Para encerramos a gestão do Conselho Editorial escolhemos como tema do dossiê História e Cultura Visual. A discussão em torno da relação entre História e Imagem já é uma realidade entre os historiadores e demais pesquisadores. O objetivo deste dossiê foi justamente abrir espaço para um amplo debate em torno da problemática visual. Recebemos artigos de historiadores e pesquisadores de áreas como Estética, Letras, Jornalismo, Ciências da Comunicação, Ciências da Informação e Ciência Política, fato este que nos deixou extremamente gratificados, pois permite um amplo diálogo interdisciplinar tendo como vetor a análise do social a partir do ponto de vista do visual.
O artigo que abre o dossiê é da pesquisadora mexicana da história da fotografia Rebeca Monroy Nasr, que realiza uma reflexão instigante sobre a utilização da fotografia como documento social e suas possibilidades metodológicas.
Após este primeiro texto temos um bloco de artigos vinculados à fotografia e sua utilização em diversos suportes, mas em especial em periódicos. O primeiro deles escrito pelo investigador mexicano e pesquisador da Fototeca Nacional do México vinculada ao Instituto Nacional de Antropologia e História – INAH Daniel Escorza. Seu trabalho procura averiguar a trajetória do fotojornalista mexicano do início do século Agustín Victor Casasola, fundador de uma dinastia de fotojornalistas e considerado como fotógrafo oficial da Revolução Mexicana. Ele atuou nos principais jornais da capital mexicana nas primeiras décadas do século passado. O segundo artigo, da francesa Marion Gautreau, analisa como se construiu um imaginário político da Revolução Mexicana através de fotografias veiculadas na impressa ilustrada mexicana logo após o fim do conflito.
O quarto artigo, escrito pela professora do curso de Ciência da Informação da Unesp de Marília, Telma Campanha de Carvalho, procura identificar elementos da formação da visualidade jornalística no país e traz subsídios para os estudos da história visual da imprensa brasileira através de uma análise de fotografias publicadas no jornal O Estado de S. Paulo entre 1910 e 1929.
A professora Maria Eliza Linhares Borges da UFMG busca, em seu artigo, desvendar o papel da cultura visual na construção da identidade nacional no começo da era republicana brasileira. Parte das práticas publicitárias para verificar a elaboração de uma imagem moderna e cosmopolita.
Fecha este bloco o trabalho da professora da UnB Flávia Biroli sobre a transformação do jornalismo no Brasil a partir da década de 1940, que levou a um disciplinamento do olhar e da escrita na imprensa.
Os próximos três artigos possuem como eixo o cinema. O primeiro, do professor de História da América da UFRJ, Mauricio Bragança, trata da relação entre cinema e história, tendo como eixo de análise as películas produzidas sobre a Revolução Mexicana. O segundo artigo, da professora Ângela Aparecida Teles, procura desvendar os hibridismos entre o mundo rural e urbano do cinema de Ozualdo Candeias. O terceiro artigo da professora de História da Unesp, campus de Franca, procura investigar o discurso visual do cineasta Arnaldo Jabor em seu filme Tudo Bem.
O próximo artigo, do professor Victor Andrade de Melo, da UFRJ, discute a relação entre esporte e futurismo. Procura desvendar a construção de imaginários sociais e políticos da modernidade européia. Já o trabalho do professor de Antonio Gilberto Ramos Nogueira, da UFC, busca construção de uma identidade brasileira durante a experiência de Mario de Andrade ao longo das décadas de 1920 e 1930 e sua elaboração de uma política de preservação e patrimônio.
A investigação de Carine Dalmas procura estudar a construção de imaginários sociais a partir dos murais propagandísticos produzidos pelas chamadas Brigadas Muralistas, ligadas aos partidos Comunista e Socialista chileno durante o governo de Salvador Allende.
O texto de Ely Bergo de Carvalho e de Eunice Sueli Nodari trabalha com outro tema pouco explorado pelos pesquisadores brasileiros, a transformação da paisagem na região da cidade Engenheiro Beltrão, Paraná.
O artigo do professor do Instituto de Investigações Históricos da Unam, Federico Navarrete, versa sobre a iconografia de Malinche na narração visual da conquista do México e como essas imagens foram utilizadas de maneira criativa e complexa pelos indígenas mesoamericanos, que se apropriaram dos símbolos e discursos ocidentais para defender sua identidade e sua autonomia política. O trabalho que fecha o dossiê do professor da UNIFESP trabalha com a iconografia portuguesa para discutir a representação dos sonhos em imagens no século XVII.
Publicamos ainda três artigos fora do dossiê: o primeiro, de Jean Rodrigues Sales, sobre a trajetória do PC do B durante o governo militar. O segundo é da professora Yolanda de Paz Trueba do Instituto de Estudios Históricos y Sociales da Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires. Seu trabalho investiga como instituições de beneficências tornaram-se agentes moralizadoras do Estado argentino no final do século XIX. O último é do pós-doutorando da Unicamp Daniel Faria e discute o conceito de modernismo no Brasil.
Por fim publicamos duas resenhas, sendo a primeira de Johnni Langer sobre a edição traduzida para o português do livro do historiador e paleógrafo francês Serge Gruzinski, A guerra das imagens. A segunda resenha é do professor José Carlos Barreiro, da Unesp, campus Assis, sobre o livro Frontier Goiás, 1822-1889, escrito pelo Prof. David MacCreery.
Boa leitura.
Conselho Editorial
Conselho Editorial. Apresentação. História (São Paulo), Franca, v.26, n.2, 2007.Acessar publicação original [DR]
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