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Ideologia e Ciência Econômica – estudos de caso | L. e. S. Souza

Aprendemos com Marx que o pressuposto fundamental da dominação social é fazer crer que interesses particulares, restritos a determinados grupos minoritários, são os interesses gerais da sociedade. Para isso, constrói-se uma visão sobre a organização da sociedade que procura legitimá-la. Nas sociedades modernas, o pensamento desempenha este papel, e a forma de legitimá-lo é, sem dúvida, emprestar-lhe um suposto caráter “científico”.

Esta perspectiva surge com força nas correntes liberais do pensamento econômico, e, hodiernamente, nas perspectivas neoliberais. Esta corrente de pensamento, que nasce na metade do século XX mas que triunfa apenas na década de setenta, leva do modo mais radical à frente o binômio composto pela tentativa de pintar os interesses dos dominadores como os interesses gerais mediante um enfoque pretensamente científico da economia.

Daí, surge uma hipertrofia dos meios técnicos que desempenham o papel de “cientifizar” – se se permite o neologismo – a economia e a história econômica, expresso principalmente num extenso uso das matemáticas, e do aparato propagandístico, efetuado pelas mídias em geral. A propaganda é o veículo pelo qual se constrói socialmente a noção, o consenso da dominação, respaldado pela aparente irrevogabilidade dos resultados a que chegam os trabalhos de economia neoliberais. Ali não há luta, não há divergências, interesses discrepantes ou algo similar. O conceito de ideologia é ridicularizado como pertencente a um mundo passado, onde ainda não se “sabia” que a todos os grupos e classes interessavam a mesma política econômica…

Para combater esta visão verdadeiramente apologética, que não vê que bancos e trabalhadores não podem ter interesses em comum, a ciência social crítica tem de responder à altura. Deve colocar-se de frente àqueles que afirmam como universais os interesses de determinadas classes. Ideologia e Ciência Econômica – estudos de caso, organizado por Luiz Eduardo Simões de Souza – doutorando em História Econômica no Departamento de História da FFLCH-USP – e publicado neste ano pela Editora LCTE, procura inserir-se neste movimento crítico. O livro é uma reunião de artigos de autores formados no ambiente crítico do Departamento de História da Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo, como Lincoln Secco, Jorge Grespan e Marcos Cordeiro Pires. Expressa uma determinada visão de economia e história econômica que ecoa um certo enfoque crítico comum ao ambiente uspiano, que respondeu à sua maneira ao neoliberalismo.

Evidentemente, essa matriz comum não impede diferenças de postura, quanto à temática estudada pelos autores, nem uma pretensão de verdade universal. Lincoln Secco estuda os ciclos de Kondratiev, fonte conhecida de divergências mesmo entre marxistas; Luiz Eduardo Simes de Souza estuda a Curva de Phillips, um tema conhecido da literatura liberal; Cordeiro Pires comenta a teoria das trocas desiguais no comércio internacional. Jorge Grespan trata da problemática “capital constante e variável” versus “fixo e circulante”, desenvolvida por Marx. Et cetera. E o texto de Maurício Felippe Manzalli, ao tecer considerações que se posicionam de modo específico e divergente ao tom da obra, mostra, justamente, que na sociedade, e assim nas ciências sociais, não há a harmonia que os neoliberais querem fazer parecer existir – o que coerente com o “recado” que a obra quer passar. Isto é: desconstruir o consenso.

Resenhista

Vitor Eduardo Schincariol – Mestre em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP). Professor da Universidade Paulista (UNIP.)

Referências desta Resenha

SOUZA, L. E. S. (Org.). Ideologia e Ciência Econômica – estudos de caso. São Paulo: Editora LCTE, 2006. Resenha de: SCHINCARIOL, Vitor Eduardo. Revista de Economia política e História Econômica. São Paulo, ano 03, n. 06, p.148-149, dezembro, 2006.

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Itamar Freitas

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