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História e Mídia / Tempos históricos / 2010

A produção do dossiê História e Mídia trouxe algumas agradáveis surpresas. A primeira delas é o fato de os artigos recebidos abordam uma diversidade de meios midiáticos. Embora a maioria deles trate da imprensa escrita, temos textos também sobre a televisão, a publicidade, charges. Alguns trabalhos abordam questões muito atuais como comportamento eleitoral, construção de visões de mundo e inserção social. Outros remetem a momentos mais afastados temporalmente, onde inclusive conseguimos ampliar a diversidade espacial das pesquisas apresentadas: Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará, Amazonas. E daí partimos para a Argentina, em uma leitura da Mafalda, para Espanha, estudando tanto a publicidade como a televisão, e também para o México, abordando a imprensa portadora de um lugar social.

A diversidade teórica também se faz presente. Os artigos recebidos demonstram que as pesquisas no campo de História e Mídia não se restringem a uma única visão teórica. Nesse sentido ressalta-se a presença de leituras gramscianas e marxistas na análise da mídia, o que algumas vezes no passado recente foi rechaçado a priori como possibilidade de análise. Essas análises se somam com as análises de agenda setting ou do “espaço público”, e outras, na leitura da mídia.

O mais importante talvez seja a comprovação de que a mídia pode ser estudada como fonte, mas também como objeto de investigação. Tanto na História como na Comunicação, assim como outras áreas afins que se dedicam ao estudo da mídia e da história, não se discute mais se a mídia pode ou não ser fonte histórica. Se a nossa vida está tomada de mídia por todos os lados, especialmente na cultura do ciberespaço em que vivemos, se coloca como mais que necessário que nos debrucemos sobre ela para compreendê-la.

Na seção Tradução temos o artigo “Estetização e mistificação da vida no sistema publicitário”, de Jon Emanuel Illescas Martinez, da Universidade de Alicante. A sua publicação alerta para a atualidade da relevância de estudos sobre a publicidade e as formas como a persuasão segue sendo um elemento central de sua ação. Ao problematizá-la o autor retoma referenciais teóricos importantes na discussão da temática, agregando sua experiência no campo das artes plásticas sobre as formas de construção de visões de mundo impostas pela propaganda.

O texto “Qualidade de vida: democracia, cidadania e gênero: um olhar cruzado do norte do México a partir da ótica de análise dos meios fronteiriços” é uma contribuição de pesquisadores mexicanos que nos permite perceber a sintonia de questões de pesquisa para além da realidade brasileira. Os autores, pesquisadores de universidades mexicanas (Universidade Autônoma de Coahuila e Universidade Autônoma de Baixa Califórnia), usam a tese do Agenda Setting para abordar dois jornais no norte do México, mostrando como os dois se colocam diante de questões como qualidade de vida, cidadania e gênero.

O artigo de Victor Amar, professor da Universidade de Cádiz, discute o papel da televisão na Espanha nos tempos de transição, problematizando especialmente a questão da mulher e dos comportamentos sociais a ela atribuídos e por ela assumidos. A televisão permite que vejamos um campo bem mais amplo de comportamento social, tanto os que são mantidos quanto os que sofrem ruptura, num momento chave da história espanhola.

Sonia Meneses problematiza a história e a memória construída pela Folha de São Paulo sobre o Golpe de 1964, especialmente em momentos rememorativos, ou seja, os 30 e 40 anos do Golpe que instituiu uma Ditadura no Brasil.

O artigo de Silvia Maria Fávero Arend trata de uma questão de alta relevância, e mostra como um determinado jornal, de uma determinada doutrina religiosa, se coloca diante do problema. O aborto é problematizado pelo jornal O Reformador, vinculado à doutrina espírita kardecista, mostrando as posições assumidas e autorizadas pelo jornal sobre a questão.

Ampliando o leque diversificado dos artigos, Leno José Barata de Souza discute a penetração da cultura impressa no Amazonas, a partir do ano de 1851, historicizando até o momento do centenário Jornal do Comércio, apontando suas características, informadas em grande medida pela cultura oral, acerca da cultura impressa do estado.

Uma visão distinta, propondo uma leitura marxista das histórias em quadrinhos, estudando a “crítica mafaldina à sociedade burguesa” é a temática central do artigo de Carlos Eduardo Rebuá de Oliveira. O artigo traz ainda a preocupação com a utilização desse recurso pouco usual mas muito presente na vida cotidiana dos alunos, os HQs, apontando para a necessidade de que seja problematizado no ensino de história, a partir de conceitos de Antonio Gramsci.

Trabalhando com uma fonte muito presente mas pouco estudada, Erica Gomes Daniel Monteiro estuda a revista Seleções do Reader´s Digest no período de 1942 a 1945. Busca mostrar como agências do governo estadunidense atuaram indicando o comportamento das empresas de publicidade, e da revista analisada no sentido de incentivo ao consumo e aos padrões estadunidenses de vida do pós Guerra, a exemplo do que ocorreu com várias outras revistas de divulgação do período.

Outro campo bastante estudado relativo à imprensa diz respeito ao comportamento dos meios nos períodos eleitorais. É essa a temática do artigo de Luiz Miguel do Nascimento. Problematiza a questão do comportamento eleitoral e da opinião pública, buscando o sistema de valores dos eleitores, abarcando uma visão de mundo mais complexa.

Também no campo de estudos políticos temos o texto de Matilde de Lima Brilhante, sobre charges humorísticas relacionadas à administração política de Fortaleza. As charges mostram como se buscou criar uma imagem negativa da administração em questão num contexto de recém iniciada democratização.

O artigo de Andrea Pessanha problematiza a questão da imprensa como objeto e fonte de estudo. Busca perceber como os jornais do Rio de Janeiro do final do século XIX se colocavam diante da questão da abolição, mas enfatizando o papel que os próprios jornais pesquisados atribuíam a si próprios.

Carla Luciana Silva – Professora do Colegiado de História e do Programa de Pós-Graduação em História da Unioeste.


SILVA, Carla Luciana. Introdução. Tempos Históricos, Paraná, v.14, n.2, 2010. Acessar publicação original [DR]

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Itamar Freitas

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