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História e questão agrária / Sæculum / 2012

Saeculum – Revista de História, número 26, primeiro semestre de 2012, apresenta o Dossiê Temático “Questão Agrária”. São 19 artigos, 2 resenhas e 1 entrevista que tratam diretamente do tema. Essa é uma das poucas ocasiões em que a Saeculum, ao longo dos seus dezesseis anos de existência, publica um dossiê temático que ocupa todas as suas páginas, sem espaço para os que tratam de outros temas através do fluxo contínuo, o que se deveu ao significativo número de textos que foram encaminhados para apreciação.

Concluímos, diante desse fato, em primeiro lugar, que a Questão Agrária continua a ser discussão central no conjunto da obra dos historiadores brasileiros. Em que pese a incessante renovação historiográfica observada no país ao longo das últimas décadas; renovação essa marcada, entre outros aspectos, pela emergência de objetos e abordagens pouco investigados até então, e que contribuíram para a consolidação da área, especialmente no âmbito da pesquisa universitária, a Questão Agrária continua a ser fonte de preocupação constante por parte dos historiadores. Trata-se de uma questão que se enraíza na nossa história tão fortemente que é impossível deixar de refletir sobre ela. E que bom que os historiadores o estejam fazendo!

Os editores da Saeculum e os organizadores desse número consideram que tal fato seja extremamente relevante, uma vez que compartilham da perspectiva de que a História deve também ser um conhecimento que se desdobra sobre o mundo vivido, experienciado pelos homens, com o objetivo de nele agir, tal como nos ensinou Marc Bloch na sua Apologia. E se há questão central, ainda a resolver, na formação social brasileira, essa é a Questão Agrária.

E esse é o segundo motivo que julgamos explicar a grande ocorrência de artigos enviados para este dossiê da Saeculum: com os olhos no presente, os historiadores reafirmam a permanência do problema e a necessidade de reflexão sobre ele.

Nossa sociedade viu se encerrar a primeira década do século XXI sem que a reforma agrária, tão necessária para a solução dos problemas do campo brasileiro, fosse efetivamente realizada ou ao menos seriamente considerada como objetivo a se alcançar. Pelo contrário, assistimos nesse novo século a reprodução da grande propriedade, em escala cada vez mais ampliada, agora ocupada pelo agronegócio. Por outro lado, o século XXI também continua a reproduzir situações há muito conhecidas no campo, tais como os conflitos e a violência que resultam, por exemplo, no assassinato de lideranças e apoiadores da luta pela terra, na expulsão de moradores e pequenos proprietários e, por outro lado, na organização desses povos para resistir ao processo.

Os artigos que compõem o Dossiê abordam vários aspectos fundamentais da questão agrária no Brasil. Optamos por organizá-los em uma sequência cronológica até com o objetivo de explicitar ainda mais a permanência, através dos séculos, da questão na nossa história. Nesse amplo corte diacrônico, que se estende das origens européias da judicialização das relações agrárias até o debate historiográfico sobre o lugar da grande propriedade na nossa formação, passando por diferentes espaços, que vão da Amazônia ao extremo sul, dos litorais aos sertões, emergem inúmeros atores sociais: grandes e pequenos proprietários, grandes empresas e trabalhadores assalariados, agentes do Estado e da igreja, intelectuais, povos indígenas, escravos, homens pobres sem terra… Enfim, um amplo e significativo mosaico da sociedade brasileira gestada ao longo dos séculos.

Saeculum tem, assim, o prazer de apresentar uma amostra da variedade de reflexões contemporâneas dos historiadores brasileiros acerca da Questão Agrária. São, em grande número, resultados de trabalhos acadêmicos desenvolvidos junto a Programas de Pós-Graduação de todo o país ou de pesquisas vinculadas a diferentes instituições como centros de investigações ligados ou não a instituições de ensino superior. Pesquisas que palmilham documentos das mais variadas naturezas, fazendo-lhes perguntas novas e diversas, sobre um tema que continua se colocar como um desafio não apenas aos historiadores, mas para todo o povo brasileiro.

Para reforçar essa percepção, no processo de finalização desse número, nos chocou a notícia veiculada no último mês de outubro de 2012, acerca da situação desesperadora a que estão submetidos os Guarani-Kayowá no Mato Grosso do Sul, mas que não se trata de caso isolado e único, pois mostra a face da brutalidade de um desenvolvimento que se impõe pesadamente sobre as diferenças. Sobre isso, a nossa entrevistada, a Professora Rosa Godoy nos ensina a associar a prática científica à ação enquanto cidadãos, nos lembrando das múltiplas possibilidades do fazer histórico.

Os Organizadores


Organizadores. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.26, 2012. Acessar publicação original [DR]

Acessar dossiê

 

Itamar Freitas

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