Este livro observa as artes: pintura, escultura, arquitetura, música, literatura e conhecimento acadêmico da Itália, além de salientar aspectos gerais da cultura, dando denso embasamento teórico sobre o fenômeno para sua melhor compreensão. Dos aspectos culturais da época, ele se detém na economia; política; visões de mundo, do homem e da organização religiosa. Depois o autor faz uma breve comparação entre a Itália e os Países Baixos e Japão.
AS ARTES
O autor mostra que o Renascimento italiano tem como características básicas o realismo, o secularismo e o individualismo, além de um entusiasmo pela Antiguidade clássica. Os gêneros mais propagados na pintura eram os retratos, seguidos das paisagens e da natureza morta.
Os artistas eram do sexo masculino (numa lista de 600, apenas três eram mulheres, poetisas), o que denotava uma característica universal e não nacional – e que pode ser explicada psicologicamente como a criatividade masculina sendo substituto para a inabilidade de gerar filhos ou sociologicamente como as habilidades femininas suprimidas pela sociedade dominada por homens.
Nessa época havia duas culturas e dois sistemas de treinamento: manual e intelectual; italiano e latino; baseado no estúdio ou na universidade.
Uma das organizações merecedoras de destaque eram as guildas. Guilda era a unidade máxima de organização para pintores, escultores e construtores, mas não para arquitetos, pois a arquitetura não era considerada uma atividade independente. Elas tinham várias funções. Regulavam os padrões de qualidade das obras e as relações entre clientes, mestres, jornaleiros e aprendizes. Coletavam o dinheiro de subscrições e doavam, emprestavam ou davam total ou parcialmente a membros necessitados. Também tinham o direito e dever de negociar as obras de seus associados.
Escritores, humanistas, cientistas e músicos não tinham guildas nem ateliês. A coisa mais parecida com uma guilda em seu mundo era a universidade.
Segundo Burke, os efeitos da invenção da imprensa na organização da literatura foram tão variados quanto perturbadores. Em primeiro lugar, foi um desastre para os que não estavam preparados para se adaptar e começar uma nova carreira. Em segundo lugar, a expansão e a produção de livros levaram à criação de novas ocupações que ajudavam a sustentar escritores criativos.
A música se assemelhava à literatura, na medida em que a reprodução era organizada, mas a produção não era.
O livro descreve que o artista que adotava o papel de “artista” tinha de enfrentar o preconceito social contra o trabalho manual. No caso de outros artistas, sua excentricidade assumia a forma de trabalhar demais e de negligenciar tudo o que não fosse sua arte.
A Igreja era tradicionalmente o grande patrono das artes, e é essa a razão óbvia para a predominância de pinturas religiosas na Europa durante um longo período. Havia também o patronato coorporativo feito pelo Estado, ou Principado, patronato doméstico e sistema acadêmico, dentre outros menos usuais. Os motivos que levavam ao patronato eram a piedade, o prestígio e o prazer.
ECONOMIA
As cidades da Itália se desenvolveram em resposta à demanda de outros lugares, regiões próximas e áreas mais distantes. Eram cidades mercantes, artesãs-industriais e de serviços.
Existiam as instituições que ao mesmo tempo expressam e estimulam o modo de pensamento e a existência de uma estrutura de crédito que dependia de cálculos e que incluía bancos, uma especialidade italiana nesse período.
POLÍTICA
Certamente se pode argumentar que alguns dos Estados da Itália do Renascimento eram precocemente burocráticos, graças à urbanização italiana e à conseqüente disseminação da alfabetização e operacionalização.
VISÕES DE MUNDO
Existe um paralelo entre a nova concepção de tempo e a nova concepção de espaço. Ambos passaram a ser vistos como passíveis de medida precisa. Os relógios mecânicos e a perspectiva pictórica foram desenvolvidos na mesma cultura.
A astrologia era tolerada pela Igreja, mas não era considerada incompatível com o cristianismo.
Havia quatro níveis de existência: humana, animal, vegetal e mineral. Acreditava-se em símbolos, bruxaria e em magia negra.
VISÕES DE HOMEM
Na Idade Média, o homem só tinha consciência de si mesmo como participante de alguma categoria, não como indivíduo. Com os intelectuais do período do Renascimento, houve uma mudança nesse pensamento; começou-se a revelar uma confiança cada vez maior no homem como ser.
ORGANIZAÇÃO RELIGIOSA
As igrejas podiam ser usadas como armazéns, as pessoas transitavam, comiam, bebiam e dançavam. Podiam-se encontrar mendigos, cavalos, jogadores e professores dando aulas dentro dessas. Os padres não tinham estudo, podendo ser chamados de ignorantes.
PAÍSES BAIXOS
Nos séculos XV e XVI, os Países Baixos foram centro de inovação cultural, que só foi igualado ou superado pela Itália. Assim como na Itália, havia inovação consciente. Um dos objetivos principais dos pintores era a verossimilhança e um dos meios mais importantes para conseguir isso era o emprego da perspectiva.
Na Itália, a inovação maior era na arquitetura; depois vinha a escultura, a pintura e finalmente a música. Nos Países Baixos, ao contrário, a inovação foi maior na música, depois na pintura; a escultura ficaria muito atrás.
JAPÃO
Assim como no caso da Itália e dos Países Baixos, uma tendência importante nas artes do Japão da Genroku era o realismo, particularmente o realismo doméstico.
Essa breve comparação da Itália com os Países Baixos e Japão tem falhas evidentes. A literatura secundária disponível não permite uma discussão sobre a ética comercial de Flandres nem sobre o meio ambiente dos artistas japoneses.
O foco do estudo de Peter Burke foi na inovação cultural, e os exemplos flamengo e japonês, não menos que os italianos, sugerem que as inovações precisam de apoio, pelo menos inicialmente, de novos tipos de patronos. Na cultura, assim como na vida econômica, existem rendatários e empreendedores.
Resenhista
Cibele Aparecida P. Barbieri – Bacharel em Psicologia, aluna do programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie, mestrado.
Referências desta Resenha
BURKE, Peter. O Renascimento italiano – cultura e sociedade na Itália. São Paulo: Nova Alexandria, 1999. Resenha de: BARBIERI, Cibele Aparecida P.. Ciências da Religião – História e Sociedade. São Paulo, v.2, n.2, p. 206-210, 2004. Acessar publicação original [DR]
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