História: entre a saúde a doença / Esboços / 2006
Podemos pensar que a doença é um evento pontual, presente apenas na vida de alguns indivíduos (“os outros”, de preferência) que têm a infelicidade de a verem cruzar a soleira de sua porta. Porém, percebemos que nós e quase todas as pessoas de nosso convívio já enfrentaram uma experiência relacionada com algum mal-estar. “Todas as pessoas vivas têm dupla cidadania, uma no reino da saúde e outra no reino da doença”, pondera Susan Sontag, em “A doença como metáfora”. Adoecer, buscar a cura ou manter a saúde são aspectos da vida que mobilizam a atenção da sociedade. Fiel a esse vaticínio, esse número da Revista Esboços: revista do programa de pós-graduação em história da Universidade Federal da Santa Catarina escarafuncha as relações entre saúde e doença, entre saudáveis e doentes.
Como objetos do historiador, saúde e doença tornam-se ricas oportunidades de compreender o contexto onde se apresentam. O dossiê “História: entre a saúde e a doença” proporciona o contato com este universo de diferentes maneiras. É possível compreender as diferentes teorias médicas que buscavam a explicação para as doenças, como a Eugênia, a relação que se fazia entre gênero e alguns males ou perceber as reflexões de um médico sobre a doença e sua vitória, a morte.
Certas patologias emergem como objetos de destaque. Aqui, é o caso da lepra e da AIDS, temas sobre os quais os historiadores não deixam de formular suas questões. Se as doenças são acontecimentos que alteram o curso de uma vida, que dizer daquelas cujo caráter epidêmico ou incurável e que fazem um grande número de vítimas em um curto espaço de tempo? Isto se torna ainda mais relevante quando, além das alterações biológicas, as doenças provocam outros males causados pelo medo, pelo preconceito e pela exclusão social.
Diante da necessidade de manter ou recuperar a saúde, diferentes respostas são construídas de acordo com o contexto histórico em questão. Assim, vemos emergir os hospitais, como espaços inicialmente destinados à caridade para, posteriormente, se apresentarem como locais de cura. Ou as transformações da terapêutica, em consonância com a disseminação de novas teorias sobre a doença, como foi o caso da microbiologia no início do século XX.
É possível, ainda, perceber nos vários artigos que compõem este número da Esboços como exemplos das diferentes possibilidades metodológicas na abordagem da temática. Temos desde fontes mais familiares, como periódicos e teses médicas, às menos tradicionais, como biografias, programas de TV e o cinema, revelando a presença incisiva da saúde e da doença no cotidiano. A escolha do tema História: entre a saúde e a doença não foi, portanto, aleatória. Foi feita pela vontade em divulgar os trabalhos historiográficos, em contínuo crescimento, na área. Assim, agradecemos a todos os colabores deste número, cujos estudos revelam que saúde e doença são muito mais do que processos biológicos: são eventos que transformam o papel dos indivíduos e suas relações na sociedade.
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