Jesus de Nazaré. O Que a História tem a dizer sobre Ele | André Leonardo Chevitarese
Este texto analisa a mais recente publicação da autoria do professor Dr. André Leonardo Chevitarese, intitulada: “Jesus de Nazaré, o que a história tem a dizer sobre ele”. O livro, com aproximadamente cento e dez páginas, busca fazer uma síntese sobre a personagem que fundou a sociedade ocidental: Jesus de Nazaré.
O livro é dividido na seguinte sequência: a “Apresentação”, escrita pelo filósofo e professor Dr. Gabrielle Cornelli, a “Introdução”, redigida pelo próprio professor Chevitarese, na qual sinaliza a distribuição da obra em seis capítulos bem estruturados, a saber, “I – Uma Outra Narrativa de Nascimento”, “II – Uma Vida em Nazaré”, “III – Um Caminho sem Volta”, “IV – O Reino de Deus Instaurado em Cafarnaum”, “V – O Ensino e a Performance de Jesus”, e “VI – A Crucificação de Jesus”. Além disso, há quatro apêndices que ajudam na compreensão do leitor menos familiarizado com a temática.
Na apresentação da obra, Gabrielle Cornelli enfatiza o que poderia ser trazido de “novo” sobre Jesus de Nazaré, após vinte séculos de teologia e algumas centenas de anos de abordagens históricas independentes.
Assim, conseguimos entender que o livro traz importantes contribuições para o entendimento da personagem central do ocidente. Logo em sua introdução, o professor André Chevitarese procurou traçar quais teriam sido os objetivos do livro inicialmente, já que sua pretensão era escrever uma biografia de Jesus de Nazaré.
Entretanto, reconhece que tal ideia teve de ser abandonada, pois boa parte das informações sobre a vida pregressa do messias foram completamente perdidas. Lança, então, uma pergunta relevante: por que estudar a vida de um campônio galileu do século primeiro da era comum? Apesar deste ponto delicado, existe material abundante para se escrever sobre o Cristo. Contudo, quem objetiva lançar seus olhos sobre o Nazareno encontrará apenas vestígios e diálogos com as mais diferentes ciências, tais como a história, arqueologia, antropologia, sociologia e até mesmo as ciências da religião.
No primeiro capítulo, André Chevitarese chama a atenção de seus leitores para o momento em que se escreve sobre o nascimento de Jesus, visto que essas informações históricas estavam perdidas. E o que nos restava eram antigas tradições baseadas no polêmico Evangelho Q e em Mc, iniciando suas narrativas com as pregações de João Batista. Ao partir para uma interpretação teológica de Jesus de Nazaré como um homem divino que viveu na Bacia do Mediterrâneo, o autor apresenta outros personagens que partilhavam de visões semelhantes de homens divinos presentes em outros documentos, tais como Diodoro da Sicília, Pausânias, Plutarco, Dion Cassio, Suetônio e Filóstrato. Ressalta, ainda, a importância do nascimento de Jesus em Nazaré e não em Belém, como é tão reproduzido no ambiente eclesiástico.
No segundo capítulo, o autor adianta aos seus leitores que a ciência arqueológica mostrava cabalmente a existência da aldeia de Nazaré, já que seus registros mais antigos apontavam sua existência por volta de 167 antes da era comum até 63 antes da era comum. Chevitarese menciona três diferentes locais que apontam vestígios da região, em especial a Igreja da Anunciação, o Centro Internacional Mariano e o Convento das Irmãs de Nazaré.
Neste mesmo capítulo, o renomado estudioso chama a atenção e tece críticas importantes a segmentos que têm crescido exponencialmente, em especial nas plataformas digitais, de indivíduos que não possuem uma formação adequada e trazem inverdades e negacionismos sobre um tema que é tão caro. No terceiro capítulo, o historiador chama a nossa atenção para um chamado “caminho sem volta”, ressaltando a importância do ministério de João Batista, descrito por diferentes fontes, como Flávio Josefo, e mesmo pelos textos evangélicos, e aventando que o ministério joanino era uma memória incômoda no ministério de Jesus. Afinal, os dois ministérios eram antagônicos até certo ponto e o próprio Jesus de Nazaré fora originalmente um seguidor do Batista. No quarto capítulo, Chevitarese volta seu foco para a região de Cafarnaum, já que possuímos um forte indício de que Jesus de Nazaré teria estabelecido seu ministério nesta região, estabelecendo-se, assim, o reino de Deus em oposição ao Reino de César (Império Romano). No quinto capítulo, são discutidas as relações sobre o ensino de Jesus de Nazaré, com destaque para o que era conhecido como as ‘parábolas’, especialmente presentes no ambiente rural.
No sexto e último capítulo, o historiador carioca enfatiza que a crucificação de Jesus remetia a uma relação com o esquecimento. Os romanos não inventaram tal método de execução. Os antigos persas, gregos e cartagineses já o utilizavam. O nazareno era um campônio de uma aldeia localizada em Nazaré, não era alfabetizado, e fora executado por ordem de Roma. Por fim, os apêndices deixam muito claro o porquê de o movimento de Jesus ter tido tanto êxito e superado por muitas vezes os demais movimentos messiânicos.
Observa também uma construção da teologia da cruz e de uma antiga documentação cristã. E tece uma proposta cronológica para a leitura da documentação cristã.
Por fim, o autor procura fugir das análises tradicionalistas dos livros que nos são apresentados, demonstra grande erudição em seus argumentos, e traz luz a novos debates historiográficos em uma escrita leve e prazerosa de ser feita.
Resenhista
Douglas de Castro Carneiro – É pós-doutorando pelo programa de pós-graduação em História Social pela Universidade Estadual de Londrina, sob a supervisão da professora Drª. Monica Selvatici. É Doutor em História pela Universidade Federal de Goiás, mestre em História pela Universidade Federal de Ouro Preto e graduado pela Universidade Estadual de Maringá. E-mail: douglascarneiro229@gmail.com . https://orcid.org/0000-0002-1405-2800
Referências desta Resenha
CHEVITARESE, André Leonardo. Jesus de Nazaré. O Que a História tem a dizer sobre Ele. Rio de Janeiro: Menocchio, 2022. Resenha de: CARNEIRO, Douglas de Castro. Entre a sensibilidade e a invisibilidade: uma compreensão do Jesus de Nazaré. Mythos – Revista de História Antiga e Medieval, ano 6, n. 3, p. 213-216, set./dez. 2022. Acessar publicação original [DR]