O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem – RIEGL (PL)

A obra intitulada como O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem foi redigida por Alois Riegl, historiador da arte vienense, designado como presidente da Comissão de Monumentos Históricos da Áustria em 1902. Esta produção trata da basicamente do valor da arte em diversas perspectivas. O livro possui 85 páginas e está dividido em capítulos da seguinte forma: 1) Os valores dos monumentos e sua evolução histórica; 2) A relação dos valores de memória com culto dos monumentos; e, 3) A relação dos valores de atualidade com o culto dos monumentos.

No primeiro capítulo Riegl inicia o texto explicando o que é monumento que segundo sua visão: no sentido mais antigo e original do termo, entende-se uma obra criada pela mão do homem e elaborada com o objetivo determinante de manter sempre presente na consciência das gerações futuras algumas ações humanas ou destinos (ou a combinação de ambos). Pode tratar-se de um monumento de arte ou de escrita, conforme o acontecimento a ser imortalizado tenha sido levado ao conhecimento dos espectadores com os meios simples de expressão das artes plásticas ou com auxílio de inscrições. Geralmente, os dois meios encontram-se associados de forma equitativa.

O autor esclarece, ainda, que “obra de arte é toda criação humana tangível, visível, ou audível, que apresenta valor de arte; sendo monumento histórico toda obra de constituição análoga que possui valor histórico”. De acordo com Riegl, o valor da arte de um monumento é calculado pela forma como a obra atende às exigências dos indivíduos que gostam de arte, que muda de indivíduo para indivíduo e de tempos em tempos. Enquanto o valor de arte tem relação com gosto e tempo, o valor histórico, segundo o autor, refere-se a algo abrangente, ou seja, é aquele referente a “tudo que foi e não é mais nos dias de hoje”. Quando se fala no valor histórico, tem-se como base uma obra que representa um elo de uma corrente histórica, sem o qual fatos posteriores não teriam ocorrido.

A segunda parte chamada de a relação dos valores de memória com culto dos monumentos trata das classificações relacionadas ao valor dos monumentos que, segundo Riegl, podem ser divididos em: valor de antiguidade, valor histórico (representa um estágio da evolução humana) e valor volível.

O valor de antiguidade refere-se ao aspecto inatual da obra. Assim percebe-se e valoriza-se o bem pela sua incompletude, falta de coerência e tendência a dissolução das cores e formato, tornando a obra antiga oposta aos objetos modernos e chamando a atenção do povo.

Já o valor volível pode ser compreendido como aquele relacionado ao objetivo dos idealizadores de uma obra, em tornar um fato ou personagem imune ao tempo (imortal). No valor volível pretende a eternidade, a essência incessante.

O terceiro capítulo fala da forma como são tratados os valores dos monumentos quando observado o tempo. É esclarecido que existem as seguintes definições de valores: valor utilitário ou de uso, valor de arte, valor de novidade e valor relativo.

Novamente, Riegl decifra as características de cada valor e discorre sobre a importância de cada um e os embates entre aqueles que defendem um em contraponto a outro. Para o pesquisador, os valores podem ser entendidos da seguinte forma:

a) Valor utilitário: refere-se ao valor dado pelo uso da obra, como por exemplo, a cúpula de São Pedro em Roma, seu valor está tanto na arte de sua produção quanto em seu uso para visitas. Se a cúpula ficasse sem visitantes não teria o mesmo valor;

b) Valor de arte: é representado pela natureza da obra e dos conceitos que a tornaram conhecida, com base nas formas, cores, técnicas empregadas e o gosto moderno daqueles que a prestigiam;

c) Valor de novidade: trata-se daquele ligado ao novo, a arte que se mostra recente e contrária à antiguidade. A arte nova tem formas inalteradas e cores vivas sem o desgaste do tempo;

d) Valor relativo: surge da ideia daqueles que valorizam a arte pelo fato da obra representar testemunho da força criadora humana frente a natureza e daqueles que apreciam a relação específica entre cor, forma e concepção, ou seja, não existe um valor absoluto da arte, segundo Riegl.

Na obra de Riegl torna-se claro que são atribuídos vários tipos de valores às artes, os quais têm como base o tempo (valor de antiguidade, histórico, novidade) e as técnicas (valor de arte e relativo). Independentemente dos valores atribuídos, Riegl esclarece que a arte é um testemunho da evolução das técnicas humanas e, em alguns casos representa a imortalidade de fatos históricos e conhecimentos sobre as sociedades do passado.

Renato Rodrigues Lima –  Mestrando em Ciências Humanas pela Universidade de Santo Amaro (UNISA). E-mail: rrlimax@yandex.com


RIEGL, Alois. O culto moderno dos monumentos: a sua essência e a sua origem. Tradução Werner Rothschild Davidsohn; Anat Falbel. São Paulo: Perspectiva, 2014. Resenha de: LIMA, Renato Rodrigues. A essência e origem do culto aos monumentos históricos segundo Alois Riegl. Ponta de Lança, São Cristóvão, v.8, n.15, p.64-66, out./dez., 2014. Acessar publicação original [DR]

Itamar Freitas

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