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Humor Gráfico, Política e História (II) / Fronteiras – Revista de História / 2018

Dando continuidade ao projeto de organização do dossiê Humor Gráfico, Política e História para a Fronteiras: Revista de História, do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Grande Dourados (PPGH / UFGD), apresentamos aos leitores de nossa revista o segundo volume do referido dossiê. Em nosso propósito de “oferecer espaços de discussões teóricas e metodológicas envolvidas na abordagem da história do humor gráfico em suas múltiplas modalidades, bem como para disseminar as pesquisas históricas que tenham as fontes iconográficas como objetos fundamentais da produção historiográfica” – conforme anunciado em nossa chamada pública inicial – trazemos outros importantes estudos de pesquisadores e pesquisadoras do humor gráfico. Esses autores e essas autoras nos oferecem suas contribuições para desvelar ou compreender a presença e os sentidos das diversas modalidades do humor gráfico nos contextos sócio-históricos contemporâneos e seus impactos na realidade social, política e / ou cultural de seus respectivos tempos históricos.

O segundo volume apresenta sete artigos na sessão principal, encerrando o nosso dossiê. Também compõem esta edição outros três artigos recebidos em sistema de fluxo contínuo, que integram a sessão de artigos livres, além da publicação de uma resenha. Todos os artigos publicados nesta edição de nossa revista, em especial os artigos do dossiê Humor Gráfico, Política e História, são oferecidos aos leitores como resultado de nossos esforços para continuar proporcionando um espaço rico e plural em torno das áreas de conhecimento que estabelecem um diálogo profícuo com o avanço da historiografia contemporânea.

Para iniciar o segundo volume do dossiê trazemos o artigo intitulado Representações humorísticas de FHC e de Lula no jornal O Globo (1995-2010), de autoria de Marilda Lopes Pinheiro Queluz e Ligia Carla Gabrielli Berto. O objetivo das autoras foi propor uma reflexão sobre os mecanismos do humor gráfico presentes nas representações dos ex-presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Luiz Inácio Lula da Silva (Lula), publicadas no jornal O Globo, entre 1995 e 2010. Ao identificar as principais estratégias discursivas utilizadas pelos cartunistas Chico Caruso e Aroeira, dentre elas as metáforas visuais e as paródias, foi possível verificar a realização de uma crítica dos acontecimentos da política brasileira recente por meio de uma construção caricatural dos referidos políticos.

Na sequência, temos o artigo de Victor Callari, intitulado Entre a História, a memória e o nacionalismo (?): as histórias em quadrinhos do Museu de Auschwitz-Birkenau. Reivindicada como a primeira HQ história sobre Auschwitz, a série “Episodes From Auschwitz” – que consiste em uma série de quatro histórias em quadrinhos e que foi publicada pela editora polonesa K&L Press em parceira com o Auschwitz-Birkenau State Museum – é apresentada e analisada a partir das diferentes concepções de história que se manifestam na obra. Tendo contado com a participação de historiadores do assunto e de sobreviventes de Auschwitz para a sua produção, a série oferece elementos documentais e testemunhais que são analisados pelo autor com o objetivo de verificar as tensões, os significados e as limitações que podem constituir uma HQ histórica. Dentre as principais referências teóricas para a realização das análises estão Roger Chartier, Jacques Le Goff e Paul Ricoeur.

Em As duas Coréias nos quadrinhos: representação dos países no olhar do Ocidente, Celbi Vagner Melo Pegoraro analisa a representação da República da Coreia (Coreia do Sul) e da República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) em dois momentos históricos distintos por meio de uma visão ocidental. As publicações analisadas são histórias em quadrinhos e a metodologia utilizada foi a análise comparativa da representação visual e do estilo narrativo. A primeira obra analisada foi a saga “Seul 88”, produzida pelo italiano Romano Scarpa e publicada no Brasil em 1988, às vésperas dos jogos olímpicos ocorrido naquele ano na Coreia do Sul; o referido autor se utilizou de personagens Disney para descrever um romance envolvendo personagens nativos das duas Coreias. A outra obra analisada foi a graphic novel “Pyongyang: uma viagem à Coreia do Norte” do canadense Guy Delisle, lançada em 2004 e que apresenta um retrato irônico e crítico da Coreia do Norte.

Pollyana Ferreira Rosa é autora do artigo A montagem de Heartfield na guerra ideológica às vésperas da ascensão nazista na Alemanha. Reconhecendo o potencial ideológico da fotografia no contexto da República de Weimar, a autora apresenta e analisa a obra de John Heartfield, que atacou o nazismo por meio de montagens fotográficas publicadas nas páginas da revista AIZ (Revista Ilustrada dos Trabalhadores). O referido artista procurava desvelar o caráter construído da fotografia, por meio do cômico e do absurdo derivado de suas fotomontagens-caricaturas, com o propósito de desmascarar os mecanismos de manipulação na composição de imagens, prática comum dos líderes nazistas para enaltecer os princípios da ideologia do nazismo que se tornaria hegemônica na Alemanha a partir da década de 1930.

O artigo Humor gráfico, memória, identidade social e a figura do intelectual orgânico em Henfil e Quino é de autoria de Renato Fonseca Ferreira. Tomando por base as contribuições do pensador italiano Antonio Gramsci a respeito do intelectual orgânico, o autor analisa alguns cartuns e tiras cômicas de Henfil e de Quino, respectivamente, nos períodos de ditadura brasileira e argentina, com o propósito de elucidar como esses gêneros do humor gráfico criam múltiplos pontos de vista a respeito do tratamento das questões políticas de cada realidade específica e da formação do intelectual orgânico, percebendo-se que as representações dos cartunistas estão inter-relacionadas com ideologias e saberes populares e marcadas por dialogismos, produzindo significados por meio dos desenhos de humor. Considerando a obra desses artistas, marcada por uma perspectiva crítica em relação aos governos autoritários em questão, foi possível perceber que o humor gráfico pode atuar como um elemento de subversão social e, por meio de metáforas visuais e verbais, explicitar as formações ideológicas constitutivas dos respectivos intelectuais orgânicos.

Lucas Suzigan Nachtigall em seu artigo Modelos semióticos no trabalho historiográfico com os quadrinhos: questões teórico-metodológicas aponta questões teórico-metodológicas para a abordagem de quadrinhos como fonte no trabalho historiográfico. O autor revela sua preocupação em relação à necessidade de se apropriar das especificidades técnicas para o trabalho historiográfico que se utiliza da arte sequencial, em especial na pesquisa em História Social e, nesse sentido, oferece importantes considerações a respeito de tal problemática. Ainda como objetivo com seu artigo, o autor apresenta algumas reflexões acerca da utilização da semiótica como modelo de análise para os quadrinhos no contexto do trabalho historiográfico, com ênfase no estudo da sequenciação, além de apresentar alguns trabalhos relevantes que aplicaram a análise semiótica dos quadrinhos no campo da produção historiográfica.

Para encerrar o dossiê Humor Gráfico, Política e História apresentamos o artigo de Rosildo Raimundo Brito, intitulado O desafio da iconografia: um balanço historiográfico da caricatura a partir da Nova História. Nesse artigo, o autor apresenta um breve balanço acerca do percurso da documentação visual no domínio da História, destacando-se o lento e problemático trajeto de legitimação que caracterizou a inserção da iconografia satírico-humorística no universo da historiografia. Trata-se de um desdobramento de pesquisa bibliográfica a respeito da apropriação da caricatura enquanto fonte para a historiografia, com ênfase na abordagem apresentada a partir da Nova História, e teve como principal objetivo proporcionar uma maior compreensão em torno dos avanços e desafios que os estudos sobre a caricatura apresentaram e ainda apresentam para os historiadores da contemporaneidade.

Para compor esta edição da Fronteiras – Revista de História contamos ainda com três artigos publicados na seção artigos livres. O primeiro deles é de autoria de Ivo dos Santos Canabarro, Luane Flores Chuquel e Alef Felipe Meier, intitulado 1968 o Ano que Não Acabou: da imaginação no poder na Europa ao estado de exceção no Brasil. Os autores se propuseram abordar o emblemático ano de 1968 como um ano de movimentos e contestações que marcaram toda uma geração de jovens, desde as manifestações que agitaram a Europa e que fomentaram uma verdadeira revolução cultural até aquelas que marcaram as lutas contra a ditadura civil-militar no Brasil num contexto de estado de exceção.

O segundo artigo publicado na seção artigos livres tem como título As mulheres brasileiras na ditadura civil-militar: avanços e abordagens em quase quatro décadas de resistência, de autoria de Ary Albuquerque Cavalcanti Junior. O objetivo desse artigo foi realizar um levantamento e uma análise dos estudos sobre a resistência e as lutas das mulheres brasileiras contra a ditadura civil-militar, tanto no âmbito da produção acadêmica quanto da produção literária a partir de obras memorialísticas e autobiográficas que apresentaram as lutas e as diferentes formas de resistência das mulheres no referido período histórico.

Encerramos essa seção com o artigo de Jeferson dos Santos Mendes intitulado Para defender é preciso fortificar: as defesas da Ilha de Santa Catarina durante o século XVIII. Nesse artigo o autor realizou uma análise das estratégias de defesa da Coroa lusitana durante o século XVIII com o objetivo de manter seu território no continente americano, por meio da construção das fortalezas na Ilha de Santa Catarina, limitando os riscos de uma invasão espanhola na Ilha.

Para concluir essa edição de Fronteiras, apresentamos aos leitores uma resenha produzida por Rafael Sancho Carvalho da Silva sobre o livro História, espaço, geografia: diálogos interdisciplinares, de autoria de José D’Assunção Barros, publicado pela Editora Vozes no ano de 2017.

Com estes trabalhos encerramos a segunda edição do dossiê Humor Gráfico, Política e História. Agradecidos pela confiança (duplamente) depositada em nós de poder organizar dois volumes de um dossiê que pudesse abarcar um pouco do melhor que vem sendo produzido no campo do humor gráfico em suas interfaces com a História e a Política, acreditamos ter oferecido uma preciosa contribuição aos estudiosos e pesquisadores da área. Deixamos aqui o convite para que desfrutem de uma excelente leitura e que aproveitem mais esses textos que ora oferecemos com o único propósito de colaborar para o enriquecimento da produção historiográfica no âmbito do humor gráfico.

Dourados / MS; Londrina / PR, verão de 2019.

Fabiano Coelho

Rozinaldo Antonio Miani


COELHO, Fabiano; MIANI, Rozinaldo Antonio. Apresentação. Fronteiras: Revista de História. Dourados, v. 20, n. 36, Jul. / dez., 2018. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

Itamar Freitas

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