A obra “Le diplomate et l’intrus” demonstra como as categorias tradicionais de ação internacional evoluíram nos últimos anos, com especial ênfase na diplomacia. Em fato, nenhuma delas foi abolida, mas nenhuma delas pode ser considerada eficaz ou suficiente. A diplomacia, último refúgio da razão do Estado, é confrontada a uma demanda social crescente por maior participação nas questões de política externa. Deste modo, a diversificação dos atores na política internacional conduz a uma grande reflexão sobre o futuro da diplomacia e, principalmente, sobre o futuro do multilateralismo.
Bertrand Badie é professor de Ciência Política no Institut d’études politiques de Paris, e autor de várias obras, como L’État importé (1992); Un monde sans souveraineté (1999); Le retournement du monde. Sociologie de la scène internationale ; La diplomatie des droits de l’homme (2002); L’impuissance de la puissance (2004). Em Le Diplomat et l’intrus, Badie discute como os diplomatas precisam, hoje em dia, aprender a trabalhar com os novos atores internacionais. Partindo da hiperpotência norte-americana, passando por potências médias e emergentes, como França e Brasil, e as constestatárias, como Irã e Venezuela, o autor argumenta que analisar as relações internacionais implica não só estudar a política externa dos Estados, mas analisar também as relações entre sociedades e as forças sociais emergentes. Para tanto, definiu oito tipos diferentes de diplomacia: autárquicas, autônomas, clientelizadas, contestatárias, cooperativas, integradoras, soberanistas e burden-sharing. Com a globalização e os novos desafios políticos, anomias, conflitos e crises, todas oito construíram novas parcerias econômicas, culturais, associativas e até religiosas, constituindo uma “diplomacia privada” cada vez mais poderosa.
Mas quem é o intruso? O intruso na política internacional corresponde aos grupos sociais, povos, sociedades, indivíduos. Entraram no jogo internacional sem serem convidados, mas têm legitimidade e recursos de poder, portanto o custo político de ignorá-los é altíssimo. Em outros termos, o intruso é o resultado das forças sociais que se consolidaram nas democracias do século XX, mas que ficaram confinados à esfera doméstica. Com o passar do tempo, se interessam por questões de política internacional, e exercem cada vez mais um papel importante, estruturando interesses e contribuindo para a solução de conflitos. Em conseqüência, estamos passando de uma opinião pública sobre o internacional para uma verdadeira opinião pública internacional, à medida que o espaço público internacional é consolidado. Os atores não-estatais chegaram para perturbar a condução da diplomacia, que sempre foi considerada domínio reservado do Estado, atividade estratégia e técnica, mas não uma atividade social.
Para entender as mudanças no cenário internacional contemporâneo e no multilateraslimo, o autor utiliza teóricos das relações internacionais e eminentes sociólogos, como Max Weber e Emile Durkheim. Explica ele que passamos da sociologia do primeiro para o grande desafio internacional que é o da integração da sociedade, como sugeriu Durkheim. Portanto, autores como Clausewitz e Kissinger, não oferecem os instrumentos analíticos necessários para a apreensão das mudanças dentro das sociedades e das dinâmicas internacionais contemporâneos. Assim, Badie sugere uma leitura sociológica das relações internacionais, para complementar as abordagens políticas, estratégicas e econômicas. Ela permite enxergar a outra face da diplomacia, que é uma face escondida porque seus atores ou querem “andar mascarados na arena”, ou então porque às vezes participam da diplomacia sem saber, ou sem querer.
Resenhista
Ana Flávia Barros-Platiau – Professora do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB, bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. E-mail: anaflavia@teaser.fr
Referências desta Resenha
BADIE, Bertrand. Le diplomate et l’intrus. L’entrée des sociétés dans l’arène internationale. Paris: Fayard; L’espace du politique, 2008. Resenha de: BARROS-PLATIAU, Ana Flávia. Revista Brasileira de Política Internacional, v.51, n.2, 2008. Acessar publicação original [DR]
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