Muerte y vitalidad de las lenguas indígenas y las presiones sobre sus hablantes – TERBORG; GARCÍA LANDA (A-RL)

TERBORG, R.; GARCÍA LANDA, L. (Org.). Muerte y vitalidad de las lenguas indígenas y las presiones sobre sus hablantes. México: UNAM: CELE, 2011. 285p. Resenha de: KERSCH, Doritea Frank. Morte e vitalidade das línguas indígenas e as pressões sobre seus falantes. Alfa – Revista de Linguística, São José Rio Preto, v.57 n.2 São Paulo  2013.

Si no respiras,
no existe el aire.

Si no caminas,
no existe la tierra.

Si no hablas,
no existe el mundo.1

No documento Vitalidad y peligro de desaparición de las lenguas, a UNESCO (2003) deixa claro que a diversidade linguística integra o patrimônio da humanidade, já que cada língua traz embutida a sabedoria cultural de um povo. Logo, o desaparecimento de uma língua implica uma perda irrecuperável para a humanidade. Segundo o documento, embora ainda existam em torno de 6.000 línguas faladas, muitas estão ameaçadas e correm o perigo de desaparecer. Há, inclusive, idiomas com milhares de falantes que já não são ensinados às crianças. Além disso, pelo menos metade dessas línguas ainda existentes estão perdendo falantes. Calcula-se que 90% de todas as línguas poderiam ser substituídas por outras dominantes até o final deste século. Nesse sentido, é imperiosa a sua documentação, a adoção de novas políticas e a produção de novos materiais para que se reforce a sua vitalidade. Paradoxalmente, em torno de 97% da população mundial fala cerca de 4% das línguas do mundo, enquanto os outros 96% de línguas minoritárias são faladas por 3% da população (BERNARD, 1996 apud UNESCO, 2003).

Segundo Trujillo Tamez e Terborg (2009), o México é um dos oito países que concentram a metade das línguas que se falam no mundo: são 364 variantes pertencentes a 68 agrupamentos de 11 famílias linguísticas (INALI, 2008 apud TRUJILLO TAMEZ; TERBORG, 2009). Dessas 364 línguas, apenas 10% são ensinadas na escola e 50 delas correm o risco de desaparecer. Assim, é mais do que urgente divulgar os resultados das pesquisas relacionadas a essas línguas, de modo que eles ajudem a construir as políticas linguísticas do México e dos países alinhados à concepção da UNESCO de que não é importante somente preservar a biodiversidade, mas também é preciso lançar nosso olhar sobre a ecologia linguística, já que o mundo é constituído por pessoas, que, por sua vez, se constituem na e pela linguagem. Ou, como afirma o documento da UNESCO (2003, p.2): “[…] la extinción de una lengua significa la pérdida irrecuperable de saberes únicos, culturales, históricos y ecológicos. Cada lengua es una expresión irremplazable de la experiencia humana del mundo.2

O livro Muerte y vitalidad de las lenguas indígenas y las presiones sobre sus hablantes vem divulgar as contribuições de um grupo de pesquisadores da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) para a comunidade. Apresenta trabalhos decorrentes do projeto “La vitalidad de las lenguas indígenas de México: um estudio em três contextos”, coordenado por Laura García Landa e Roland Terborg (2011), e acha-se vinculado à linha de pesquisa “Política y planificación del lenguage”, do Departamento de Linguística Aplicada, do Centro de Ensino de Línguas Estrangeiras (CELE) da UNAM. O conteúdo do livro faz parte de um conjunto de resultados das pesquisas realizadas pelos autores, no âmbito da referida linha de pesquisa, na última década. A obra traz importantes contribuições para o conhecimento necessário ao desenvolvimento de uma política linguística adequada à manutenção das línguas vernáculas no México. Os organizadores, Roland Terborg e Laura García Landa (2011), apresentam um modelo denominado ecologia das pressões, que mostra como as atitudes, necessidades, valores, crenças e ideologias exercem pressão, influindo na manutenção ou substituição de uma língua. Esse modelo é usado para explicar os dados de cada um dos estudos apresentados no livro.

Os três contextos considerados por Terborg e García Landa (2011) para a divisão das comunidades em estudo foram o suburbano (muito próximo a cidades ou mesmo pertencentes a algum bairro), o rural de fácil acesso (quando se trata de comunidades ligadas por rodovias asfaltadas) e o rural de difícil acesso (sem ligação com boas rodovias). Essa divisão permitiu identificar o grau de isolamento das comunidades e as necessidades de seus falantes, o que implica diferentes tipos de pressão para manter ou substituir a língua indígena pelo espanhol.

Nos estudos desenvolvidos e apresentados nessa obra, os autores consideraram os nove fatores do documento da UNESCO (2003) como fundamentais para avaliar a vitalidade das línguas minoritárias: a transmissão da língua de uma geração à outra; o número absoluto de falantes; a proporção de falantes no conjunto da população; as mudanças na utilização da língua; a resposta a novos âmbitos e mídias; a disponibilidade de materiais para o ensino e aprendizagem da língua; as atitudes e políticas do governo e instituições em relação à língua; as atitudes dos falantes em relação à língua que falam; e o tipo e qualidade da documentação linguística existente sobre a língua. Para a investigação cujos resultados são apresentados no livro, os pesquisadores se utilizaram principalmente do critério “proporção de falantes no conjunto da população”. Todos os trabalhos compilados no livro, além de terem o foco na máxima facilidade compartilhada (cujo conceito se acha adiante neste texto) como pressão para usar ou não a língua indígena, também levaram em conta, para a avaliação da vitalidade da língua estudada, a transmissão da língua de uma geração a outra, as atitudes dos falantes em relação à própria língua, e o uso da língua nos diferentes domínios.

O livro acha-se dividido em dez capítulos. No primeiro e no último, Terborg e García Landa (2011) discutem as bases teóricas e os conceitos-chave em que os oito estudos apresentados se apoiam. Cada um dos capítulos de 2 a 9, portanto, dá conta da análise da vitalidade/substituição (language shift) de línguas indígenas faladas em oito regiões do México: mixe em San Juan Bosco Chuxnaban e em San Lucas Camotlán; p’urhépecha em Santa Fe de la Laguna; totonaca em Mecapalapa, Pantepec, Puebla; otomí, em Santiago Mexquititlán, Querétaro e em San Cristóbal Huichochitlán do estado do México; náhuatl em Xoxocotla, Morelos; e matlazinca no estado do México. Além da descrição do estado atual da língua na comunidade em estudo, analisam a pressão causada pela máxima facilidad compartida (MFC), considerada uma das mais decisivas na mudança e manutenção da língua autóctone, como será detalhado na sequência.

No primeiro capítulo, “Las presiones que causan el desplazamento-mantenimiento de las lenguas indígenas. La presentación de un modelo y su aplicación3, Terborg e García Landa apresentam o modelo da ecologia das pressões, as quais atuam tanto favorável quanto contrariamente à língua indígena, como mostram os estudos apresentados no livro. Ao fazer menção à ecologia, os autores partem do princípio de uma ecologia em movimento, considerada resultado de um processo dinâmico, em que determinadas forças entram em ação. Assim, uma ecologia estável é afetada quando aumentam as pressões sobre uma parte dos falantes em uma situação de contato. Quando essas pressões entram em conflito, emerge o poder de uma sobre a outra, deixando essa última em desvantagem. A pressão, portanto, nem sempre é equilibrada, e, nesse caso, na interação, vai pesar mais sobre um dos interlocutores.

A cada interação, que é compartilhada entre indivíduos, ocorre uma negociação de sentido. Se há mais de um sistema à disposição dos falantes, a conversação chega a um equilíbrio do sistema (ou dos sistemas, no caso da mescla linguística), levando-os a optarem por aquele que exigir a menor atenção deles, ou seja, chegam a uma facilidade que lhes permite desenvolver a conversação sem esforço. A máxima facilidade compartilhada, portanto, é a variedade linguística que compartilham duas ou mais pessoas em determinadas situações, tratando de temas específicos. O conceito da facilidade compartilhada não se limita ao conhecimento da língua, mas compreende todo o conhecimento sobre o mundo e baseia-se na história comum dos indivíduos envolvidos, sempre e quando esse é compartilhado e automatizado. A facilidade compartilhada e os interesses dos indivíduos (compostos pelas crenças, valores, ideologias e necessidades) originam as pressões.

Nos capítulos 2 e 3, Isela Trujillo Tamez ocupa-se da língua mixe falada duas comunidades: Chuxnaban e San Lucas Camotlán. Em “La vitalidad de la lengua mixe de San Juan Bosco Chuxnaban4, faz uma descrição da língua, das regiões em que o mixe é falado, da forma de vida da população que o fala, traçando o perfil sociolinguístico de seus falantes. Seu recorte, no capítulo dois, é, como registra o título, San Juan Bosco Chuxnaban, uma comunidade rural de difícil acesso, condição que favoreceu a manutenção da língua. Hoje, 20% da população de Chuxnaban ainda é monolíngue, característica mais presente entre as mulheres adultas. Segundo a autora, já não são muitas as comunidades com isolamento geográfico associado às características socioeconômicas (produção de café para o mercado externo, seu principal produto, sempre foi negociado por um intermediário, o que não exerceu pressão para que usassem mais o espanhol). Essas características contribuem para a vitalidade do mixe nessa comunidade. Para o estudo desenvolvido, a autora considerou as variáveis: conhecimento do espanhol pelos falantes, o uso da língua na família nos diferentes grupos etários, o papel da mulher na transmissão da língua, e o uso da língua em diferentes domínios – família, assembleia comunitária, igreja e escola.

Os dados da autora mostram que, embora o mixe em tenha uma vitalidade importante em Chuxnaban, observa-se um avanço do bilinguismo, que ainda pode ser caracterizado como receptivo ou pouco desenvolvido. Além disso, a comunidade ainda não registra monolíngues em espanhol. Ao olhar para os quatro domínios acima, Trujillo Tamez percebe que, na família e na assembleia comunitária, o mixe se sobrepõe ao espanhol, enquanto na igreja e na escola, as duas línguas têm o mesmo nível de funcionalidade – na igreja apresenta-se uma situação bilíngue e, na escola, se promove o uso predominante do espanhol, o que pode ter impactos importantes para o futuro do mixe.

Já no terceiro capítulo, “Situación sociolinguística del mixe en San Lucas Camotlán5, Trujillo caracteriza a comunidade em estudo, a qual, desde 2002, passou a ser servida por uma rodovia. Para identificar as pressões vividas em relação à língua indígena, o levantamento sociolinguístico considerou as seguintes variáveis: o grau de bilinguismo, a transmissão intergeracional, o uso da língua nos diferentes domínios, as atitudes em relação à língua, a educação, a economia e a migração, e a participação governamental. Os falantes vivem diferentes pressões em situações de substituição-manutenção linguística, o que implica usos diferentes da língua. De igual maneira, as pressões são percebidas de forma diferente pelos falantes da comunidade. Em algumas famílias, por exemplo, que dependem do trabalho migratório para garantir suas necessidades, o espanhol passa a ser importante; em outras, em que o trabalho agrícola é a fonte de subsistência, predomina o uso do mixe.

Em San Lucas Caamotlán, a MFC se desenvolve em mixe, ainda que o grau de bilinguismo surpreenda, em função do isolamento em que a comunidade vivia até 2002. A autora conclui seu artigo afirmando que as pressões que mais favorecem o mixe provêm do grau de bilinguismo, do uso e transmissão da língua e o uso em diferentes domínios; já o espanhol é favorecido pelos meios de comunicação, participação governamental e educação. Nessa comunidade, as pressões decorrentes das atitudes e da situação econômica e da migração são individuais e familiares.

Gabriel Rico Lemus, em “Resistencia y mantenimiento de la lengua p’urhépecha en Santa Fe de la Laguna, Michoacán6, afirma que, com a urbanização e expansão das redes de comunicação no México, comunidades indígenas isoladas são cada vez mais raras. Ainda que não se possam negar esses serviços às comunidades, isso aumentará as pressões para aprender o espanhol e pode levar à substituição da língua indígena (como mostra Trujillo Tamez, em relação ao mixe). Chama a atenção, entretanto, no caso do p’urhépecha em Santa Fe de la Laguna, que, apesar da convivência com os hispanofalantes, conserva-se o uso da língua indígena, que continua sendo transmitida às crianças.

O autor acredita que o bilinguismo em Santa Fe de la Laguna se deve às funções sociais específicas que cada língua tem na comunidade, o que está diretamente relacionado à facilidade compartilhada, às necessidades, às crenças, às atitudes e à ideologia. A forma como a comunidade está organizada e o perfil socioeconômico ajudam na manutenção da língua indígena. Até a década de setenta, somente os homens saíam da comunidade para vender o artesanato produzido; hoje, entretanto, também as mulheres auxiliam na comercialização dos produtos, o que as pressiona em relação à aquisição do espanhol. Assim, somente as idosas e crianças bem pequenas têm conhecimento limitado de espanhol. Entretanto, há vários domínios na própria comunidade em que a máxima facilidade compartilhada pressiona em relação à língua local, em função das atitudes e crenças em relação à língua e aos valores que os falantes atribuem a ela.

No capítulo seguinte, Lourdes Neri, em “El desplazamiento de la lengua totonaca en la comunidad de Mecapalapa, Panteepc, Puebla7, uma comunidade rural de fácil acesso, mostra que a estrutura hierárquica totonaca não se manteve ali. Além disso, tem-se observado uma diminuição da população, em função da migração, em especial de jovens, que vão em busca de melhores condições de trabalho e de vida fora do município. Essas mudanças na comunidade afetaram também o comportamento linguístico. A autora desenvolve seu estudo em três eixos: os dados sociodemográficos, o conhecimento e uso do totonaca, e o conhecimento e uso do espanhol. Os dados levantados mostram que o totonaca, nessa comunidade, está em perigo, já que a língua já não está mais sendo transmitida às gerações mais jovens. O espanhol passa a ocupar o lugar do totonaca em todos os grupos etários. Os indivíduos com idade entre 5 e 20 anos desconhecem a língua, o que significa que não a transmitirão às gerações que os sucederem.

No próximo capítulo, Vera Bermeo analisa “La vitalidad del otomí en Santiago Mexquititlán, Querétaro8. Nessa comunidade, também as mulheres têm um papel importante na manutenção da língua. A porcentagem de homens que sabem pouco otomí é maior que o de mulheres, cuja maioria fala o otomí. Isso está relacionado às atividades domésticas com que se ocupam. Nesse grupo, observa-se um número grande de jovens usando o espanhol para comunicar-se, inclusive no âmbito familiar. Além disso, o espanhol vem ocupando cada vez mais espaços que eram próprios do otomí. Como os jovens não usam mais a língua indígena, fica comprometida sua transmissão às gerações seguintes. Do mesmo modo como mostra o estudo de Neri em relação ao totonaca (capítulo 5), a falta de emprego leva à migração, o que implica o enfraquecimento do otomí, afetando a percepção que os falantes têm de sua língua. Consequentemente, a vitalidade da língua fica ameaçada.

O otomí também é objeto de estudo de Roland Terborg, no artigo “La situación de otomí de San Cristóbal Huichochitlán del estado de México9. A diferença entre as duas comunidades é que Santiago Mexquititlán é rural de fácil acesso, enquanto San Cristóbal Huichochitlán é suburbana. Na comunidade estudada por Terborg, observam-se mudanças no gosto das mulheres: somente as mais velhas ainda se vestem à maneira tradicional. O mesmo ocorre nas casas, que se assemelham às de outras comunidades rurais. Essas mudanças podem ser observadas também na língua, que vai cedendo sua vitalidade ao espanhol. Os dados de Terborg mostram uma mudança em curso, em todos os níveis, inclusive nos domínios mais privados. A MFC nas interações entre os mais jovens favorece o espanhol. Como os jovens, na sua maioria, são apenas bilíngues receptivos, prevê-se que sejam incapazes de transmitir o otomí a seus filhos. Terborg conclui dizendo que ainda se observa alguma força no otomí, sendo necessária uma planificação linguística que apoie a língua. Caso contrário, ela está fadada a desaparecer.

O náhuatl é outra língua cuja vitalidade é estudada. Laura García Landa e Brenda Cantú Bolán, no artigo “La vitalidad de la lengua náhuatl de Morelos: el caso de la comunidad Xoxocotla10, observam que no náhuatl de Xoxocotla há grande influência do espanhol, provavelmente em função de sua localização (próximo a uma rodovia e rodeada de povoados onde só se fala esse idioma), e em função do fluxo migratório. Os dados das autoras mostram um maior grau de bilinguismo entre os adultos (ainda que entre adolescentes e idosos ele também seja encontrado). O grau desse bilinguismo, entretanto, em muitos casos, se limita à compreensão e produção de algumas palavras e frases. O maior número de monolíngues náhuatl é encontrado entre adultos e idosos. Aparentemente, poucas crianças falam o náhuatl. O espanhol predomina em todos os domínios, seguido por um uso limitado das duas línguas nos privados. Assim, a pressão pelo uso do espanhol em todos os domínios é forte.

A última língua em estudo é o matlazinca. Virna Velázquez, em “El desplazamiento del matlazinca en el estado de México“, analisa as pressões que sentem os falantes para usar ou abandonar sua língua. O matlazinca já foi a língua majoritária no estado do México. Primeiramente, perdeu espaço para o náhuatl e hoje se acha reduzida a uma única comunidade. A autora identificou um grau significativo de mudança linguística, que está relacionada às atitudes: os mais jovens não se percebem como bons falantes, enquanto os de mais idade ainda se veem dessa forma. Assim, como as crenças estão ligadas a um ideal de pureza linguística, quando os mais jovens vão falar com os mais idosos, a MFC os pressiona a usar o espanhol e não a língua indígena. A autora termina seu estudo lembrando que, historicamente, ao menos a partir dos anos cinquenta do século passado, o matlazinca tem tido poucos falantes, o que a deixa em dúvida se essa língua se perderá ou não. Velázquez acredita que, se forem estabelecidas pressões a favor do matlazinca por meio da implementação de estratégias vinculadas a essas pressões, será possível deter a mudança. Essas estratégias incluiriam, por exemplo, promoção de um maior uso e transmissão da língua e inclusão de benefícios tangíveis para os membros da comunidade.

Após a apresentação dos oito estudos, Terborg e García Landa “amarram” os capítulos do livro com o artigo “La máxima facilidad compartida como presión determinante11. Os capítulos anteriores mostram diferentes pressões exercidas sobre os falantes para manter ou abandonar a língua minoritária. Para os autores, a MFC se refere a) ao conhecimento individual; b) ao uso do código entre bilíngues e monolíngues determinados, ou seja, o conjunto de participantes de uma conversa; e c) à seleção da língua de acordo com o tema, os espaços e aos domínios. A partir dos questionários aplicados em todos os estudos, em que os falantes avaliavam se falavam bem ou pouco, se só entendiam, mas não falavam ou ainda se não falavam nem entendiam (tanto a língua indígena quanto o espanhol), os autores propõem um cálculo para identificar a vitalidade (ou mudança) da língua indígena e, nesse sentido, analisar o desenvolvimento das pressões que favorecem a MFC e, consequentemente, que língua ela favorece nos diferentes grupos etários.

Os autores mostram que cada mudança econômica ou ambiental pode desencadear uma mudança na língua indígena, fazendo o espanhol sobrepor-se a ela. Nesse sentido, para Terborg e García Landa, as comunidades carecem de estímulo a pressões favoráveis originadas pela MFC para o uso das línguas indígenas. Faz-se necessário, pois, a proposição de políticas linguísticas para a manutenção dessas línguas, a partir dos estudos de cada uma das comunidades em que essas línguas são faladas.

Os estudos apresentados pelo livro Muerte y vitalidad de las lenguas indígenas y las presiones sobre sus hablantes (TERBORG; GARCIA LANDA, 2011) trazem importantes contribuições para a compreensão da realidade multilíngue, não só do México, como também do Brasil, onde, historicamente, as minorias linguísticas têm sido silenciadas.

Pelo modelo proposto por Terborg e García Landa – a ecologia das pressões – é possível ver como as ideologias e as atitudes em relação às línguas dão origem às pressões sobre os falantes para manter ou substituir as línguas, e como se regulariza a ação comunicativa humana nos níveis individual e coletivo, o que é muito bem explicitado pelos estudos apresentados no livro. Esse modelo, se aplicado ao estudo de outros contextos multilíngues, pode trazer à luz as pressões em conflito nessas comunidades, desvelando as relações de poder implicadas.

Os resultados apresentados pelos autores serão importante instrumento para o desenho de políticas linguísticas para cada uma dessas comunidades e chamam a atenção para a necessidade de políticas locais para a preservação da cultura e da história de tantas comunidades brasileiras (indígenas, quilombolas, de imigração, de fronteira) que não foram descritas ou são simplesmente ignoradas. Retomando a paráfrase da epígrafe, não custa lembrar que a sobrevivência das línguas está ligada à sobrevivência dos seus falantes, que precisam de identidades fortes e atitudes positivas em relação a si e à língua que falam, para que se interessem em transmiti-la às gerações seguintes, uma das condições para a vitalidade de uma língua.

Referências

TERBORG, R.; GARCÍA LANDA, L. (Org.). Muerte y vitalidad de las lenguas indígenas y las presiones sobre sus hablantes. México: UNAM: CELE, 2011, 285 p.

TRUJILLO TAMEZ, I.; TERBORG, R. Un análisis de las presiones que causan el desplazamiento o mantenimiento de una lengua indígena de México: el caso de la lengua mixe de Oaxaca. Cuadernos Interculturales, Valparaiso, n.12, p.127-140, 2009. Disponível em: <http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=55211259007>. Acesso em: 10 fev. 2012.         [ Links ]

UNESCO. Vitalidad y peligro de desaparición de las lenguas. Paris, 2003. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/pdf/LVE_Spanish_EDITED%20FOR%20PUBLICATION.pdf>. Acesso em: 08 fev. 2012.         [ Links ]

 

1  Paráfrase, constante no documento da UNESCO (2013), das palavras de um idoso navajo, enunciada por Akira Yamamoto no programa veiculado em 24 de maio de 1992 na Millennium Series da PBS-TV Tribal Wisdom and the Modern World, apresentado por David Maybury-Lewis.
2 “[…] a extinção de uma língua significa a perda irrecuperável de saberes únicos, culturais, históricos e ecológicos. Cada língua é uma expressão insubstituível da experiência humana do mundo.”
3 “As pressões que causam a substituição-manutenção das línguas indígenas. A apresentação de um modelo e sua aplicação.”
4 “A vitalidade da língua mixe de San Juan Bosco Chuxnaban.”
5 “Situação sociolinguística do mixe em San Lucas Camotlán.”
6 “Resistência e manutenção da língua p’urhépecha em Santa Fe de la Laguna, Michoacán”.
7 “A mudança da língua totonaca na comunidade de Mecapalapa, Panteepc, Puebla”.
8 “A vitalidade do otomí em Santiago Mexquititlán, Querétaro”.
9 “A situação do otomí de San Cristóbal Huichochitlán do estado de México”.
10 “A vitalidade da língua náhuatl de Morelos: o caso da comunidade Xoxocotla.”
11 “A máxima facilidade compartilhada como pressão determinante.”

Dorotea Frank Kersch – UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Centro de Ciências da Comunicação. São Leopoldo – RS – Brasil. 93022-340 – dorotea_fk@hotmail.com

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