Maneiras de Ler Geografia e Cultura | A. L. Heidrich, B. P. da Costa e C. L. Z. Pirez

O estudo das representações abre caminhos para uma análise do mundo de interações que ocorrem no cotidiano. Esse categorial quebra paradigmas, pois ao invés de uma análise do ser no espaço, torna imprescindível a compreensão do ser enquanto espaço. É a chamada Geografia Cultural que surge nesse contexto, uma geografia dos sentidos, dos significados, das representações.

Para Gil Filho (2005, p. 54) “uma Geografia das Representações é uma Geografia do conhecimento simbólico”. Atualmente a Geografia acadêmica tem promovido ampla discussão, pautada em inúmeras pesquisas que entrelaçam por caminhos das distintas áreas do conhecimento.

Nesse viés a Geografia, a partir da Geografia Cultural, demonstrou interesse pelas coisas mais comuns da vida, o olhar das pessoas, os costumes, a complexidades dos ritos, das religiões, as distintas maneiras de perceber, viver e produzir o espaço.

A geografia cultural é mais uma abordagem, uma maneira de interpretar a realidade, do que um campo restrito do conhecimento geográfico; e … pela cultura ampliam-se a compreensão das realidades geográficas e a pertinência da subjetividade na leitura das metamorfoses espaciais (ALMEIDA e RATTS, 2003, p.51).

A obra intitulada “Maneiras de ler Geografia e Cultura”, organizada por Álvaro Luiz Heidrich, Benhur Pinós da Costa e Cláudia Luisa Zeferino Pires, traz a reflexão das distintas possibilidades teóricas e metodológicas da inserção da cultura na geografia, campo este da denominada Geografia Cultural.

Composta por 23 trabalhos, organizados em três partes, a obra “Maneiras de ler Geografia e Cultura” reúne textos que resultaram do IV Colóquio Nacional do Núcleo de Estudos em Espaço e Representação (NEER), realizado na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em novembro de 2011. Vale ressaltar que o NEER é composto por 25 pesquisadores que atuam em dezenove grupos de pesquisa de universidades brasileiras.

Na primeira parte do livro, “Pressupostos e maneiras de ler”, a preocupação dos autores é realizar uma reflexão sob o viés teórico e epistemológico da Geografia Cultural. Nessa perspectiva, distintos textos são agrupados na busca da compreensão do campo simbólico a partir de uma análise geográfica.

No texto “Um panorama sobre as Geografias Marginais”, de Salete Kozel, os organizadores abrem espaço para que a referida autora realize um panorama sobre essa “Geografia Marginal”, apresentando suas possibilidades teóricas. Para Kozel (2013, p. 13) “A Geografia se segmentou em inúmeras abordagens em seu desenvolvimento epistêmico, determinando certos enfoques teóricos e metodológicos possíveis e outros estranhos a um conjunto dominante dessa ciência”.

Esta Geografia Marginal busca a compreensão dos significados, das emoções e poética do espaço, abrindo perspectivas e interesse para novas pesquisas, caminhando a passos largos no Brasil pela quantidade e diversidade de temas, além de pesquisadores interessados (KOZEL, 2013).

Os organizadores da obra enfatizam que os estudos da cultura pela Geografia tem sido compreendida como uma retomada da Geografia Cultural, embora o enfoque da abordagem atual seja distinto das formulações que lançaram as bases dessa disciplina.

Na segunda parte do livro “Discursos, ideias e seus espaços”, os textos demonstram forte comprometimento da pesquisa com a representação que se articula a lugares, paisagens e identidades, tanto no efetivo envolvimento de comunidades locais como nos amplos enlaces institucionais da sociedade (HEIDRICH et. al., 2013).

De acordo com Pires (2013, p. 108) “O campo conceitual da ciência geográfica abarca diversidades e possibilidades teórico-metodológicas que podem promover discussões importantes na relação entre teoria e práxis“.

Dessa maneira, na segunda parte do livro, é enfatizada a importância do método geográfico adotado e seu categorial de análise para a compreensão do objeto de estudo. São trabalhos envolvendo a produção simbólica no estado do Tocantins; apontamentos sobre a África na obra de Tancredo do Amaral; estudo do parque Mãe Bonifácia em Cuiabá no estado Mato Grosso; sustentabilidade e natureza; pobreza e resistência em Salvador, na Bahia. São exemplos do foco cultural da geografia que se pretende realizar.

A inclusão da dimensão cultural no debate sobre a sustentabilidade, nas questões inter- venientes do desenvolvimento e do meio ambiente, situa-se na recente produção que Claval (2008) pontuou como da “virada cultural da geografia”.

Em “Práticas, memórias e seus lugares”, terceira parte do livro, é notória a preocupação que os organizadores da obra tiveram em relação aos estudos voltados para as práticas socioculturais, maneiras de viver, cotidianos e seus simbolismos guardados em memória e efetivados como patrimônio concreto.

Os textos apresentados na terceira parte do livro centralizam os estudos em aspectos como paisagens culturais e patrimônio cultural, os novos olhares sobre a dimensão geográfica do cultural, discussões acerca da etnicidade quilombola, entre outros.

Os temas tratados na terceira parte da obra demonstram o esforço contemporâneo de apreensão dos saberes populares pela dimensão de categorias e não pela hierarquização tipológica, demarcando assim a produção da Geografia Cultural.

A partir do exposto é imprescindível evidenciar que a obra intitulada “Maneiras de ler Geografia e Cultura” contribui para os debates da abordagem cultural na Geografia, principalmente devido a Geografia brasileira ter demonstrado interesse por essa pluralidade temática e, em especial, no estudo das diversidades culturais e suas relações no espaço geográfico.

Referências

ALMEIDA, M. G.; RATTS, A. J. P. (Orgs.). Geografia: leituras culturais. Goiânia: Alternativa, 2003.

CLAVAL, P. Uma, ou algumas abordagem (ns) cultural (is) na geografia humana? In: SERPA, Ângelo (Org.) Espaços culturais: vivências, imaginações e representações. Salvador: Edufba, 2008, p.13-32.

GIL FILHO, S. F. Geografia Cultural: Estrutura e primado das representações. Espaço e Cultura, Rio de Janeiro, n. 19-20, p. 51-59, jan./dez. de 2005. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/espacoecultura/article/view/3491/2419. Acesso em: 15/06/2014.

HEIDRICH, Á. L.; COSTA, B. P. da; PIREZ, C. L. Z. (Org). Maneiras de Ler Geografia e Cultura. 1ª ed. Porto Alegre: Imprensa Livre: Compasso Lugar Cultura, 2013. 267 p.

KOZEL, S. Um Panorama sobre as Geografias Marginais no Brasil. In: HEIDRICH, Á. L.; COSTA, B. P. da; PIREZ, C. L. Z. (Org). Maneiras de Ler Geografia e Cultura. 1ª ed. Porto Alegre: Imprensa Livre: Compasso Lugar Cultura, 2013. 267 p.


Resenhista

Danilo Henrique Martins – Universidade Federal do Paraná – UFPR. Aluno Especial do Programa de Pós-Graduação em Geografia. E-mail: danilohmartins@seed.pr.gov.br


Referências desta Resenha

HEIDRICH, Á. L.; COSTA, B. P. da; PIREZ, C. L. Z. (Orgs). Maneiras de Ler Geografia e Cultura. Porto Alegre: Imprensa Livre; Compasso Lugar Cultura, 2013. Resenha de: MARTINS, Danilo Henrique. Ensino de Geografia. Uberlândia, v. 5, n. 9, p. 208-211, jul./dez. 2014.

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Itamar Freitas

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