Vinte anos se passaram desde a primeira edição! Aquela publicação inicial, ainda com cinco artigos, contou com a presença de professores queridos, integrantes dos Programas de Pós-Graduação em História e em Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e de uma então pós-graduanda do PPGH/UERJ. Maria Emília Prado, o saudoso Antônio Carlos Peixoto, Antônio Edmilson Rodrigues, Fabiana Santos e Norma Côrtes foram autores que publicaram no número 1 de 2002, com os respectivos artigos: “A Unidade do Império ameaçada: Alberto Sales e a elaboração de um projeto em defesa do separatismo das províncias”; “O positivismo e os projetos de reestruturação da Hispanoamérica em direção à modernidade”; “Política e letras: a pátria e a nação em Atravez do Brasil”; “Oliveira Vianna e Monteiro Lobato – O Americanismo e Iberismo em diálogo”, e “Católicos e autoritários – Breves considerações sobre a sociologia de Alceu Amoroso Lima”. Hoje, depois de duas décadas, comemorarmos o aniversário da Revista com um número temático que conta com artigos livres, resenha e o dossiê: “Intellèctus em seus 20 anos: os desafios das ideias e da intelectualidade no mundo contemporâneo”. Antes de apresentarmos o número, faz-se importante um breve intróito, que procurará rememorar o seu percurso.
A revista eletrônica Intellèctus foi fundada pelo Grpesq/CNPq “Intelectuais e Poder no Mundo Ibero-Americano”, coordenado pela professora Dra. Maria Emília da Costa Prado, titular da área de História do Brasil do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UERJ. Em 2004, a revista passou a ser também um canal vinculado aos Colóquios Internacionais “Tradição e Modernidade no Mundo Ibero-Americano”, frutos do convênio entre a UERJ e a Universidade de Coimbra. Cadastrada como projeto de extensão no Departamento de Extensão (Depext), da Sub-Reitoria de Extensão e Cultura da UERJ, desde a sua fundação, configura-se como um periódico semestral, e que pode ser acessado pelo Portal de Publicações Eletrônicas da UERJ.
Seu projeto editorial nasceu da proposta de publicar pesquisas originais, relacionadas à historiografia e às reflexões teórico-metodológicas relativas à História dos Intelectuais e à História Intelectual, bem como à divulgação de análises acerca da produção cultural dos países que compõem o universo da “Latinidade”, voltando-se, deste modo, às diversas interfaces associadas a essa abordagem nas Ciências Humanas e Sociais, por meio de artigos livres de pesquisadores titulados. Com o passar dos anos, esse formato passou por algumas reformulações, até que, a partir de 2014, atendendo aos critérios dos principais indexadores de periódicos nacionais e internacionais, as condições de submissão de artigos e a normatização de referências foram remodeladas, promovendo-se alterações na estrutura de publicação; sendo assim à seção “Artigos livres” foram acrescidas a seção “Dossiê Temático” – organizado por especialistas convidados –, e de modo não fixo as seções “Resenhas” e “Entrevistas”, sendo essa última, incluída recentemente.
Em 2015, com o intuito de dinamizar o trabalho editorial e de fornecer maior visibilidade à Revista, a Intellèctus passou para o regime Open Journal Systems, sendo veiculada no Portal de Publicações Eletrônicas da UERJ, com a utilização do Sistema de Editoração Eletrônica de Revistas. A partir de então, tem sido indexada em plataformas internacionais, como Latindex, Open Academic Journals Index, Sumário.org, Dialnet; e Google Scholar.
Em torno desses arranjos, em seus 20 anos, a Intellèctus vem se consolidando como uma publicação especializada, ampliando o número de artigos lançados bem como o seu alcance nacional e internacional, projetando-se cada vez mais enquanto um referencial de publicação na área dos intelectuais e das ideias. Neste período, recebeu cerca de 600 artigos e publicou mais de 300, nos quais figuraram assuntos variados, tais como: autoritarismo; artes; capitalismo; conservadorismo; colonização; classes sociais; luta de classes; cinema; democracia; ditadura; darwinismo; eugenismo; Estado Novo; educação; economia e desenvolvimento; fascismo; federalismo; historiografia; liberalismo; literatura; modernidade; monarquia; marxismo; nacionalismo; neocolonialismo; política e desenvolvimento; populismo; progresso; questão indígena; questão agrária; religião; relações raciais/etnia; socialismo; iberismo; decolonialidade; relações de gênero; nazismo; escravidão; saúde; e cidades, dentre outros. A amplitude de temas abordados evidencia e revela a importância da história intelectual e das temáticas ligadas às ideias, demonstrando que não se trata de um campo fechado; ao contrário perpassa as múltiplas dimensões do conhecimento e do saber. Ao mesmo tempo, é reveladora do papel que a Intellèctus vem exercendo enquanto uma importante revista de divulgação científica, que cumpre seu papel de articulação entre academia x sociedade, ao trazer para o público leitor questões trabalhadas nos espaços universitários, mas que ao mesmo tempo estão na pauta dos debates atuais da sociedade tais como relações de gênero, relações raciais/etnia, decolonialidade, dentre outros.
Além dos números e da variedade de questões abordadas nos artigos publicados, a sua solidificação enquanto um relevante periódico acadêmico pode ser salientada por meio de outros dados. O primeiro diz respeito à ampliação do perfil dos seus autores e público, que ao longo dos anos se tornou mais diverso, considerando a autoria não só de historiadores, como a de pesquisadores de outras áreas das Ciências Humanas – tais como Letras, Ciências Sociais, Literatura, Ciências Políticas, Sociologia e Educação – interessados em estudos e análises teórico-metodológicas acerca das temáticas relacionadas ao escopo da publicação. Outro aspecto a ser destacado com relação aos autores e ao público é o seu alcance, tendo em vista o seu formato eletrônico, que estimula o acesso de pesquisadores e de leitores de diferentes países. Esses percursos, ao longo de mais de duas décadas, foram importantes para que se tornasse uma referência nacional e internacional para os investigadores que, direta ou indiretamente, estão envolvidos nos estudos que a compõe.
Neste processo de consolidação há que se considerar, ainda, a sua rotina editorial, que envolve procedimentos complexos e cuidadosos, a partir das atividades de chamada e captação de dossiês, artigos, resenhas e entrevistas, seleção de pareceristas, organização de avaliações à cega, contato com autores, revisão, diagramação e publicação de parte a parte da Revista no Portal de Publicações Eletrônicas da UERJ, além de sua divulgação em mídias digitais e em endereços eletrônicos de Programas de Graduação e de Pós-Graduação.
O trabalho editorial, somado às importantes inovações implementadas nos últimos anos, dinamizaram a Intellèctus, contribuindo para a sua modernização e adequação aos atuais parâmetros acadêmico-científicos, devendo-se considerar a ampliação do número autores nacionais e estrangeiros, de universidades oriundas de diferentes regiões do Brasil, de norte a sul, e de outros países, como EUA, Argentina, Colômbia, Peru, México, Canadá, Espanha e Portugal. O considerável crescimento alcançado também contou com um esforço na aprovação de projetos junto a órgãos de fomento, internos ou externos à UERJ, e na contratação de bolsistas, sendo uma rica experiência para os estudantes de graduação em uma área de produção do conhecimento.
No ensejo desta trajetória apresentada brevemente, anunciamos o Dossiê “Intellèctus em seus 20 anos: os desafios das ideias e da intelectualidade no mundo contemporâneo”, que foi cuidadosamente pensado, como forma de parabenizarmos e de reafirmarmos o papel que a revista cumpriu e cumpre diante das reflexões sobre a História das Ideias e dos Intelectuais, áreas que vem se projetando devidamente nos campos teórico e historiográfico. Com essa finalidade, convidamos autores a publicarem reflexões voltadas a algumas indagações: qual é o papel dos intelectuais no mundo contemporâneo e sua atuação e relevância para a sociedade? Quais as novas formas de atuação intelectual? Como as ideias pautam sentidos para os novos movimentos sociais no século XXI? Como as novas pautas sociais ligadas à temáticas de gênero, etnoraciais e ambientais, dentre outras, impactaram e impactam a atuação intelectual e o surgimento de lideranças?
Essas questões deram sentido ao presente Dossiê, que procura valorizar debates que, infelizmente, se apresentam em um momento de desvalorização das Ciências Humanas, dos intelectuais e do universo das ideias em uma perspectiva problematizadora no atual cenário político brasileiro. De encontro a essa proposta, ele é composto por oito artigos e traz como abertura a discussão de César Henrique Guazzelli e Sousa sobre a noção ocidental moderna de progresso, com referência nos trabalhos de Abraham Moles e, complementarmente, de François Hartog. Este texto é seguido pela reflexão da trajetória de Gilberto Freyre, relacionada à lusitanidade segundo Oswald Andrade, escrito por Valdeci Silva Cunha. A discussão em torno da Desmarginalização do pensamento feminista negro e as possibilidades para uma educação emancipadora, é assinado por Mariana Alves de Souza, e, ainda em torno do debate sobre a educação, apresentamos os artigos de Heloisa Toshie Irie Saito e Priscila Borba da Costa “Do temor da verdade ao medo da liberdade: as possibilidades de educação emancipadora na primeira infância a partir de Theodor Adorno e Paulo Freire” e o das autoras Luciane Rocha Paes, Rita Floramar Fernandes dos Santos, Helenice Aparecida Ricardo e Alva Rosa Lana Vieira intitulado “Em busca de outras coordenadas epistêmicas: breve enunciação entre decolonialidade e a formação universitária de professores indígenas no Amazonas”.
Em uma perspectiva, ligada ao político, Pedro Carvalho Oliveira traz uma análise sobre a presença de teorias conspiratórias entre organizações e adeptos de ideias políticas de extrema-direita e a historicidade dessa prática, e os autores Cairo de Souza Barbosa, Gabriel Felipe Oliveira de Mello, Renan Siqueira Moraes apresentam o debate sobe alguns contornos da imaginação nacional bolsonarista, relacionada às ideias da democracia racial, da corrupção e do patrimonialismo no Brasil.
Na Seção “Artigos Livres”, Janaina Salvador Cardoso traz um estudo sobre os escritos redigidos por leigos e religiosos em torno da alegoria das plantas nos dois lados do Atlântico no período moderno, enquanto Ipojucan Dias Campos analisa determinados aspectos laico-religiosos atribuídos ao casamento civil em Belém entre 1916 e 1940. Em outra dimensão, também no século XX, Thiago Turibio pondera como Glauber Rocha e Gustavo Dahl mobilizaram a disposição de vanguarda em favor do novo e da juventude, através da imprensa, com o intuito de afirmar a sua geração no campo cinematográfico brasileiro no início da década de 1960. Já sob o enfoque da teoria e da metodologia, Rodrigo Musto Flores tece um diálogo entre a temática da memória e a sua relação com a história oral. E, na perspectiva da divulgação científica, Andressa Abreu da Silva e Manuela Ciconetto Bernardi discutem a dinâmica de divulgação de trabalhos acadêmicos apenas nos meios afins, de modo a problematizar possibilidades de alcance da divulgação científica para outros sujeitos, tendo como base as pesquisas de educação.
Finalmente, encerramos o volume da Revista, com a resenha do livro Je suis un monstre qui vous parle: rapport pour une académie de psychanalystes, de Paul Beatriz Preciado, publicado em 2020 pela Bernard Grasset. Este texto, que tem como foco a análise sobre o paradigma epistemológico em crise, a partir da perspectiva crítica da diferença sexual normativa proposta Preciado foi elaborado pelo professor Fabián Cevallos Vivar, da Faculdade de Belas-Artes, Centro de Investigação e Estudos em Belas-Artes, CIEBA, da Universidade de Lisboa.
Os artigos e resenha aqui apresentados cumprem a finalidade de reiterar a importância sobre o debate sobre os intelectuais e as ideias na área da História e das Ciências Humanas, considerando variadas possibilidades de abordagens, de orientações teóricas, de caminhos metodológicos, da interdisciplinaridade e a própria amplitude desses campos.
Caminhando para o fim desta apresentação, não poderíamos deixar de agradecer a todos os autores, autoras, pareceristas, entrevistados e membros do Conselho Editorial, de diferentes instituições de ensino e de pesquisa nacionais e internacionais, que contribuíram para a trajetória de sucesso da Intelléctus, que hoje já está consolidada enquanto uma publicação de referência em sua área de escopo. Deste modo, desejamos uma excelente leitura a todas e todos e, com gratidão e admiração, vida longa a Intellèctus!
Organizadores
Marieta Pinheiro de Carvalho – Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Vivian Zampa – CAp-UERJ, PPGH/UNIVERSO e Escola de Governo da Fundação CEPERJ.
Melina Teubner – Bern University.
Referências desta apresentação
CARVALHO, Marieta Pinheiro de; ZAMPA, Vivian; TEUBNER, Melina. Apresentação. Intellèctus. Rio de Janeiro, v.21, n. 1, p.I-VI, 2022. Acessar publicação original [DR]
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