Apresentamos à comunidade acadêmica dos pesquisadores da área de História e das ciências humanas de modo geral o Dossiê História e Cultura, enfocando diferentes objetos de pesquisa, os fundamentos teóricos e procedimentos metodológicos que orientam a construção do conhecimento.
Entendemos que a relação entre história e cultura é indissociável, pois enquanto a História arrisca-se a investigar a elaborar narrativas sobre os fazeres humanos ao longo do tempo, a cultura é a construção e o acúmulo de todas as experiências e vivências socialmente erigidas da espécie humana, em intima relação com a natureza. A experiência humana é dinâmica e propicia um contínuo processo de adaptação, mudanças, acomodações empreendidas, em grande medida, pela alteridade, e de transmitir nossas experiências para as gerações futuras, daí resulta o seu caráter cumulativo e transformador.
Vale ressaltar ainda que as pesquisas atuais que utilizam chaves interpretativas da História Cultural ou da História Social da Cultura já privilegiam as diversas dimensões da cultura material e imaterial, produzidas em grande medida, pela multiplicidade de manifestações, pela perspectiva interpretativa dos fatos e símbolos, pelos quais um conjunto de signos e significados pertencentes a grupos sociais se misturam e se entrelaçam na formação da cultura. Interessa, portanto aos pesquisadores da cultura, uma interpretação e vivência da mesma como processo fervilhante de experiências individuais e coletivas, que se inserem no campo simbólico e da materialidade e vão preservando, acrescentando, retirando e dando continuidade a manifestação cultural a qual fazem parte.
É desafiador para os historiadores entender a estreita relação entre as práticas culturais e as variadas formas de poder dos produtores e consumidores da cultura. Neste sentido, a cultura não é apenas “um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível, isto é, descritos com densidade” (GEERTZ, 1989, p. 20).
A concepção de cultura como construção densa também denota seu caráter amplo, complexo e circular. Em relação a essa problemática é sabido que a circularidade cultural resolve, em grande parte, a querela de separação entre cultura popular e cultura erudita, sendo que ao longo dos anos ambos compartilham de seus conceitos e práticas.
Percebemos as possibilidades de análise histórica da cultura por meio dos trabalhos publicados no presente dossiê, que não serão resumidos nesta apresentação, sob risco do reducionismo e superficialidade, portanto deixamos o desafio hermenêutico aos leitores, com profundo desejo que os textos sejam socializados, utilizados em salas de aulas, em monografias, dissertações e teses.
Boa leitura.
Francisco de Assis de Sousa Nascimento – Universidade Federal do Piauí – UFPI
NASCIMENTO, Francisco de Assis de Sousa. Apresentação. Contraponto, Teresina, v. 4, n. 2, ago., 2015. Acessar publicação original [DR]
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