Desde as reflexões do início do século passado, com o discurso de abertura do V Congresso Internacional de Ciências Históricas proferido por Pirenne, em 1923, e a publicação no ano seguinte da obra clássica de Marc Bloch, “Os Reis Taumaturgos”, a história comparada tem sido aplicada aos estudos sobre a Idade Média. No decorrer do século, com a ampliação das reflexões, aparece como um método consolidado e privilegiado para a análise das sociedades medievais.
Nos últimos cinquenta anos, a historiografia dedicada ao medievo tem sido marcada por muitas transformações e respondeu, dentre outros desafios, àqueles associados à ampliação tanto cronológica quanto geográfica, ao desenvolvimento de novas temporalidades, como a “Antiguidade Tardia” e a “Longa Idade Média”, e à perspectiva de “Idade Média Global”. Em meio a este panorama historiográfico, a história comparada – em suas muitas formas – possui potencial para novas perspectivas analíticas ao campo dos medievalismos.
Configurando-se como exercícios comparativos em contribuições originais, no presente dossiê estão compreendidos oito artigos, elaborados por pesquisadores vinculados a universidades de distintas regiões do país e que são especialistas em diferentes aspectos e momentos do medievo.
Em A cidade pós-clássica no Oriente: o caso de Antioquia (Séc. III-VII), Gilvan Ventura da Silva, professor da Universidade Federal do Espírito Santo, por meio da comparação diacrônica, analisa duas fases da história da “metrópole da província de Síria-Coele” O autor desenvolve seu raciocínio tendo como referência a argumentação de que na primeira fase ocorreu uma expansão demográfica e territorial, enquanto na segunda, verificou-se uma retração, que pode ser explicada por diferentes fenômenos.
Raquel de Fátima Parmegiani, professora da Universidade Federal de Alagoas, é a autora de Controvérsias em torno da tradução do Antigo Testamento nas obras de Jerônimo e Agostinho. O artigo apresenta uma questão central: “Até que ponto os textos de partida estão contemplados nos textos de chegada?”. Para respondê-la, a autora estuda escritos de Agostinho e Jerônimo concernentes ao Antigo Testamento, discutindo temas como as regras de tradução e seu impacto na constituição do pensamento teológico.
Karol e Sisenando: estratégias comparadas de mobilidade social na Itália Carolíngia é a contribuição do docente da Universidade de São Paulo, Marcelo Cândido da Silva, ao dossiê. No artigo, com o foco em documentos notariais provenientes do Mosteiro de San Clemente a Casauria, localizado em Abruzos, atual Itália, o autor compara a trajetória de dois personagens: Karol e Sisenando.
Assim, por meio da comparação de tais casos, discute a mobilidade social na região no período carolíngio.
O artigo Há Medieval ao sul do Equador? Uma gramática do poder africano entre o “Império do Mali” e o Grande Zimbabwe (Século XIV) é de autoria do professor da Universidade Federal do Paraná, Otávio Luiz Vieira Pinto. O tema central do estudo é o que o autor denomina de “Gramática do Poder Africano.” Por meio da comparação entre duas sociedades – a mandê e a bantu – no século XIV, problematiza a pertinência da aplicação do conceito “medieval” a tal região.
Em Histórias de Perdão: narrativas das margens nos apelos à Justiça Medieval Portuguesa, Beatris dos Santos Gonçalves, professora das Faculdades IBMEC/RJ e Universidade Candido Mendes, analisa comparativamente documentos denominados como cartas de perdão. Seu objetivo é debater as estratégias discursivas de apelação à justiça real em Portugal, no século XV, durante os reinados de D. Duarte, D. Afonso e D. João II.
Johnni Langer, docente da Universidade Federal da Paraíba, participa do dossiê com o artigo Religião, Vikings e Arte: reflexões sobre o medievo na pintura St Sigfrid Döper Allmoge I Småland (1866), de Johan Blackstadius. Referenciado na obra do artista sueco, o autor discute “as interpretações da Idade Média e Escandináviia entre os sécuos XVIII e início do XIX”; a pintura de Blackstadius em si, com destaque para aspectos associados à religiosidade, e, por fim, a comparação dessa tela com outras relacionadas à mesma temática.
No artigo intitulado O Rei Artur e D. Sebastião entre as simbologias do Dragão, do Urso e do Touro: do Medievo à Contemporaneidade, a professora Adriana Zierer, da Universidade Estadual do Maranhão, propõe um exercício de reflexão sobre simbolismo e imaginário político. No decorrer do texto, a autora destaca o caráter simbólico dos animais míticos, discutindo aspectos das relações de poder no medievo e no mundo contemporâneo.
Elton Oliveira Souza de Medeiros é professor do Centro Universitário Sumaré e no momento realiza pós-doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Em Vikings e simulacros: a construção de narrativas e simulações medievais pela cultura de massa, o autor aborda a recepção dos vikings pela mídia e pela academia. Nesse sentido, investiga um variado conjunto de fontes, que inclui filmes, fotos e jogos, e se utiliza do conceito de simulacro proposto por Jean Baudrillard.
É, portanto, com enorme alegria que o Programa de Estudos Medievais da UFRJ apresenta este dossiê com estudos, que, ao mesmo tempo em que fornecem um panorama de modalidades de história comparada para a análise das sociedades medievais, reúne tanto abordagens consolidadas quanto novas possibilidades postas pelos avanços historiográficos nas últimas décadas, como o diálogo com as leituras contemporâneas sobre o período.
Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Email de contato: andreiafrazao@ufrj.br. Leila Rodrigues da Silva – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Email de contato: leilarodrigues@ufrj.br.
Paulo Duarte Silva – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Email de contato: pauloduartexxi@hotmail.com.
Paulo Pachá – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Email de contato: pacha@ufrj.br.
SILVA, Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva; SILVA, Leila Rodrigues da; SILVA, Paulo Duarte; PACHÁ, Paulo. Apresentação do dossiê temático História Medieval em perspectiva comparada. Revista de História Comparada. Rio de Janeiro, v.15, n.1, p.1-10, 2021 Acessar publicação original [IF].
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