Os indígenas sob o olhar de novas investigações / Ponta de Lança/2017
Esta edição traz um dossiê com recentes estudos sobre os povos indígenas do Brasil escritos por pesquisadores oriundos de diversos Programas de Pós-Graduação, que podemos enquadrar como Nova História Indígena.
A sessão de dossiê é aberta pelas reflexões sobre a etnografia visual como instrumento de representatividade das mulheres indígenas xinguanas. O texto escrito a quatro mãos pelo doutorando Gustavo Batista Gregio e pela professora doutora Sandra de Cássia Araujo Pelegrini, ambos da Universidade Estadual de Maringá, estabelece uma perspectiva interdisciplinar de diálogo entre história e antropologia para analisar como as imagens das mulheres indígenas possibilitaram torn´-las interlocutoras de suas comunidades e guardiãs de suas memórias e práticas culturais.
Em seguida, André de Almeida Rego, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia e professor de História Indígena na Universidade Federal do Sul da Bahia, que analisa as transformações vivenciadas pelos indígenas da província da Bahia no Período Imperial, apresentando, de forma diferenciada, duas categorias de índios à época, os gentios e os aldeados.
Sobre os indígenas no Período Imperial, Pedro Abelardo de Santana, doutor em História pela Universidade Federal da Bahia e professor de História do Brasil na Universidade Federal de Alagoas, elabora um estudo comparativo das leis de terra do Brasil e do México, demonstrando como esses códigos foram utilizados para justificar a perda de muitas terras dos índios nos dois países.
Tratando do século XIX numa proposta de análise da história da educação indígena, Adriane Pesovento, da Universidade Federal de Rondônia, busca estabelecer uma relação entre a educação e a colonialidade moderna, que “tentaram afastar os modelos tradicionais de educação, fosse por processos com uso de violência, como as chamadas ‘guerras justas’, fosse pela sedução, pelos aldeamentos ou ainda pela cooptação” Numa leitura a contrapelo da documentação sobre a educação, a autora demonstra a resistência indígena e sua condição de participação ativa na construção da história matogrossense.
Já o doutor em Geografia pela Universidade Federal da Bahia, Avelar Araujo Santos Junior toma como base as terras indígenas Caiçara e Ilha de São Pedro para realizar um exaustivo levantamento da bibliografia sobre a luta pela terra e outros materiais produzidos sobre o povo Xokó, que habita atualmente o lugar, nos últimos quarenta anos.
Kléber Rodrigues, mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe, disserta a respeito da representação dos indígenas em duas pinturas de Victor Meireles, “A primeira missa no Brasil” e “Batalha dos Guararapes”, que são constantemente retratadas nos livros de Histórias do Brasil, analisando “as intenções do seu autor” ao pintar os índios.
Carine Santos Pinto, mestre em História pela Universidade Federal de Alagoas, apresenta um estudo sobre índios e moradores da extinta aldeia Água Azeda – SE, a partir das memórias da população atual sobre o passado da localidade e da documentação judicial produzida no século XX.
Fecha o dossiê o artigo de Diogo Francisco Cruz Monteiro, mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Sergipe, no qual é retratada a atuação da Comissão PróÍndio de Sergipe na década de 1980, quando o povo Xokó foi reconhecido pela Estado e a comissão promoveu importantes atividades educacionais direcionadas a estudantes, professores e comunidade.
Por fim, baseado em sua experiência como professor de História Indígena e Antropologia Cultural na Universidade Federal de Alagoas, Vladimir José Dantas resenha o mais recente livro coletivo sobre povos indígenas em Sergipe.
Boa leitura!
SANTANA, Pedro Abelardo. Apresentação. Ponta de Lança, São Cristóvão, v.11, n.21, 2017. Acessar publicação original [DR]