Conteúdo indispensável na formação de professores da educação básica, os fundamentos de uma teoria da literatura infantil e juvenil são importantíssimos na formação desse profissional, bem como para bibliotecários, especialistas em educação e demais formadores de leitores e mediadores de leitura. Portanto, a obra da professora e pesquisadora espanhola Teresa Colomer, Introdução à literatura infantil e juvenil atual é fundamental na biblioteca de todos aqueles que lidam ou se interessam pela temática, seja nas formações iniciais ou em serviço. A mesma autora de A formação do leitor literário (Global, 2003) e Andar entre livros (Global, 2007), nos presenteia com essa versão reelaborada e atualizada do livro publicado no finalzinho do século passado, em 1999, na Espanha. A presente edição, até então inédita no Brasil, foi traduzida pela também especialista em literatura para crianças, Laura Sandroni.
Com sua característica de manual introdutório, o livro, com 336 páginas e organizado em cinco capítulos de discussão, mais introdução e dados bibliográficos, dá uma panorâmica da literatura destinada aos leitores crianças e jovens, tratando de sua função, mediação, características e critérios de seleção. A obra também, ao mesmo tempo em que proporciona uma reflexão sobre a história da produção literária para crianças e jovens, apresenta sugestões de atividades práticas, além de uma lista extensa, dividida em vários quadros, de obras a serem trabalhadas em diferentes níveis educacionais.
Para se ter uma ideia do que a obra abarca, passemos um pouco pelos diversos capítulos que a constituem. A introdução conduz o leitor a uma compreensão global da forma de organização do livro e de como foram selecionados os materiais citados, compondo quadros de referências. Demonstra, ainda, que tipos de obras literárias aparecem nos quadros: os chamados “clássicos da literatura infantil e juvenil”, a literatura de tradição oral e as obras infantis e juvenis atuais.
O capítulo 1 trata das funções da literatura infantil e juvenil, abordando as relações entre literatura infantil e aprendizagem da linguagem, e também explorando temas como o acesso ao imaginário coletivo, o “ouvir histórias” e a leitura autônoma, a apreensão e compreensão das formas narrativas e poéticas e, por fim, explora a questão dos modelos masculinos e femininos nos livros contemporâneos.
O capítulo 2 aborda o “acesso aos livros infantis e juvenis”, tratando da questão da chegada dos livros infantis às bibliotecas e escolas, leitura funcional e educação literária. Apresenta dados e discussões sobre programas escolares de formação leitora e aborda aspectos fundamentais para formação leitora como “a criação de um mundo povoado de livros”, a leitura em voz alta, recitações e narrações orais, leitura autônoma e compartilhada, guias e planos de leitura. Este capítulo trata da tão falada hoje “mediação da leitura”, com suas estratégias de formação de leitores. Tanto o capítulo 1 quanto o 2 são seguidos da seção Atividades Sugeridas, nas quais professores, bibliotecários e agentes de leitura, bem como pais e outros interessados, podem retirar ideias para suas práticas de formação de leitores.
Avançando um pouco mais na leitura, chegamos ao capítulo 3, que trata dos livros clássicos como herança, resgatando-se o papel da tradição literária, a história dos livros infantis, que passa pela tradição oral, pelo folclore, pelos contos populares até chegar às histórias escritas: narrativas de aventuras, histórias com protagonistas infantis, histórias de animais, narrativas fantásticas e de humor e o desenvolvimento da literatura infantil e juvenil na Espanha.
Ressente-se, nesse ponto, de que a abordagem não se resumisse apenas ao país de origem da autora, embora isso seja perfeitamente compreensível. Ressente-se também, no capítulo 4, que trata da literatura infantil e juvenil atual, a circunscrição maior à literatura em língua espanhola. Porém, o leitor brasileiro atento pode estabelecer relações com o que se conhece e já está publicado sobre a nossa literatura para crianças e jovens. Sabemos que o Brasil tem uma literatura destinada a esses públicos considerada de altíssima qualidade e não destacaremos aqui nenhum nome, para não incorrermos no erro de fazer uma lista breve em que deixaríamos de fora dezenas, e talvez centenas, de autores, ilustradores, tradutores, diagramadores e tantos outros profissionais brasileiros que têm se dedicado a produzir obras de qualidade, legitimadas por crítica especializada, estudos acadêmicos de mestrado e doutorado e também por programas de governo que investiram bastante na compra e distribuição de livros de qualidade para as bibliotecas escolares, como foi o caso do Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE, até bem pouco tempo em pleno funcionamento. O capítulo 4 trata da transmissão de novos valores sociais, com a evolução dos valores na sociedade global; as sociedades pós-industriais e seu reflexo na literatura para crianças e jovens, com as novas e diferentes conformações familiares, a crítica social, a multiculturalidade e a memória histórica. A autora reflete ainda sobre as tendências literárias e artísticas do final do século XX e início do século XXI, como as narrativas psicológicas, a renovação do folclore e da fantasia moderna, as formas audiovisuais da narrativa na pós-modernidade e a adaptação dos gêneros literários adultos. Por fim, o capítulo ainda aborda ampliação do destinatário a novas idades e a criação de novos tipos de livros, como os livros para não leitores, os livros brinquedo, as novas formas de ficção, a criação de narrativas para adolescentes, a poesia e o teatro para crianças e jovens na contemporaneidade. Neste capítulo, a especialista analisa livros com projetos mais alternativos e inovadores, tais como livros de imagens (que muitas vezes servem não apenas a futuros leitores – crianças que ainda não aprenderam a ler – mas também a leitores de todas as idades); livros pop-up interativos; livros sanfonados; livros de tiras combinadas, dentre outros.
O capítulo 5 apresenta um ponto importantíssimo, que poderá ajudar muito aqueles que não se sentem seguros para escolher livros para indicar e/ou para trabalhar. Nas três seções que compõem o capítulo, dedicado aos critérios de avaliação e seleção de livros infantis e juvenis, são abordadas as seguintes questões: a qualidade dos livros (análise das narrativas, das ilustrações, dos elementos materiais do livro, das relações entre textos e imagens); a adequação à competência do leitor, com um exemplo de análise bastante útil; e a diversidade de funções (as diferenças entre os leitores, as diferentes experiências literários e os diferentes objetivos de leitura). Os capítulos 3, 4 e 5 também trazem sugestões de atividades, ao final de cada um deles, conforme já se afirmou.
Para finalizar a obra, Teresa Colomer remete o leitor interessado a uma vasta bibliografia sobre literatura infantil e juvenil, dá informações sobre centros e documentação, apresenta uma lista dos ganhadores do prêmio Andersen e uma última lista de obras da literatura infantil e juvenil universal e na Espanha até 1977.
Acreditamos que a obra de Teresa Colomer deve figurar na estante das bibliotecas das faculdades de Letras e Pedagogia de todo o país, bem como deve fazer parte da biblioteca particular de professores, educadores, psicólogos, pais e outros interessados na formação de leitores: crianças e jovens, que, diferentemente do que pensam os apocalípticos, não estão fadados a trocar os livros por smartphones, caso tenhamos adultos dispostos a oferecer-lhes uma educação literária de qualidade, que demonstre que esses dois suportes, o impresso e o eletrônico, não são inimigos, muito antes pelo contrário, podem ser bons aliados.
Resenhista
Hércules Tolêdo Corrêa – Doutor em Educação pela UFMG, graduado e mestre em Letras pela UFMG. Professor da Universidade Federal de Ouro Preto e líder do Grupo de Pesquisa MULTDICS – UFOP. E-mail: herculest@ufop.edu.br
Referências desta resenha
COLOMER, Teresa. Introdução à literatura infantil e juvenil atual. Trad. Laura Sandroni. São Paulo: Global, 2017. Resenha de: CORRÊA, Hércules Tolêdo. Um livro para conhecer bem a literatura para crianças e jovens e refletir sobre ela. Revista Práticas de Linguagem. Juiz de Fora, v.8, n.3, p.150-152, jul./dez. 2018. Acessar publicação original [DR]
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