Identidades e Representações Sociais | Revista Latino-Americana de História | 2015

Em 2015 a Revista Latino Americana de História está completando quatro anos de existência e apesar das mudanças ocorridas na composição do Conselho Editorial, ela segue comprometida com o incentivo e a divulgação da produção historiográfica, sobretudo no que diz respeito à América Latina.

Na edição atual, a seção Dossiê reuniu um conjunto de artigos relacionados ao processo histórico de construção/desconstrução de identidades e representações sociais. Em tempos de valorização da História Cultural, a questão das identidades tem recebido uma expressiva atenção dos historiadores que exploram, a partir de diferentes perspectivas, os conflitos decorrentes da existência de múltiplas identidades e reconhecem que a conjuntura histórica exerce grande influência na aceitação ou rejeição de uma determinada identificação coletiva.

O artigo de María Josefina de Irurzun aborda o ativismo cultural dos catalães em Buenos Aires e destaca a importância da música na manutenção da identidade catalã no contexto de adaptação ao ambiente urbano e cosmopolita da capital argentina no começo do século XX. Na mesma cidade de Buenos Aires, no período entre 1875 e 1905, os médicos discutiram as razões do suicídio e encontraram dificuldades para classificar o suicida como um “louco” ou como um sujeito empenhado em defender sua “honra”. O tema do suicídio em Buenos Aires, analisado no artigo de Julián Arroyo, nos remete ao campo das representações sociais sobre a prática do suicídio, uma vez que está prática foi transformada em objeto de estudo e fomentou discussões entre os profissionais da medicina.

Existem no Dossiê três artigos que transitam entre o campo das identidades e das representações sociais e oferecem subsídios para uma reflexão sobre o comportamento das elites no Brasil e na Argentina. Leonardo Cancini estudou as eleições legislativas ocorridas na Província de Buenos Aires em 1874, e através deste tema, explorou diferentes representações usadas pelos Comandantes da Guarda Nacional durante o pleito eleitoral. Luana Melo e Silva pesquisou a participação dos deputados mineiros nas Cortes de Lisboa e ressaltou a dupla representatividade política que estes deputados exerceram, na medida em que representavam o Brasil no contexto mais amplo do Império Português e, ao mesmo tempo, representavam os interesses da elite regional na qual estavam inseridos. Hermes Gilber Uberti apresenta um interessante estudo sobre a importância do compadrio praticado pela família Alves Conceição na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Na prática do compadrio, as “relações de parentesco simbólico” ganhavam forma e potencializavam estratégias de cooperação entre as partes envolvidas, neste sentido, o compadrio implicava na atribuição de uma identidade e no fortalecimento da representação social das elites.

Os conflitos que geralmente acompanham a imposição (ou rejeição) de uma determinada identidade são relevantes para um país como o Brasil – marcado pela existência de múltiplas culturas e pela memória das violências cometidas contra indígenas e negros em diferentes momentos da nossa história. Considerando a pluralidade cultural da sociedade brasileira, importa destacarmos os artigos de Fernanda Elias Zaccarelli e Tenner Inauhiny Abreu. Salgueiro abordou a história da tutela indígena, com ênfase nas ideias religiosas e jurídicas que influenciaram na construção e manutenção da tutela indígena – um interessante exemplo de uma identidade atribuída, complexa e polêmica. Abreu destacou a trajetória do “padre pardo” Daniel Pedro Marques de Oliveira, e através deste personagem, abordou as discussões raciais que estavam em curso no Amazonas, na segunda metade do século XIX.

O ultimo artigo do Dossiê Identidades e Representações Sociais foi escrito por Germán Esteban Alburquerque Fuschini e aborda um tema pouco explorado pela historiografia: a existência do movimento intelectual chamado “terceirismo” que ganhou forma no Uruguai e que procurou pensar a posição da América Latina no contexto político e cultural da Guerra Fria. No “tercerismo”, encontramos a coexistência de uma identidade latino americana – desejada pelos intelectuais adeptos do movimento – com uma identidade construída pela conjuntura internacional da época.

A atual Edição da RLAH também possui quatro textos da seção Artigos e duas Resenhas. Nos textos da seção Artigos, predominam estudos focados em conflitos sociais: Michelle Nunes de Morais escreveu sobre a situação dos trabalhadores rurais no Vale do Rio Doce (Minas Gerais), na década de 1950; Walter de Oliveira Campos destacou as diferentes interpretações recebidas pela Lei Afonso Arinos (1951), dentro de um contexto de discussões sobre a situação racial brasileira; e Lucrécia Wagner abordou questões referentes aos conflitos sócio-ambientais na Argentina e no Brasil. O estudo apresentado por Geane Kantovitz explora o processo de apropriação dos saberes históricos entre um grupo de alunos da Rede Salesiana de Escolas.

No que diz respeito as Resenhas, importa destacar as diferenças entre elas: o texto escrito por Edvaldo Alves de Souza Neto destaca uma importante coletânea de estudos sobre o pós-abolição no Brasil; enquanto que o texto de Juan Manuel Matés-Barco destaca o perfil da Revista Agua y Territorio – um periódico interdisciplinar focado no estudo da gestão dos recursos hídricos.

Diante de um conjunto de quinze textos reunidos na atual edição da Revista Latino Americana de História, o Conselho Editorial da RLAH agradece a colaboração dos autores e avaliadores que possibilitam a continuidade e a qualificação do nosso trabalho.


Organizadores

Editores da RLAH


Referências desta apresentação

Editores. Apresentação. Revista Latino-Americana de História. São Leopoldo, v.4, n.13, p. 5-7, 2015. Acessar publicação original [DR]

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