O Brasil resiliente: estímulos criativos para sua reconstrução | Manoel José de Miranda Neto

Manoel José de Miranda Neto – membro do Instituto Histórico Brasileiro, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Academia Paraense de Letras e da Academia Paraense de Jornalismo, participante ativo de Congressos e Seminários sobre “Globalização, Cidadania e Qualidade de Vida” e autor de renomados livros de pesquisa histórica, como por exemplo, o conceituado A Utopia Possível: Missões Jesuíticas e seu suporte econômico-ecológico, publicado em Brasília, pela Funag, em 2012 – traz à luz neste ano de 2021 seu último trabalho de fôlego: O Brasil Resiliente. Estímulos criativos para sua reconstrução.

A obra em tela possui 332 páginas, dividida em três partes temáticas: I – Colonização Séculos XVI e XVII; II – Consolidação Séculos XVIII e XIX; III – Globalização Séculos XX e XXI. As seções temáticas são desenvolvidas em treze capítulos cronologicamente contextualizados e enriquecidos com notas explicativas que remetem às referências bibliográficas completas. O autor apresenta, também, os Créditos das Ilustrações e as instituições basilares da documentação pesquisada – Arquivos, Fundações, Institutos Históricos – abrindo caminho epistemológico para futuras pesquisas e orientações para outros pesquisadores.

No campo teórico-metodológico da micro-história, o historiador encara o desafio de resgatar, expor e analisar atores sociais e circunstâncias, diretrizes político-econômicas e “projetos” culturais para a reconstrução e ressignificação de um Brasil Novo, como alternativas de um Brasil Resiliente.

Do potencial informativo de episódios e biografias que a obra apresenta em todos os capítulos, destacamos:

Na Parte I, Capítulo 4 – Fazenda Santa Cruz, Potência Jesuítica – Origem e consolidação, a produção e o abastecimento como “prova da eficiente administração jesuítica”. A singular administração da produção e a organização da comunidade social, baseadas na gestão do capital, da tecnologia e do profissionalismo, são apresentadas em quatro postulados essenciais: 1. Recursos humanos: eficiente gestão da mão de obra, família nuclear consanguínea e espiritual como ponto fundamental da comunidade escrava; 2. Recursos agrícolas: conservação do campo com a autossuficiência e diversificação produtiva; 3. Recursos pecuários: escolha das matrizes para reprodução do gado; 4. Recursos hídricos: manutenção dos canais para irrigação da lavoura e para o gado. A pesquisa assentada em farto material documental: relatórios, certidões, recibos, alvarás, contratos, sentenças e inventários, revela o funcionamento do complexo produtivo jesuítico.

Na Parte II – chamamos à atenção para o Capítulo 6 – A Construção da Economia Liberal – O Conde de Linhares, o Bispo Azeredo Coutinho e o Visconde de Cairu são personagens retratados como pioneiros do “movimento a favor da implantação da economia liberal e da abertura dos portos”. De Rodrigo de Sousa Coutinho, o Conde de Linhares, destaca as seguintes contribuições ao desenvolvimento nacional no âmbito da economia financeira: abertura dos portos; extinção do monopólio do sal; incentivo ao desenvolvimento da indústria; expansão da infraestrutura viária, dentre outras ações empreendedoras. Do bispo José Joaquim de Azeredo Coutinho, além de suas atribuições do bispado, elenca suas inúmeras atividades: fundador do Seminário de Olinda; governador interino de Pernambuco; presidente da Junta da Fazenda Real, onde duplicou as rendas da alfândega; Diretor Geral dos Estudos, cargo que teve todo seu empenho para a reorganização do ensino público. A figura de José da Silva Lisboa, o Visconde de Cairu, se notabiliza, no campo político-cultural, como introdutor da disciplina Economia Política nos cursos universitários no Rio de Janeiro; defensor da liberdade de comércio, da abolição da escravidão e do incentivo à imigração estrangeira; como Ouvidor da Capitania de Ilheus, deputado pela Bahia, membro do conselho de assessoramento de D. João VI e Desembargador do Paço trabalhou sempre pela implantação do comércio franco contra o monopólio e pela força de trabalho especializada contra o escravismo.

Na Parte III – assinalamos a relevância do Capítulo 12 – O Saneamento Urbanístico de Pereira Passos – para a atualidade da discussão da questão proposta. Ao analisar a Reforma Urbana do Rio de Janeiro, no primeiro decênio de do século XX, o autor discorre sobre o programa de revitalização do cenário da capital federal do presidente Rodrigues Alves: “O Rio Civiliza-se”. Para a grande mudança do quadro situacional da saúde e saneamento básico da cidade, foram convocados o prefeito Francisco Pereira Passos, o ministro da Viação e Obras Públicas engenheiro Paulo de Frontin e o sanitarista Oswaldo Cruz da Diretoria Geral de Saúde Pública, que responderam ao desafio das questões cruciais da conjuntura histórica: reforma urbana, saneamento básico e modernização do cais da cidade. A narrativa documentada identifica, em depoimentos e na imprensa da época, o legado urbanístico da maior reforma urbana do Rio de Janeiro, que confrontou os dilemas da “ordem X desordem” e da “higiene X poluição”, problemáticas ainda atuais.

A obra é recomendada para historiadores, geógrafos, engenheiros e economistas, pelo potencial de informações “passado-presente-futuro”. A Globalização do Conhecimento, a Globalização Tecnológica e a questão da Cidadania são analisadas como elementos vitais para o desenvolvimento político, econômico e social – transformação das instituições, das empresas, do mundo do trabalho – e preservação dos ecossistemas do planeta.


Resenhista

Vera Lucia Cabana de Queiroz Andrade – Sócia efetiva do instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro.


Referências desta Resenha

MIRANDA NETO, Manoel José de. O Brasil resiliente: estímulos criativos para sua reconstrução. Rio de Janeiro: PoD editora, 2021. Resenha de: ANDRADE, Vera Lucia Cabana de Queiroz. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, ano 28, n.28, p. 261-264, 2021. Acessar publicação original [DR]

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