História indígena | Revista Ultramares | 2014

É com satisfação que apresentamos o dossiê História Indígena da Revista Ultramares.  Ao aceitarmos o desafio proposto pelos editores de organizar este dossiê, avaliamos que seria importante apresentar ao público, diferentes abordagens sobre a temática. Mas, sobretudo, nos preocupamos em trazer para esta edição, trabalhos que proporcionassem ao leitor o acesso às pesquisas, não só dos historiadores que se dedicam a refletir sobre história dos povos indígenas, mas também daqueles outros pesquisadores, cujos estudos, os índios estão presentes como tantos outros agentes históricos em de diferentes regiões do Brasil.

Desta feita, imbuídos pelo espírito que norteou o presente dossiê, os articulistas se debruçaram sobre diferentes fontes e realidades para trazer, como resultado de suas análises, algumas contribuições sobre a história dos índios durante o período colonial.  Abrindo o dossiê o artigo “Fortalezas Humanas. Indígenas no Rio de Janeiro do XVI e XVII” de Eunícia Fernandes, nos apresenta as estratégias no uso dos índios como elementos de defesa da capitania do Rio de Janeiro, numa articulação entre governança e religiosos da Companhia de Jesus, na formação de aldeamentos e distribuição de terras.  Ressaltando a importância do contingente indígena no processo de colonização e defesa daquele espaço.

Na sequência das observações sobre as formas de tratar os índios aldeados, todavia, agora na Amazônia, o artigo de Karl Arenz e Zady da Silva intitulado ‘A murta murchando’. O discurso jesuítico acerca dos índios aldeados na Amazônia portuguesa (1653-1759), se vale de diferentes documentos produzidos pelos padres jesuítas Antônio Vieira, João Felipe Bettendorff e João Daniel, todos eles com larga experiência de vivência nos aldeamentos da região, para analisar a forma como se compreendiam os índios neófitos e catecúmenos. Saindo do discurso inicial da maleabilidade da personalidade indígena para o reconhecimento em alguns casos do protagonismo dos índios, na condução de suas reinvindicações e resistências.

O uso de concessões de privilégios às lideranças indígenas no Rio de Janeiro, exemplificado no texto “O Enobrecimento dos Líderes Indígenas na Capitania do Rio de Janeiro: Reflexões sobre Significados e Usos Políticos Diversos” de Regina Celestino, nos aproxima dos novos interesses da história no campo político, no qual, os índios também foram protagonistas.  Evidencia o uso da nobilitação dos índios como instrumento dinâmico na colonização. Tratando ainda da realidade da capitania do Rio de Janeiro setecentista, o artigo de Márcia Amantino “As Correrias dos Guarulhos em Macaé, Rio de Janeiro, século XVIII”, nos leva a conhecer uma experiência de resistência, por parte dos índios Guarulhos, sobre o avanço de suas terras pelos colonos, gerando sobre eles vários relatos de hostilidades.

Maria Cristina Martins no seu artigo “Índios Pampas nas Missões Austrais: Lógicas e Estratégias Nativas em Missões Jesuíticas, nos proporciona uma reflexão sobre as missões jesuíticas estabelecidas no Rio da Prata, apoiando-se em relatos coevos, traça uma análise sobre as estratégias de resistência e adaptação entre europeus e nativos.

Os dois últimos textos que fecham o dossiê são um exemplo das incríveis possibilidades analíticas do uso das fontes.  Ricardo Medeiros e Demétrio Mutzenberg fazem um espetacular exercício da cartografia para determinar a localização espacial dos aldeamentos indígenas, no sertão da capitania de Pernambuco, no seu artigo “Cartografia histórica das relocações indígenas nas ilhas do Submédio São Francisco no período pombalino (1759-1761)”. Enquanto, Rafael Chambouleyron, nos brinda com a análise e transcrição de três sesmarias passadas a índios na Amazônia colonial no século XVIII.

A revista conta ainda com três excelentes artigos livres, que tratam das práticas de poder e modelos de governança aplicados no Brasil colonial, começando com o artigo “Aliança com os Indígenas e a Nomeação dos Oficiais da Tropa Regular (Estado do Maranhão e Grão-Pará – Século XVII)” de Rafael Ale Rocha; seguido pelo artigo “‘Pernambuco entre dois mundos’: Guerra e administração nos primeiros anos dos holandeses no Brasil “ de  Rômulo Nascimento e  findando com o artigo “Quanto peixe se compra com um vintém? Análise da atividade pesqueira e as querelas derivadas desta na capitania do Rio Grande, 1650-1750”   de Ana Lunara Morais.

Encerrando esta edição a instigante resenha de Everton Rosendo dos Santos, que analisa o livro da historiadora Kalinda Vanderlei, intitulado “Nas solidões vastas e assustadoras: a conquista do sertão de Pernambuco pelas vilas açucareiras nos séculos XVII e XVIII”, que nos convidam a conhecer melhor a chamada “Guerra dos Bárbaros”.


Organizador

Marcia Eliane Alves de Souza e Mello

MELLO Marcia Eliane Alves de Souza e (Org d)


Referências desta apresentação

MELLO, Marcia Eliane Alves de Souza e. Apresentação. Revista Ultramares. Maceió, n.5, v.1, jan./Jul. 2014. Acessar publicação original [DR]

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