História, Religiões Mediúnicas e Afro-Brasileiras / Esboços / 2010

O Dossiê escolhido para este número da Revista Esboços traz como tema de discussão “História, Religiões Mediúnicas e Afro-Brasileiras”. Com isso nossa publicação continua contemplando a pluralidade temática, a diversidade teórico-metodológica e o diálogo interdisciplinar, tão salutares à prática historiográfica.

O tema das religiosidades e, mais precisamente, das religiões mediúnicas e afrobrasileiras é familiar às pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em História, nos trabalhos de Graduação do nosso Departamento, bem como no Laboratório de Religiosidade e Cultura da UFSC. A “Esboços”, com esse Dossiê, contempla não somente uma realidade de pesquisa própria ao lugar institucional que a abriga, mas também um interesse acadêmico mais amplo, atestado pela crescente presença desta temática nas teses de doutoramento e dissertações de mestrado, o que demonstra uma abertura da academia a realidades culturais extremamente relevantes ao pensarmos nosso país e nosso povo.

Colaboram neste Dossiê: Durval Muniz de Albuquerque Jr, Artur Cesar Isaia, Raquel Marta da Silva, Cristiana Tramonte, Emerson Giumbelli, Roberto Motta, Luis Nicolau Parés, Reginaldo Prandi e José Jorge de Morais Zacharias.

No primeiro artigo, Durval de Albuquerque Jr estuda o olhar do pensador potiguar Câmara Cascudo sobre a cultura africana e suas peculiaridades ao abordar a presença negra na formação histórico-cultural brasileira. Após temos uma reflexão a respeito do discurso médico-psiquiátrico sobre o transe mediúnico, enfocando a produção de Xavier de Oliveira, psiquiatra ligado à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro na primeira metade do século XX, o que é feito por mim. Abordando o espiritismo, Raquel Marta da Silva enfoca a importância que o “Pacto Áureo” (tentativa nacional de unificação doutrinária espírita) teve no movimento espírita mineiro da primeira metade do século XX. A religiosidade afro-brasileira em Florianópolis aparece no artigo de Cristiana Tramonte, que mostra as relações entre as mesmas e um universo cultural bastante difuso, no qual aparecem as práticas de curas e as benzeduras. A presença da África na produção dos primeiros intelectuais da umbanda é analisada por Emerson Giumbelli, que evidencia a importância negra, malgrado as aparências de desvalorização africana por aqueles intelectuais. As reflexões de Roberto Motta contemplam a abertura das religiões afro-brasileiras a outras realidades culturais, notadamente as reflexões de cientistas sociais, em dias mais recentes, o que, em sua opinião, pode ocidentalizar e intelectualizar aquelas religiões. Luis Nicolau Parés aborda em seu artigo a presença consolidada de práticas religiosas jejes e nagôs, já nos anos 1860 em Salvador, bem como o processo de hegemonia nagô no final do século XIX, como resultado de disputas entre crioulos afro-brasileiros. Reginaldo Prandi apresenta uma reflexão sobre uma entidade das mais importantes nas religiões afro-brasileiras: a Pombagira. Esta entidade é apresentada aqui a partir de uma de suas numerosas lendas, como indício da fuga ao dualismo ético judaico-cristão pela religiosidade afro-brasileira. Já José Jorge de Morais Zacharias, aborda a relação entre os indivíduos e os Orixás tomando como base a teoria de Jung e comparando-a com a cultura africana, na qual se pode ver, igualmente, um sistema de explicação das diferenças individuais.

Uma boa leitura para todos (as) e, desde já, os nossos agradecimentos por sua atenção e divulgação desse trabalho coletivo.

Artur Cesar Isaia – Organizador do Dossiê. Professor do Departamento de História da UFSC. E-mail: arturci@uol.com.b

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