Imprensa e Memória / História & Perspectivas / 2008
Imprensa e Memórias é o tema selecionado pela revista História & Perspectivas para compor o seu número 39. Ao longo desses anos, a revista tem enfrentado o desafio de propor reflexões não apenas no âmbito da História, mas de forma ampla no das Ciências Humanas.
Neste presente número, temos a articulação entre imprensa e memórias como um campo rico de investigação e debate. No Brasil, os estudos sobre a imprensa não se circunscrevem aos pesquisadores da área da comunicação e têm avançado em suas problematizações, contando com a importante contribuição de historiadores, cientistas sociais e tantos outros interessados em desvendar as diferentes formas de imprensa, seus complexos caminhos e espaços de composição. Historiadores que trabalham numa perspectiva de fazer uma história da imprensa se somam a outros que, para além desta preocupação, discutem os processos de produção, expansão e instituição da imprensa nas suas múltiplas historicidades, enfrentando diversas linguagens e narrativas que compõem o seu universo.
Tais perspectivas apontam para a imprensa como espaço amplo de produção e circulação de jornais, revistas, livros, materiais impressos e não impressos e, porque não dizer, um lastro de produção virtual que conquista ordem e sentido no mundo contemporâneo da comunicação. As possibilidades de pesquisas proporcionadas por esse campo podem nos colocar diante de muitas histórias: história da imprensa, do livro, do jornal, da leitura, da instrução, e assim podemos seguir enumerando. Histórias que também desvendem seus produtores, seus sujeitos e redes de relações sociais como parte constitutiva da vida em sociedade.
Importante, nesta trajetória, é considerar a articulação entre imprensa e memórias enquanto relação necessária à reflexão de todos nós que lidamos com esses materiais. Como discutir a experiência de produção de memórias dentro do vasto empreendimento da imprensa? De que modo enfrentar sua materialidade, suas linguagens, sua força social? Explorar a memória, nesse sentido, pode tornar possível a construção de uma visibilidade para sujeitos e projetos distintos.
Os artigos que compõem o dossiê apresentam caminhos de reflexão para esses estudos. Seja ao discutir os sentidos de comemoração por ocasião dos 200 anos de imprensa, para pensar no que existe por detrás dos festejos e discursos laudatórios e propor um olhar mais amplo e crítico dos estudiosos para o presente e para as posições que assumimos historiográfica e historicamente em relação aos marcos históricos; seja na investigação da constituição de uma imprensa feita por trabalhadores, para discutir os significados de uma imprensa popular ou ainda compreender os sentidos da experiência desses trabalhadores na cidade. Tudo isso adverte para a necessidade de refletir sobre a existência de múltiplas experiências de imprensa, constituindo força em diferentes espaços de ação, para desvendar os vários circuitos, a formação de redes de comunicação, os caminhos dos livros, da literatura, etc., buscando provocar a construção de novos horizontes de pesquisa em meio às interrogações sobre o tema.
Para além da temática central deste número, a revista publica tradução de artigo de Alessandro Portelli, analisando diferentes maneiras de abordar os fatos históricos, as dos historiadores e as dos narradores sociais, buscando explicar os significados dessas divergências e artigos de pesquisadores de diversas instituições do país, que abordam temas variados que trazem questões metodológicas importantes, como os significados de nação, formação de identidades, história e política.
Na sessão de resenhas são apresentadas duas publicações, onde, na primeira, os desafios de refletir sobre diversidade, políticas públicas e cidadania cultural estão no foco das análises sobre o Apartheid e, na segunda, esse foco se situa nas relações entre memórias, histórias, culturas e linguagens.
Essas investigações permitem entrar na discussão dos vários temas da vida social, dos enfrentamentos cotidianos que circulam entre os jornais, as revistas, a literatura. Permitem perguntar sobre os modos como lidamos com cada conjunto documental, como colocamos as questões para o presente pelo diálogo entre pesquisadores e materiais de pesquisa e para nós mesmos enquanto historiadores e pesquisadores preocupados com as mais variadas realidades. Ao apresentar diferentes percursos de pesquisa, indicados pelas escolhas e maneiras de lidar com as mais variadas fontes e perspectivas de História, para além de fazer circular as idéias, História & Perspectivas lança o desafio do debate.
Conselho Editorial
Imprensa e Memória. História & Perspectivas, Uberlândia, v.1, n.39, 2008.
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