“Outros haverão de ter
O que houvermos de perder.
Outros poderão achar
O que, no nosso encontrar,
Foi achado, ou não achado,
Segundo o destino dado.”
Fernando Pessoa
O novo número da Canoa do Tempo se propôs a contribuir para um debate fundamental na historiografia brasileira contemporânea e que diz respeito às múltiplas formas de interpretação da natureza do Império colonial que se estabeleceu no Novo Mundo. Autores como A J. Russell-Wood, afirmam que estamos diante do “ápice de um processo historiográfico iniciado na década de 1970”. 1
O impacto dessa vigorosa produção pode ser dimensionado não apenas pelas refinadas abordagens, que combinam metodologias inovadoras a pesquisa documental de peso, mas também pela intensidade das polêmicas que protagoniza em diferentes quadrantes. Acreditando no caráter produtivo e estimulante da discussão historiográfica, o Dossiê O Antigo Regime no Império Atlântico Português pretendeu reunir alguns desses autores e colocar em perspectiva novos movimentos analíticos nesse complexo jogo.
Assim, os artigos aqui apresentados formam um conjunto, não necessariamente homogêneo, mas que mantêm um intenso diálogo interno. Inicialmente, pensamos que as discussões poderiam partir do geral (o Reino) para o particular (o Estado do Brasil e o Estado do Grão-Pará). Porém, e ainda que esta seja a forma final de apresentação do dossiê, os trabalhos, lidos em conjunto, revelaram desenhos inovadores, instigantes e, em alguns casos, com discussões inéditas. Era muito mais do que esperávamos e, diante disso, pareceu-nos evidente que qualquer apresentação ficaria muito aquém da riqueza do dossiê. Optamos, então, por apresentar algumas de nossas impressões iniciais, sem a menor pretensão de esgotar os temas possíveis.
O texto de Antônio Manuel Hespanha (que dispensa maiores apresentações) discute o lugar das cortes nos sistemas de poder da época moderna, refletindo, de modo particular, sobre o período filipino; parte de sua discussão dialoga, diretamente, com o artigo de João Luis Ribeiro Fragoso, quando este apresenta as possibilidades analíticas abertas pela noção de monarquia pluricontinental, em um artigo instigante que combina pesquisa de fôlego com a abordagem inovadora que tem se constituído em uma marca de seu trabalho.
Por outro lado, o artigo de Miguel Jasmins, sobre as ilhas do Cabo Verde, e o de Maria de Fátima Gouvêa, sobre a Capitania do Rio de Janeiro, abordam, por diferentes ângulos e situados em diferentes lados do mar, questões cruciais para a administração colonial, tendo no horizonte as injunções próprias de sociedades de Antigo Regime e as implicações nas estruturas daí decorrentes. Poderiam ser agregados a este bloco de análise, o texto de Rafael Chambouleyron discutindo o lugar e a importância das ilhas (inclusive Cabo Verde) para o povoamento da Amazônia colonial e o de Fabiano Vilaça dos Santos, que realiza uma leitura fina da trajetória do coronel Joaquim Tinoco Valente, na Capitania do Rio Negro.
Rafael Ruiz, parafraseando João Francisco Lisboa, lida com uma “questão abrasadora”: o lugar das populações nativas nos cenários jurídicos coloniais. Suas análises permitem aproximações com as leituras renovadas efetuadas por Mauro Cézar Coelho, a respeito da aplicação de uma das mais famosas legislações indigenistas coloniais: o Diretório dos Índios.
Os caminhos, sejam os trilhados por São Tomé, sejam aqueles por onde circulavam o ouro e as gentes nos sertões da América Portuguesa, estão presentes nas abordagens fecundas de Leda Oliveira e Anderson Fonseca. Por fim, a Canoa do Tempo inaugura, com os artigos de Otoni Mesquita e James Roberto, uma nova seção Explorando Arquivo com a finalidade de refletir sobre os espaços de trabalho de nosso ofício.
As organizadoras aproveitam a oportunidade para agradecer, penhoradamente, a todos os autores deste número que, aceitando o convite, garantiram a qualidade deste dossiê. Agradecem a Otoni Mesquita, pela arte da capa, e também a James Roberto Silva, pela revisão técnica final, e a todos os professores e alunos do Núcleo de Pesquisa em Política, Instituições e Práticas Sociais – POLIS/UFAM. Por fim, agradecem uma a outra não apenas por este, mas por inúmeros outros trabalhos realizados em conjunto e sempre construídos sobre uma relação de respeito e profunda amizade.
Marcia Eliane Alves de Souza e Mello – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas.
Patrícia Maria Melo Sampaio – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Amazonas.
Nota
1 RUSSELL-WOOD, A J. Prefácio in Fragoso, J., Bicalho, M. F e Gouvêa, M. F. (Orgs.) O Antigo Regime nos Trópicos: a dinâmica imperial portuguesa (séculos XVI – XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 11.
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