmico invocado no texto negam (negaram ou negarão) a realidade de alguma forma, demonstrando, respectivamente, ódio, prudência e indiferença calculada.

A entrada para o campo de concentracao de Auschwitz Birkenau. Foto ShutterstockWJC

A entrada para o campo de concentração de Auschwitz Birkenau | Foto: Shutterstock/WJC

Esse tipo de raciocínio não é comum na coletânea, o que explica a conurbação de negacionismos. No capítulo oitavo, os autores veem “negacionismo” em fatos qualitativamente distintos: (1) os empresários envolvidos em crime de “trabalho análogo à escravidão” rejeita, “a pecha de escravizadores” (p.213); (2) os lobistas do agronegócio se opõem à legislação antiescravista e lutam para excluir do dispositivo os conceitos de “jornada exaustiva” e de “condição degradante” (dentro das regras formais do jogo legislativo); e (3) diferentes agentes e grande parte da opinião pública aceita esse processo de “desregulamentação das relações de trabalho” (p.213, 226-228).

No capítulo quatro, que relaciona “revisionismo ideológico” e “revisão historiográfica”, adjetivação “ideológico” é inadequada porque não expressa paralelismo com a segunda categoria (que pode ser intencionalmente deflagrada por revisionismo ideológico). Consequentemente, as virtudes epistêmicas referidas (distanciamento ético, argumentação lógica e metodologia reconhecida), adiante denunciadas como descumpridas pelos revisionistas, não são vícios suficientes para separar a má pesquisa e escrita histórica de profissionais da História e a má pesquisa e escrita histórica de profissionais revisionistas, exemplificadas (estas últimas) pelos trabalhos de Hélio Gaspari, Jorge Caldeira e Leandro Narloch. Não são também suficientes para distanciar o trabalho desses revisionistas dos trabalhos “daqueles que fazem divulgação histórica” que são “autores progressistas oriundos do jornalismo”: Laurentino Gomes, Pedro Doria, Eduardo Bueno, Lira Neto, Mário Magalhães e Lucas Figueiredo. É importante registrar essa imprecisão porque o próprio autor reconhece gradações de tipo vário entre (e intra) “narrativas abertamente negacionistas” e “revisionismo ideológico” (p.118). No mesmo capítulo, a imprecisão das categorias contamina o esboço taxonômico: “Negacionismo e extrema-direita” ou “Negacionismo-raiz”, (2) “Revisionismo ultraliberal contra a ‘história politicamente correta’” e (3) “Utopia histórica regressiva/nostalgia conservadora”. Essa classificação repousa sobre assimetrias: a primeira classe é designada negacionismo e a segunda é designada revisionismo. O demarcador das duas primeiras é o referencial ideológico e o demarcador da última é a substância narrativa.

A instabilidade das definições leva também à instabilidade das teses, como ocorre no quinto capítulo. Ali, inicialmente, a declaração “o nazismo é uma ideologia de esquerda” não configura, segundo o autor, negacionismo porque não há negação de “fatos, acontecimentos concretos consolidados” (p.146). O autor, contudo, afirma adiante que a proposição “nazismo é de esquerda” é “uma das que mais distorce os acontecimentos históricos” (159), reafirmando o desvalor da quebra da correspondência entre fato e discurso sobre o fato que definiria o negacionismo. Em seguida, considerando tal proposição como um “revisionismo”, baseia-se na definição de J.-M. Gagnebin de que a “verdade do passado” é questão de metodologia e de ética. Por esta tese, o combate do negacionismo demandaria esclarecimento dos “valores” que “orientam a elaboração desse argumento” (Ehrlich, p.148). Em todo o tópico, contudo, o que o autor faz é apontar os vícios epistêmicos (omissão de informação contrária, de definições e/ou caracterizações confusas do fenômeno estudado), esquecendo o “valor” referido como objeto fundamental a ser buscado. Como não expande a definição de Gagnebin, o autor deixa implícita a ideia (do senso comum, inclusive) de que as normas de pesquisa e de argumentação (aparato epistêmico) estão na esfera do conhecimento (e distantes da dimensão ética).

No texto que denuncia duplo apagamento da identidade de judeus progressistas do Rio de Janeiro, os problemas da definição e da ausência de uma escala de progressão se mostram exemplares. É equivocado usar “negacionismo” para caracterizar a recusa de outras evidências que obriguem o articulista de esquerda a revisar a tese de que os judeus são “ricos, brancos e conservadores” (p.182). Penso ser (ou ser também) um caso de vício epistêmico cometido por um profissional do jornalismo e não de negacionismo de esquerda. O mesmo problema de aplicação da categoria aparece no julgamento do trabalho chargista Latuff sobre os judeus excluídos da reunião com Bolsonaro. O uso é indevido porque os autores tomam um gênero textual que tem fins e situação comunicativa específicos (a sátira) como elemento simétrico ao artigo de jornal (e, talvez, ao artigo acadêmico de um profissional da História). A charge não tem compromisso com a precisão dos fatos e nem é destinada a mentir ou a negar verdades factuais, característica que é compartilhada por seus consumidores. (Se se referisse aos usos descontextualizados, talvez tivesse razão).

O mesmo raciocínio pode ser aplicado à tipificação do gênero musical “rock” e de sua expressão adjetivada “rock fascista”. Se o rock é, como o autor do capítulo 12 afirma (historicamente rebelde e subversor de “valores estabelecidos”), negar é um marcador importante e epistemicamente neutro. A menção desse marcador (dispensável em sua argumentação) contamina duplamente a definição de negacionismo (negligência epistêmica das evidências e desresponsabilização dos nazistas) porque uma letra de música de uma banda de rock não é produzida com a meta de “reler o passado” segundo protocolos científicos. Além disso, a rebeldia e a contestação de valores não é prerrogativa das bandas situadas mais à esquerda do espectro ideológico.

A imprecisão da definição, por fim, gera um dúvidas pelo caráter lacunar do argumento. No quarto capítulo, o revisionismo é uma “mentira organizada” para falsear o acontecido. Mas o autor nada refere sobre a aplicação da categoria: trata-se de mentira textual/literal, mentira de interpretação ou de replicação anônima? Dizendo de outro modo, a mentira deve estar no âmbito da produção, da circulação ou do consumo? Exemplo do mesmo problema está no sétimo capítulo, que não esclarece as dimensões que as ontologias sugeridas por S. Freud e por W. Benjamin alcançam na sua definição de negacionismo: existe negacionismo “inconsciente”, como sugere o autor? (p.188). Omitidas as determinações ontológicas, a afirmação pode ser facilmente contraditada com a tese de que, nesse caso, se trata de mais um exemplo de vício epistêmico (um erro, uma negligência). A mesma indeterminação também enfraquece a caracterização (contraditável como simplista) de que uma marca da história disciplinar é o convencimento pela razão, enquanto a marca do negacionismo contemporâneo é o convencimento pelo afeto. (Ávila, p.200).

O balanço que faço da obra é, obviamente, positivo. Os objetos e objetivos dos textos estão focados, dominantemente, na expressão título (negacionismo) que é tornada categoria. Isso faz do livro obra rara: é teoria voltada para a prática e teoria aplicada ao tempo quente, no tempo quente. A desresponsabilização dos perpetradores do Holocausto, do escravismo e da ditadura militar, por exemplo, levada à cabo por diferentes profissionais e em vario gênero, a chamada à responsabilidade dos historiadores que negam a negação deliberada desses crimes, empregando eufemismos ou fugindo à discussão criteriosa sobre a categoria Fascismo e, ainda, a adoção de modelos psicanalíticos, que inverte a convencional prática de tomar a humanidade como base para a constituição do ser humano e a sugestão de que esse tipo de abordagem pode orientar escritas da história autodesignadas como “do tempo presente” demonstram o valor da empreitada e a razão de o profissional-cidadão adquirir e ler a obra.

Assim, por mais contraditório que possa aparentar, as insuficiências que apontei na obra a tornam instrumento virtuoso para a formação de profissionais da História. Lida a partir dessa perspectiva (como sempre tento fazer), as insuficiências remetem: (1) à omissão ou a imprecisão na definição das categorias tomadas por empréstimo ou criadas para construir os seus objetos; (2) às falhas de relacionamento (ou contraposições) entre essas categorias (semelhança, de causa/consequência, reciprocidade ou subsunção); (3) às ausências de parâmetros e/ou escalas para mensurar (3.1) a distância entre a obediência e desobediência de princípios e procedimentos metodológicos (entre atos diligentes e negligentes e entre falsidade consciente e inconsciente, (3.2) o efeito de uma declaração produzida/reproduzida em ambiente convencional (autoria reconhecida e facilmente auditável) e de uma declaração produzida e reproduzida em ambiente digital (autoria desconhecida, em circulação incontrolável e dificilmente auditável), (3.3) o grau de autoridade historiadora de declarar algo sobre o passado, considerando, por exemplo, o quanto o declarante deve possuir em termos de conhecimento, razão, crença ou evidências e (3.4) a instância de responsabilização da declaração historiadora (obediência a princípios ou consequências das declarações sobre o passado?).

Essas insuficiências, contudo, depõem sobre o estágio atual dos nossos cursos de Teoria da História (Metodologia, História da Historiografia, Introdução aos Estudos Históricos, entre outros). Estamos (essa é a minha hipótese) numa espécie de vazio epistemológico: de um lado, experimentamos o desprezo acrítico das normas disseminadas em manuais de Teoria e Metodologia Histórica produzidos por alemães, argentinos, belgas, brasileiros, chilenos, estadunidenses, franceses, holandeses e ingleses, entre a primeira metade do século XIX e a primeira metade do século XX (O que disse o autor? O que quis dizer o autor? Ele foi sincero? Ele era competente? Ele possuía motivos para mentir? Ele foi preciso?). Do outro, experimentamos o desinteresse pelo que se produziu analogamente, nos últimos 30 anos, em disciplinas como a Epistemologia, Epistemologia do Testemunho, Epistemologia Histórica e, ainda, a Filosofia da Linguagem, Lógica, a Axiologia e a Ontologia, no que diz respeito às ideias de declaração, evidência, prova e verdade.

Sumário de Negacionismo: a construção social do fascismo no tempo presente

  • Os autores
  • Introdução | Luís Alberto Marques Alves (CITCEM-FLUP)
  • 1. (Para)traduzir a negação, as teorias da conspiração e o antissemitismo | Karl Schurster, Michel Gherman e Óscar Ferreiro-Vázquez
  • 2. Esquecimento, revisionismo e negacionismo: o assassinato da História | Francisco Carlos Teixeira Da Silva e Karl Schurster
  • 3. A negação negacionista do Holocausto, suas metamorfoses e a ilusão de ótica | Luís Edmundo de Souza Moraes
  • 4. Revisionismo, doença infantil do negacionismo? | Marcos Napolitano
  • 5. Nazismo de esquerda? Considerações sobre o revisionismo ideológico sobre o nazismo no Brasil contemporâneo | Michel Ehrlich
  • 6. A dupla negação dos Judeus em tempos de Bolsonaro | Michel Gherman e Gabriel Melo Mizrahi
  • 7. Formas/fórmulas de negação e irresponsabilidade representacional: o caso Brasil Paralelo e o negacionismo histórico contemporâneo | Arthur Lima de Avila
  • 8. Negamos o que nos constitui e escondemos o que não suportamos ver: o negacionismo da escravidão como estratégia de naturalização da violência, da exclusão, da exploração e da desigualdade racial | Janaina Christian Perrayon Lopes e Antônio Carlos Jucá de Sampaio
  • 9. Negacionismo, revisionismo e discursos de ódio no tempo presente: a apropriação da narrativa sobre a memória do Holocausto pelo Rock neofascista | Pedro Carvalho Oliveira
  • 10 Negacionismo da Ciência e do Holocausto: estratégias e consequências | Natalia Pasternak

Resenhista

Itamar FreitasItamar Freitas – Doutor em História (UFRGS) e em Educação (PUC-SP), Professor do Departamento de Educação e do Mestrado Profissional em História, da Universidade Federal de Sergipe, e editor do blog Resenha Crítica. Publicou, entre outros trabalhos, Uma introdução ao método histórico (2021) e “Objetividade histórica no Manual de Teoria da História de Roberto Pirgibe da Fonseca (1903-1986)”. ID: https://orcid.org/0000-0002-0605-7214; E-mail: itamarfreitasufs@gmail.com


Para citar esta resenha

SCHURSTER, Karl; GHERMAN, Michel; FERREIRO-VÁZQUEZ (Org). Negacionismo: A construção social do fascismo no tempo presente. Recife: EdUPE, 2022. 278p. Resenha de: FREITAS, Itamar. Taxonomias na berlinda. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.7, set./out., 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/taxonomias-na-berlinda-resenha-de-negacionismo-a-construcao-social-do-fascismo-no-tempo-presente-organizado-por-karl-schurster-michel-gherman-e-oscar-ferreiro-vazquez/>.

Do Fake ao Fato: des(atualizando) Bolsonaro | Bruna Klem, Mateus Pereira e Valdei Araújo

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Bruna Klem, Mateus Pereira e Valdei Araújo | Imagens: SBTHH/Varia História/Twetter

Há três anos a editora Milfontes lançou o livro Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, organizado por Bruna S. Klem, Mateus Henrique de Faria Pereira e Valdei Lopes de Araújo. Uma leitura sem uso do fígado e do coração, após a vitória do Bolsonaro em 2018, serve à avaliação sobre o quanto os docentes das ciências humanas e sociais, representados naquele grupo de 16 autores, domina(va)m a respeito do tema.

Do fake ao fatoOs organizadores afirmam que o objetivo do livro é “pensar a história enquanto ela acontece”, afastando-se da ideia de que o presente se explica pelo próprio presente. Aqui emerge o filtro epistemológico e ideológico de dois deles, a categoria “atualismo” referido em três dos catorze textos que compõem a coletânea. Como recusa a um modo dominante e recente de relacionar-se com o tempo – a repetição do “status atual das sociedades capitalistas” (Pereira; Araújo), por exemplo –, os organizadores destacam os temas/questões do livro na introdução: a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, as desastrosas consequências do governo Bolsonaro e a natureza do bolsonarismo emergente e apoiador de Bolsonaro (Klem, Pereira e Araujo). Os organizadores, por fim, avisam que a sugestão do título não será cumprida, ou seja, não estão ali para esclarecer a verdade dos fatos. Leia Mais

Introdução aos estudos históricos | Lílian Lisboa Miranda

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Fernand Braudel | Imagem: Instituto Braudel

Os estudos sobre História da Historiografia costumam traçar uma cronologia acerca da institucionalização da História como ciência e como disciplina curricular na Europa. No livro Introdução aos estudos históricos, Lílian Lisboa Miranda segue essa estratégia, apresentando os principais conceitos e como eles foram desenvolvidos ao longo do tempo. Esse trabalho possibilita entender os caminhos que levaram à construção da disciplina História (de uma sociedade) com base no racionalismo europeu e na exaltação da ciência ocidental.

Introducao aos estudos historicosNo livro é apresentado o conceito de História como a ciência que produz conhecimento histórico. São destacados os procedimentos que precisam ser realizados pelo historiador para que o discurso seu produzido seja reconhecido cientificamente. Para o historiador desenvolver uma pesquisa é necessário observar os conceitos empregados no problema, na hipótese e no questionamento das fontes. Os conceitos históricos são fundamentais para identificar, descrever e classificar aquilo que se pretende conhecer. Além de mostrar as características de cada período historiográfico, a autora também contextualiza o ambiente histórico e aponta as motivações que embasam cada corrente teórica, sistematizadas por práticas e métodos em busca de especificidade.

Lilian Lisboa Miranda é Historiadora, Mestre e Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Docente do Centro Universitário Fundação Santo André, São Paulo. Atua no ensino superior em cursos de graduação em História, Ciências Sociais e pós-graduação. É também autora de livros didáticos, paradidáticos e universitários. Assessora e consultora para redes públicas e privadas de ensino.

O livro de Miranda estabelece um panorama de forma didática apresentando procedimentos e métodos para o ofício do historiador. É uma excelente contribuição aos colegas que ainda estão frequentando a graduação em História. Ele auxilia iniciantes quando informa sobre conceitos básicos, pois a sua linguagem é simples, direta e clara. A escrita da autora também possui a qualidade da boa progressão textual, pois lista a proposta de cada capítulo e as considerações finais. Além disso, emprega as conclusões do capítulo anterior na introdução do capítulo seguinte. Então, pensando ainda nos colegas de graduação, o livro dirime dúvidas clássicas a exemplo da categorização de “escola metódica” e “positivista” como escolas historiográficas, dentro de uma estrutura de livro didático.

No capítulo 1 – “O ofício do historiador” –, Lilian Miranda questiona o que é História e qual a sua importância. Destaca que há muito tempo essas questões perseguem e mobilizam historiadores que refletem sobre seu ofício e a importância da História. A autora medita sobre a História como campo do saber científico, caracteriza as especificidades do ofício do historiador e demonstra as principais contribuições realizadas por historiadores de diferentes escolas historiográficas. Para falar sobre o conceito de História como ciência, Miranda comenta as ideias de H. White, E. Carr, P. Veyne, M. Bloch e E. Hobsbawm. Concluí ressaltando que o conceito de História é histórico e se transforma com o tempo. A autora defende que a História é diferente de Literatura, apesar de alguns pensadores falarem da proximidade, pois a sua produção depende de evidências e critérios teóricos e metodológicos científicos.

No capítulo 2 – “História: recortes temáticos, usos e fontes documentais” –, a autora discute questões relacionadas ao ofício do historiador, sua prática e a produção do conhecimento histórico científico. Ela ressalta que a produção do conhecimento científico exige conceitos, fontes históricas, método crítico, recortes temporais, espaciais e temáticos. O capítulo também apresenta os conceitos de tempo e espaço. Destaca que esses conceitos são polissêmicos e transformados pelo tempo, e que é tarefa básica tanto para o pesquisador quanto para o professor de História usar os conceitos históricos adequadamente. Miranda conclui o debate do capítulo afirmando que a História, enquanto prática e produção de conhecimento, possui uma série de procedimentos que precisam ser realizados pelo historiador para que seu discurso seja reconhecido cientificamente.

No capítulo 3 – “Conceitos fundamentais do fazer histórico” –, a autora aprofunda o debate sobre os principais conceitos utilizados pelos historiadores em sua prática, tais como: tempo, espaço, sujeito histórico, processo histórico e cultura. Ela também ressalta que os conceitos são ferramentas úteis para orientar a reflexão a partir de diferenças entre modelos conceituais e as realizações da realidade histórica. Além disso, aponta a importância de reconhecer os conceitos como algo imprescindível na produção do conhecimento histórico, tanto nas pesquisas acadêmicas quanto no espaço histórico escolar.

No capítulo 4 – “Escola Metódica” –, Lilian Miranda define o que é uma escola historiográfica, listando seus termos teóricos, temáticos e metodológicos. Ela informa que cada escola possui sua visão sobre o ofício do historiador, o universo histórico, ou seja, cada escola representa um paradigma. A autora estabelece a Europa como referência para o nascimento da ciência histórica no século XIX, sob a influência do positivismo e do historicismo e seus principais autores. Convém ressaltar que a autora diferencia o positivismo da escola metódica, alertando sobre o erro comum entre alguns historiadores que tratam os dois como sinônimos. Ela opõe-se a isso. Também conta que a escola metódica é a responsável por transformar o saber antigo da História em um conhecimento científico, realizado por profissionais nas universidades e pela sua difusão.

No capítulo 5 “O historicismo”, aborda essa corrente de pensamento histórico que se desenvolveu no século XIX, pelos recém-formados Estados nação, principalmente na Alemanha. Ela expõe que não é uma tarefa simples definir o historicismo, pois há, entre os especialistas, diferentes entendimentos. Para alguns teóricos, o historicismo é um método de escrever a História, outros consideram que é uma visão de mundo fundamentada em uma filosofia da História com implicações políticas. Miranda expõe que essa corrente de pensamento historiográfico surgiu em meio ao processo de formação do estado unificado alemão no século XIX e se contrapôs ao projeto universalista positivista francês.

No capítulo 6, “Materialismo histórico-dialético”, a autora discute a vertente historiográfica do materialismo histórico. Ela chama atenção para a importância dessa corrente de pensamento para a História e as Ciências Humanas e adverte sobre a complexidade teórica dessa vertente historiográfica, propondo-se apenas a tratar das ideias centrais.

Miranda reconhece Karl Marx e Friedrich Engels como criadores do materialismo histórico decorrente das transformações na Europa, no final do século XVIII e no XIX, em meio a era industrial. Também conta que uma das contribuições trazidas pelo materialismo histórico foi a ideia de que uma teoria só pode ser devidamente compreendida e apreendida quando está relacionada à prática histórica. Além disso, expõe a crise do marxismo no final do século XX, declarando que teóricos das Ciências Humanas têm buscado rever pontos da teoria do materialismo histórico para examinar questões que afligem as sociedades contemporâneas.

Marx e Engels teoria e pratica sempre andaram juntas Imagem IELA

Karl Marx e Friedrich Engels – teoria e prática sempre andaram juntas | Imagem: IELA

No capítulo 7, “Estruturalismo e escola dos Annales”, a autora reflete sobre a renovação historiográfica realizada pela escola dos Annales, seus pressupostos e “combates”, as especificidades das diferentes fases do movimento e os questionamentos trazidos pelo estruturalismo à História e a “resposta” fornecida pelos historiadores. Informa que o estruturalismo se desenvolveu no final do século XIX e início do XX, como corrente de pensamento que busca entender de que maneira o conhecimento se processa naquela área. Claude Lévi-Strauss criticou as Ciências Humanas, principalmente a História, ao vê-la deficiente em seus métodos, não podendo ser considerada uma ciência. Fernand Braudel respondeu à crítica por meio  do artigo “A longa duração”, escrito em 1948, na revista dos Annales, cuja escola correspondente é dividida em três fases: a primeira começa no início do século XX, com Lucien Febvre e Marc Bloch, que atuaram na edição e publicação da revista dos Annales, difundindo uma nova abordagem interdisciplinar da História no campo econômico e social. A segunda fase acontece após a publicação da obra Apologia da história ou o ofício do historiador, de Marc Bloch em 1944. Braudel tornou-se o sucessor de Lucien Febvre na liderança dos Annales, trazendo e inovações para a História, como uma nova forma de conceber o tempo e a valorização da cultura material. Esses seriam os aspectos básicos a serem compreendidos no estudo das civilizações ao longo do tempo. A terceira fase foi marcada pela geração de historiadores que se veem como herdeiros dos Annales. Não há um líder destacado, mas nomes importantes como Jacques Le Goff, George Duby, Jean-Claude Schmidt. O interesse do grupo era bastante vasto e alguns migram da história socioeconômica para o domínio sociocultural, outros para a história política e à narrativa histórica.

No capítulo 8, “Pós- Modernismo e História global”, Lilian Miranda delimita as principais correntes historiográficas que se estabeleceram em fins do século XX: a Nova História, o pós-modernismo e a vertente História global. Ressalta que a Nova História tem levantado controvérsias entre os historiadores. Alguns entendem que a escola faz parte dos Annales, outros defendem a sua especificidade. Ela analisa a Nova História ligada aos grupos da terceira e da quarta geração da escola dos Annales. Apresenta os finais dos anos 1960, momento de mudanças e a abertura de novas possibilidades e entendimentos na historiografia voltados para o universo da micro-história, como um marco para o surgimento dessa corrente. A autora compreende que integrantes da Nova História se dedicaram à modalidade da História das mentalidades e o interesse voltado para os aspectos da vida social e cultural. Em relação ao pós-modernismo é uma tarefa árdua apresentar uma definição, pois, entre os autores das Ciências Humanas, não há concordância quanto a isso. Miranda entende que o pós-modernismo seria um campo ou um circuito cultural, uma forma assumida pela cultura contemporânea, situando o pós-modernismo como fruto do mundo após o fim da Segunda Guerra Mundial e o surgimento de uma sociedade globalizada. O pós-modernismo, por fim, rejeita uma história total, enquanto a História global vai se voltar para certas regiões do planeta numa tentativa de produzir um conhecimento não eurocêntrico.

Não obstante ser um manual de formação inicial, o livro apresenta problemas de planejamento e execução da escrita e de comunicação dos elementos básicos de um trabalho científico. Considerando a destinação da obra, percebemos que o projeto editorial dificulta a busca imediata de autores e conceitos. Carece de índices remissivos, que evitem a leitura integral de um capítulo e busca de uma ou outra referência de demanda imediata.

Não bastasse essa falta, o livro não tem introdução. Isso, inicialmente, o torna confuso e não permite entender a proposta que a autora vai desenvolver ao longo da obra, embora, em cada capítulo, ela apresente um breve panorama do tema que será abordado. Pensamos ser um problema típico de arquitetura da informação/plano geral da obra, visto que também não há conclusão, o que deixa a impressão de ser um mero resumo ou relato das principais correntes historiográficas europeias. É certo que, em cada capítulo, Lilian Miranda apresenta a síntese da temática abordada, contudo, incorrendo no mesmo equívoco inicial, a obra não tem conclusão.

Como manual didático para alunos de graduação, o livro também é falho em termos de método. Não é apresentada a questão central do que será tratado ao longo da obra e para compreender o objetivo do livro é necessário lê-lo por completo. Também está ausente no livro o método utilizado na pesquisa, as fontes/autoridades, diálogo com a literatura especializada. O único autor citado, em termos de corrente historiográfica, é José D’Assunção Barros, que é um vulgarizador da ciência histórica.

Apesar dos erros crassos que apresenta, a obra pode ser lida tanto pelos alunos de graduação em História com por professores da educação básica, pois apresenta informações objetivas em relação ao ofício do historiador. Podemos citar, como exemplo, o reconhecimento dos conceitos como algo imprescindível na produção do conhecimento histórico e a ideia de que a História enquanto ciência é um saber produzido com base em procedimentos e métodos. Por essas razões, inclusive, a leitura desta obra evidencia a necessidade da discussão dos usos dos conceitos na prática pedagógica. Na condição de professores de História, aprendemos que é necessário atuar na defesa e no fortalecimento do ensino de História pautado no uso de procedimentos e métodos específicos à nossa ciência.

 Sumário de Introdução aos estudos históricos

  • Capítulo 1. O ofício do historiador
    • 1. A História e as suas muitas acepções
    • 2. Os primórdios da história da História
    • 3. Os múltiplos entendimentos sobre a História
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 2. História: recortes temáticos, usos e fontes documentais
    • 1. Instrumentos do trabalho do historiador
    • 2. Fontes históricas e o trabalho do historiador
    • 3. Usos da História
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 3. Conceitos fundamentais do fazer histórico
    • 1. O que é um conceito histórico?
    • 2. Conceitos históricos mais usuais
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 4. Escola metódica
    • 1. O que é uma escola historiográfica?
    • 2. Panorama histórico do século XIX e o positivismo
    • 3. A escola metódica
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 5. O historicismo
    • 1. O século da história e o contexto histórico na Alemanha na criação do historicismo
    • 2. Origens e definição do historicismo
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 6. Materialismo histórico
    • 1. Karl Marx e Friedrich Engels: contexto histórico
    • 2. Princípios fundamentais do materialismo histórico
    • 3. Renovação do pensamento marxista
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 7. Estruturalismo e escola dos Annales
    • 1. A escola dos Annales: a primeira fase
    • 2. A segunda fase dos Annales
    • 3. A terceira geração dos Annales
    • 4. Estruturalismo e os Annales
    • Considerações finais
    • Referências
  • Capítulo 8. Pós-modernismo e História global
    • 1. Nova História
    • 2. O pós-modernismo
    • 3. História global
    • Considerações finais
    • Referências
  • Sobre a autora

Resenhistas

Bruno da Silva SantanaBruno da Silva Santana é professor de História na Escola Estadual Xingó II (Piranhas/AL), mestrando em Ensino de História (ProfHistoria/UFS) e atuou como representante estudantil no PAAF-UFS colaborando com o projeto que instituiu o sistema de cotas na UFS. Entre outros trabalhos, publicou texto na coleção “Caminhadas de universitários de origem popular”. Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/5011284884643428. Orcid https://orcid.org/0000-0001-8474-1292. Rede social Instagram @bruno_historia; E-mail: bruno_silva@academico.ufs.br

Katia Maria S. LeiteKátia Maria S. Leite é professora de História do Ensino Fundamental no Colégio Amadeus (Aracaju-SE) e mestranda em Ensino de História (ProfHistória/UFS). Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/4386970258304180; Orcid: https://orcid.org/0000-0002-9400-4779; Redes sociais: Instagram @leite2243; E-mail: kmleite@yahoo.com.br.

 

 


Para citar esta resenha

MIRANDA, Lílian Lisboa. Introdução aos estudos históricos. Cidade: São Paulo: Editora Senac, 2021. 118p. Resenha de: SANTANA, Bruno da Silva; LEITE, Kátia Maria S. A História como Ciência. Crítica Historiográfica. Natal, v.2, n.7, set./out., 2022. Disponível em <https://www.criticahistoriografica.com.br/a-historia-como-ciencia-resenha-de-introducao-aos-estudos-historicos-de-lilian-lisboa-miranda/>

Ensino de História: mídias digitais e o uso das imagens nos livros didáticos | Patrícia Cavalcante, Raimundo Nonato Castro e Leonardo Castro Novo

Detalhe de capa de Ensino de Historia midias digitais e o uso das imagens nos livros didaticos Imagem Galatea of the Spheres de Salvador Dali 1952
Detalhe de capa de Ensino de História mídias digitais e o uso das imagens nos livros didáticos Imagem Galatea of the Spheres, de Salvador Dali (1952)

O livro Ensino de História: mídias digitais e o uso das imagens nos livros didáticos, organizado por Patrícia Cavalcante, Raimundo Nonato de Castro e Leonardo Castro Novo, é uma coletânea de experiências de diferentes profissionais do ensino. O livro é organizado em dois capítulos que trazem os relatos e ideias dos autores sobre o ensino presencial e as imagens nos livros didáticos, discutidos de forma plural, de modo a possibilitar um diálogo entre leitor e escritor.

Ensino de historia Midias digitaisAmbos os capítulos têm sua origem nas discussões da 12.ª edição do Encontro de História da Associação Nacional de História (ANPUH-Pará), em formato virtual sob o tema: “Passado e Presente: os desafios da história social e do ensino de história”. Realizado entre os dias 2 a 4 de dezembro de 2020, o evento discutiu as problemáticas ligadas ao ensino e à pesquisa histórica, associados à especialidade da história social. Leia Mais

Objetos Digitais de Aprendizagem: uma nova abordagem para o ensino de história | Renato Fontes de Souza

Banner da conta de Renato Souza no Linkdin. Catalan Map of Europe and North Africa presented to Charles V of France in 1381 de Abraham Cresques Imagem Meisterdrucker
Banner da conta de Renato Souza no Linkdin. Catalan Map of Europe and North Africa, presented to Charles V of France in 1381, de Abraham Cresques | Imagem: Meisterdrucker. No detalhe, Renato Fontes de Souza | Imagem: Linkedin

O livro Objetos Digitais de Aprendizagem: uma nova abordagem para o ensino de história foi escrito por Renato Fontes de Souza e publicado no ano de 2021, pela Editora Dialética. Como o próprio título sugere, o livro discute o uso de objetos digitais de aprendizagem, entendidos como recursos digitais que podem servir de ferramentas didáticas e apoiar a prática pedagógica de professores e alunos dentro e fora da sala de aula tradicional, a exemplo de animações, vídeos e jogos. No livro, o autor questiona: quais critérios os professores de História podem empregar para selecionar objetos de aprendizagem de História do Brasil para o Ensino Médio? Seu objetivo, contudo, não é indicar objetos digitais, mas sim, apontar os parâmetros que os professores de História podem usar para selecionar objetos digitais de aprendizagem que subsidiem o ensino/aprendizagem de História do Brasil no Ensino Médio, ajudando na construção de uma prática docente significativa para o aluno.

Objetos Digitais de AprendizagemRenato Fontes de Souza é mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) e docente de História na educação básica há mais de 15 anos. A obra é o resultado de pesquisa de Mestrado no âmbito do Programa de Pós-graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e está disponibilizada tanto na versão impressa quanto na digital. Nesse formato, organiza-se em quatro capítulos, subdivididos em vários tópicos e subtópicos (além da introdução e apresentação do problema, objeto e objetivos da pesquisa). Leia Mais

Olhar Negro: patrimônio, museu e cultura afro-sergipana no campo do ensino de História | Marcelo Santos

Museu de Arte Sacra de Sao Cristovao SE Imagem Abrajet 2
Museu de Arte Sacra de São Cristóvão – SE | Imagem: Abrajet

A Lei 10639/03 tornou obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira, ampliando os desafios para o professor que deve pensar meios para implementação desse dispositivo, associando-o a outras temáticas e incorporando outras metodologias. Alguns autores defendem que uma maneira, para isto , é repensar o currículo que precisa ser de(s)colonizado. O professor Marcelo Santos, no seu Olhar Negro: patrimônio, museu e cultura afro-sergipana no campo do ensino de História (2021), nos presenteia com um grande passeio envolvendo esses quatro campos: Ensino de História, História, Cultura Afro-brasileira e Patrimônio. Assim, a obra é uma grande contribuição para os professores de História e demais interessados na lida com o patrimônio cultural, pois por meio dela vemos as irmandades, as devoções preferidas como a citada Nossa Senhora do Rosário e percorremos os corredores do Museu de Arte Sacra da bela cidade de São Cristóvão, em Sergipe. Assim, podemos aprender e refletir sobre novos meios de ensinar História e Cultura Afro-brasileira.

Olhar negroO trabalho é estruturado em três capítulos, além de introdução e considerações finais. No primeiro – “O museu como recurso didático: museologia e historiografia na prática do ensino da cultura afro-brasileira” –, Santos descreve as possibilidades do Museu de Arte Sacra de São Cristóvão (MASC) enquanto recurso didático para o ensino de História e Cultura Afro-brasileira, por meio dos objetos musealizados e das Irmandades que atualmente se encontram no acervo da instituição. Santos dialoga com alguns autores das áreas da Museologia e do Patrimônio, a exemplo de Cristina Bruno e Maria Célia Teixeira. Para isso, discorre sobre a história dos museus e sobre o museu como um espaço de educação escolar e não escolar, enfatizando a importância sobre o primeiro. No segundo capítulo – “Novos caminhos: patrimônio religioso e a cultura afro-sergipana” –, a meta de Santos é elaborar um itinerário por meio de igrejas que, inclusive, abrigaram Irmandades na cidade de São Cristóvão, tendo como referência espaços que contribuam com o ensino de Cultura Afro-brasileira. Lembra ao professor a necessidade de uma visita prévia e coloca algumas questões para a reflexão sobre a viabilidade da visita de estudos. Ele insere no Itinerário a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, Nossa Senhora do Amparo, Igreja da Ordem Terceira e o Convento do Carmo, Igreja de Nossa Senhora da Vitória, Irmandade da Santa Casa da Misericórdia e Igreja e Convento de São Francisco. Esse percurso seria realizado antes de o discente entrar no MASC, abrigado na Igreja da Ordem Terceira de São Francisco. O autor justifica o motivo da presença de cada instituição no itinerário pela história do templo ou ainda por alguma imagem que esteja no MASC. No entanto, o Templo de Nossa Senhora da Vitória merecia uma melhor dedicação na justificativa. Santos conclui o capítulo afirmando que, por meio do itinerário proposto, é possível observar, na cidade, registros da vivência da população afro-sergipana, e que essa é também uma atividade “sensorial”. O autor também poderia ter inserido as praças no itinerário já que Serafim Santiago menciona locais em que mulheres negras vendiam seus quitutes. Leia Mais

Epistemología e Historia de la Ciencia. Córdoba, v.6, n.2, 2022.

Artículos

Reseñas

Publicado: 19-09-2022

Cultura material de la ciencia Iberoamericana: museos, jardines y gabinetes científicos | História, Ciências, Saúde – Manguinhos | 2022

Capa de Historia Ciencias Saude – Manguinhos. Rio de Janeiro v.9 n.3 jul.set . 2022.
Capa de História, Ciências, Saúde – Manguinhos. Rio de Janeiro, v.9, n.3, jul./set. 2022.

Recientemente, historiadores de la ciencia en Iberoamérica han empezado a reflexionar sobre el papel y la participación de la región en la ciencia global. Han destacado su rol en la construcción progresiva de una cultura científica materializada a través de diversos agentes e instituciones públicas. Hemos querido tomar parte en estas reflexiones mediante la presentación de un dossier sobre la cultura material de la ciencia en este espacio geográfico concreto.

El simposio “Visual, Material and Sensory Cultures of Science”, organizado dentro del 9th Conference of the European Society for the History of Science, llevado a cabo entre el 31 de agosto y el 3 de septiembre de 2020 en Bolonia, Italia, fue la instancia de colaboración e intercambio de ideas que dieron vida a cada uno de los artículos que aquí se presentan. Con la producción de este dossier, esperamos fortalecer una red de investigadores regionales sobre los estudios de historia de la ciencia y su proyección a diferentes temas como la producción, circulación e intercambio de colecciones, artefactos y conocimientos en torno a gabinetes, museos, instituciones educativas y científicas en América Latina y la Península Ibérica. Leia Mais

The gray zones of medicine, healers and history in Latin America | Diego Armus e Pablo Gómez

Detalhe de capa de The gray zones of medicine healers and history in Latin America
Detalhe de capa de The gray zones of medicine, healers and history in Latin America

En los últimos años, los historiadores sociales de la medicina se han interesado en las ideas y prácticas de la medicina no oficial, a veces llamada medicina popular, mostrando la inestabilidad de la medicina ortodoxa occidental defendida por profesionales formados y celebrados en las universidades (Farias, 2012Buisan, 2019; Hernández Berrones, Palma 2019; Sowell, 2001). Estos estudios demuestran que no existió una sola medicina popular, indígena o afroamericana, tampoco existió un solo tipo de practicante (podían ser curanderos, hueseros, parteras, homeópatas, herbolarios, creadores de remedios mágicos, o una combinación de lo anterior) y que estos podían tener un rol importante fuera de la medicina. Podían ser líderes entre las personas esclavizadas, conocidos vendedores de remedios y otras mercancías, líderes religiosos y hasta políticos. Desde un punto de vista metodológico, estos estudios han consolidado nuevas formas de investigación como la historia oral, la búsqueda sistemática de informaciones en noticias periodísticas o la indagación en los archivos para trabajar con los juicios. De esta manera, han permitido registrar las opiniones no oficiales sobre la salud y las epidemias que generalmente no aparecen en los materiales impresos de la época o en las fuentes primarias más convencionales de las instituciones médicas oficiales.

Este libro (Armus, Gómez, 2021) viene a enriquecer esta literatura con una serie de ensayos sobre diversos personajes en Argentina, el Caribe, Colombia, Guatemala, México, Perú, la República Dominicana y Brasil. En términos temporales, los estudios cubren desde el periodo del siglo XVII hasta la actualidad. Los editores del libro y los autores de los capítulos son distinguidos historiadores latinoamericanos y norteamericanos que ya han producido trabajos importantes en esta área de estudios. Todos los personajes que aparecen en los capítulos son figuras fascinantes y es importante destacar la participación de mujeres. Muchos de ellos eran itinerantes, se preocuparon más de la legitimidad popular de sus intervenciones que de las aprobaciones del poder, tuvieron una importancia fundamental en la resistencia a la esclavitud, explotación y discriminación y mantuvieron generalmente una estrecha relación con la religión. Según los editores, los personajes estudiados desafiaron el control y la persecución por parte de autoridades políticas y eclesiásticas quienes a veces los toleraban y en otras ocasiones no dudaron en condenarlos moralmente y en criminalizarlos. Como resultado, el conocimiento sobre el cuerpo humano y la enfermedad en la sociedad fue ambiguo, resbaladizo, incoherente y hasta contradictorio. Leia Mais

História da mineração brasileira | Iran F. Machado e Sílvia Figueirôa

Mapa de Vila Rica atual Ouro Preto centro da mineracao no Brasil no seculo XVIII feito em 1779 por Jose Joaquim da Rocha Imagem Biblioteca NacionalRevista Pesquisa
Mapa de Vila Rica (atual Ouro Preto), centro da mineração no Brasil no século XVIII, feito em 1779 por José Joaquim da Rocha | Imagem: Biblioteca Nacional/Revista Pesquisa

História da mineração brasileira é percorrida por Iran Machado e Silvia Figueirôa em densas 732 páginas, repletas de informações e análises sobre essa história até hoje bem pouco conhecida e valorizada, mesmo no país. O livro traz detalhes de episódios cruciais dessa trajetória – “as pedras no meio do caminho” de Drummond –, mencionados e não esquecidos pelos autores.

Resultado de suas práticas e pesquisas sobre a geologia brasileira que levaram Iran e Silvia para o Instituto de Geociências da Unicamp, de onde surgiu essa parceria, entre outras, o livro traz mais de 80 páginas de referências bibliográficas, apontando aspectos dos caminhos trilhados, para aqueles que quiserem saber por onde conduzir novos trabalhos. É impossível dar conta de comentar aqui a riqueza das 154 figuras, das 49 tabelas, dos 35 quadros ou dos diversos boxes, que longe de meras ilustrações facilitam a compreensão das situações políticas, econômicas, sociais, técnicas, que abrangem desde os famosos bandeirantes caçadores de escravos indígenas (Machado, Figueirôa, 2020, figura 19) até os maiores desastres ambientais causados pela mineração (quadro 32) ou a imagem da busca de sobreviventes em Brumadinho (figura 133). Tampouco é possível chamar a atenção para todos os detalhes e análises dessa história “lúcida e atraente” como Rogério Cerqueira Leite adianta no prefácio que abre os cinco capítulos em que se organiza a publicação. Leia Mais

La sombra de la sospecha: peligrosidad/ psiquiatría y derecho en España (siglos XIX y XX) | Ricardo Campos

Ricardo Campos Foto M.G.Diario de Sevilla
Ricardo Campos | Foto: M.G./Diario de Sevilla

Entre las penurias que dejó a su paso la pandemia de covid-19, el tiempo de encierro y la tragedia, también nos trajo una buena noticia como la aparición del libro de Ricardo Campos (2021), al cual pasaremos a referirnos. Se trata de un trabajo que amplía la vasta producción de su autor dentro del campo de la historia de la medicina, abordando ahora un objeto de larga duración que tiene su sustento en una sólida perspectiva cultural de la ciencia. Dentro de este planteo, el lector podrá sumergirse, a través de una narrativa amable, en ideas complejas que interpelan los vínculos entre saber y poder en España durante un período que se extiende desde mediados del siglo XIX hasta el final del franquismo.

Puede señalarse que los cruces constituyen el rasgo distintivo de un texto cuyo punto de partida queda planteado en el subtítulo al colocar un problema, el de la peligrosidad, entre dos disciplinas, la psiquiatría y el derecho. A partir de allí comienzan a desplegarse sucesivos cruces, que incluyen la vocación por integrar a un campo de debate trasnacional, identificados con mucha agudeza en España. Leia Mais

The Politics of Humiliation: A Modern History | Ute Frevert

Ute Frevert Imagem Prospect Magazine
Ute Frevert | Imagem: Prospect Magazine

In this informative book, Ute Frevert examines shame and shaming during the early modern and modern periods, mostly in Germany and Britain, but in other European countries as well. It is based upon her German book, Die Politik der Demütigung: Schauplätze von Macht und Ohnmacht, published in 2017.

One of this new book’s merits is the broad concept of shaming Frevert adopts, which includes not only blatant acts of humiliation such as dunce caps and pillories, but also interactions in which people are forced into demeaning or deferential behaviour. Frevert clearly believes that shaming (defined in this way) has been expressed and experienced universally, not as a result of cultural diffusion, but primarily as a result of basic processes of human interaction. Thus, it has persisted, despite social and normative changes in our world, and will continue in the future. Leia Mais

Ahlan wa Sahlan: uma introdução aos mundos árabes | Karime Ahmad Borraschi Cheaito

Capa de Ahlan wa Sahlan uma introducao aos mundos arabes. Karime Ahmad Borraschi Cheaito Imagem Sheike Culinaria Arabe
Capa de Ahlan wa Sahlan: uma introdução aos mundos árabes. Karime Ahmad Borraschi Cheaito | Imagem: Sheike Culinária Árabe

Ahlan wa sahlan, 1 provavelmente “a primeira coisa que vocês ouvirão ao chegar em um país árabe ou ao entrar na casa de árabes”, é o título de recém lançada coleção de artigos sobre os ditos “mundos árabes”. 2 A obra não poderia ter timing mais pertinente, uma vez que o ano de 2021 foi marcado por três importantes fatos que se relacionam com o Oriente Médio: a efeméride dos 10 anos desde o início da Primavera Árabe; o marco de 20 anos do atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001; e o retorno do Talibã ao poder no Afeganistão.

Organizada por Karime Cheaito, a obra possui proposta multidisciplinar3 e reúne alguns dos grandes nomes brasileiros da pesquisa em ciências humanas sobre Oriente Médio. A proposta é apresentar dimensões dos “mundos árabes” para o público leigo de forma simplificada, mas não simplista. Cada artigo apresenta ao leitor um olhar verticalizado e bem embasado, deixando ensejos para pesquisas ulteriores, fornecendo bibliografia especializada, respaldando uma construção de conhecimento com leitura crítica sobre o Oriente Médio, e produzindo um panorama síntese para a abordagem da história, política e cultura destes povos sem tom generalista. Comumente, na grande mídia e veículos ou autores mais tradicionalistas, nos deparamos com exposições que tratam o Oriente Médio como um grande bloco homogêneo, ahistórico, primitivo. Isso não é fenômeno recente: como já afirma Edward Said, autor seminal para os estudos culturais e sobre o Oriente, já desde os fins do século XVIII os orientais são referidos como “mais ou menos a mesma coisa”. 4 Leia Mais

Maracanan. Rio de Janeiro, n.31, 2022.

Comemorações 2022 – memória, historiografia e novas perspectivas

Expediente

Apresentação

Seção Especial

Entrevistas

Dossiê

Artigos

Notas de Pesquisa

Nominata

 

 

Llamaradas de rebelión. Breve historia del anarquismo en Chile (1890-2000) | Eduardo Godoy Sepúlveda

Eduardo Godoy Sepulveda Imagem Editorial Eleuterio
Eduardo Godoy Sepúlveda | Imagem: Editorial Eleuterio

Es probable que cada vez que leemos en la prensa oficial sobre anarquismo, resulta común asociarlo a hechos de violencia, terrorismo, delincuencia o incoherencia política, vale decir, es frecuente en el debate público, el uso de prejuicios o tipificaciones de carácter peyorativo que se han vinculado al anarquismo y a los(as) anarquistas. De igual modo, la historiografía social no ha estado ajena a estas reducidas interpretaciones sobre el pensamiento libertario, ejemplo de ello, son los reconocidos planteamientos de Eric Hobsbawm, al considerar el anarquismo en términos de ideología, teoría y programas con un valor marginal, tendiente al fracaso, dónde su atractivo, se explica a consecuencia de la crisis del movimiento comunista mundial y, como malestar, entre intelectuales de una época donde factores históricos en los países desarrollados no hacen posible la revolución2. De esta forma, parte del conocimiento historiográfico ha posicionado la experiencia libertaria y sus protagonistas en un rol secundario en el campo social. Quizás esto se deba, porque la reconstrucción de los procesos históricos, ha sido elaborada por historiadores militantes que tienden a resaltar los proyectos partidarios que han disputado la conducción y liderazgo de los movimientos sociales. Por ello, desarrollar una reconstrucción histórica de esta experiencia, suscita una serie de desafíos tanto teóricos como metodológicos, que replanteen (y supere) estas miradas reduccionistas, posicionando al anarquismo en su multiplicidad temporal de práctica política contra la dominación. De esta manera, Llamaradas de rebelión… contribuye en este ejercicio de aportar conocimiento historiográfico sobre la experiencia libertaria, dando cuenta de sus discusiones, tensiones y reconfiguraciones que el anarquismo de la región chilena ha desarrollado desde su aparición a fines del periodo decimonónico y durante todo el siglo XX.

Así mismo, reconocemos que el trabajo del Historiador Eduardo Godoy, otorga el rescate de la historia/memoria del anarquismo criollo y, al mismo tiempo, posicionar la vigencia de sus propuestas de transformación (radical) que exceden lo político-económico y que abarcan lo social, cultural y moral. De este modo, la pregunta que surgió en momentos iniciales al hacer lectura de este trabajo, se relaciona con su aspecto temporal; ¿Es posible reconstruir una historia del anarquismo pensada en clave de “larga duración”? Ante ello, resulta pertinente la declaración metodológica que emite el autor, pues señala que su investigación, no pretende ser una “historia oficial” del anarquismo en Chile, por el contrario, busca constituirse como una interpretación más entre muchas otras sobre su trayectoria histórica, lo cual conduce como todo ejercicio metodológico, seleccionar o dejar fuera (deliberadamente) procesos, debates, coyunturas y personajes. También, pretende “poner a disposición”, conocimiento histórico a un público que exceda el especializado, permitiendo a quienes se introduzcan en esta línea investigativa, identificar las diversas experiencias del movimiento libertario criollo, dando cuenta, algunas de sus múltiples expresiones históricas y de las luchas concretas que reivindicaron/propagaron tanto militantes, así como también sus colectividades. Leia Mais

Ensino de Geografia. Recife, v.5, n.3, 2022.

Artigo Científico

Los chalecos amarillos. Un retador movimiento popular | Carlos Alonso Reynoso

Los manifestantes que visten chalecos amarillos
Los manifestantes que visten chalecos amarillos se manifiestan contra el aumento de los precios del combustible y por el deterioro de las condiciones económicas (París, 15/12/2018) | Foto: Elyxandro Cegarra/Agencia Anadolu.

No es la primera vez que reseño un material de este autor, considero que el proceso de leer a los colegas siempre será benéfico para la producción académica y para la construcción de nuevos análisis sobre una línea de investigación a la que he dedicado mi carrera: los movimientos sociales. La historia y el proceso del movimiento des Gilets Jaunes es bastante interesante, su irrupción, su devenir, su asociación con el movimiento Nuit Debout y la utilización de repertorios de acción colectiva que rompen con lo convencional que lo visualizan como un movimiento sin parangón en Francia. Vale la pena, exponer que tanto el proceso político del movimiento Noches en Pie (como fue conocido el Nuit Debout) como el del movimiento de los Chalecos Amarillos no es algo que sea desconocido para el autor de esta reseña dado que se ha trabajado el tema con anterioridad (Lopez, 2019 y 2020).

Asimismo, se advierte que esta reseña ha sido formulada a través de varios contrapuntos formulados entre los posicionamientos del autor del libro y los posicionamientos del autor de esta reseña. He decidido dividirlo en cuatro segmentos: el primero de ellos radica en “la forma y el fondo de la acción colectiva”, el segundo versa sobre “similitudes y diferencias con otros movimientos sociales”, el en el tercero se toca “el problema de la institucionalización” al seno del movimiento y, por último, el cuarto trata de enfatizar “la influencia y por venir” del movimiento des Gilet Jaunes. Leia Mais

Disputar la cultura: Arte y transformación social | Julieta Infantino

Julieta Infantino Imagem Scoopnest
Julieta Infantino | Imagem: Scoopnest

Esta reseña realiza un recorrido por el texto “Disputar la cultura: Arte y transformación social en la Ciudad de Buenos Aires” publicado en el año 2019. El mismo está editado por Julieta Infantino y cuenta con ocho capítulos con aportes de ella misma y de Josefina Cingolani, Camila Mercado, Mariana Moyano, Verónica Tallelis, Maia Berzel y Ana Echeverría. Estas autoras tienen distintas inscripciones académicas en universidades de la ciudad de Buenos Aires y en sus cercanías y también cuentan con trayectorias de investigación en distintos espacios artísticos.

Este libro presenta algunas de las preguntas que, según la editora, se vienen dando en el campo de las artes y la transformación social. En ese sentido, los interrogantes de quienes trabajan en esos ámbitos se encuentran reflexionando sobre las posibilidades, limitaciones, disputas, conflictos y entramados políticos del arte como herramienta de transformación social. Leia Mais

No Tempo da Independência | Projeto História | 2022

Prospecto da Fortaleza de Sao Joaquim Rio Branco Fonte Fereira 1971 p.67 2
Prospecto da Fortaleza de São Joaquim, Rio Branco | Fonte: Fereira, 1971, p.67

O número 74 da Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História, da PUC/SP, traz a público o dossiê intitulado No Tempo da Independência. A revista, seguindo modernas políticas editorias, sempre com dois pareceristas às cegas, cujos pareceres são respeitados, dá sequência com novo dossiê, aberto a pluralidade teórica, regional e temática.

Abrimos o dossiê com o artigo de José Rogério Beier, pesquisador de pós-doutorado do Museu Paulista-USP, cujo título é Do sertão para o mar: o papel do Rio de Janeiro na “atlantização” da economia paulista nos tempos da Independência. Nele o autor busca refletir sobre a importância da praça mercantil do Rio de Janeiro no longo processo de “atlantização” da economia paulista, iniciado ainda em 1765, com a chamada restauração da capitania de São Paulo, mas que se viu grandemente impulsionado pela chegada da corte na então capital da América portuguesa em 1808. Nesse sentido, Beier busca relacionar a consolidação da lavoura canavieira exportadora na região do planalto paulista, a oeste da capital, à formação de um subsistema de comércio terrestre-marítimo responsável por comunicar as áreas produtoras até os portos de Santos e do Rio de Janeiro. Leia Mais

Projeto História. São Paulo, v.74, 2022.

pROJETO HISTORIA3

MAI/AGO: NO TEMPO DA INDEPENDÊNCIA

Apresentação

Artigos Dossiê

Artigos livres

Resenhas

Publicado: 2022-09-01

 

Mulheres, gênero, feminismos: a reescrita da história a partir do Sul global/ Temporalidades/2022

Em 2008, Joan Scott redigiu um ensaio introdutório para um conjunto de textos originalmente apresentados em um fórum promovido pela American Historical Review para marcar os 20 anos de publicação de seu influente artigo Gênero: uma categoria útil de análise histórica. 1 Sob um título que poderia ser traduzido como Perguntas não respondidas, a conhecida historiadora estadunidense se voltou para a própria trajetória e avaliou o impacto que suas teorizações sobre o gênero e a diferença sexual haviam tido ao longo dessas duas décadas – em um caso raro, diga-se de passagem, de reflexão teórica feita no âmbito da história disciplinar que foi “exportada” para outros setores das humanidades. Scott abriu o balanço crítico dos destinos de seu trabalho mais conhecido com uma expressão de descontentamento perante o fato de que, em 1986, quando submeteu ao mesmo periódico o artigo então celebrado, ela fora obrigada a alterar seu título. A autora queria que o texto se apresentasse ao público não com uma afirmação contundente, mas com um questionamento sobre a utilidade do conceito de gênero – um questionamento cuja resposta não poderia e não deveria ser conhecida de antemão. A revista alegou, porém, que não permitia o emprego de pontos de interrogação nos títulos, e o artigo terminou publicado despido de parte de sua força retórica (SCOTT, 2008, p. 1422), sob uma designação em certa medida contraditória com seus propósitos. Leia Mais

Doenças, higiene e insalubridade urbana na América Latina (séculos XIX e XX) | Revista Brasileira de História & Ciências Sociais/2022

Imagem Lucas Braga RilkertRevista Brasileira de Historia Ciencias Sociais
Imagem: Lucas Braga Rilkert/Revista Brasileira de História & Ciências Sociais

O Dossiê intitulado “Doenças, higiene e insalubridade urbana na América Latina (séculos XIX e XX)” foi produzido no contexto da Pandemia de Covid-19 e carrega as marcas de uma experiência epidêmica que provocou mudanças no comportamento social.

Na etapa inicial da Pandemia – quando o esforço dos maiores centros de pesquisa do mundo estava voltado para a experimentação e na produção de vacinas, a Organização Mundial de Saúde (OMS) insistiu na importância de medidas sanitárias como o isolamento social e de higiene para conter a circulação do vírus. Simultaneamente, e com a mesma finalidade, autoridades sanitárias nacionais e/ou regionais recomendaram medidas profiláticas como a proibição do velório de vítimas da Covid-19, o fechamento de fronteiras, o isolamento de infectados e dos suspeitos de infecção, a proibição de aglomerações sociais e a higienização de ambientes e objetos supostamente contaminados, dentre outras. Leia Mais

História e Luta de Classes. v.18, n.34, set. 2022.

Brasil: 200 anos de Independência

Apresentação

DOSSIÊ 200 anos de Independência

ARTIGO

RESENHAS

01/09/2022.

Independências: 200 anos de história e historiografia/Acervo/2022

Em 2022 completaram-se 200 anos da(s) Independência(s) do Brasil. Datas marcantes costumam ser oportunidades instigantes para comemoração e reflexão. Afinal, transformam-se em uma oportunidade para revisitar temas e renovar olhares, interpretações e abordagens sobre eles. No caso dessa efeméride, foi o que aconteceu, dentro e fora da academia. Teses e dissertações, exposições, livros, sítios eletrônicos, seminários e simpósios, textos e um sem-número de artigos científicos foram produzidos ao longo deste ano (e ainda deverão continuar a ser publicados nos próximos), trazendo à tona antigas questões, mas fornecendo novos encaminhamentos e novas roupagens. Leia Mais

Novos paradigmas de desenvolvimento para a América Latina: (re)emergência étnica e resistência indígena no tempo presente | Revista Transversos | 2022

Servico de Protecao aos Indios. Criancas Parintintins ouvindo gramofone Posto Antonio Paulo 1926 Imagem Arquivo Nacional
Serviço de Proteção aos Índios. Crianças Parintintins ouvindo gramofone, Posto Antônio Paulo, 1926 | Imagem: Arquivo Nacional

A urgência de um debate sobre o modelo de desenvolvimento implementado na América Latina vem sendo pautada por movimentos sociais com liderança dos povos originários. Esses movimentos têm alcançado recentemente plataformas políticas importantes, fazendo com que as pautas dos movimentos étnicos estejam na ordem do dia em toda a América Latina. O processo de formação de uma nova Constituinte no Chile, em especial, vem mostrando as possibilidades de aplicação do pensamento anti-colonial e decolonial na política a partir da defesa de um novo modelo econômico e de sociedade baseado na ideia do bem viver. Além disso, no Brasil os povos originários vêm sendo importantes atores políticos a evidenciar o esgotamento do modelo de desenvolvimento econômico baseado apenas na exploração do meio ambiente.

O processo de (re)emergência étnica consiste em elemento central na configuração do atual cenário político latino-americano. Embora desde meados da década de 1950 muitos Estados republicanos tenham incorporado os indígenas formalmente à categoria de “cidadãos”, tal mudança baseou-se a princípio na conversão destes em mestiços e/ou em sua assimilação à cultura ocidental capitalista. O surgimento de movimentos sociais de base étnica voltados ao questionamento das características monoétnicas, monoculturais, excludentes e racistas dos países da América Latina é algo mais recente, remontando a meados da década de 1970. Ao lançar luz sobre a permanência das estruturas coloniais de dominação, passam a relativizar os verdadeiros alcances obtidos pelas independências e pelo processo de formação dos Estados nacionais no continente. Desde então, questionam os discursos de poder legitimadores da dialética “colonizador-colonizado”, elaboram discursividades próprias, que se distanciam do caráter universal reivindicado pela história ocidental, e buscam a recuperação de modelos organizativos ancestrais, que também sejam reconhecidos e englobados pela política institucional ocidental. Leia Mais

Revista TransVersos. Rio de Janeiro, n.25, 2022.

Transversos2

NOVOS PARADIGMAS DE DESENVOLVIMENTO PARA A AMÉRICA LATINA: (RE)EMERGÊNCIA ÉTNICA E RESISTÊNCIA INDÍGENA NO TEMPO PRESENTE.

EXPEDIENTE

  • Expediente
  • Revista Transversos
  • PDF

APRESENTAÇÃO

EXPERIMENTAÇÕES

ENTREVISTA

  • PRODUCCIÓN INTELECTUAL Y RESISTENCIA MAPUCHE EN LA CONTEMPORANEIDAD. UNA ENTREVISTA CON RICARDO OLAVE MONTECINOS, DEL PODCAST RECADO CONFIDENCIAL – OPERACIÓN WALLMAPU
  • Alessandra Seixlack
  • PDF (ESPAÑOL (ESPAÑA))

ARTIGOS LIVRES

De Norte a Sul, a sombra do autoritarismo e do fascismo no passado e no presente: perspectivas sobre experiências limítrofes nos séculos XX e XXI /Escritas do Tempo/2022

Se Marshall Berman (1987) dizia que a modernidade é demarcada por sua inerente contradição, Zygmunt Bauman complementou essa perspectiva compreendendo esse período como o constante derretimento de sólidos. Assim, a fluidez dos tempos modernos não demonstraria a ausência dos sólidos: pelo contrário, a nova ordem deveria ser verdadeiramente pautada em estruturas. Para Bauman, nenhum molde social foi destruído sem que outro fosse construído para substituí-lo. Dessa maneira, o processo de derreter os sólidos “antigos” era uma urgência vinda da necessidade de “inventar sólidos de solidez duradoura”, tornando esse novo mundo, portanto, previsível, organizado e administrável (BAUMAN, 2001, p. 10). Leia Mais

Jesus de Nazaré. O Que a História tem a dizer sobre Ele | André Leonardo Chevitarese

Este texto analisa a mais recente publicação da autoria do professor Dr. André Leonardo Chevitarese, intitulada: “Jesus de Nazaré, o que a história tem a dizer sobre ele”. O livro, com aproximadamente cento e dez páginas, busca fazer uma síntese sobre a personagem que fundou a sociedade ocidental: Jesus de Nazaré.

O livro é dividido na seguinte sequência: a “Apresentação”, escrita pelo filósofo e professor Dr. Gabrielle Cornelli, a “Introdução”, redigida pelo próprio professor Chevitarese, na qual sinaliza a distribuição da obra em seis capítulos bem estruturados, a saber, “I – Uma Outra Narrativa de Nascimento”, “II – Uma Vida em Nazaré”, “III – Um Caminho sem Volta”, “IV – O Reino de Deus Instaurado em Cafarnaum”, “V – O Ensino e a Performance de Jesus”, e “VI – A Crucificação de Jesus”. Além disso, há quatro apêndices que ajudam na compreensão do leitor menos familiarizado com a temática. Leia Mais

LaborHistórico. Rio de Janeiro, v.8, n.3, set./dez., 2022.

LaborHistorico

Voces masculinas en la Querella de las mujeres (siglos XIII-XVIII)

Nota Editorial

Artigos – Dossiê Temático

Fontes Primárias

Cadernos da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 6 n. 1, 2022/v. 5 n. 2, 2021.

Editorial

Apresentação

Comunicação

Relato de Experiência

Artigos

Resenha

Documentos e relatórios

Publicado: 22-09-2022

Cadernos da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais. Rio de Janeiro, v. 5 n. 2, 2021.

Editorial

Apresentação

Relato de Experiência

Artigos

Entrevista

Resenha

Documentos e relatórios

Publicado: 21-01-2022

Violencia estatal memorias y espacios archivo imagen y cartografía para un campo en construcción/Folia Historica del Nordeste/2022

Desde diversas tradiciones académicas y políticas se ha demostrado que la naturaleza de los distintos tipos de violencia, así como las formas del recuerdo y el olvido, e incluso los términos en que se exige (o no) justicia, son concomitantes a coyunturas y tradiciones culturales, políticas y jurídicas específicas. Este número especial se inscribe en un campo compuesto por un número creciente de contribuciones académicas, museográficas y artísticas recientes que proponen analizar el vínculo entre violencia y memoria a partir de su dimensión espacial (Salamanca, 2015; Salamanca y Colombo, 2019; Tavares, 2018; Rossetti, 2016). En la construcción de este campo de indagación, que es también un proyecto personal de investigación, se han reunido cuestiones azarosas, intuiciones, condiciones de posibilidad y la articulación afortunada de deseos, búsquedas e intereses compartidos. Leia Mais

Derecho e imagen en Hispanoamérica colonial | D. Rípodas Ardanaz

Daisy Rípodas Ardanaz es Doctora en Historia por la Universidad Nacional de Córdoba y Profesora de Historia por la Universidad de Buenos Aires. Ha desempeñado diversos y prestigiosos cargos en academias e institutos nacionales e internacionales de Historia, de todas ellas se destaca su pertenencia a la Academia Nacional de la Historia como miembro de número y al Instituto Internacional de Historia del Derecho Indiano. También ha sido múltiples veces premiada y reconocida por célebres instituciones dentro y fuera del país. Se destaca por investigar y escribir sobre las sociedades coloniales hispanoamericanas, priorizando el campo de la historia jurídica colonial. En su laureada trayectoria, forjó un notable prestigio tanto en el ámbito nacional como internacional en materia del derecho indiano. Junto a su esposo, José María Mariluz Urquijo, reconocido investigador sobre temas de historia jurídica, forman parte de los autores clásicos y de obligada lectura en lo que respecta a la historia del derecho indiano. Fueron, además, los pioneros en el estudio de sermones coloniales en el país, aportando valiosos análisis e investigaciones en el campo de la oratoria sagrada, que ha tomado relevancia en tiempos recientes. Leia Mais

Crisis/transformaciones productivas y políticas públicas: la provincia del Chaco en la segunda mitad del siglo XX | E. C Schaller

En los últimos años, los estudios que toman a la economía como ciencia social parten de la premisa que frente a las fallas del mercado, el Estado puede mejorar las condiciones de la sociedad. Esta teoría social económica se reflejan en la obra “Crisis, transformaciones productivas y políticas públicas: la provincia del Chaco en la segunda mitad del siglo XX”. A lo largo de sus capítulos se expone las múltiples vías por las cuales las políticas públicas han cumplido un rol clave en apoyo al sector agrario, en sus despliegues, reconversiones y crisis de ciclos. Asimismo, examinan cómo las intervenciones del Estado han reorganizado el territorio mediante la regulación de las tierras, la administración de expansión de las fronteras, la promoción de empresas y capitales extranjeros y la asistencia a los grupos desplazados. Finalmente, describen las instituciones que se crearon para promover el desarrollo económico del territorio chaqueño. Leia Mais

Ruralidad y sujetos subalternos. Una mirada comparada al nordeste argentino | S. Sapkus, C. E Vázquez, I. Telesca

El agro de la región nordeste (NEA) fue estudiado desde diversas perspectivas en general. En esta compilación, las investigaciones reconstruyen los ciclos productivos, sus actores y corporaciones de la ruralidad. Estos estudios lograron reconstruir un pasado conflictivo en el cual intervinieron sujetos disimiles en su composición étnica. De esa forma, las investigaciones históricas lograron visibilizar al agro como un campo heterogéneo, desigual y conflictivo. La compilación realizada por Sergio Sapkus, Cristian Vázquez e Ignacio Telesca1 permite una reflexión sobre el pasado y el presente rural del NEA. El libro es resultado de las Primeras Jornadas sobre Ruralidad y Sujetos Subalternos en el Nordeste realizado en la ciudad de Formosa en 2019, siendo la clave problematizar la realidad económica-social de la región. Presenta un prólogo a cargo de Alejandro Rofman en donde se pone en relevancia los aportes de la obra. Leia Mais

Democracia em tempos difíceis: interdisciplinaridade/política e subjetividades | Mériti de Souza

O livro Democracia em tempos difíceis: interdisciplinaridade, política e subjetividades, organizado por Mériti de Souza, possui 12 capítulos escritos por diferentes autores, com diversidade epistemológica e referenciados em diferentes campos de estudo, porém com um objeto comum: a análise da democracia na sua relação com a produção da subjetividade brasileira. A coletânea torna-se uma publicação preciosa ao refletir sobre a conjuntura atual, analisando a constituição histórica das resistências ou disputas pela democracia e o esmagamento das políticas públicas pelo neoliberalismo. Também discute a adesão à ideologia capitalista consumidora de subjetividades por meio de simulacros do espetáculo em nome de uma suposta liberdade, enquanto são produzidas respostas violentas às manifestações de diversidade de gênero e sexualidade. Leia Mais

Reflexões histórico-educativas sobre formação docente: os 130 anos da Escola Normal Catarinense/Linhas/2022

Os contextos históricos e de educação que emergiram nos finais do século XIX e perduraram até o segundo quartil do século XX estiveram no cerne dos eventos que influenciaram as mudanças educativas em diversas partes do mundo. As políticas de educação e a formação docente deambularam entre discursos e ideologias de regimes republicanos, ditaduras, autoritarismos e jovens democracias. Esses cenários histórico-sociais convidam-nos a refletir sobre como diferentes Estados-nações promoveram a circulação de discursos pedagógicos e o acesso ao ensino, bem como que saberes foram selecionados dentro da matriz científica de sua temporalidade e inseridos nos planos de formação de professores. Os dispositivos utilizados para a implementação das Escolas Normais e as políticas públicas que legitimaram tais acessos (considerando aqui as especificidades nacionais) podem ajudar a compreender a circulação de ideias, práticas pedagógicas e imaginário escolar. Leia Mais

Boletim de História e Filosofia da Biologia. [?], vol. 16, n. 3, set. 2022

Publicado pela Associação Brasileira de Filosofia e História da Biologia (ABFHiB)

Sumário

Revista IHGB. Rio de Janeiro, a. 183, n. 490, set./dez., 2022

SUMÁRIO

SUMMARY

  • Carta ao Leitor 13

I – ARTIGOS

ARTICLES

  • O cientista-administrador: a atuação de José Reis na administração pública durante a década de 1940 segundo a imprensa 17
  • The administrator-scientist: José Reis’ Role in Public Administration During the 1940s According to the Press
  • Danilo Magalhães
  • Luisa Massarani
  • San Tiago Dantas e Guerreiro Ramos: Duas recepções do pensamento católico no Brasil na década de 1930 55
  • San Tiago Dantas and Guerreiro Ramos: Two receptions of the catholic thought in Brazil in the 1930s
  • Alan Caldas
  • Renato Ferreira Ribeiro
  • Direito Comparado: Reflexões Metodológicas e Comparações no Direito Constitucional 81
  • Comparative Law: Methodological Reflections and Comparisons in Constitutional Law
  • Ilton Norberto Robl Filho
  • Atalá Correia
  • Limites das Capacidades de Atuação Nacional em Matéria Ambiental 105
  • The Limits of National Competences in Environmental Matters
  • Marcelo D. Varella
  • Revistas Jurídicas Iberoamericanas (C. 1830-1950) notas para um projeto de pesquisa 139
  • Iberoamerican Law Reviews (ca. 1830-1950) notes for a research project
  • Carlos Petit
  • Sobre tempos e afetos: uma reflexão política da melancolia 177
  • On times and Affects: a Political Reflection on Melancholy
  • Roan Costa Cordeiro
  • Angela Couto Machado Fonseca
  • Everton Luís da Silva
  • A Organização Jurídica da Economia durante a Ditadura Militar (1964-1985) 199
  • The Legal Organisation of the Economy during the Military Dictatorship (1964-1985)
  • Gilberto Bercovici
  • O Massacre de Greensboro: nazistas, comunistas e ku klux klan nos Estados Unidos da América (1979) – parte I 243
  • The Greensboro Massacre: the american nazi party, the communist worker’s party and the ku klux klan in the United States of America (1979) – part I
  • Mayara de Carvalho Siqueira
  • Júlia Oliveira Muinhos
  • Justiça restaurativa de transição: estudo de caso da Comissão da Verdade e Reconciliação de Greensboro, EUA (2004-2005) – parte II 273
  • Restorative and transitional justice: a case study of the Greensboro truth and Reconciliation Commission(2004-2005) – part II
  • Mayara de Carvalho Siqueira
  • Júlia Oliveira Muinhos

II – DOCUMENTOS

DOCUMENTS

  • Santos Dumont na mira da polícia de Paris 321
  • Santos Dumont under surveillance by the Parisian police
  • Rafael Cardoso
  • Colaboradores Pareceristas 335
  • Normas de publicação 337

Guide for the authors 339

  • Chamada de Artigos para o Dossiê “Oliveira Vianna e o Direito” 341

Comemorações 2022: memória, historiografia e novas perspectivas /Revista Maracanan/2022

Caros Leitores,

Neste ano de 2022 que ora termina, registraram-se os aniversários de vários acontecimentos históricos, abrangendo o Bicentenário da Independência do Brasil, os centenários da Semana de Arte Moderna, do movimento tenentista, da fundação do Partido Comunista Brasileiro (PCB), entre outras datas relevantes, como a entrada do Brasil na Grande Guerra, a crise dos mísseis em Cuba, o atentado nas Olimpíadas de Munique, o impeachment do presidente Fernando Collor, o massacre do Carandiru, o atual Código Civil Brasileiro, o evento Rio+20, para mencionarmos apenas alguns. Leia Mais

Secuencia. México, n.114, sept./dic., 2022.

Secuencia

Artículos

Dossier

Voces masculinas en la Querella de las mujeres (siglos XIII-XVIII)/LaborHistórico/2022

Cada vez con más frecuencia en los últimos tiempos se ha insistido en la idea de que el feminismo está abocado al más rotundo de los fracasos si los hombres no se involucran en sus demandas. Como sucede con tantos otros aspectos, esta llamada de atención a la participación masculina en aras de la obtención de una sociedad igualitaria que redunde en una sociedad más justa para todos y para las futuras generaciones hunde sus raíces en épocas muy remotas – y, en la mayor parte de las ocasiones, muy olvidadas (intencionadamente o no) – de nuestra civilización. Con el objetivo, precisamente, de reivindicar las obras de algunos de los autores que demandaron la igualdad entre hombres y mujeres en las letras europeas de las seis centurias que separan el nacimiento de la literatura italiana de los preludios del romanticismo se ideó, hace ya más de un año, el volumen que aquí se presenta. Leia Mais

História, Ciências, Saúde-Manguinhos. Rio de Janeiro, v.29, n.3, 2022.

Historia Ciencia Saude1

O valor acadêmico das resenhas de livros Carta Dos Editores

Memoria Americana – Cuadernos de Etnohistoria. Buenos Aires, v.29, n.2, 2021.

Dossier “’Cuando sea grande’: algunas derivaciones de la obra de Martha Bechis”, organizado por María Laura Cutrera y Ariel Morrone: 1 presentación y 5 artículos. Convocatoria abierta: 5 artículos y 2 reseñas.

Presentación

Dossier

Artículos Dossier

Artículos

Reseñas

Publicado: 2021-11-01

Boletim do Tempo Presente. Recife, v.11, n.08, 2022.

Artigos

Publicado: 2022-08-31

Scripta Mediaevalia. Mendoza. v.15, n.1, 2022.

Artículos

Publicado: 25-08-2022

Acervo. Rio de Janeiro, v. 35, n.3, set./dez., 2022.

Independências: 200 anos de história e historiografia

Descrição da edição

Entrevista

Dossiê

Resenhas

Artigos livres

Publicado em 25 agosto 2022

 

Independências: 200 anos de história e historiografia/Acervo/2022

Em 2022 completaram-se 200 anos da(s) Independência(s) do Brasil. Datas marcantes costumam ser oportunidades instigantes para comemoração e reflexão. Afinal, transformam-se em uma oportunidade para revisitar temas e renovar olhares, interpretações e abordagens sobre eles. No caso dessa efeméride, foi o que aconteceu, dentro e fora da academia. Teses e dissertações, exposições, livros, sítios eletrônicos, seminários e simpósios, textos e um sem-número de artigos científicos foram produzidos ao longo deste ano (e ainda deverão continuar a ser publicados nos próximos), trazendo à tona antigas questões, mas fornecendo novos encaminhamentos e novas roupagens.

Comemorar o bicentenário da Independência não é somente voltar-se para o passado, mas é também refletir sobre os problemas apresentados pelo presente e sobre as expectativas com o futuro do país. Ao fim de 200 anos de emancipação, cabe perguntarmos que país é esse que foi construído e qual país desejamos daqui para frente. Leia Mais

Brathair. São Luís, v.21, n.2, 2021.

Aprendendo e ensinando na Idade Média e Renascimento: Novas perspectivas

Editorial

Dossiê 2021.2 – Aprendendo e Ensinando na Idade Média e Renascimento

Artigos/Articles

Publicado: 2022-08-25

 

Independência ou Morte! Tradições e modernidades | Modos – Revista de História da Arte | 2022

O presente dossiê parte das diferentes narrativas sobre a efeméride do bicentenário da Independência do Brasil – 1822-2022, em conexão com outros marcos históricos relacionados ao longo do tempo. O conjunto de artigos apresentados manejam diferentes histórias conectadas e cruzadas, em distintas escalas de leitura temporal e espacial, acerca da tradição e da modernidade no Brasil. Assunto prolixo, porém inesgotável, o evento histórico é tratado aqui como uma janela para a compreensão das relações entre passado e presente no campo da arte. Para isso, este número incorpora questionamentos sobre a produção artística, crítica e historiográfica dedicada às artes visuais e suas correlações com a polissemia da noção de independência, os inúmeros modos de ver e diversas práticas de olhar, assimetrias, centros e periferias da arte. Desde a pintura histórica e a escultura comemorativa à criação moderna e às intervenções contemporâneas, passando pelos tópicos de produção e circulação de imagens, lugares de exibição de obras, acervos e coleções. Está claro o interesse sobre a reflexão das múltiplas narrativas que moldam como percebemos, interpretamos e divulgamos o campo artístico e a obra de arte em torno dessa efeméride patriótica, entre imagens, memórias e ocultamentos.

Em O monumento do “guerreiro guarani”: o chafariz de Conceição de Mato Dentro e a memória da independência em Minas Gerais, Francislei Lima da Silva (2022), trata da inauguração, em 1825, durante as comemorações do quarto ano da independência e do império, no povoado de Conceição do Serro, Minas Gerais, de um chafariz coroado pela escultura de um indígena – “gênio do Brasil”. Para o autor, este monumento serviu para reforçar e inserir, no imaginário local, a ideia de adesão ao jovem Império que se conformava a partir da independência política em 1822. A presença do indígena alegorizado em gestos triunfantes e que enaltecia determinadas virtudes cívicas coexistia com as tensões e a violência imposta aos nativos que habitavam os campos de cerrado que davam nome ao lugar. Leia Mais

Modos. Campinas, v.6, n.3, 2022.

ARTIGOS – COLABORAÇÕES

EX-POSIÇÕES / RESENHAS

MONTAGEM: A CONDIÇÃO EXPOSITIVA

PUBLICADO: 2022-08-20

 

Horizontes Históricos. São Cristóvão, v.4, n.1, 2022.

Apresentação

Artigos

Publicado: 2022-09-19

Gobernanza | Artificios – Revista Colombiana de Estudiantes de Historia | 2022

El número XXI de Artificios es un dossier temático sobre gobernanza, compuesto por dos artículos que abordan diversas vicisitudes en el ejercicio del poder (en diferentes niveles y direcciones) en la hoy República de Colombia, en temporalidades y con actores distintos. Antes de referirme a los trabajos, estimo conveniente hacer una breve acotación del concepto gobernanza, con el fin de abrir una discusión sobre su uso como categoría de análisis en trabajos historiográficos.

Desde el punto de vista de la teoría política contemporánea, la gobernanza es entendida como los “mecanismos y estrategias de coordinación de cara a la interdependencia recíproca compleja entre agentes, organizaciones y sistemas funcionales operativamente autónomos”1. Bob Jessop resalta que el concepto de gobernanza ofrece una visión mucho más amplia y completa para analizar relaciones de poder que no necesariamente implican o están enmarcadas en el ejercicio de una función pública, pero sí tienen efectos en los actos de gobierno. El autor afirma que la gobernanza agrupa tres formas de coordinación que son: mando, intercambio y red. Leia Mais

Anales de Historia Antigua Medival y Moderna. Buenos Aires, v.56, n.1, 2022.

Publicado: 2022-08-19

Politics of temporalization: medievalism and orientalism in nineteenth-century South America | Nadia R. Altschul

Nádia Altschul é uma estudiosa que atua no campo do neomedievalismo. Com doutorado na Universidade de Yale, é autora de livros como La literatura, el autor y la critica textual, de 2005, e Geographies of philological knowledge: postcoloniality and the transatlantic national epic, de 2012, e coeditora de Medievalisms in the postcolonial world, de 2009. É também professora na Universidade de Glasgow, onde se dedica à pesquisa sobre os efeitos colonialistas do medievalismo e do orientalismo na América Latina.

Seu mais novo livro, Politics of temporalization: medievalism and orientalism in nineteenth-century South America, lançado em 2020 pela University of Pennsylvania Press, traz novas perspectivas aos estudos de neomedievalismo, enfatizando uma abordagem que incorpora o olhar da América Latina. Se pensarmos no conjunto da produção da autora, este estudo marca seu posicionamento teórico em relação aos estudos sobre o neomedievalismo, posto que, embora já tivesse realizado trabalhos sobre autores sul-americanos, em Politics of temporalization ela se dedica exclusivamente à região, considerando especificamente o Chile, a Argentina e o Brasil. Leia Mais

Abordagens em História da Loucura/ Revista Expedições-Teoria da História e Historiografia /2022

Do ponto de vista do leitor, nada poderia dar-lhe melhores condições de entender, mas também de avaliar por si mesmo, o alcance e o sucesso da realização de um Dossiê de artigos em uma boa revista, como é o caso da Expedições: Teoria e Historiografia, do que ter o acesso à chamada do Dossiê antes da leitura de um ou mais textos reunidos. Leia Mais

Carta Internacional. Belo Horizonte, v.17, n.2, 2022

Artigos

Publicado: 2022-08-01

 

Ars. São Paulo, v.20, n.45, 2022.

Especial Modernidade Brasileira

ARTIGOS

CHAMADA ABERTA | MODERNIDADE BRASILEIRA

PUBLICADO: 2022-08-31

M. Rio de Janeiro, v.7, n.14, 2022.

M.

Dossiê 14: Iconografia e cultura material da morte no Mundo Antigo

Editorial

Dossiê

Resenha

Publicado: 2022-07-30

Cuadernos de Historia del Arte. Mendoza, n.38, 2022.

Dossier: Arte, Ciencia y Tecnología en la Argentina y América: Perspectivas situadas

Páginas Preliminares

Editorial

Dossier

Cuadernos de Historia del Arte. Mendoza, n.37, 2021.

Artículos

Publicado: 30-11-2021

Páginas Preliminares

Editorial

Artículos

Publicado: 28-07-2022

Revueltas. Santiago, n.6, 2022.

Revueltas. Revista Chilena de Historia Social Popular

Nos complace compartir con nuestras/os lectoras/os el número 6 de Revueltas. Revista Chilena de Historia Social Popular editada por el Núcleo de Historia Social Popular

Artículos

Reflexiones

Reseñas

Publicado: 2022-07-28

 

Revista de Arqueología Histórica Argentina y Latinoamericana. v.15, n.2, julio/diciembre, 2021.

 Portada e índice

Editorial

Artículos

Comentarios

PUBLICADO: 2022-07-27

Caribe. São Luís, v.21, n.41, 2020.

Revista Brasileira do Caribe. São Luís, v.21, n.41, jul./dez. 2020.

DOSSIÊ: Ideias de liberdade

Editorial

Artigos

Publicado: 2022-07-26

Revista Nordestina de História do Brasil. Cachoeira, v.4, n.8, 2022.

Artigo Livre

Crítica Historiográfica

Esta edição está em processo de reorganização.

Publicado: 2021-06-29

Revista Brasileira do Caribe. São Luís, v.21, n.40, jan./jun. 2020.

DOSSIÊ: A vida dos textos: diálogo, interação e inter-relação

Editorial

Artigos

Publicado: 2022-07-26

Escuela de Historia Virtual. Córdoba, n. 21 (2022)

Presentación

Dossier: Los nuevos actores sociales en América Latina

Artículos

Resúmenes de Tesis de Grado y Posgrado

Reseñas

DOI: https://doi.org/10.31049/1853.7049.v.n21

Publicado: 2022-07-25

Revista Brasileira de História da Educação. Maringá, v.22, n.1, 2022.

Alétheia. Jaguarão, v.1 n.2, 2021.

IV Ciclo do GTHA-RS 2021

Dossiê dos textos do IV Ciclo do GTHA-RS 2021.

Artigos

Publicado: 2022-07-19

Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro, v.15 n.1, 2022.

Revista Brasileira de História da Ciência. Rio de Janeiro, v.15, n.1, 2022.

Caliandra – Revista de História da NPUH-GO. Goiânia, v.2, n.1, 2022.

Dossiê

Espaço dos GT’s

Artigos

Publicado: 2022-07-18

Representaciones sobre las mujeres en la independencia. Entre realidad y ficción Nueva Granada, 1810-1830 | Judith Colombia González Erazo

Flag of the Gran Colombia used between December 17 1819 and January 10 1820 and in the Venezuela Department until July 12 1821 Imagem Wikipedia
Flag of the Gran Colombia, used between December 17, 1819 and January 10, 1820, and in the Venezuela Department until July 12, 1821 | Imagem: Wikipédia

Judith Colombia González Erazo es licenciada en Historia por la Universidad del Valle y Magíster en Historia en la misma universidad, donde, además, es profesora de cátedra en el Departamento de Historia. La mayoría de sus investigaciones giran en torno a la temática de la feminidad, las representaciones femeninas y la historia de las mujeres dentro de los procesos independentistas y la creación de la república neogranadina. En dicho eje temático se inscribe Representaciones sobre las mujeres en la independencia. Entre realidad y ficción Nueva Granada, 1810-1830, texto que es producto investigativo de su proceso formativo de la maestría.

Esta obra se compone de una introducción, tres amplios capítulos y una muy breve conclusión. En el primer capítulo intitulado Mitografías y narrativas sobre las mujeres en la Independencia, la autora se acerca a las figuras femeninas que participaron activamente de la independencia neogranadina rastreando la presencia real y ficticia de estas en los procesos de amotinamiento, los encuentros bélicos y las transformaciones sociales, especialmente en Santafé de Bogotá. En este mismo capítulo elabora un balance historiográfico para encontrar las denominadas mitografías y representaciones sociales en los escritos históricos desde los primeros historiadores empíricos del siglo XIX hasta los formados académicos del siglo XX, especialmente hasta la década del sesenta. Leia Mais

Revista de História da UEG. Morrinhos, v.11, n.2, 2022.

Tema Livre

Artigos (Tema Livre)

Fontes Históricas

Publicado: 2022-07-11

A revolta da vacina: mentes insanas em corpos rebeldes | Nicolau Sevcenko

O ano de 2020 foi marcado pelo início da pandemia do coronavírus. A disseminação do vírus ao redor do globo culminou em milhões de mortes e uma quantidade enorme de enfermos devido à rápida disseminação do vírus numa sociedade complexa e globalizada. Além do quadro sanitário extremamente grave, a pandemia impactou de maneira extremamente brusca a economia mundial causando uma série de mudanças econômicas, renovando os hábitos de consumo e alguns setores econômicos adotando o home-office, quando possível. Escolas e universidades foram fechadas em diversas localidades no mundo para tentar frear a curva de contaminação do vírus.

Com este grave cenário social e econômico, a expectativa por uma vacina foi extremamente alta, visando minimizar ao máximo os impactos da pandemia. Como outrora, doenças como a varíola, poliomielite e o tétano, conseguiram ser controladas graças a processos de vacinação em massa. Leia Mais

Retrato do colonizado precedido pelo retrato do colonizador

O “Retrato do Colonizado precedido pelo Retrato do Colonizador” é um livro de não ficção escrito por Albert Memmi, publicado em francês, em 1957. No Brasil, foi traduzido pelo filósofo e político brasileiro Roland Corbisier e pela psicóloga Marisa Pinto Coelho, sendo publicado em 1977, no Rio de Janeiro. A obra explora e descreve os efeitos psicológicos do colonialismo sob colonizados e colonizadores. Essa obra, que chegou a ser banida por governos e pela polícia, é considerada um dos estudos mais poderosos e psicologicamente penetrantes, já escritos sobre a opressão colonial. Nela, o autor pormenoriza as mentes do opressor e do oprimido, revelando verdades sobre a situação colonial e suas consequências que surpreendem por serem tão relevantes em um mundo explicitamente devastado por conflitos quanto o eram na década de 1950. Mais de cinquenta anos depois, o texto permanece com uma atualidade assustadora.

Quanto ao autor, Albert Memmi nasceu em 15 de dezembro de 1920, em Túnis, Tunísia. Faleceu em 22 de maio de 2020, Paris, França. Romancista tunisiano de língua francesa e autor de vários estudos sociológicos que tratam de assuntos acerca da opressão humana, Memmi foi criado na intersecção entre diversas culturas por ter nascido na Tunísia, e ser filho de mãe judia tunisiana, de pai italiano, e ter estudado em escolas francesas. Assim, ele se encontrou, cedo em sua vida, na posição anômala de um judeu entre os muçulmanos, de um árabe entre os europeus, de um morador do gueto entre a burguesia e de um évolué (alguém “evoluído” na cultura francesa) em meio à família e amigos ligados à tradição. Foi essa tensão de viver em vários mundos ao mesmo tempo que se tornou o tema do primeiro romance autobiográfico de Memmi, “La Statue de sel” (1953; “O Pilar de Sal”, obra pela qual recebeu o Prix de Carthage e o Prix Fénéon. Romances subsequentes incluídos Agar (1955), que trata do problema do casamento misto; “Le Scorpion” (1969), um conto intrinsecamente estruturado de introspecção psicológica; e “Le Désert” (1977), em que a violência e a injustiça são vistas como respostas antigas à dor e à incerteza da condição humana. Porém, sem dúvidas, sua obra sociológica mais influente foi “Portrait du colonisé” (1957; “Retrato do Colonizado”), uma análise das situações tanto do colonizador quanto do colonizado, que contribuem para seu próprio aprisionamento em seus respectivos papéis (SIMON, 2020). Leia Mais

A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo | Verónica Gago

Verónica Gago é doutora em ciências sociais e professora na Universidade de Buenos Aires (UBA) e da Universidade de San Martín (UNSAM), além de pesquisadora e autora de diversos artigos sobre economia popular, economia feminista e teoria política. Faz parte do Coletivo NiUnaMenos, surgido em junho de 2015 após episódios brutais de feminicídios contra jovens mulheres de países da América Latina, como Argentina, Chile e Uruguai. O coletivo se tornou atuante na luta contra o feminicídio em toda a América Latina, sendo também responsável pelas mobilizações a favor da Greve Internacional Feminista e pela recente conquista da descriminalização do aborto na Argentina. É a partir desta visão e vivência em espaços de luta que a autora apresenta “A potência feminista, ou o desejo de transformar tudo”, título traduzido para o português na edição brasileira, publicada em 2020, pela Editora Elefante.

O livro é composto por oito capítulos, os quais trazem os fundamentos para as oito teses sobre o atual feminismo transnacional defendidas por Gago, em um tom de manifesto, convidando a “experimentar o deslocamento dos limites em que nos convenceram a acreditar e que nos fizeram obedecer” (GAGO, 2020, p. 10). Ao longo de cada um deles, a autora trabalha argumentos que nos levam à visão de que “a greve só é geral porque é feminista” (GAGO, 2020, p. 229), visto que o movimento feminista atual é marcado de massividade e radicalidade, as quais refletem sua marca transnacional ao se fazer presente em diversas lutas, e por uni-las. Com isso, chega-se à conclusão de que se as mulheres pararem, o mundo para. Leia Mais

Manduarisawa. Manaus, v.5, n. 2, 2021.

“HISTÓRIAS DAS VIOLÊNCIAS DE GÊNERO CONTRA AS MULHERES”

APRESENTAÇÃO

ARTIGO LIVRE

RESENHAS

Publicado: 2022-07-11

Pilquen. Buenos Aires, v.25, n.2, 2022.

Revista Pilquen. Sección Ciencias Sociales

  • Período abril-junio 2022. Publicado 30/06/2022

ARTÍCULOS

RESEÑAS

PUBLICADO: 2022-07-10

Valores como objeto de aprendizagem

[…]* Considere a seguinte situação: o sujeito Chico Mendes existiu. O assassinato de Chico mendes ocorreu, as ideias de Chico Mendes foram materializadas em discursos e entrevistas. Isso implica dizer que a trajetória de Chico Mendes, o acontecimento da sua morte e as suas ideias de sustentabilidade são objetos de existência. São substantivos. São conteúdos históricos. Por outro lado, o respeito que ele dedicava aos povos da floresta não é um acontecimento, não teve existência. O respeito aos modos seringueiros de tratar a floresta é um valor. E esse valor é também conteúdo histórico, só que de outro tipo.

Então devemos ensinar valores? A resposta mais geral é sim. Valores são aprendidos. Eles não nascem conosco. São adquiridos ao longo do tempo das nossas vidas e por isso dizemos que os valores são históricos e não transcendentes. Observem que essa resposta só foi elaborada porque partilhamos de dois valores: humanidade e historicidade. Ao afirmar que os valores são históricos e não transcendentes[1] eu revelo filiação à uma crença de que não é possível verificar se o valor à vida foi mesmo anunciado por um deus criador, já que a regra para eliminar os sujeitos tem sido modificada nos últimos 500 anos ou, ainda, que matar uma pessoa é um direito concedido ao indivíduo ou ao Estado, a depender da cultura da qual você se refira ou na qual esteja imerso. O valor da vida, enfim, não é o mesmo (não vale) para todas as sociedades contemporâneas.

Para que servem tais valores? A resposta, dentro de uma visão antropocêntrica, evidentemente, é a seguinte: valores funcionam como parâmetros empregados pela nossa faculdade de julgar. Se solicito que o aluno aponte as causas e consequências da concentração da maior parte da renda nas mãos de menor parte da população brasileira, ele responderá de modo lógico, buscando informação, por exemplo, na introdução, no infográfico ou no resumo do capítulo do livro didático: x / y = z. Contudo, quando perguntamos ao aluno “O que você pensa sobre as causas apontadas no livro didático?” “Você concorda ou discorda da explicação do autor?” “O que acrescentaria ou descartaria da informação colhida no manual?” e “Em que medida aquelas respostas o auxiliam a compreender a sua situação/condição socioeconômica?” a atividade lógica sozinha de buscar a informação por palavra-chave e submetê-la ao esquema “se…, então…” com as informações sobre Brasil, elites, riqueza e pobres, provavelmente, o aluno não dará conta do objetivo a ser alcançado.

Para que isso ocorra, será necessário que ele já tenha introjetado o conceito “igualdade” como um valor, isto é, que ele não somente retenha a definição de igualdade na memória (“igualdade é a condição na qual os sujeitos…”), bem como o seu antônimo – a desigualdade. Será também fundamental que ele tenha desenvolvido a capacidade de empatia em relação aos sujeitos excluídos da riqueza do país para efetuar a crítica (o julgamento – atribuição de valor) e a posterior tomada de posição em relação às respostas oferecidas pelo livro didático e à provocação disparada por nós. Por esse raciocínio, será necessário que apresentemos ao aluno um objetivo anterior para promover as duas citadas capacidades: conhecer a definição sumária de igualdade e imaginar-se um outro no passado distante ou no presente recente, submetido a situações nas quais se possa identificar os atributos que constituem a definição de igualdade.

A valência dos valores

Os valores são históricos e funcionam em nosso cotidiano como fundamentos da crítica. Mas os valores são também elementos passíveis de hierarquização, ou seja, valores também valem mais uns que os outros. O respeito a vida humana, por exemplo, na maioria dos grupos sociais brasileiros, é um objeto que vale mais que o respeito à vida de um felino em extinção – uma onça. Mas quem estabelece essa hierarquia – quem institui a valência?

Qualquer resposta a essa pergunta também revela os valores em ação. O respeito à vida humana pode ser estabelecido, por exemplo, pela Igreja ou pelo Estado. O estabelecimento desse valor a ser cultivado por determinada sociedade é obra de eleição / acordo que emerge de várias situações. Exemplos: ele pode ser fundado no resultado de experimentos científicos (o código genético do animal selvagem indica a propensão ao ataque, mesmo que tenha sido criado em ambiente doméstico); no conforto psicológico provocado por um costume não contestado por gerações a fio (pais não devem ser desobedecidos pelos filhos); em certo dogma milenar (a crucificação de Jesus Cristo foi o maior ato de amor ao próximo). Em quaisquer dos casos, o valor (respeito ao instinto predador, respeito a autoridade paterna, respeito ao sacrifício divino) é sempre, apesar da aparente contradição, uma imposição assentida pela maioria.

Relembrando o assassinato de uma pessoa ou o abate de uma onça, podemos concluir que um código penal (instrumento punitivo, fundado em alguns valores), discutido e votado, por exemplo, foi produzido, obviamente, por um conjunto de sujeitos e não por um bando de onças. Por outro lado, dois outros conjuntos de pessoas já reivindicam tanto o respeito à vida das onças como o respeito à vida de um seringueiro que abateu determinada onça como valores a serem considerados, principalmente quando um animal for abatido no interior de uma reserva e ou se a vida do seringueiro estiver em risco.

Deixemos as onças e a crucificação e vamos direto ao ponto: Que valores deveremos selecionar como objeto de aprendizagem escolar? Aqui, pela terceira vez, percebemos a valência da hierarquização. Podemos elaborar os objetivos segundo os valores que recebemos da família, do credo religioso, da ideologia política etc.? Podemos, recorrentemente o fazemos, mas não devemos assim proceder. E não devemos por que somos professores e não apenas pais, irmãos, tios ou responsáveis. Somos a materialização do Estado democrático de direito. Assim, na educação pública (regrada pelo Estado), somos submetidos a algumas normas das quais podemos até discordar, mas não temos força moral e autoridade jurídica para desobedecer. Estados que regem interesses entre grupos sociais de forma democrática conservam o seu conjunto de valores, normatizando o seu emprego e indicando os responsáveis por seu cultivo. É para esse rol de valores que devemos dirigir nossa atenção.

Os valores na Constituição de 1988 e na LDB de 1996

No caso brasileiro, esses objetos estão listados na Constituição de 1988. Já no preâmbulo da Carta, nos deparamos com a expressão “valores supremos”. Eles são: os direitos à “liberdade”, “segurança”, “bem-estar”, “desenvolvimento”, “igualdade” e “justiça”. Valores também estão prescritos nos “fundamentos do Estado de Direito”, como os “valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. Estão no capítulo relativo aos direitos políticos a exemplo da “igualdade de direito de voto”.

No que diz respeito ao papel da União, estados e municípios, a Constituição prescreve que eles devem ocupar-se da proteção de obras e bens de “valor histórico, artístico e cultural”, do impedimento da “evasão, destruição descaracterização de obras e bens valor histórico, artístico e cultural”, da responsabilização por “dano a bens de valor histórico, artístico e cultural” e do incentivo à “valorização e a difusão das manifestações culturais”. O mesmo documento solicita a elaboração de um “Plano Nacional de Cultura”, orientado pelo respeito aos “valores culturais”

Ao Estado, em sua instância formadora obrigatória que é a escola, a Constituição prescreve como “conteúdo” o respeito aos “valores culturais, artísticos, nacionais e regionais”, aos “direitos culturais” e à “diversidade étnica e regional”.

As emissoras de rádio e televisão também têm regrados os seus sistemas obrigatórios de valores, inscritos no capítulo referente à comunicação social. O documento afirma que, em suas programações, elas devem respeitar “os valores éticos e sociais da pessoa e da família”.

Às instituições ligadas à preservação cultural, por fim, são legadas orientações para a seleção de seus objetos de trabalho. Assim, bens de “valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico” são elementos passíveis de serem categorizados como “patrimônio cultural”.

São muitos valores a cultivar, você dirá. Como diferenciar os indispensáveis dos secundários? Como saber com qual intensidade devemos inserir cada valor “supremo” ao longo da vida escolar? Como traduzir “valores culturais” se a palavra cultura possui mais de 300 sentidos entre os cientistas sociais?

Não cabe, nesse momento, a crítica detalhada ao anúncio dos valores na Carta Magna. Partilho, porém, da sua angústia, mas afirmo ser necessário atentar para a ausência de clara hierarquia entre os valores, como também à falta das atribuições de cada sujeito nomeado na Carta. Se os valores supremos são os direitos à liberdade, segurança, bem-estar, desenvolvimento, igualdade, e justiça, porque os valores de responsabilidade do “ensino” escolar são apenas o respeito aos valores culturais e artísticos nacionais e regionais? Porque a valorização da diversidade étnica e regional, incluída dezessete anos após a promulgação da Constituição, está inserida na seção relativa à cultura e não à educação? Porque o Estado tem necessidade de reservar valores “éticos e sociais” da pessoa e da família se estes sujeitos podem ser dissolvidos no grande sujeito que é o Estado?

Uma saída para produzir o currículo respeitando a Constituição de 1988 seria, em primeiro lugar, conhecer o processo e compreender os condicionantes do processo (empatia) de elaboração da Carta. É um documento fruto de debates e negociações. Não poderia mesmo estar isento de contradições e equívocos. Além disso, como Carta maior, o documento não poderia definir cada vocábulo indicador de valor. Esse trabalho coube, em teoria, à legislação complementar.

No caso da matéria constitucional “educação”, a complementariedade configura-se na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Na LDB a referência explícita aos valores está na definição dos conteúdos curriculares da educação básica. Ela explicita: conteúdos devem difundir “valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”.

Os valores também são citados como elemento mediador da “formação básica do cidadão”. Eles são conteúdo, da mesma maneira que os “conhecimentos”, “habilidades” e “atitudes”. A LDB também prescreve esse conteúdo específico: os “valores em que se fundamenta a sociedade. ”

A última referência a valores está nas disposições transitórias que tratam da educação dos povos indígenas. Prescreve a lei que a União deverá desenvolver programas de ensino e pesquisa que valorizem as “línguas” e “ciências” indígenas.

Comparando os valores citados com os anunciados na Constituição, percebemos que a as ocorrências são menos numerosas e mais coesas. Valores são conteúdo obrigatório e tais conteúdos privilegiam, para toda a população, a formação para a cidadania e a democracia – isso porque não entendemos as expressões “interesses sociais” e “valores em que se fundamenta a sociedade” como direitos sociais. Para os povos indígenas, têm valência as línguas e ciências na formação bilíngue.

Conclusão

Vimos que os documentos-macro reguladores dos objetos de aprendizagem para a educação escolar básica dos brasileiros são bastante gerais como prescritores de valores a serem aprendidos / introjetados. Para você que inicia a produção de um currículo, tal generalidade pode ser uma barreira ou uma livre avenida. Se ficar na dependência do uso explícito do vocábulo “valor”, no tópico “educação” da Carta ou no assunto “conteúdo” da LDB, certamente terá dificuldades para transformar o objeto-valor em objetivo de aprendizagem histórica.

É necessário fugir à essa armadilha. Um exemplo ajuda a esclarecer a profundidade desse equívoco. Vimos que os gestores de emissoras de rádio e TV, dos órgãos de preservação do patrimônio cultural, dos legisladores, juízes e autoridades do executivo são agentes aplicadores de valores estabelecidos pela Constituição. A pergunta retórica, então, é a seguinte: em qual instituição empresários, radialistas, jornalista, apresentadores de TV, museólogos, arquivistas e historiadores vão conhecer esses valores, na Constituição lacunar? Não. Eles serão formados na mesma instituição-escola da qual você faz parte. Então, os valores prescritos para esses sujeitos são também os valores a serem aprendidos na escolarização básica.

Como de costume, as Cartas estaduais e municipais, os projetos pedagógicos da escola são o seu Norte na constituição de currículos. Contudo, elas possuem o mesmo vício de origem: a generalidade e a falta de hierarquia. Sugerimos, então, que você migre da palavra “valor” para as palavras “direito” e “princípios”. Essa mudança lhe permitirá detalhar os substantivos que expressam os valores prescritos pelo Estado. Apesar dos possíveis equívocos, você encontrará um glossário comum, tanto aos documentos quanto às obras clássicas que tratam dos recorrentes valores requeridos sob a rubrica de “cidadania” e de “democracia”.[2] Esses substantivos, ainda que não se configurem numa abordagem habermansiana (direitos civis para a efetivação de direitos políticos e sociais) estão anunciados na Constituição como direitos de três tipos: 1. Direitos individuais e coletivos – direito à vida (não haverá pena de morte), liberdade (expressão, crença religiosa, convicção política, trabalho, de ir e vir, se reunir, associar-se), igualdade (entre homem e mulher, entre raças) e propriedade; 2. Direitos sociais (educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados); 3. Direitos políticos (votar, filiar-se a partidos e ser votado).

Se você discorda da valência de alguns desses objetos, pode promover ações junto ao sistema representativo no sentido de atribuir maior coerência e ordem aos enunciados compreendidos como valor, nos documentos que regulam a educação básica no país. Se esse não for o seu caso, já pode iniciar a elaboração dos objetivos de aprendizagem sobre os conteúdos substantivos em história – acontecimentos, processos etc. – enfatizando determinadas ideias e sujeitos, buscando a importância, causas e consequências de determinados eventos, processos, ideias e sujeitos. Mas deve lembrar que a referência aos valores não, necessariamente, deve ser literal. A elaboração de um objetivo que combine a mobilização de uma habilidade (Tomar posição sobre…), um conhecimento substantivo (o significado do assassinato de Chico Mendes…), e uma descrição contextualizada (para a ampliação do interesse dos brasileiros sobre questões socioambientais) já traz implícitos, por exemplo, três objetos insertos na Carta e na LDB, que podem ser introjetados como valor: os direitos à vida, à livre expressão de ideias e à livre associação política.

Mãos à obra!! [..]

Itamar Freitas

*Consulte aqui o texto completo.


Referências

BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm. Capturado em: 15 fev. 2016.

BRASIL. Presidência da República. Lei n. 9.294, de 20 de dezembro de 1986. [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Capturado em: 15 fev. 2016.

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 16 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2008. [Primeira edição – 2001].

DROYSEN, Johan Gustav. Grundriss Der Historik. Boston: 1897.

FREITAS, Itamar. Didática para licenciaturas. Aracaju: Criação, 2014.

HEATER, D. What is Citzenship? Cambridge: Polity Press, 1990.

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MONTAINI, Marco. O respeito aos direitos dos indivíduos. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2010. p. 114-136.

MORA, José Ferrater. Dicionário de Filosofia. Lisboa: Dom Quixote, 1978.

ODALIA, Nilo. A liberdade como meta coletiva. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2010. P. 158-189.

RAMIREZ, Francisco O. From citzen to person? Rethinking education as incorporation. California: Center on Democracy, Development, and the Rule of Law – CDRL/Stanford Institute for International Studies – IIS, [2004].

RÜSEN, Jörn. Direitos humanos e civis como orientação histórica sugestões para a interpretação e para a análise didática. In: Aprendizagem histórica: fundamentos e paradigmas. Curitiba: W.A., 2012. p. 193-220.


Notas

[1] Uma das primeiras formulações sobre a historicidade dos valores,ou seja, a classificação dos valores como radicada na história foi efetuada pelo historicista Gustav Droysen (1882).

[2] É consenso entre os pesquisadores das ciências humanas e sociais que o termo “cidadania”, ou seja, “a qualidade de ser cidadão” incorpora a necessidade de as pessoas praticarem e, obviamente, conhecerem os direitos e deveres para atuarem na cena pública. É também consenso que tais direitos sejam aquisições ocidentais datadas, configurando uma sequência lógico-cronológica que compreende os direitos civis (século XVIII), direitos políticos (século XIX) e direitos sociais (século XX) (Marshal, 1967; Heater, 1990) – isto é, a “participação do cidadão no governo da sociedade” e na “riqueza coletiva” (Carvalho, 2008, p. 9-10). Quem assim o  faz, costumeiramente, chama a atenção para o significado de documentos-chave como o “Bil of Rights” [Carta de direitos] da Revolução Inglesa – 1698 (Montaigne, 2010), a “Declaration universelle des droits de l’homme et du citoyen” [Declaração universal dos direitos do homem e do cidadão] da Revolução Francesa – 1789 (Odália, 2010; Rüsen, 2012), “The Rights of Man” [Os direitos do homem] da Independência dos Estados Unidos (Karnal, 2010) e a “Déclaration universelle des droits de l’homme” [Declaração universal dos direitos do homem] das Nações Unidas – 1948 (Ramirez, [2004]), na configuração daquilo que entendemos home como cidadania plena.

História Ambiental: problemas e abordagens | Sertão História | 2022

A História Ambiental vem sendo estruturada como campo historiográfico desde a década de 1970, cujo estabelecimento institucional tem sido garantido na criação de disciplinas, grupos de pesquisa e cursos de pós-graduação em diversas universidades do mundo. Embora entendida como uma resposta aos reclames por uma responsabilidade ambiental, a História Ambiental foi demarcada com vistas a evitar que a análise se limitasse ao debate ambientalista e pudesse promover uma reflexão mais profunda sobre os problemas de uma ‘História Ecológica’, ou, mais ampla no encalço de um entendimento sobre as relações historicamente estabelecidas pelo homem com o mundo natural.

A dimensão teórica desse campo foi delimitada a partir da compreensão de que a História é ‘o homem e tudo o que há em sua volta’ (Braudel), e de que era necessário aos pesquisadores da História Ambiental perceber ‘a terra embaixo dos pés dos homens’ (Worster). Nessa compreensão, a natureza é vista em sua constante produção e reprodução e como parte do processo histórico dinâmico, ainda que por vezes ela pareça um referencial estável, em virtude de seus marcos temporais sejam demarcados numa escala de tempo que extrapola muito ao do tempo humano/social. Leia Mais

Sertão História. Crato, v.1, n.2, 2022.

História Ambiental: problemas e abordagens

Expediente

Apresentação

Artigos

Publicado: 2022-07-07

Boletim Cearense de Educação e História da Matemática. Fortaleza, v.9, n.27, 2022.

BOCEHM (Fluxo Contínuo) – Set/Dez

ARTIGOS

PUBLICADO: 2022-07-07

História de la Educación – Anuario. Buenos Aires, Vol. 21 Núm. 2, 2020

Número completo

Editorial

Demanda Continua

Publicado: 2022-06-07

História de la Educación – Anuario. Buenos Aires, Vol. 22 Núm. 1, 2021

Número completo

Editorial

Demanda Continua

Reseñas

Publicado: 2022-06-07

História de la Educación – Anuario. Buenos Aires, Vol. 22 Núm. 2, 2021

Número completo

Editorial

Reseñas

Publicado: 2022-06-07

Del Pukara al Pueblo de indios. La sociedad indígena colonial en Jujuy/ Argentina. Siglo XVII al XIX | Gabriela Sica

Gabriela Sica Imagem Canal 7 Jujuy
Gabriela Sica | Imagem: Canal 7 Jujuy

La presente es una síntesis de la presentación virtual del libro organizada por el PROHAL (Programa de Historia de América Latina del Instituto de Historia Argentina y Americana) el 20 de diciembre de 2021.

La obra de Gabriela Sica reviste notable originalidad pues recorre la porción septentrional de la Gobernación de Tucumán desde el siglo XVI hasta nuestra Independencia, incluyendo las tres primeras décadas del siglo XIX. El estudio está fundamentado con profusa documentación de archivo, los locales de Jujuy, el Archivo Histórico de Salta, nuestro Archivo General de la Nación, el Archivo General de Indias y el Nacional de Bolivia. La primera parte del título refiere al período localmente conocido como de Desarrollos Regionales (siglos X-XV d.C), en que las unidades políticas defendían sus territorios mediante el establecimiento de pukaras, tan distintivos como los pueblos que los indígenas habitaron hasta finales de la colonia. De manera que esta investigación se sitúa en la larga duración, transitando los siglos en que los indios de la jurisdicción se convirtieron en “sujetos coloniales” para llegar, a finales de la década de 1830, a configurar una peculiar suerte de ciudadanos apartados del sistema comunal que los nucleara por más de tres siglos. Se convirtieron así en pequeños propietarios, en algún caso, ingresando como mano de obra en propiedades rurales pero, sobre todo, reconfigurando sus identidades tras una individuación forzada. Leia Mais

Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.1, n.9, 2022.

EDITORIAL

ARTIGOS

Publicado: 2022-07-05

 

Tzintzun. Morelia, n.76, julio-diciembre, 2022.

Artículos

Reseñas

Publicado: 2022-07-04

 

Tzintzun. Morelia, n.76, julio/diciembre, 2022.

Artículos

Reseñas

Publicado: 2022-07-04

Filosofia e História da Biologia. São Paulo, v.17, n.1, 2022.

Volume 17, número 1, janeiro/junho de 2022.

O décimo sétimo volume de Filosofia e História da Biologia foi editado por Lilian Al-Chueyr Pereira Martins e Maria Elice Brzezinski Prestes.

Editorial

  • Editorial
  • Lilian Al-Chueyr Pereira Martins, Maria Elice de Brzezinski Prestes
  • PDF

Artigos

Tradução

Publicado: 2022-07-03

Heródoto. Guarulhos, v. 6, n. 2, 2021

Edição completa

Editorial / EDITORS NOTE

Apresentação / Preface

Entrevistas / Interviews

Dossiê / Dossier

Traduções / Translations

Resenhas / Reviews

Publicado: 2022-07-02

Homenagem a Pierre Ansart: quais suas herança para pensarmos as linguagens das paixões políticas? | História- Questões & Debates | 2022

Por que um dossiê da revista História: questões e debates homenageia academicamente o sociólogo Pierre Ansart (1922-2016), professor emérito da Université Paris VII-Denis Diderot? Com certeza por ser um sociólogo de prestígio internacional cuja ousadia, compartilhada pelo colega e amigo Eugène Enriquez, introduziu a psicologia no campo da sociologia tradicional. Aqui, entre nós no Brasil, foi decisiva sua contribuição teórica e organizacional ao Núcleo História e Linguagens Políticas: razão, sentimentos e sensibilidades (UNICAMP), criado no Convênio PARIS VII/ UNICAMP em 1991. Ansart, crítico declarado das ortodoxias e adepto das abordagens transdisciplinares, estudou a obra de Proudhon e as utopias políticas projetando suas significações sócio-históricas e em particular suas dimensões emocionais. Apontou questão sensível para historiadores e outros pesquisadores das ciências humanas – o lugar dos sentimentos e das paixões na história e sua relevância para a compreensão do político e sua gestão. Por duas décadas atuou significativamente neste Núcleo onde realizou conferências, participou dos debates e das publicações; na França editou coletâneas de três dos Colóquios aqui sediados: Sentiments et identités: les paradoxes du politique (Les Cahiers du Laboratoire de Changement Social, Paris: Ed.Paris VII, 1998); Le ressentiment (Bruxelas: Bruylant, 2002) e Le sentiment d’humiliation [Press Editions, 2006].

Os artigos se detêm na reflexão sobre a(s) herança(s) de Ansart, ele mesmo se reconhecendo herdeiro de vários outros autores, como legado presente de distintas maneiras nos trabalhos de membros do Núcleo, suscitando a questão: de que herança(s) Ansart e nós somos herdeiros? Herança(s) entendidas como re-afirmação do passado e inscrição na vida por vir, em usos não pre(e)scritos [Derrida; Roudinesco. De quoi demain. Dialogue. Paris: Galilée, 2001]. A iniciativa do dossiê se soma à tradução para o português, por Jacy Seixas, das obras mais conhecidas de Ansart: La Gestion des Passions Politiques (L’Age d’Homme, 1983), lançada em 2019; e Les Cliniciens des Passions Politiques (Éditions du Seuil, 1997), publicada agora em 2022, ambas pela Editora da UFPR. Leia Mais

História Questões & Debates. Curitiba, v.70, n.2, 2022.

Homenagem a Pierre Ansart: quais suas heranças para pensarmos as linguagens das paixões políticas?

DOSSIÊ HOMENAGEM A PIERRE ANSART: QUAIS SUAS HERANÇAS PARA PENSARMOS AS LINGUAGENS DAS PAIXÕES POLÍTICAS?

ARTIGOS

TRADUÇÃO

Revista de História da UFBA. Salvador, v.10, n.1, 2022.

Expediente

Editores da Revista de História da UFBA

Editorial

Dossiê

Artigos

Enseñanza de las Ciencias Sociales. Pensar/Sentir/Hacer | Paulina Latapí Escalante

La investigación actual en las didácticas de las ciencias sociales presenta nuevas miradas a viejas preocupaciones pero también temáticas emergentes, por ello es importante que el profesorado en formación, pero también aquel que hace tiempo se encuentra en ejercicio, se ponga en contacto con una agenda y bibliografía actualizadas. Una de ellas es el rol de las emociones en la construcción de conocimiento, de ahí la relevancia de la obra[1] de Paulina Latapí Escalante (Universidad Autónoma de Querétaro, México) que aquí se reseña.

Desde esta perspectiva las emociones son claves en la valoración de situaciones y opciones, y en la toma de decisiones individuales y colectivas. En esta clave se propone indagar, interpretar y reflexionar sobre aspectos de la enseñanza de las ciencias sociales, tales como los contenidos y las prácticas -entre otros- que promueven un pensamiento reflexivo, que propician la participación activa y comprometida en el espacio público y, por ende, el desarrollo de habilidades sociales y ciudadanas. El libro de la Dra. Paulina apunta a proporcionar herramientas a los y las colegas para la mejora continua del propio desempeño. Leia Mais

Intellèctus. Rio de Janeiro, v.21, n.2, 2022.

Revista Intellèctus – 20 anos – vol.2

Apresentação

Dossiê

Artigos Livres

Resenhas

Para a Glória de Deus, e do Rei? Política, religião e escravidão nas Minas do Ouro (1693-1745) | Renato da Silva Dias

D. Joao VI Rei de Portugal Detalhe de capa de Para a Gloria de Deus e do Rei Politica religiao e escravidao nas Minas do Ouro 1693 1745
D. João VI, Rei de Portugal | Detalhe de capa de Para a Glória de Deus, e do Rei? Política, religião e escravidão nas Minas do Ouro (1693-1745)

A obra em questão vem a lume dezesseis anos após a sua apresentação como tese de doutoramento em História, defendida pelo autor em 2004, na UFMG, sob orientação da professora Carla Anastasia. Nesse intervalo muita coisa se escreveu a respeito da história mineira no século XVIII.2 O trabalho de Renato da Silva Dias, Professor de História na Universidade Estadual de Montes Claros, não se preocupou em antecipar modismos e talvez por isso, recolocado no contexto atual, tenha preservado sua originalidade. Tributário da riquíssima historiografia que, nas décadas de 1980 e 1990, reescreveu a história de Minas Gerais no período colonial, Para a Glória de Deus e do Rei? explorou, em grande parte, as peculiaridades que tornaram a experiência mineradora um evento histórico singular no âmbito da América Portuguesa.

O tema investigado foi o das dimensões políticas do catolicismo luso penosamente imposto aos súditos de Minas. Em especial, Dias preocupou-se em avaliar de que forma a religião católica foi apropriada e reelaborada por africanos detentores de enormes diversidades étnicas, culturais, religiosas e políticas. Aprisionados na terra natal, traficados para a América Portuguesa e revendidos a senhores situados nos arraiais mineradores e em seus respectivos campos e currais, esses trabalhadores sofreram as consequências do escravismo colonial. Estilhaçados seus antigos vínculos e pertencimentos sociais, eles foram obrigados a adotar uma Leia Mais

Impressos subversivos: arte, cultura e política no Brasil 1924-1964 | Maria Luiza Tucci Carneiro

Maria Luiza Tucci Carneiro Imagem Mosaico na TV
Maria Luiza Tucci Carneiro | Imagem: Mosaico na TV

O livro “Impressos Subversivos: arte, cultura e política no Brasil 1924-1964” foi escrito pela historiadora Maria Luiza Tucci Carneiro e lançado em 2020. A obra, que possui 212 páginas, possui as seguintes seções (todas escritas pela autora): Preâmbulo; introdução; capítulo 1 “Os impressos no mundo da sedição”; capítulo 2 “Na trilha do impresso político”; capítulo 3 “A arte de imprimir e protestar”; capítulo 4 “Artistas de protesto”; capítulo 5 “Panfletos Irreverentes”; Considerações Finais; Fontes; Bibliografia e Iconografia.

A autora fez toda a sua formação em história pela USP, tendo defendido a tese de título “O Anti-semitismo na Era Vargas: Fantasmas de uma geração (1930-1945)” e a tese livre docente “Cidadão do Mundo. O Brasil diante da questão dos judeus refugiados do nazi-fascismo (1933-1950)”. Carneiro atualmente é professora sênior da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Em sua carreira, têm realizado projetos e atividades junto de diferentes instituições, como a Associação Brasileira A Hebraica de São Paulo e o Arquivo do Estado de São Paulo. Sobre este arquivo, a historiadora já havia coordenado, junto de Boris Kossoy, um Projeto Integrado Arquivo/Universidade (PROIN) Leia Mais