“A América Latina está em chamas”, estampada em cartazes ou compartilhada pelas redes sociais, essa frase resumiu a soma de vários elementos que começaram a eclodir contemporaneamente no continente – a despossessão econômica gradativa das classes baixas e médias e a crescente concentração de renda nas mãos de um pequeno número de pessoas, o recrudescimento da violência policial contra comunidades periféricas e/ou manifestantes em protestos políticos, o enfraquecimento da democracia por meio de decisões judiciais e/ou criação de leis que contrariam explicitamente os princípios constitucionais, discursos políticos que incitam e/ou legitimam manifestações de ódio e violência social etc. Tal conjunto, não à toa, parece ecoar a dimensão espectral dos regimes totalitários que há algumas décadas assolaram o continente.
A literatura, sendo igualmente uma construção sócio-histórica, compartilha com a sociedade as condições materiais de existência; entretanto, visto ser também processo criativo, abandona a condição de ser meramente espelho social (CANDIDO, 2000) e se torna via de acesso para a compreensão, a denúncia e o rompimento de percepções automatizadas da realidade, torporizadas pelas reiteradas manifestações da violência social (GINZBURG, 2012) e dissimuladas por variados mecanismos ideológicos que negam a ferocidade nas relações com tantos “outros” intimidados, reprimidos, reificados e proscritos às margens (CHAUÍ, 2017). Além disso, a literatura também é um campo privilegiado para o surgimento de renovadas conformações estéticas, novas poieses a figurar, entre tantas relações, a articulação entre violência, repressão e sociedade.
Por isso, longe de ser apenas objeto de fruição estética ou entretenimento, a literatura e os estudos literários auxiliam na composição de um arcabouço teórico e analítico imprescindível para a reflexão e discussão sobre o desequilíbrio do exercício do poder em uma sociedade, causa principal do fenômeno da violência, sobretudo em sua manifestação sistêmica, caracterizada pelo funcionamento desigual dos sistemas econômicos, políticos e jurídicos (ŽIŽEK, 2014). Desigualdade que transforma a responsabilidade do Estado em garantir direitos individuais e coletivos em uma máquina de repressão a opositores, a “minorias” étnicas, raciais e religiosas, a grupos economicamente desprivilegiados, à livre expressão de sexualidades não-heteronormativas e inúmeros outros, conduzidos, em um extremo não difícil de se alcançar, à mera vida nua, reduzida à simples e precária existência biológica, desprovida de qualquer tutela (AGAMBEN, 2002).
Em Microfísica do poder, Foucault (1979, p. 12) comenta que “a verdade não existe fora do poder ou sem poder. […] A verdade é deste mundo; ela é produzida nele graças a múltiplas coerções e nele produz efeitos regulamentados de poder”. Nesse sentido, a arte e a literatura atuam como “dispositivos de poder” com os quais os sujeitos podem expressar formas de existências e exercer resistências a outros dispositivos, vistos como opressores, conforme as distintas economias de poder; “opor a própria força à força alheia”, nas palavras de Bosi em Literatura e resistência (2002, p. 118). Neste mesmo texto, Bosi comentaria que “a resistência é um movimento interno ao foco narrativo, uma luz que ilumina o nó inextricável que ata o sujeito ao seu contexto existencial e histórico” (2002, p. 134). As pontas amarradas por esse nó podem trazer os mais distintos sujeitos e objetos e, na relação da literatura com o cenário político nacional e global da atualidade, é possível que se materializem dialéticas similares a que outras manifestações produziram em outros contextos histórico-sociais. As memórias destas formas de resistência são, também, combustível que potencializa a luta pela existência do agora.
As tensões que tornam este nó inextrincável, que mantêm atado o sujeito ao mundo, são mantidas pelas diversas formas de representação da realidade imediata e/ou passada. A memória, coletiva ou individual, cumpre especial papel quando as forças em tensão levam o sujeito a cotejar uma realidade ausente em comparação ao tempo do agora. Se há uma dinâmica entre presença e ausência na experiência memorial, como argumenta Gagnebin (2006), podemos ver na escritura literária uma “irrupção em um presente [tomado como] evanescente” da “presença do passado desaparecido” (GAGNEBIN, 2006, p. 44), perdido. Como uma luta da “palavra” por manter o passado “vivo”: “o fato da palavra grega sèma significar, ao mesmo tempo, túmulo e signo é um indício evidente de que [a] criação de significação é também um trabalho de luto. […] confirma-nos, igualmente, quão inseparáveis são memória, escrita e morte” (GAGNEBIN, 2006, p. 45, grifos da autora).
Não parece ser sem razão, pois, que em momentos em que a sensação de morte, e com ela o vislumbre da necessidade ou desejo fervente de re-existir, a escritura memorialística de manifestações de luta, horror e repressão se tornem tão prevalentes. Igualmente, é interessante notar como memórias tomadas como traumáticas cumprem especial lugar neste processo, promovendo deslocamentos de olhar que se direcionam para passados particularmente significativos por estarem associados, ao mesmo tempo, a sentimentos como o de medo, sofrimento e morte, e a ações/respostas como o enfrentamento, a autoarfirmação, ou mesmo a sobrevivência, de sujeitos, de grupos sociais, de pensamentos.
Os textos que compõem o dossiê temático, assim, se apresentam ao leitor como agenciadores, também eles, de resistência, na medida em que se voltam à compreensão de como a literatura torna-se um espaço de denúncia e re-existência em conjunturas políticas repressoras ou contextos sociais e históricos opressores. Nesse percurso, que atravessa narrativas, textos líricos e dramáticos, o leitor é convidado a se aproximar a olhares, sujeitos, situações, locais e temporalidades de contextos como o do Brasil contemporâneo, da Inglaterra do século XVIII, e das Ditaduras Brasileiras e Latino-americanas do século XX.
Destarte, abrindo a coletânea, em “Gritos e sangue entre paredes mudas: memória e silenciamento de locais traumáticos”, Anairan Jeronimo da Silva e Carlos Henrique Lopes de Almeida nos conduzem a contextos ditatoriais no Brasil e na Argentina. A partir de diálogos com a canção célebre de Chico Buarque e Gilberto Gil (1978), são apresentados os estudos dos contos “A mancha” (2004), de Luís Fernando Veríssimo, e “A hospedaria” (2017), de Mariana Enríquez. Neles, o espaço da e a experiência de tortura levam-nos a refletir sobre o silenciamento que recai sobre a memória de locais traumáticos, mostrando como a literatura pode assumir uma posição ética de resistência.
Da experiência dos locais traumáticos, passamos, com Milton Hatoum, para o movimento de resistência assumido pela expressão artística em tensão a imposições de censura: Liz Basso Antunes de Oliveira, Sambite Santos Cabi e Josiele Kaminski Corso Ozelame, no artigo “Literatura de resistência: ‘A noite da espera’, de Milton Hatoum”, nos convidam a um olhar para a censura do governo autoritário ditatorial brasileiro instaurado pelo golpe de Estado no início de 1964. O estudo sobre a “A noite da espera” (2017) revela como se desenvolve, atravessada pela memória do personagem-narrador Martim, uma atmosfera de apreensão e enfrentamento em um grupo de amigos que se envolve com teatro, literatura e jornalismo.
Em deslocamento de sul a norte do continente e de capilarização de grandes centros do poder político para espaços periféricos, “Relato de uma bárbara morte: história e literatura no cordel ‘O Padre Henrique e o Dragão da Maldade’ de Patativa do Assaré” traz a análise de um poema de cordel cuja temática de denúncia é o assassinato de um padre pernambucano que integrou a resistência no pior período da repressão da ditadura civil-militar, logo após a publicação do AI-5. É relevante pontuar como por meio do texto de Carlos Augusto Pegurski, Rogério Caetano de Almeida e Marcelo Fernando de Lima o leitor é levado a refletir sobre a importância de que escritos de resistência alcancem também camadas da população para as quais as formas literárias arraigadas à tradição popular mostram-se como caminho propício para denunciar crimes praticados em contexto de regime ditatorial.
Por sua vez, em “O problema do herói Getúlio Vargas: o tempo da escrita e seus interesses na atualização de personagens históricos”, Izis Guimarães Mueller e Maria Aparecida Silva de Sousa apontam para como o deslocamento temporal e o contexto de enunciação podem ser elementos fundamentais para a compreensão do espaço de resistência que se agencia pela escrita literária. A partir do estudo do texto dramático “Dr. Getúlio, sua vida e sua glória”, escrito por Dias Gomes e Ferreira Gullar, em 1968, as autoras buscam discutir as relações entre historicidade, memória, política e produção artística. Mostram como o texto em análise, superando uma aparente contradição, apresenta uma homenagem positiva à memória do ex-presidente como estratégia de enfrentamento à ditadura civil-militar.
As relações entre historicidade, memória, política e produção artística podem ser enfocadas ainda pelo viés analítico que coteja comparativamente os espaços discursivos da Literatura e da História. É nessa linha que segue “‘Não és tu, Brasil’: literatura e história no tempo da repressão militar”, de Rafael Victor Rosa Oliveira e Felipe dos Santos Matias. O estudo do romance “Não és tu, Brasil” (1996), de Marcelo Rubens Paiva, aborda como, por meio de uma narrativa polifônica e multifacetada, a obra literária expõe as dificuldades, violências e opressões sofridas por Carlos Lamarca e seus companheiros de Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) na luta contra o regime militar da época. Aqui, o processo de releitura da história pela literatura promove um diálogo interdisciplinar que possibilita uma ampla reflexão acerca de um dos momentos delicados do Brasil no século XX.
O trabalho de escritura como resgate e investigação do passado que escapa de uma perspectiva de univocidade discursiva ao passo em que se explora recursos de uma narrativa polifônica e multifacetada também pode ser percebido na medida em que se volte a atenção ao processo de introjeção do horror da ditadura no sujeito. O artigo “Regimes de si: ditadura e violência em ‘Na teia do sol’”, de autoria de Andressa Estrela Lima, evidencia em “Na teia do sol” (2004), de Menalton Braff, como se constrói uma narrativa de ensimesmamento. Por meio de um discurso fragmentário e repleto de vaivéns, a obra negocia significados para o exercício da violência no passado e no presente, tanto a partir do narrador personagem, quanto do cenário político social brasileiro.
Em “Projeções apocalípticas e anti-distopia na obra de Torquato Neto (1968-1972)”, Luis Gustavo de Paiva Faria e Victor Luiz Alves Mourão trazem à discussão com maior enfoque a relação entre escrituras jornalística e literária na produção de um mesmo autor. Delimitando um corpus de poemas e canções e a coluna Geléia Geral (1971-1972), sustentam que a produção Torquato Neto expõe figurações históricas e poéticas que oscilam por meio de caracterizações utópicas, distópicas, heterotópicas e anti-distópicas.
Já como representante do fenômeno da literatura distópica na contemporaneidade, o romance Nación Vacuna (2017), de Fernanda García Lao, apresenta uma Argentina supostamente vitoriosa na Guerra das Malvinas, mas sem heróis de guerra, visto que os inimigos, antes da retirada, envenenaram as águas das ilhas e, assim, originaram uma estranha doença contagiosa que impediu os soldados argentinos de regressarem para casa. Obviamente, trata-se de um engodo para manter o controle social através da falsa imagem do heroísmo e sacrifício nacional. No artigo “Memória, Controle e História: uma Análise de Nación Vacuna (2017) de Fernanda García Lao”, Kelly Luciana Bueno e Antonio Rediver Guizzo analisam a representação de mecanismos de controle biopolíticos, da manipulação da história e da memória social e de um permanente estado de exceção, elementos que, tanto na obra quanto na realidade, compõem um conjunto de políticas totalitárias construídas sob o pretexto de garantir a ordem social.
Viajando a outros imaginários, onde “Exu matou um pássaro ontem com a pedra que atirou hoje” – o artigo “O Tempo de Exu: Necropolítica, História e Memória em Kindred”, a partir da análise do princípio de Exu da cosmologia Nagô, que esfacela o tempo não linear e a noção de História enquanto progressão contínua, analisa a construção do romance Kindred: Laços de Sangue (1979), da escritora afroamericana Octavia Butler. Dana, a escritora negra de 26 anos, que tem a singular capacidade de transporta-se para uma fazenda colonial americana no tempo da escravidão, é a protagonista de Kindred, e suas voltas à plantação compõem uma complexa tessitura sobre a qual Sara Martins Ramos investiga o entrelaçamento entre a memória e o trauma colonial, a experiência corporal da protagonista inserida no contexto da escravidão e a racialização como critério dos corpos matáveis da necropolítica colonial.
Já no artigo “A Literatura Gótica de Autoria Feminina na Inglaterra dos Séculos XVII E XIX: Resistência à Ideologia Hegemônica”, Rosana Ferrari Pandim Lisboa Teixeira e Priscilla Melo Ribeiro de Lima apresentam um estudo no qual é possível evidenciar como a resistência pela escrita também se manifesta na escrita de horror gótico por mulheres. Na pesquisa, são exploradas as articulações entre as metáforas do horror e as questões de gênero, conexões que servem como resposta, no campo literário, à destituição da mulher da esfera pública e dos sistemas do conhecimento e à imposição de mecanismos de domesticação e docilização do corpo feminino no campo social. Além disso, tal horror gótico também revela como os ideais iluministas de cientificismo, positivismo e racionalidade atribuíram à mulher os elementos desprezados nas dicotomias razão/paixão e mente/corpo, construindo um imaginário do masculino como centro da razão e do feminino como fonte das paixões que impedem o progresso da humanidade.
Ainda no século XIX, mas regressando ao continente latino-americano, a escrita feminina denuncia agora a escravidão na obra Úrsula (1859), de Maria Firmina dos Reis. Em “Úrsula na Contramão do Romantismo Brasileiro: um Ensaio de Estética Comparada”, Felipe Vale da Silva analisa como Firmina, partindo de princípios estéticos centrais do romantismo europeu, insere em sua obra inovações temáticas como a substituição clara dos imperativos da cor local de Gonçalves de Magalhães e José de Alencar pela representação dos traumas do Império no Brasil: historicamente manchado pela escravidão e pela tirania dos mandatários. Assim, evitando somente evocar a relevância de Firmina em função do lugar de fala como mulher negra que escreve o primeiro romance feminino brasileiro, o autor volta seus esforços investigativos para a análise dos elementos que caracterizam Úrsula como precursora do romance antiescravista no Brasil.
O lugar de fala da mulher negra na literatura entra em discussão no dossiê a partir de Becos da Memória (2006), de Conceição Evaristo. Em “Escrevivências da Pós-Colonialidade: Memória e Violência nos Becos da Memória, de Conceição Evaristo”, Tarik Mateus Adão da Costa de Almeida e Gabriela Soares Nogueira Andreatti, a partir do conceito de escrevivência, investigam as formas como a personagem Maria-Nova resgata o passado como um ato de resistência contra a opressão e o silenciamento impostos pelas classes dominantes na pós-colonialidade. Em Becos da Memória, a tessitura entre a multiplicidade de vozes, a memória e a opressão compõem uma narrativa em que, além de dar voz aos marginalizados e silenciados da sociedade, denuncia-se um sistema que oprime e silencia o povo negro do Brasil, que transita da senzala à favela para permanecer cravado no corpo e na memória dos personagens.
No artigo “Preso Político no Século XXI: uma Análise da Narrativa Testemunhal de Igor Mendes em A Pequena Prisão”, por sua vez, a resistência se escreve frente a um Brasil contemporâneo que, apesar de democrático, sinaliza características de um Estado de exceção para marginalizar minorias. Nesse contexto, Guilherme Henrique Ferreira Pimentel investiga a obra A pequena prisão (2017), na qual o ativista político Igor Mendes relata os dias em que ficou preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, no Rio de Janeiro, por participar de manifestações durante a Copa do Mundo de 2014. A literatura como denúncia e testemunho das contradições do Poder Judiciário e da violência das instituições penais, desvela, pela análise do autor, um Brasil ainda não redemocratizado, no qual os sequestros e os porões da ditadura somente se transformaram em prisões e presídios legitimados pelas lacunas das leis e arbitrariedade de seus operadores.
Na transição entre o dossiê temático e a seção geral, o texto “Linguagem e resistência em Mulheres de cinzas, de Mia Couto e Americanah, de Chimamanda Adichie”, Cleonice Alves Lopes Flois se ampara no subsídio dos estudos pós-coloniais para abordar a linguagem como ferramenta de resistência e de poder. Para a autora, a linguagem expressa uma identidade cultural sendo representada por meio de outras narrativas que se inserem na história tecendo assim uma escritura dupla em Mia Couto e Chimamanda Adichie.
De volta à literatura nacional, em “A busca de ‘brasilidade’ inacabada em Dona Flor e seus dois maridos por Jorge Amado: para além de mestiçagem e dualismo”, Na Hyun Lee observa que a ideia da brasilidade de Jorge Amado se baseia, sobretudo, na mestiçagem tanto racial quanto cultural. A autora aponta que a leitura da obra de Jorge Amado permite vislumbrar a existência de conflitos, ora antagonismo, ora reconciliação, ou ainda uma terceira possibilidade que é a acomodação à situação como ela é.
Ainda voltado para a América Latina, o artigo intitulado “A picaresca desde a aculturação é sublimação”, de Adriana Carolina Hipólito de Assis, reflete acerca do processo de aculturação mexicano a partir da leitura de Serge Gruzinski e Jacques Lafaye. A pesquisadora defende a tese de que houve a total obliteração do índio via hibridização e miscigenação consanguínea e que esse processo implicou em reverberações contemporâneas em termos estéticos.
Em “Leite derramado: uma reflexão acerca do fim da narrativa e do descentramento do sujeito moderno”, Cristina Allegretti Torii estuda a obra de Chico Buarque que, a partir figura de um senhor internado em um hospital público, aborda a derrocada da tradicional família brasileira. A autora defende que a narrativa desconexa de Eulálio resulta não apenas de sua idade avançada e da mudança social a que o narrador foi submetido ao longo da vida, como também de fenômenos ligados à ascensão da modernidade.
Em “São Gonçalo do Amarante: a imagem, a representação, o sagrado”, Arlene Rosa Eustáquio reflete sobre a representação de São Gonçalo do Amarante na peça O prodígio de Amarante, de Antônio José da Silva. O estudo se fundamenta no conceito de representação de Carlo Ginzburg e nos estudos sobre o mito de Karen Armstrong, bem como em Mircea Eliade para tratar do sagrado e Carl Gustav Jung no que diz respeito aos arquétipos e ao inconsciente coletivo.
Em resgate à obra de Patativa do Assaré, a exemplo do estudo de Carlos Augusto Pegurski, Rogério Caetano de Almeida e Marcelo Fernando de Lima, o artigo “Memória e identidade no cancioneiro popular de Patativa do Assaré”, de Poliana Bernabe Leonardeli, retoma a poesia popular nordestina. A pesquisadora defende que na produção de Patativa do Assaré ocorre a influência dos signos culturais nordestinos e que estes, alinhados à mente criativa do trovador, foram responsáveis pela criação de uma obra literária cujo sentido preserva a memória e a identidade do povo sertanejo, subvertendo, na grande maioria das vezes, uma narrativa hegemônica que se quis incutir acerca de indivíduos dessas regiões.
Por fim, o texto “Uma longa noite de espera, precisamos de outra?”, de Fatima Maria Aparecida Ruvinski Kuzma, resenha o texto de Hatoum, sobre o qual Liz Basso Antunes de Oliveira, Sambite Santos Cabi e Josiele Kaminski Corso Ozelame trataram em sua contribuição para o dossiê. Para Kuzma, diante da política contemporânea, o romance resenhado desafia os estudantes ao validar o papel que estes podem desempenhar frente aos discursos de ódio, de preconceito e de intolerância.
Referências
AGAMBEN, Giorgio. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.
BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
CANDIDO, A. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo: T. Queiroz, 2000.
CHAUI, M. Sobre a violência. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.
ELIADE, Mircea. El mito del eterno retorno: arquetipos y repetición. Tradução para o espanhol de Ricardo Anaya. Madrid: Alianza; Buenos Aires: Emecé, 1972.
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembrar escrever esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006.
GINZBURG, J. Literatura, violência e melancolia. Campinas: Autores Associados, 2012.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
ŽIŽEK, S. Violência. São Paulo: Boitempo, 2014.
Organizadores
Antonio Rediver Guizzo
Pedro Leites Junior
Maricélia Nunes Santos
Referências desta apresentação
GUIZZO, Antonio Rediver; LEITES JUNIOR, Pedro; SANTOS, Maricélia Nunes. Apresentação. Literatura, História e Memória. Cascavel, v. 16, n. 27, p. 4-11, 2020. Acessar publicação original [DR]
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