História Social da Propriedade | Em Perspectiva | 2016
A Revista Em Perspectiva alcança o seu segundo volume, com a intenção de estimular a produção e divulgação do conhecimento a partir dos múltiplos caminhos trilhados pela História Social em consonância com diversas áreas e com a colaboração de diversos pesquisadores, que trazem para o cenário do conhecimento temas instigantes entre a História e a propriedade em diferentes temporalidades e espaços, ajudando a desfazer o mito da naturalidade do modelo proprietário moderno.
Em Desafios para a história dos direitos de propriedade da terra no Brasil, Manoela Pedroza, professora do Instituto de História da UFRJ, aborda a História Social da propriedade no Brasil, estabelecendo para tanto um diálogo teórico-metodológico nesse campo do conhecimento. Em Rezagos medievales en las concesiones de propiedad de la tierra y de las personas esclavizadas en África y América, siglos XIV a XVI, Paola Vargas Arana (Universidade Federal do Rio de Janeiro), analisa o período de ruptura entre o período medieval e a modernidade renascentista como um período de transição, onde se mantiveram legados do poder que o Estado Pontifício ostentava no período anterior, os quais influíram no início da colonização em África e América.
Em Conflitos pela posse de localidades pesqueiras da capitania do Rio Grande: Séculos XVII-XVIII, Ana Lunara da Silva Morais (PIUDHist/Universidade de Evora), analisa quem eram os proprietários das pescarias da capitania e quais as suas práticas mediante um exame da administração da atividade pesqueira ao longo deste mesmo período. Já Felipe Aguiar Damasceno (Universidade Federal do Rio de Janeiro), em Sítios, fazendas e a dinâmica da apropriação territorial no Brasil colonial: o caso do sertão do Ararobá (Pernambuco, século XVIII), busca analisar conceitos como territorialização, soberania e direitos de propriedade sobre a terra, tendo como referência terras dominadas pelos negros de Palmares no chamado sertão do Ararobá. Manoela Pedroza (Instituto de História da UFRJ) e Henrique Dias Sobral Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), em Novos proprietários e velhas disputas pela apropriação de terras públicas na Primeira República: (Fazenda Nacional de Santa Cruz, Rio de Janeiro, 1891-1933), tomam como objeto de estudo os direitos de propriedade da terra no Brasil, compreendendo a Primeira República como um momento em que se inventaram proprietários e se modificaram direitos de propriedade, percebendo como tais processos trouxeram consequências importantes para a estrutura agrária regional.
Saul Estevam Fernandes (Pontifícia Universidade Católica-RS), em O princípio do uti possidetis e o sistema de resolução ruiano para as questões de limites interestaduais durante a Primeira República indaga sobre os limites entre os estados brasileiros, destacando os meios de resolução mais diversos, entre esses o uti possidetis. Já Ellen Cristine Alves Silva Canuto (Universidade Federal da Paraíba), em As mulheres, as redes familiares e as doações de terras: Vila de Patos, Parahyba do Norte (1855-1856) investiga, por meio de Registros Paroquiais de Terras da Vila de Patos na província da Parahyba do Norte, o entendimento da posse de terras e o estudo sobre a propriedade na construção dessa sociedade no período oitocentista, destacando a atuação feminina dentro do construto social familiar ao demarcar sua posição como proprietária. Fábio Roberto Krzysczak, em A função socioambiental da propriedade rural em um assentamento de reforma agrária no norte do Rio Grande do Sul, analisa as imprecisões do texto da Constituição Federal de 1988 e como tais aspectos impedem a reforma agrária, determinando que se interprete como coisas distintas a função social da propriedade e a produtividade.
No âmbito dos artigos de fluxo contínuo temos Cristiano Gehrke com Imigração alemã e Nacional-Socialismo: perseguições e silenciamentos em São Lourenço do Sul/R, almejando compreender a instalação destes imigrantes, principalmente na zona rural do município de São Lourenço do Sul, destacando os elementos que fizeram com que esses vivessem de forma isolada e mantivessem preservados elementos culturais que os diferenciavam do restante da população. Já Lucas Mendes Menezes, em Das possibilidades de uma acolhida visual expandida:a arquitetura belo-horizontina através das lentes dos fotógrafos amadores em 1953, propõe uma reflexão sobre a dinâmica de receptividade do espaço arquitetônico em Belo Horizonte a partir da análise de um grupo de imagens produzidas por fotógrafos amadores. Formalmente filiados ao Foto Clube de Minas Gerais, estes fotógrafos organizaram, em 1953, a “Primeira Exposição Fotográfica de Motivos Belorizontinos”, no salão do comercial Edifício Dantés – um dos pontos mais centrais da cidade.
Em a A imprensa e a crítica de arte em Fortaleza nos anos 1940, Anderson de Sousa Silva busca abordar a emergência da crítica de arte em Fortaleza dos anos 1940, especificamente na segunda metade dessa década. Em Do mundo das ideias à caverna: o conhecimento histórico na crise do presentismo, Débora Regina Vogt a partir de um diálogo com a teoria da História procura refletir sobre a conjuntura historiográfica atual e as consequências em nosso modo de conceber o conhecimento histórico tendo como referência a noção de presentismo de François Hartog.
E temos reservado ao leitor ainda as resenhas Os tiros que não saíram pela culatra de Cid Morais Silveira, a partir do livro de Igor Alves Moreira, Do bispo morto ao padre matador: Dom Expedito e Padre Hosana nas construções da memória. E a resenha de Giane Maria de Souza, As aproximações ideológicas entre as origens do pensamento conservador elitista e o processo de impeachment de Dilma Rousseff sobre a obra de Jessé Souza, A tolice da inteligência brasileira – ou como os países se deixam manipular pela elite.
Agradecemos a todos os colaboradores, sejam aqueles que compõem o Conselho Editorial da Revista Em Perspectiva e a parceria dos professores do PPGH-UFC, tal como os membros do Conselho Consultivo e os autores referenciados. Esperamos retribuir a dedicação e o compromisso de todos que contribuíram para a composição desse volume. Boa leitura!
Organizador
Elane C. Rodrigues Gomes
Referências desta apresentação
GOMES, Elane C. Rodrigues. Apresentação. Em Perspectiva. Fortaleza, v. 2, n. 1, p.4-6, 2016. Acessar publicação original [DR]