História & Rock | ArtCultura | 2015
Ao emergir, nos anos 1950, na história da música, o rock – cujo nome de batismo foi rock’n’roll – tocou em nervos expostos. Como quem irrompe, com estardalhaço, num campo minado, de uma ou de outra forma ele pôs em questão a escravização dos sentidos sob o jugo da tradição musical e/ ou comportamental. O inconformismo com o estado de coisas nascente foi, sem dúvida, o gatilho que disparou críticas contundentes e acionou medidas repressivas de diversas ordens que, em última análise, busca – ram abatê-lo em pleno voo. Paralelamente, no entanto, ele foi granjeando adeptos por todos os quadrantes do mundo, a ponto de se converter em objeto de desejo e fonte de lucros exorbitantes da indústria cultural, que procurou assimilá-lo e à qual ele se integrou, de maneira mais ou menos contraditória e em maior ou menor escala, conforme o caso.
Uma pequena parte dessa história de sons, ruídos e atitudes ligados ao rock é revisitada na ArtCultura 31, no dossiê História & Rock, organizado pelos professores Adalberto Paranhos, da UFU, e José Adriano Fenerick, da Unesp-Franca. O horizonte de abrangência da palestra e dos artigos aqui reunidos transita entre a América Latina, com ênfase no Brasil e no Chile, e, sem desdenhar o papel que os Estados Unidos desempenharam nesse processo, avança em direção a outras latitudes e longitudes, especialmente a Europa, com destaque particular, é claro, para a Inglaterra, mas também para Portugal.
Na sequência, abre-se espaço para uma entrevista com o historiador André Gunthert, professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris. Ele discorre sobre a larga experiência que adquiriu na área de sua especialidade, a História Visual, uma das matérias-primas da ArtCultura, que, ao longo de sua existência, dedicou vários dossiês a tal temática, sem desconsiderar textos esparsos acolhidos em diferentes edições.
Já na seção Artigos, contam-se mais seis colaborações que formam um cardápio intelectual variado. Ela começa por fundir o corpo, o visual e o sonoro na produção do moderno e por transbordar as fronteiras nacionais, ao invadir a cena do hip hop em Monterrey, no México. Em seguida volta-se a atenção para a análise de uma revista, Literatura, que selou seu compro – misso com uma perspectiva política engajada. E por falar em engajamento, aborda-se, depois, a intrincada questão da cultura popular de acordo com as propostas do Movimento de Cultura Popular, que eclodiu no Recife na década 1960, e se envereda pela produção cultural da arquiteta Lina Bo Bardi, tomando como referência específica sua intervenção no Solar do Unhão, em Salvador, e no Sesc Pompeia, em São Paulo. O texto final, como um happy end, coloca em evidência o significado de O amor segundo B. Schianberg, filme dirigido por Beto Brant, preocupado em captar o que é designado pela autora como “interseções midiáticas da cultura de massa feminizada”.
O fecho deste número consiste numa resenha na qual se passa em revista o livro recém-lançado Os desafinados: sambas e bambas no “Estado Novo”, no qual ganham força as vozes destoantes do grande coro da una – nimidade nacional que tentou instaurar no Brasil da época da ditadura estado-novista conduzida sob a batuta de Getúlio Vargas.
Estamos conversados.
Organizadores
Adalberto Paranhos – Mestre em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Professor do Instituto de Ciências Sociais e dos Programas de Pós-graduação em História e em Ciências Sociais da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Pesquisador do CNPq. Autor, entre outros livros, de O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no Brasil. 2. ed. São Paulo: Boitempo, 2007. E-mail: akparanhos@uol.com.br
José Adriano Fenerick – Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP). Professor do Departamento de História da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Franca), onde atua nos cursos de graduação e pós-graduação em História. Autor, entre outros livros, de Façanhas às próprias custas: a produção musical da Vanguarda Paulista (1979-2000). São Paulo: Annablume/Fapesp, 2007. E-mail: jafenerich@asbyte.com.br
Referências desta apresentação
PARANHOS, Adalberto; PARANHOS, Kátia Rodrigues. Apresentação. ArtCultura. Uberlândia, v. 17, n. 31, p. 5, jul./dez. 2015. Acessar publicação original [DR]