A revista Intellèctus (Uerj), em seu segundo número do volume XIII, dá início a uma nova fase de seu projeto editorial, passando a incluir dossiês temáticos organizados por especialistas convidados, como este que temos o prazer de apresentar sobre o tema “Intelectuais, ciência e modernidade”.
Os artigos que reunimos trazem resultados de pesquisas originais, vinculadas às distintas matrizes no campo da história intelectual, na sua especial interface com a história da ciência. Voltam-se a temáticas como a circulação de ideias e saberes – por meio da formação de redes de interlocução, leituras e correspondência entre intelectuais –, e o surgimento dos espaços formais e informais a partir dos quais, no Brasil e no espaço ibero-americano, de modo mais amplo, se constituíram os campos científicos na modernidade.
Ganham destaque, assim, intelectuais e categorias de intelectuais que intervieram nos debates sobre ciência e / ou se preocuparam com a sua divulgação – membros do clero, médicos, juristas, historiadores, físicos, matemáticos, entre outros – as representações e práticas associadas a sua produção discursiva e as trajetórias e biografias de intelectuais. Como não poderia deixar de ser, ressalta a questão do engajamento dos intelectuais e sua relação com a produção do conhecimento científico, que perpassa as diversas contribuições. Trata-se, por conseguinte, de estudos sobre intelectuais que, por força de suas respectivas práticas e inserção no campo científico, colaboraram na conformação de identidades políticas, de classe e nacionais.
O artigo de Heloisa Meireles Gesteira, que abre o dossiê, examina, a partir de cartas, crônicas e outros escritos de missionários jesuítas e colonos, a produção do conhecimento sobre o mundo natural do século XVI a meados do XVIII. Considerando a descrição da natureza no Novo Mundo como constitutiva desses textos, a autora visa a identificar sua contribuição para uma delimitação geográfica do Brasil.
Tendo por objeto de análise os textos do bispo Azeredo Coutinho, de finais do Setecentos, Roberta Barros Meira investiga a presença de correntes em defesa da agricultura como a principal riqueza da colônia. Relacionam-se, assim, em seu trabalho, por um lado, a consideração dos interesses da grande lavoura e, por outro, a constituição, nesse espaço, de uma base de intelectuais.
Karoline Carula estuda a apropriação e a ressignificação dos pressupostos de Charles Darwin por médicos e cientistas que atuaram em espaços públicos de vulgarização científica na cidade do Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX, em confronto com o exemplo da introdução do darwinismo no México. A autora assinala, desse modo, as divergências e concordâncias concernentes à recepção dessa teoria nos dois países.
A biografia de Fernandes Figueira – responsável, na década de 1920, pela organização da assistência à infância na cidade do Rio de Janeiro – é analisada no artigo de Gisele Sanglard que, como Carula, preocupa-se com o universo de atuação dos médicos. O estudo enfoca a imagem de Figueira construída por seus colegas e consórcios em elogios fúnebres editados na imprensa e pelo próprio pediatra, em artigo de 1924, discutindo, a partir desse material, sua história de vida.
Já Ana Paula Barcelos R. da Silva e Jefferson de Almeida Pinto, em texto escrito em parceria, voltam seu foco aos campos jurídico e historiográfico, nos anos de 1920, na abordagem da chamada reconciliação entre Igreja e Estado. Buscam, dessa forma, refletir sobre as relações entre tradição e modernidade depois da instauração da República e a atuação dos intelectuais católicos.
Encerrando o dossiê, Rogério Monteiro de Siqueira e Luciana Vieira Souza da Silva analisam a recepção, na imprensa paulista, da “Missão italiana” de professores de física e matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo ao tempo de sua fundação, na década de 1930. Os autores propõem uma releitura da questão da vinculação de alguns desses professores ao fascismo, a partir de um viés identitário acerca de sua presença no Brasil.
Essa edição conta ainda com três contribuições na seção de “Artigos livres”, a análise de Carlos Henrique Armani e Renata Baldin Maciel sobre a filosofia da história do escritor uruguaio José Henrique Rodó, o estudo de Mellina de Fátima Curty acerca do movimento emancipacionista capixaba, a partir das elites provinciais, e o trabalho de Carolina Fernandes Calixto, que aborda as disputas em torno da memória de Jorge Amado no centenário de seu nascimento.
Apresentadoras
Karoline Carula
Maria Letícia Corrêa
Dezembro de 2014
Referências desta apresentação
CARULA, Karoline; CORRÊA, Maria Letícia. Apresentação. Intellèctus. Rio de Janeiro, v.13, n.2, 2014. Acessar publicação original [DR]
Décima sexta edição. Esta edição foi publicada em 2023 visando o ajuste de publicações em…
Décima sétima edição. Esta edição foi publicada em 2023 visando o ajuste de publicações em…
Vigésima segunda edição. N.03. 2023 Edição 2023.3 Publicado: 2023-12-19 Artigos Científicos Notas sobre o curso de…
Publicado: 2024-06-19 Artigo original A rota dos nórdicos à USPnotas sobre O comércio varegue e o…
Quem conta a história da UFS, de certa forma, recria a instituição. Seus professores e…
Publicado: 2023-06-30 Edição completa Edição Completa PDF Expediente Expediente 000-006 PDF Editorial História & Ensino 007-009…
This website uses cookies.