História, Neofascismos e Intolerância: reflexões sobre o Tempo Presente | Dilton Cândido Santos Maynard
MAYNARD, Dilton Cândido Santos (org.). História, Neofascismos e Intolerância: reflexões sobre o Tempo Presente. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012. p. 31-32. Resenha de: VIEIRA, Irlan Mark Elias. História, Neofascismos e Intolerância: Reflexões sobre o Tempo Presente. Cadernos do Tempo Presente, São Cristóvão, n. 10 – 10 de dezembro de 2012.
A obra em estudo é um trabalho de cerca de 2 anos que o GET (Grupo de Estudos do Tempo Presente) vem fazendo através do mapeamento e discursões de sítios eletrônicos de caráter racista, xenófobo e neonazista, oferecendo a seus leitores um farto material de estudo sobre o problema da intolerância contra judeus, nordestinos, homossexuais, negros e latinos, cada dia mais frequente na web.
Em seu primeiro capítulo, os autores Maynard e Lucchesi fazem uma analise da ação de ativistas e simpatizantes dos ideais fascistas, que utilizam a internet para difundir o preconceito e a intolerância gratuita. Para isto, os autores demonstram como os ativistas (lobos solitários) acabaram conhecidos como internautas engajados na utilização das redes sociais para propagarem ódio e intolerância ao outro.
A web 2.0 funciona como uma ferramenta de fácil acesso que se molda com perfeição aos interesses da extrema-direita através de ataques rápidos e silenciosos que conseguem ganhar grandes proporções e chegar a um número expressivo de internautas. E com ela que grupos extremistas se mantem e novas facções são formadas, criando uma juventude xenófoba e imersa em preconceito. “A relativamente fácil manipulação de imagens, as redublagens de vídeos, a customização de blogs e websites com templates personalizados e outros recursos tornam possível a apologia aos fascismos…”II.
No segundo capítulo, a autora Natália Abreu Damasceno faz uma analise do grupo Blood and Honour, considerado um dos mais antigos e mais organizado grupo neonazista em atividade, e presente em aproximadamente 25 países. O B&H utiliza a web como principal ferramenta de propaganda do nacional socialismo por possuir inúmeras possibilidades de comunicação e interação entre os seus membros e por facilitar a distribuição de material pedagógico e informativo.
Outro ponto importante sobre o B&H é seu lucrativo merchandising, através da venda de artigos como bandeiras, flamulas, indumentária para crianças, adultos, animais de estimação, etc, proporcionando um lucrativo mercado com vasto mercado consumidor, além de fonte de lucro e propaganda para o movimento. O grupo tenta unir seus membros através da música, tendo como principal representante a banda Screwdriver, a qual consolidou oRock Against Comunism criada por Ian Stuart Donaldson líder fundador do B&H. Segundo Damasceno, o grupo entende a Internet como um dos campos de batalha mais importantes e expressivos do movimento, através do qual é possível adequar as velhas doutrinas de Hitler para a juventude do século XXI.
Monica Santana aborda, no terceiro capítulo, a atuação de um dos maiores difusores da intolerância na web, o site Ciudad Libertad de Opinión, página criada pelo argentino Alejandro Biondini. Este sítio eletrônico teve papel importante como servidor para hospedagem de diversos sites neonazistas espalhados pelo mundo, permitindo que qualquer um utilize seu espaço na web para transmitir mensagens fascistas.
O site apoia-se na liberdade de expressão e na democracia para exigir liberdade aos grupos neonazistas. Ele é um dos mais ativos websites na divulgação dos ideais neonazistas da América Latina, o portal se isenta da responsabilidade sobre os conteúdos postados na internet, deixando recair esta responsabilidade para seus idealizadores, sendo o sítio eletrônico apenas um mero veículo de informações.
Maynard e Moura apresentam um levantamento das atividades neonazistas no Chile, país apontado como capital neonazi da América Latina graças a sua grande capacidade de articulação e organização em torno do nacional-socialismo, característica descrita no capítulo 4, que difere dos demais grupos espalhados pelo globo. As organizações chilenas são descritas como agressivas e violentas também podendo ser encontrado grupos mais sofisticados e engajados na participação política do país visando à criação de um Estado Fascista.
Quanto à utilização da internet, estes grupos chilenos aproveitam-se das facilidades encontradas na rede para aumentar sua visibilidade perante a sociedade e para fugirem de perseguições e do monitoramento do Estado, conseguindo propagar o ciber-ódio e fugir de sua punição devido a ausência de restrições e policiamento da web. Maynard, em parceria com Pedro Carvalho, faz no capítulo 5 uma analise de como a música ou o hate music é utilizada pelo movimento neonazi para unir seus integrantes em torno de um ódio em comum e como essa ferramenta possibilita a difusão dos ideais fascistas de forma rápida e sedutora, além de servir como fonte de recursos econômicos para o movimento.
Os autores citam inúmeras bandas como Screwdriver, Ultra Sur, Skullhead, Brutal Attack entre outras, todas com características marcantes. A maioria prega o nacional-socialismo e, embora não seja obrigatório, sempre criticam os judeus, os imigrantes, os homossexuais e os comunistas, pregam o militarismo e o orgulho à pátria e elas podem ou não serem neonazistas. Estas características aliadas a Internet fornecem as armas perfeitas para que os grupos de extrema-direita espalhem suas mensagens de ódio e intolerância pelo mundo de forma rápida e eficiente para qualquer um que estiver disposto a conhecer as várias faces do movimento neonazi.
Paulo Teles demonstra nas entrelinhas do capítulo 6 como o cinema aborda o movimento neonazista, tendo como exemplo o documentário Skinhead Atitude, no qual são apresentadas características como o nacionalismo, antissemitismo e a intolerância. A película apresenta costumes e comportamentos que representam o movimento skinhead. O autor deixa claro que a discursão sobre o skinhead feita pelo cinema é extremamente superficial e reducionista, limitando-se a mostra-los como uns brutamontes apaixonados pelo nazismo e violência gratuita, quando na verdade existe toda uma sociedade organizada e hierarquizada caracterizando um grupo em crescimento marcado pela intolerância e que busca, seja por meio da violência ou da política, construir sua identidade.
No último capítulo da obra temos a autora Karla Karine Silva discutindo sobre o revisionismo histórico, uma reinterpretação do genocídio semita durante a Segunda Grande Guerra e da negação da existência do holocausto judeu, adotado pelos sítios eletrônicos Radio Nueva Ordem. Este último fornece farto material propagandístico e literário sobre o revisionismo e o Nacional-Socialismo, além de se autodenominar “O primeiro site espanhol Nacional Socialista” e se utilizar do artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos – direito a liberdade de expressão – para manter-se na ativa.
O sítio Radio Islam também estudado por Silva, se apresenta como “a mãe de todos os sites anti-judeus”. Este fornece farto material revisionista – sendo seu maior veiculador na Web –, faz apologia ao ódio racial, além de disponibilizar aos seus navegantes uma grande quantidade de propaganda antissemita, a exemplo dos Protocolos dos Sábios de Sião, um suposto dossiê no qual os sionistas planejam dominar o mundo. Estes portais apropriam-se do ciberespaço para difundir ódio e intolerância a todos que não se enquadrarem em seus padrões de raça e sociedade.
A partir do exposto, podemos perceber a importância desta coletânea para o estudo dos movimentos fascistas e sua apropriação do ciberespaço como veículo de informação e recrutamento de membros, assim como excelente campo de batalha devido à ausência de restrições e policiamento por parte das autoridades responsáveis, fazendo com que estes grupos alcancem um número crescente de adeptos pelo globo. O trabalho também possibilitou o conhecimento de aspectos e características da cultura destes movimentos, tais como suas doutrinas, comportamentos, indumentárias, signos e códigos, trazendo a tona um mundo desconhecido que precisa ser estudado e combatido para desconstruir o comportamento alienado virtualmente.
Notas
2 LUCCHESI, Anita; MAYNARD, Dilton. In: MAYNARD, Dilton Cândido Santos (org.). História, Neofascismos e Intolerância: reflexões sobre o Tempo Presente. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012. p. 31-32.
Referências
MAYNARD, Dilton Cândido Santos (org.). História, Neofascismos e Intolerância: reflexões sobre o Tempo Presente. Rio de Janeiro: Editora Multifoco, 2012.
Irlan Mark Elias Vieira – Graduado em História pela Universidade Federal de Sergipe. Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente GET/CNPq/UFS. Pós-Graduando em Ensino de História e Novas Abordagens Faculdade São Luís de França. E-mail: Irlan@getempo.org.