História e História da Educação / Sæculum / 2010
As pesquisas em História da Educação vêm ganhando espaço cada vez maior entre os chamados “historiadores de ofício”. Os estudos acerca das práticas educativas; dos processos educacionais; da história das instituições escolares; do papel das políticas de Estado voltadas para a Educação; da história das disciplinas escolares, dentre uma infinidade de temas, têm sido alvo de pesquisas por parte dos historiadores em diversas temporalidades.
Compartilhando das perspectivas teóricas e metodológicas do campo da História, como as filiações com a História Cultural; a História Social inglesa; a Micro História italiana e as linhagens da perspectiva marxista têm dado uma nova face para as pesquisas da História da Educação que passaram, nos últimos vinte anos, a ter maior visibilidade para além dos limites dos cursos de pedagogia e dos estudos relacionados às ideias do pensamento educacional. Nessa perspectiva, as novas abordagens e objetos vêm se constituindo como um espaço de reflexão importante para fortalecermos os ofícios de Clio, que desta feita passa a se interessar mais de perto pelos problemas relacionados com a educação na sua historicidade.
Paralelamente ao seu crescimento e fortalecimento como um domínio específico de pesquisa, a História da Educação também vem sofrendo críticas no que concerne ao fato de fazer uso de conceitos e categorias de interpretação e análise já consagradas pela História. Preocupados com essa questão, os historiadores da educação abriram um fértil campo de produção do conhecimento histórico que, certamente, tem contribuído para seu desenvolvimento no âmbito da teoria da história. Para tanto, os pesquisadores lançaram mão do conceito de cultura escolar, engendrada a partir de estudos sobre o cotidiano das escolas, dos trabalhos de história comparada e os cuidados com os acervos que passaram a guardar as memórias da escolarização pública e privada no Brasil e em outros países.
É nesse contexto que os editores da revista Sæculum preocupados e antenados com todas essas mudanças relacionais de produção de conhecimento acerca da história e da história da educação resolveram destinar este número com um dossiê História e História da Educação. Assim sendo, a revista Sæculum nº 22 apresenta sete ensaios que procuram trazer pesquisas desenvolvidas em várias universidades brasileiras e que vão desde as discussões sobre as fontes e arquivos, educação indígena e cultura material escolar nos oitocentos; a posição de católicos e protestantes sobre educação no Nordeste brasileiro contemporaneamente; as interfaces da literatura com a crítica educacional brasileira na obra de Lima Barreto; o papel do Estado no processo de escolarização de trabalhadores em Minas Gerais e os interesses internacionais sobre a história ensinada. Procuramos estabelecer uma espécie de panorama parcial das temáticas e abordagens em História da Educação para permitir ao leitor uma travessia agradável.
Mais cinco artigos compõem a sessão seguinte, que denominamos de fluxo contínuo, com discussões que vão da política fabril e manufatureira no século XVII; sobre o século XIX apresentamos dois artigos, o primeiro deles sobre a representação acerca da guerra anti-holandesa na imprensa carioca e o segundo sobre o saber médico e a construção de uma cultura de saúde pública no Brasil. Finalizando o conjunto de artigos dois textos discutem ensino de história, um deles sobre as interfaces com a cultura histórica e o outro sobre o papel das imagens no ensino de História. Convidamos os leitores a acompanhar a resenha sobre alguns exemplos de peças poéticas produzidas ao longo dos anos de 1978-2008, em que os autores de Cadernos Negros “pensaram uma história do Brasil vista pela ótica da matriz cultural africana”.
Por último os editores da Sæculum publicam entrevista inédita – “A Leitura da Historiografia Clássica para a História da Educação” – concedida em Lisboa pelo historiador Justino Pereira de Magalhães, cujo percurso de vida acadêmica diz muito sobre as trajetórias dos pesquisadores em História da Educação brasileiros.
Os Editores
Equipe Editorial. Editorial. Sæculum, João Pessoa, n.22, 2010. Acessar publicação original [DR]