Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema | Pedro Paulo A. Funari

Pedro Paulo Abreu Funari, arqueólogo e professor titular do Departamento de História da Unicamp e Aline Vieira de Carvalho, doutoranda na mesma instituição, reuniram-se para escrever Palmares, ontem e hoje, publicado recentemente pela Editora Jorge Zahar Editor.

O livro é o mais novo volume da coleção “Descobrindo o Brasil”, dirigida por Celso Castro, que visa à publicação de estudos especialistas sobre diferentes temas relacionados à História do Brasil em uma linguagem acessível a um público que não se restringe aos meios acadêmicos. Tendo em vista essa proposta, Funari e Carvalho tratam, nesse livro, de um aspecto ímpar da história do Brasil: o quilombo de Palmares. Em uma abordagem interdisciplinar, baseada em um constante diálogo entre arqueologia e história, os autores apresentam para o leitor diferentes maneiras de se interpretarem os eventos ocorridos no cotidiano do quilombo, bem como enfatizam a necessidade de uma abordagem crítica para a produção de leituras mais dinâmicas do quilombo de Palmares, estimulando uma reflexão da importância da luta pela liberdade tanto no passado como no presente.

Dividido em três capítulos, além da introdução e conclusão, o livro introduz o leitor em uma série de discussões recentes dentro das ciências humanas, desde como interpretar diferentes categorias de documentos sobre o passado de Palmares até as diferentes teorias sociais e modelos explicativos empregados por especialistas.

Logo na introdução é possível perceber claramente a proposta dos autores: apresentar uma leitura de Palmares de maneira crítica, procurando um constante diálogo com o leitor, encarado como sujeito produtor de conhecimento. Assim, os autores, além de apresentarem o contexto histórico em que o quilombo se formou e a importância da figura de Zumbi, deixam claro que buscarão, ao longo do livro, comentar uma série de interpretações sobre Palmares, marcando sempre sua perspectiva de defesa de modelos interpretativos que explorem a multiplicidade cultural e étnica presente no quilombo e do constante diálogo entre arqueologia e história.

O capítulo 1, “Palmares: passado e presente (ou presente e passado, como preferir o leitor)” é a parte teórica do livro. Aqui os autores discutem uma série de temas que constituem a base de seus argumentos como as diferentes tradições de escrita da história, o papel do historiador e as teorias sociais para o estudo das relações entre os indivíduos e entre indivíduos e a sociedade, recorrendo, portanto, ao diálogo com a sociologia e a antropologia, para discutir o papel do escravo na sociedade colonial. Por fim, dentro dessa perspectiva interdisciplinar, encerram o capítulo com uma discussão sobre os diferentes tipos de fontes para o estudo do quilombo. Entre elas, destacam os textos, escritos na sua maioria em latim, e os principais temas que podem ser discutidos a partir deles como as formas de exercício de poder e o significado da morte de Zumbi. Além disso, destacam as fontes materiais, escavadas pela arqueologia, que não fornecem dados sobre eventos singulares como os textos, mas que permitem conhecer aspectos da cultura e cotidiano dos quilombolas.

No capítulo seguinte, “Palmares ontem”, os autores discutem como os estudiosos interpretaram Palmares, tratando de diferentes momentos da historiografia sobre o tema. A partir dessa perspectiva, recorrem aos primeiros estudos do IHGB ainda no século XIX, destacando a intenção dos estudiosos de silenciar os eventos ocorridos em Palmares. Já durante o início século XX, Funari e Carvalho destacam uma outra tendência de se interpretar o quilombo, em que este passa a ser palco de relações entre brancos e negros; um lugar privilegiado para o estudo do papel do negro na cultura brasileira. A partir dessas considerações, os autores apresentam elementos para que os leitores elaborem uma visão crítica de noções cunhadas em uma época de racismo científico que ainda hoje ecoam em nosso dia-a-dia.

Em “Palmares hoje”, os autores destacam as mudanças da percepção de Palmares e seus habitantes após os anos 1960. Com a ditadura militar implantada no Brasil, Palmares torna-se um símbolo de resistência ao poder na leitura de estudiosos influenciados pelo marxismo. É ainda nessa parte do livro que Funari e Carvalho comentam estudos recentes sobre o quilombo no âmbito da arqueologia, graças às escavações realizadas no local por uma equipe de especialistas brasileiros e norte-americanos, entre os quais se inclui Funari, no início dos anos 1990.

Por fim, no item “Conclusões: Palmares e o leitor”, os autores tecem suas considerações finais. Comentam, rapidamente, estudos recentes de historiadores sobre os quilombos e retomam a idéia da importância que o presente exerce na interpretação sobre o passado. Assim, a partir da desconstrução das interpretações historiográficas, da crítica a modelos interpretativos que não expressam a pluralidade das etnias que conviveram em Palmares e das discussões das diferentes fontes para o estudo do quilombo, os autores concluem o trabalho comentando a importância de criticar visões parciais e redutoras de Palmares e seus habitantes.

Em um momento de discussões e de implementação das diretrizes curriculares para o ensino da cultura africana e afro-brasileira nas escolas, o livro de Funari e Carvalho torna-se um importante instrumento para professores e alunos refletirem sobre a luta pela liberdade, além de constituir uma instigante introdução ao fazer do historiador e arqueólogo.

Renata Senna Garraffoni –  Universidade do Paraná.

FUNARI, Pedro Paulo A.; Carvalho, Aline Vieira de. Palmares, ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005. Resenha de: GARRAFFONI, Renata Senna. Dimensões. Vitória, n.18, p.395-397, 2006. Acessar publicação original [DR]

DIACCON Todd (Aut), Rondon: o marechal da floresta (T), MOTTA, Laura Teixeira (Trad), Companhia das Letras (E), RODRIGUES Rogério Rosa (Res), Dimensões (Dmr)

DIACCON, Todd. Rondon: o marechal da floresta. Trad. Laura Teixeira Motta. São Paulo: Companhia das Letras, 2006. Resenha de: RODRIGUES, Rogério Rosa. Dimensões. Vitória, n.19, p.225-230, 2007. Acesso apenas pelo link original [DR]

SOUZA José Inácio de Melo (Aut), Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema (T), Editora SENAC São Paulo (E), CARVALHO Jailson Dias (Res), Dimensões (Dmr), Cidade de São Paulo, Cidade do Rio de Janeiro, Cinema, América – Brasil, Séc. 20


SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2004. Resenha de: CARVALHO, Jailson Dias. Dimensões. Vitória, n.19, p.233-235, 2007. Acesso apenas pelo link original [DR]

 

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