O presente número da revista Varia Historia conta com um dossiê organizado pela linha de pesquisa Ciência e Cultura na História, da pós-graduação em História da UFMG: “História e Natureza”.
O dossiê traz seis artigos que estabelecem diálogos entre a história e o mundo natural. Este debate, se fez presente há muitas décadas na historiografia – certamente desde os pioneiros dos Annales – encontra-se atualmente revigorado pelos estudos na área de uma nascente História Ambiental.
Os três primeiros artigos focalizam questões teórico-metodológicas de grande pertinência para os historiadores que queiram dedicar-se a esse tipo de abordagem. Em “Por que estudar a história ambiental do Brasil- ensaio temático”, José Augusto Drummond, pesquisador associado do Centro de Desenvolvimento Sustentável (UnB), discute as razões que tornam o Brasil um objeto de estudo invejável no campo da História Ambiental, indicando perspectivas de pesquisa e preciosas indicações comentadas de trabalhos contemporâneos já produzidos, tendo o Brasil como tema. Guillermo Castro, da Universidad de Panamá, autor de “História Ambiental {feita) na América Latina”, debate a relevância e a urgência de se fundar uma discussão latino-americana sobre a sua história ambiental, que tem sido prioritariamente feita com o apoio de instituições econômicas e financeiras de países do Atlântico Norte. Frente às várias conseqüências e limitações decorrentes dessa situação, o autor debate a diferença entre uma história ambiental sobre a América Latina e uma história ambiental latino-americana.
O artigo de Bernardo García Martinez, do Colegio de México, “Fronteiras Pré-Hispânicas e Ocupação da Terra: um traço básico para analisar a história ambiental do México nas épocas colonial e contemporânea”, privilegia questões e impasses na construção de um olhar historiográfico ambiental sobre a história colonial do México. Mostrando a necessidade de um redobrado cuidado na aceitação de generalizações ou paradigmas, recomenda ao historiador que se detenha na variedade e na complexidade dos fenômenos estudados, o que resultará, certamente, em análises mais pertinentes e sofisticadas das relações entre sociedade e natureza.
Christian Brannstrom, professor da Texas A&M University, realiza uma instigante discussão sobre a Mata Atlântica, introduzindo questionamentos sobre esse conceito a partir de uma minuciosa pesquisa nos inventários e processos de divisão e medição de terras no oeste paulista. Constatando a existência de um verdadeiro mosaico de vegetação, introduz um debate epistemológico da base biofísica de estudos histórico-ambientais.
O artigo de José Luiz de Andrade Franco, da União Pioneira de Integração Social (UPIS), “A Primeira Conferência Brasileira de Proteção à Natureza e a questão da Identidade Nacional”, analisa o pensamento social e as propostas formuladas naquele evento, realizado em 1934, no Rio de Janeiro, evidenciando as conexões entre a questão da proteção da natureza e uma idéia mais ampla de construção da nacionalidade.
Finalmente, no último artigo deste dossiê, Regina Horta Duarte, da UFMG, discute as relações entre homens e animais focalizando dois momentos históricos diferentes, a partir das práticas circenses no Brasil e da utilização dos animais nos espetáculos no artigo “Cavalinhos, leões e outros bichos: o circo e os animais”. A autora visa pontuar a transformação histórica de valores morais e o surgimento de novas sensibilidades, assim como compreender suas condições.
Compõem ainda este número da Varia Historia dois artigos. Em “Os cabeças e as cabeças: quilombos, liderança e degola nas Minas setecentistas”, Carlos Magno Magalhães aborda as hierarquias de poder instituídas no interior dos quilombos em Minas Gerais e as práticas de mutilação utilizadas pela sociedade colonial , expressas na degola e exposição de cabeças em praças públicas, com o objetivo de coibir a fuga de escravos e a formação de quilombos. Giselle Martins Venâncio investiga a relação entre o então editor Monteiro Lobato e o autor Oliveira Vianna em “Da Revista do Brasil ao Brasil em revista: breve análise da trajetória editorial de Oliveira Vianna “. A correspondência trocada entre os dois serve de fio condutor para compreender a consolidação da posição de Vianna no mercado editorial brasileiro e entre a intelectualidade brasileira na primeira metade do século XX.
O presente número contou com o apoio financeiro da Fundep e da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFMG, a quem agradecemos.
Regina Horta Duarte – Organizadora.
DUARTE, Regina Horta. Apresentação. Varia História, Belo Horizonte, v.18, n.26, jan., 2002. Acessar publicação original [DR]
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