Como definir um intelectual? Qual a sua função? Essas perguntas sartrianas, em seu livro Em Defesa dos Intelectuais, nos levam a problemas de método. O estudo sobre intelectual se constitui quanto categoria dentro de uma estrutura de investigação científica não muito bem delineada. Mesmo tratando-o, epistemologicamente, em uma visão multidisciplinar, em que os instrumentos teórico-metodológicos consolidados de vários campos, como Sociologia, Filosofia, História e Educação, contribuem academicamente de forma indelével, a análise sobre intelectual pode-se incorrer em armadilhas. Um dos desafios, por conseguinte, é perquirir o lugar do intelectual na sociedade. A relação entre sujeito intelectual e estrutura institucional pode ser concebida a partir de sua formação, de suas diversas filiações e suas tessituras de sociabilidade política, cultural, econômica, educacional etc.
Este prisma auxilia o ponto de partida para uma análise da pluralidade das suas funções possíveis na sociedade hoje. Portanto, a pesquisa sobre os intelectuais, enquanto “categoria teórica movediça”, nos conduz a assinalar a sua importância como agentes orgânicos em determinada conjuntura histórico-política, que têm funções sociais na condição mais de vínculo a uma classe ou grupo social do que à personalidade individual marcante. Assim sendo, tentamos construir a premissa de Sartre na qual “o intelectual é o homem que toma consciência da oposição, nele e na sociedade […]. Produto de sociedades despedaçadas, o intelectual é sua testemunha porque interiorizou seu despedaçamento. É, portanto, um produto histórico. Nesse sentido, nenhuma sociedade pode se queixar de seus intelectuais sem acusar a si mesma, pois ela só tem os que faz.” [4]
Dito isto, apresentamos o oitavo número da Revista Perspectivas e Diálogos: Revista de História Social e Práticas de Ensino, que leva aos leitores o Dossiê Temático “História, Educação e Intelectuais Brasileiros”, cujo propósito é o de provocar, através de um diálogo interdisciplinar, a aproximação da História da Educação com outros campos da pesquisa histórica e educacional, em especial, o debate em torno da categoria Intelectual. Além de reunir textos que compõem o Dossiê Temático, este número ainda apresenta artigos científicos que perpassam pela História Social e pela Educação Histórica.
Estão contidos no Dossiê Temático cinco artigos, sendo que o texto O Professor Euzébio Vanério: leituras históricas, o Ensino Mútuo e a sua trajetória na Província da Bahia oitocentista, de Ítalo Eratóstenes Chagas abre o Dossiê. Em essência, artigo que versa sobre a trajetória do professor Euzébio Vanério, analisando suas contribuições como intelectual da educação, em especial, a introdução do Método de Ensino Mútuo, na Província da Bahia no século XIX.
O segundo artigo, O intelectual José Calasans: considerações sobre o seu pioneirismo na pesquisa no Brasil, de Jairo Carvalho do Nascimento, analisa a contribuição historiográfica de José Calasans para os estudos da Guerra de Canudos, do folclore da cachaça e da histórica política. Versa também sobre a sua generosidade intelectual, com a colaboração em ampliar e criar arquivos, bibliotecas, com doação de material de pesquisa, fontes e livros.
Na sequência, apresentamos o artigo Uma leitura da autobiografia da professora Maria Dagmar de Miranda, de Marinélia Silva, que se detém sobre uma narrativa da professora negra Maria Dagmar de Miranda na cidade de Riachão do Jacuípe. O texto nos apresenta uma reflexão de gênero e racial contida no processo educacional no interior da Bahia.
O quarto texto, Interlocução dos Intelectuais Marxistas com o Escolanovismo nos anos de 1930 no Brasil, de Marta Loula Dourado Viana, procura avaliar os diálogos que se estabeleceram entre intelectuais marxistas e intelectuais escolanovistas, em torno de questões que os aproximavam no sentido de estabelecer uma luta pela democratização da escola oficial, num período em que vigorava o conservadorismo representado pelo Governo de Getúlio Vargas.
Por fim, o dossiê se encerra com o texto Anísio Teixeira: um estadista intelectual em defesa da educação pública durante a tramitação do Projeto de Lei de Diretrizes e Bases (1948 – 1961), de Wilson Silva Santos e Genilson Ferreira da Silva, que aborda a tentativa de implantação do Estado Democrático no Brasil, entre os anos de 1945 e 1964, período marcado pela tramitação e promulgação de nossa primeira LDBEN. Nesse cenário, eclodem debates no campo educacional, em que se destacam os embates envolvendo Anísio Teixeira, em dois episódios, nos quais faz a defesa da educação pública: o primeiro, um evento que envolve Anísio Teixeira e o Arcebispo e Porto Alegre; o segundo, um debate que reúne o educador baiano e o deputado federal Carlos Lacerda.
Reiteramos que, com a apresentação do Dossiê: História, Educação e Intelectuais Brasileiros, buscou-se, como adiantamos na chamada do referido Dossiê, suplantar abordagens já consagradas, optando por narrativas que fossem problematizadoras e que trouxessem novos temas à baila.
Desejamos a todos, e todas, uma excelente leitura, ao tempo que agradecemos aos autores que fizeram possível a realização do presente Dossiê.
Nota
4. (1994, p. 30 e 31).
Organizadores
Genilson Ferreira da Silva – Professor Assistente do Departamento de Ciências Humanas, Campus VI, Caetité, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Doutor em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB.E-mail: gensil.uneb@gmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9995-3156
Jairo Carvalho do Nascimento – Doutor em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA/2015). Professor Adjunto do curso de História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Campus VI) e do PPGELS (UNEB/Campus VI). Brasil. E-mail: jcnascimento@uneb.br ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8410-0233.
Wilson da Silva Santos – Professor Adjunto do Departamento de Ciências Humanas, Campus VI, Caetité, da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Doutor em Educação pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. E-mail: wisanvc@yahoo.com.br. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-2310-1077
Referências desta apresentação
SILVA, Genilson Ferreira da; NASCIMENTO, Jairo Carvalho do; SANTOS, Wilson da Silva. Apresentação. Perspectivas e Diálogos – Revista de História Social e Práticas de Ensino. Caetité, v.1, n.7, p.11-13, jan./jun. 2021. Acessar publicação original [DR].
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