O Brasil e a Segunda Guerra Mundial | Francisco Carlos Teixeira da Silva, Karl Schuster, Ricardo Cabral e Jorge Ferrer

O livro O Brasil e a Segunda Guerra Mundial aborda, a partir da comparação, as novas pesquisas sobre a participação do país no conflito. Com mais de 30 artigos, o trabalho é dividido em 8 partes, com o objetivo de comportar os diferentes objetos de estudo, das relações internacionais até o cotidiano da sociedade brasileira na guerra.

A primeira parte do livro possui debates teóricos fundantes para a compreensão não somente do conflito mundial, mas dos aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais que nortearam a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial, seja através da Força Expedicionária Brasileira (FEB) ou a partir do cotidiano de jornais das cidades brasileiras. Esta parte do livro também analisa a historiografia brasileira sobre a 2ª Guerra, procurando avaliar suas diferentes perspectivas ao longo do século XX. Há, igualmente, um profundo debate sobre a economia brasileira e mundial no período.

As relações internacionais durante o conflito é o tema da segunda parte do livro, onde as pesquisas são relacionadas ao posicionamento do Brasil, através do Ministro de Relações Exteriores, Oswaldo Aranha. A conferência dos chanceleres que definiu a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial em 1942, as relações entre Brasil e Argentina durante o confronto, a estratégia de defesa nacional e política externa brasileira são temáticas importantes estudadas nesta parte do livro.

A participação das Forças Armadas compõe a terceira parte do trabalho. Aqui, os autores dissertam sobre a composição e características da FEB, suas campanhas na Itália, a participação do Exército brasileiro na política brasileira no fim da guerra, a logística da Marinha e Exército no confronto e a desmobilização das Forças Armadas brasileiras e americanas são os pontos mais importantes desta parte do livro. Há também, há compreensão da importância das Forças Armadas do Brasil na guerra, derrubando a perspectiva do filme de Sylvio Black, Rádio auriverde, que minimizou a importância da participação do Brasil na guerra.

Esta discussão está pautada no período da ditadura civil-militar brasileira (1964- 1985). Sylvio Black buscou diminuir a importância do Exército brasileiro na 2ª grande guerra. Tal artifício foi utilizado como arma de protesto contra a ditadura brasileira. A produção de sentido do filme nos mostra tal aspecto: tornar os soldados brasileiros banguelas, analfabetos e despreparados para o confronto, o que geraria uma imagem caricatural do exército brasileiro.

A quarta parte do livro discute o Nordeste na guerra a partir da análise de fontes dos jornais locais e da dinâmica social do período de confronto. A propaganda sobre a necessidade de apoio ao racionamento de energia em nome da defesa nacional, os abrigos antiaéreos e a participação de empresas multinacionais norte-americanas são aspectos analisados nesta 4ª parte do livro.

A obra possui na quinta parte um debate sobre a resistência e a inteligência durante a Segunda Guerra Mundial. Tais análises são importantes para a compreensão do conceito de inteligência e informação e como estes foram utilizados pelo Brasil na guerra, tornando o estudo inovador, por envolver a polícia política na captação de informações dos inimigos.

A sexta parte do livro aborda os perseguidos pelo governo brasileiro durante a guerra. Os japoneses, a comunidade germânica e os demais apoiadores ao nazismo, que viviam em nossa sociedade, sofreram com os ataques realizados por jornais ligados ao governo. Neste sentido, esta parte do livro analisa as perseguições sobre as comunidades que apoiaram e propagandearam o nazismo no Brasil.

A relação entre o cinema e a guerra está compreendida na sétima parte do livro. Os autores trabalham o cinema através de sua produção de sentido, com diversos objetivos: propaganda, relações internacionais e revisionismo. Na propaganda, procura-se analisar o cinema europeu e latino-americano como instrumento de propaganda nas ditaduras, utilizando os filmes como promoção dos regimes autoritários. Além disso, a elaboração de filmes em prol do apoio à guerra nos Estados Unidos também é um tema vigente nesta parte da obra.

No tocante às relações internacionais, os autores discorrem sobre a utilização de imagens de aliados e inimigos para aproximação/afastamento entre os países. O episódio da criação do Zé Carioca, por exemplo, nos mostra uma tentativa de aproximação de Brasil e Estados Unidos, mostrando que personagens de países diferentes possuem aspectos em comum e podem conviver amistosamente.

Já sobre o revisionismo histórico, há a abordagem de novos filmes sobre o nazismo. Análises de filmes como O menino do pijama listrado e O leitor foram pensadas, sendo este último como forma de debate para os julgamentos dos que trabalharam nos campos de concentração, tendo como base no caso do ucraniano John Demjanjuk, acusado de participar dos campos de concentração em Treblinka.

Na última parte compreende-se o tema gênero e guerra, onde os autores fazem um estudo sobre os mais diversos aspectos do Brasil no confronto: a participação de enfermeiras, as mulheres na sociedade na época da guerra, o trauma da guerra através de estudos baseados em soldados que tiveram problemas psicológicos e psiquiátricos no pós-guerra são alguns dos temas que são abordados.

A conclusão do livro, realizada pelo professor da Universidade Estadual de Maringá, Sidnei Munhoz, nos mostra uma análise das bombas nucleares jogadas sobre o Japão e o efeito na política internacional, sobretudo nas relações entre Estados Unidos e Rússia, com o contexto da Guerra Fria.

Nota-se, portanto, que o livro possui diversos pontos de estudo, mas que intercalados, procuram evidenciar um aspecto importante para a história brasileira: a nossa participação na 2ª Guerra Mundial. Este foi um evento importante no qual o país possuiu participação efetiva não só nos confrontos, mas também na mobilização da sociedade contra as forças do Eixo. Além disso, o livro destaca a política externa brasileira no período, destacando as negociações para a entrada brasileira na guerra, a partir das negociações com os Estados Unidos, até a declaração de rompimento das relações diplomáticas com a Alemanha na Conferência dos Chanceleres (1942).


Resenhistas

Igor Lapsky – Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História Comparada/UFRJ e pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente. Bolsista CAPES.

Rafael Araujo – Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em História Comparada/UFRJ e pesquisador do Laboratório de Estudos do Tempo Presente. Bolsista CAPES.


Referências desta Resenha

SILVA, Francisco Carlos Teixeira da; SCHUSTER, Karl; CABRAL, Ricardo; FERRER, Jorge (Orgs.). O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010. Resenha de: LAPSKY, Igor; ARAUJO, Rafael. Revista de História Comparada. Rio de Janeiro, v.5, n.1, p.179-181, 2011. Acessar publicação original [DR]

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