PALACIOS, Ariel. Os argentinos. São Paulo: Contexto, 2013. Resenha de: SILVA, Gabriela Resendes. A singularidade do povo argentino na obra de Ariel Palacios. Revista Tempo Amazônico, Macapá, v.1, n.1, p.101-103, jan./jun., 2013.
A obra Os Argentinos de Ariel Palacios apresenta ao leitor traços de um povo e de uma nação, abordando desde assuntos como política e crises econômicas à culinária e aspectos da vida cotidiana do país. O livro, que integra a coleção “Povos e Civilizações”, é um verdadeiro guia para aqueles que gostam ou tem curiosidade de conhecer melhor o nosso vizinho de fronteira.
Jornalista, brasileiro de ascendência argentina, Ariel Palacios teve sua formação inicial na Universidade Estadual de Londrina, em 1987. Fez o Master de Jornalismo do jornal El País (Madri) em 1993, e em 1995, foi para a Argentina para ser correspondente de O Estado de S. Paulo em Buenos Aires. Palacios também é correspondente do canal Globo News desde 1996.
Em Os Argentinos, encontra-se um verdadeiro leque de temas que permitem ao leitor, a partir de sua capacidade imaginária, transporta-se para a Argentina Colonial, a Argentina de Perón e Evita ou para a Argentina do tango. Essa pluralidade de temas faz-se notar no decorrer dos quatorzes capítulos da obra.
No decorrer do livro, Palacios apresenta-nos os argentinos, sem os clichês e estereótipos que costumam marcar presença na grande maioria dos relatos acerca do país. De modo que o autor além de nos apresentar nossos “hermanos”, realiza uma contextualização histórica da Argentina. Esta contextualização nos permite entender os processos ocorridos na sua história, que, por sinal, é marcada por uma forte instabilidade política e econômica.
Em Os Argentinos, o autor descreve a economia argentina como “esquizofrênica”, marcada por altos e baixos. De forma que, no país a economia está muito vinculada à política, que por sua vez, tem à frente representantes que não acreditam totalmente no sucesso econômico do país, passando assim um sentimento de insegurança para a população.
Mas, se há na política atual da Argentina políticos que passam insegurança para a população, houve no decorrer do século XX figuras que mobilizaram as massas. São citados pelo autor como os “grandes mitos” da História Argentina. Dentre os grandes líderes, Palacios evidencia a figura de Eva Duarte de Perón (1919-1952) no imaginário do povo argentino, como a “mãe dos pobres” e de seu esposo Juan Domingo Perón (1895-1974) como grande líder político – mesmo estando morto, ainda exerce muita influência na política argentina por meio dos discursos dos novos “líderes”, que usam o que foi dito pelo ex-presidente, para legitimar sua forma de governar.
Outro assunto destacado no livro é o posicionamento da Argentina, ou melhor, de políticos argentinos em relação aos criminosos do nazismo. Muitos estudiosos acreditam que criminosos nazistas encontraram refúgio na bela e “europeia” Buenos Aires. Segundo Palacios a política e a afeição de Perón e Evita para com os ideais fascistas, teriam facilitado a entrada e permanência de figuras importantes do III Reich. Palacios destaca o forte sentimento antissemita presente em parte da população argentina, mostrando-nos que mesmo sendo o país que concentra a maior comunidade judaica da América Latina, é também a possuidora do maior número de grupos neonazistas.
O autor em meio a assuntos pesados – política, economia, mortes e torturas –, encontrou, em sua obra, espaço para falar das artes argentinas: do tango de Astor Pantaleón Piazzolla à literatura de Jorge Luis Borges; e também das riquezas gastronômicas do país, que, por sinal, gaba-se de ter inventado o doce de leite e de possuir uma carne de excelente qualidade.
Outro aspecto discorrido no livro é a língua e os diversos e corriqueiros erros cometidos entre os brasileiros ao tentarem falar o espanhol e os erros cometidos pelos argentinos ao tentarem falar com certo “jeitinho brasileiro”. Mas o que surpreende os brasileiros na leitura é o posicionamento dos torcedores argentinos em relação ao futebol e as disputas com seu grande rival, que não é o Brasil, mas sim a Inglaterra.
Assim, Palacios mostra-nos, em seu livro, a importância do futebol para os argentinos, evidenciando no decorrer da leitura, que ao contrário do que muitos pensam, o grande inimigo da Argentina não é o Brasil, mas sim a Inglaterra, por causa da Guerra das Malvinas. Sendo que além de abordar essa relação Brasil-Argentina no que se refere ao futebol, Palacios mostra que no país o futebol, a Copa do Mundo, teve um papel “curioso”, pois em meio ao terror da Ditadura Militar, todos (os contrários e os defensores do Regime) compartilhavam o mesmo sentimento, a torcida pela vitória argentina na Copa de 1978 – confirmando assim o forte sentimento patriótico que as disputas futebolistas causam na população de um país.
Por fim, ao contrário do que dizem as diversas piadas envolvendo os argentinos, e sua relação para com os brasileiros, Ariel Palacios, em sua obra, tem por intuito desfazer esse “mal entendido”, pois segundo o autor, eles nutrem pelo Brasil e por seu povo, um forte sentimento de admiração e respeito. E neste caso, segundo Palacios, a recíproca é verdadeira.
Desta forma, podemos dizer que o livro Os Argentinos, do jornalista Ariel Palacios, contem valiosas informações sobre o nosso vizinho de fronteira. É visível o respeito que o autor tem para com a Argentina e seu povo, sendo cuidadoso ao descrever a realidade do país. Para isto ele baseou-se em obras de historiadores, escritores e reportagens. Assim, a obra é recomendável tanto para o meio acadêmico, como também para um público mais amplo e não especializado, aquele formado por pessoas que simplesmente desejam conhecer melhor o país.
Referência
PALACIOS, Ariel. Os argentinos. São Paulo: Contexto, 2013.
Gabriela Resendes Silva – Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe. Bolsista do Programa de Educação Tutorial do Curso de História (PET/UFS). E-mail: gabriela@getempo.org.
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